Cotado para vice de Bolsonaro, general diz: "pronto para cumprir a missão"
Gustavo Maia e Luis Kawaguti
Do UOL, em Brasília e no Rio
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Sergio Lima/Folhapress
General Augusto Heleno Pereira (à esq) em cerimônia no Exército
"Não almejo nem pleiteio nada, mas estou pronto para cumprir a missão". Essa foi a resposta do general da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira (PRP) ao ser questionado pelo UOL se cogitava ser vice na chapa do pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL). Ele disse, porém, que o nome do vice de Bolsonaro ainda não foi definido.
Em evento de pré-campanha no interior de São Paulo na tarde desta terça-feira (17), o presidenciável afirmou que "talvez" anuncie seu companheiro de chapa nesta quarta. "Vai ser... deve ser, deve ser um general", apressando-se em trocar o verbo afirmativo por outro menos assertivo.
"'Ó, o cara quer a ditadura, militarizar...'", disse Bolsonaro, mudando a própria voz para imitar um crítico hipotético. "Não, quero um cara com responsabilidade ao meu lado. Chega desses bananas que compõem para ganhar tempo de televisão e mais nada além disso, e continuar metendo a mão, afundando e roubando o nosso Brasil", respondeu.
Ao UOL, o presidente do diretório paulista do PSL, deputado federal Major Olímpio, que acompanhou o presidenciável em Registro (SP), disse que ele "possivelmente" anunciará amanhã o nome de Heleno. Ainda segundo Olímpio, o senador e pastor evangélico Magno Malta (PR) não aceitou o convite de Bolsonaro para integrar a chapa com ele.
Bolsonaro revela que seu vice deverá ser um general
O general Heleno, por sua vez, disse conhecer "muito pouco" a política e não ser político. "Não entraria como um candidato, mas posso apoiar [a candidatura de Bolsonaro]", declarou.
Ele afirmou ainda que vem se reunindo ao menos semanalmente com Bolsonaro. O PSL agendou sua convenção nacional para o próximo domingo (22), no Rio de Janeiro. Heleno disse que, a princípio, não pretende comparecer --já que a questão do vice ainda não foi definida.
O general afirmou também que o fato de estar vinculado a outro partido não seria um impedimento para que apoie Bolsonaro.
Mesmo na reserva, Heleno é considerado uma das maiores lideranças da história recente do Exército. Seu nome, que já era destaque dentro dos quartéis, saiu da caserna e chegou ao público em geral em 2004, quando ele assumiu o cargo de Comandante das Forças de Paz da ONU no Haiti.
Heleno lutou contra ex-militares rebeldes e gangues de criminosos no Haiti por cerca de um ano e meio. Na ocasião, segundo vazamentos do WikiLeaks, se opôs à pressão diplomática americana que queria exercer influência sobre a condução da missão de paz e a maneira como as operações militares eram realizadas.
De volta ao Brasil, fez parte do Alto Comando do Exército e, em 2008, ocupou o posto de Comandante Militar da Amazônia – quando entrou em choque direto com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a demarcação em área contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol. Heleno disse, na ocasião, acreditar que o projeto, da forma como era tocado, poderia colocar uma parte das fronteiras do Brasil em risco.
No início dos anos 2010, setores da ativa e da reserva das Forças Armadas cogitaram lançar Heleno como candidato a presidente, mas o projeto não avançou. Heleno sempre recusou a possibilidade de protagonizar uma candidatura.
O UOL apurou que, no início de 2018, ele ainda descartava a possibilidade de se candidatar, mas foi cada vez mais alvo de investidas de Bolsonaro. O contato entre ambos vem se intensificando.
PSL e PR não fecharam acordo
O PSL vinha negociando uma possível aliança com o PR de Malta e do ex-presidente da sigla Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do mensalão. O eventual acordo poderia aumentar o tempo de campanha na TV de Bolsonaro de menos de 10 segundos para quase 50.
De acordo com Major Olímpio, que acompanha o presidenciável em agenda de pré-campanha no interior de São Paulo nesta terça, o PR condicionou a aliança na eleição presidencial a coligações proporcionais [para deputados federais e estaduais], principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
"Não nos interessa fazer essa coligação. O PR, que já tem vários deputados, quer aumentar a bancada, e isso tira a possibilidade de eleger os nossos candidatos. Um comandante nunca pode abandonar o seu soldado ferido na estrada", declarou.
Olímpio disse saber do "tamanho do comprometimento" que o impasse pode causar na campanha. "Se é um preço tão duro a pagar, nós não queremos. Vai fazer [a propaganda] com 8 segundos e seja o que Deus quiser."
A interlocução com o PR foi feita pelo presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, e outros membros da Executiva Nacional. Procurada pela reportagem, a assessoria do Partido da República informou que não vai se manifestar sobre as negociações.
Nos últimos meses, Bolsonaro vinha repetindo que Magno Malta era seu "vice dos sonhos". Cumprindo o último ano do segundo mandato no Senado, o parlamentar sempre disse que era candidato à reeleição, mas deixava abertura para uma definição de última hora.
No ato que marcou a entrada de Bolsonaro no PSL, em março, Malta disse, por exemplo, que o futuro estava "na mão de Deus" e que "muita água" ainda iria rolar, ao comentar a possibilidade de ser vice na chapa do deputado.
A reportagem apurou que Malta já planejava, inclusive, apresentar sua mulher, a cantora gospel e ex-deputada federal Lauriete Rodrigues Malta, como candidata do PR ao Senado pelo Espírito Santo, para transferir seus votos.
A interlocutores, Malta relutava trocar uma eleição considerada garantida por uma empreitada de risco rumo ao Palácio do Planalto. O senador também manifestava dúvidas quanto à viabilidade política de Bolsonaro na relação com o Congresso e atuava para apresentar nomes alinhados à ideologia conservadora e religiosa que uniu os dois.
O processo eleitoral entra a partir desta sexta-feira (20) em sua fase decisiva, com o início do período em que os partidos deverão realizar convenções partidárias para formalizar a escolha de seus candidatos.
O prazo se encerra no dia 5 de agosto. As legendas terão até o dia 15 do mês que vem para registrar as candidaturas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
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