Candidaturas de militares crescem 11% em quatro anos

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

  • Fábio Motta/Estadão Conteúdo

    Jair Bolsonaro (PSL) e outros 989 militares disputam cargos públicos nestas eleições

    Jair Bolsonaro (PSL) e outros 989 militares disputam cargos públicos nestas eleições

O número de militares que se candidataram a cargos eletivos nas eleições deste ano cresceu 11% em 2018 em relação a 2014. Os dados são do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em 2014, 888 candidatos declararam ser militares ou militares reformados (aposentados). Em 2018, esse número chegou a 990. Se fossem agrupadas, as ocupações militares estariam em quinto lugar no ranking das profissões com maior número de candidatos.

O levantamento feito pelo UOL considera como militares aqueles candidatos que declararam ter as seguintes ocupações: bombeiro militar, policial militar, membro das Forças Armadas ou militar reformado. Esse número pode ser ainda maior porque há pelo menos 5.100 candidatos que não especificaram suas ocupações em seus registros.

O crescimento das candidaturas militares foi maior do que o aumento no volume de candidatos no período, que foi de 6,4%. Estudiosos dizem que a crise política e o aumento da violência no país alimentam esse tipo de candidatura.

Na última segunda-feira (20), o TSE disponibilizou os dados consolidados sobre os registros de candidatura feitos até o dia 15, data final estabelecida pela legislação eleitoral. Essas informações podem sofrer alterações caso haja desistências ou impedimentos por via judicial.

Com 990 candidatos, os militares só perdem para deputados (1.133); advogados (1.735); empresários (2.816); e o grupo genérico "outros", que totalizou 5.174 candidatos.

Na comparação com 2014, houve um aumento de 68% no número de militares reformados que se candidataram a algum cargo eletivo neste ano. Foram 127 em 2014 contra 214 em 2018. Os membros das Forças Armadas (Exército, Aeronáutica e Marinha) somaram 58 quatro anos atrás. Neste ano, são 82, um crescimento de 41%.

Apesar de esses dois grupos terem puxado o crescimento das candidaturas, o grupo com maior número de candidatos entre os militares são os PMs. Em 2014, foram 576 PMs candidatos. Em 2018, eles são 594, um crescimento de 3,1%. Isoladamente, os PMs aparecem como a 12ª ocupação mais comum entre os candidatos brasileiros.

Um capitão e sete generais

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) é, talvez, o militar mais famoso a disputar as eleições deste ano. Ele é capitão reformado do Exército. Além dele, porém, há sete generais que disputam cargos eletivos neste ano, entre eles o candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão (PRTB).

Para o cientista político Hilton Cesário Fernandes, há quatro fatores que favorecem o crescimento no número de candidaturas de militares no Brasil:

1 – facilidade com que eles podem acionar redes de relacionamento comunitária e familiar;

2 – descrença da população em relação à política e às instituições;

3 – percepção de parte da população de que, durante a ditadura militar, o Brasil era um país melhor; e

4 – o aumento da violência.

Fernandes diz ainda que a descrença no sistema político e nas instituições alimenta esse fenômeno.

"Acho que isso acontece também como resultado das manifestações de junho de 2013. Com a crise de representatividade, um grande vácuo foi aberto e os militares, assim como outros grupos, irão tentar ocupar esses espaços", disse. 

Para Fernandes, não há indícios de que esse crescimento no número de candidaturas de militares possa diminuir no curto prazo.

"Acho que os militares vão seguir o mesmo caminho dos evangélicos nos últimos 30 anos. Vão perceber que podem ocupar espaços de poder e não deverão abrir mão disso facilmente. O que é importante é que outros grupos sociais também percebam isso, se organizem como os militares se organizaram e disputem o poder", afirmou.

Para Leonardo Avritzer, cientista político e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), parte desse aumento de candidaturas pode ser atribuída ao índice de confiança que as Forças Armadas têm junto à população.

"Quando vemos as pesquisas sobre as instituições, a gente nota os maiores índices de confiabilidade são das Forças Armadas e da igreja. Essa confiança da população nos militares é uma boa vantagem numa disputa política", afirma.

Efeito Bolsonaro

Avritzer diz ainda que outro fator que ajuda a explicar o aumento da presença de militares na disputa eleitoral deste ano é a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República.

"Eles notaram que apesar de o Bolsonaro fazer declarações criticáveis em uma sociedade democrática, ele continua mantendo um apoio significativo. Isso incentivou muita gente a disputar uma vaga também", afirmou o professor.

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