Foco errado e pouco ativismo digital atrapalharam Alckmin, dizem analistas

Diogo Max

Colaboração para o UOL, em São Paulo

  • Ciete Silvério/Divulgação

    Geraldo Alckmin durante gravação de programa eleitoral no nordeste em agosto

    Geraldo Alckmin durante gravação de programa eleitoral no nordeste em agosto

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, conseguiu quase a metade dos 25 minutos do programa eleitoral no rádio e na TV, em um acordo com os partidos do chamado centrão. Parecia uma grande oportunidade para veicular sua propaganda e obter mais votos. Mas a julgar pelas pesquisas de intenção de voto, o tucano deverá ficar fora do segundo turno da corrida presidencial.

Levantamento do Ibope divulgado nesta quarta-feira (3) mostra Alckmin com 7% das intenções de voto, tecnicamente empatado com Ciro Gomes (PDT, 10%) e atrás de Fernando Haddad (PT, 23%) e Jair Bolsonaro (PSL, 32%). O cenário é similar ao apresentado pela pesquisa Datafolha de terça (2), em que o candidato do PSDB alcançou 9%.

Nenhum dos partidos investiu tanto na disputa presidencial quanto o PSDB. A campanha do tucano arrecadou 53,3 milhões de reais, a maior parte (99%) vinda do fundo especial do PSDB, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Até agora, ele já gastou 49 milhões de reais, a maior parte (38%) na produção de programas para o rádio e a TV.

Na primeira fase de sua propaganda, Alckmin mostrou-se um gestor com propostas e histórico para ocupar a cadeira no Palácio do Planalto. Depois, seus marqueteiros o convenceram a atacar com mais força Bolsonaro. O tucano passou, então, a colocar inserções, mostrando contradições no discurso do capitão reformado do Exército e de seus assessores. Mesmo com tudo isso, Alckmin não mostrou reação nas pesquisas e ficou estagnado.

Foco errado

Analistas políticos ouvidos pelo UOL acreditam que o erro foi a demora em trocar o foco da campanha. Alckmin deveria, na opinião deles, ter deixado de lado a agenda de proposta com mais agilidade e atacar com mais força seu oponente principal: o PT.

"A agenda do eleitor deste ano tem menos preocupação com as propostas e mais com este ou aquele candidato ganhar", disse Victor Trujillo, professor de pesquisa e marketing eleitoral da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Esse lugar, contudo, foi ocupado por Bolsonaro, que ganhou ainda mais destaque na mídia após sofrer um ataque a faca na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais (MG), no dia 6 de setembro.

"Alckmin teve um pouco de azar nesse caso", afirmou o professor de ciência política Oswaldo Amaral, coordenador do Observatório das Eleições da Unicamp (Universidade de Campinas). "Ele acabou sendo o maior prejudicado do ponto de vista político", acrescentou.

Falta de engajamento

Outro ponto salientado pelos analistas ouvidos pelo UOL é que o tucano pouco investiu em um dos diferenciais desta eleição: o ativismo digital. Sua campanha gastou 2% dos recursos no impulsionamento de conteúdo em redes sociais e no Google, segundo o TSE.

"Nunca na história deste país se discutiu tanta política", disse Trujillo, ao apontar que as redes sociais, como Facebook, Twitter e WhatsApp, deram aos usuários a chance de virarem cabos eleitorais.

Na eleição de 2006, quando Alckmin disputou pela primeira vez a corrida presidencial, seu eleitor típico era mulher, estava empregada, tinha entre 16 e 24 anos, possuía ensino superior, ganhava mais de 10 salários mínimos e morava em uma das capitais do sul do país, de acordo com a pesquisa Datafolha, publicada às vésperas do 1º turno.

Neste ano, contudo, o eleitor típico do tucano mudou. Ela é mulher, tem mais de 60 anos, possui apenas o ensino fundamental e está desempregada. Vive no Sudeste, no interior dos estados e numa cidade de pequeno porte, segundo a pesquisa Datafolha publicada nesta terça.

Para Trujillo, a campanha de Alckmin não criou razões para inflamar e engajar o seu eleitor para defender a causa tucana. O professor ressalva que o horário político no rádio e na TV não está morto, sendo considerado ainda importante para campanha política, mas já não é suficiente para impulsionar uma campanha. "O maior tempo de TV não garante necessariamente a preferência do eleitor", advertiu.

Pedro Ladeira/Folhapress

O milagre do voto útil

A menos de uma semana das eleições, só um milagre poderá mudar a trajetória do candidato do PSDB. Nesse sentido, há a possibilidade de os eleitores do centro decidirem escolher Alckmin para o segundo turno contra Bolsonaro ou Haddad. "O voto útil acontece no sábado, na véspera da eleição, e, até lá, tudo é possível", lembra Trujillo.

Nem mesmo os aliados do tucano parecem acreditar nesse milagre. Nos bastidores, eles cogitam levar o apoio dos seus partidos a Bolsonaro, num eventual segundo turno com o PT, mesmo com os apelos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos fundadores do PSDB.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), começou a campanha eleitoral afirmando que seria fácil para Alckmin vencer o candidato escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Com Fernando Haddad vai ser muito fácil comparar o que ele fez em São Paulo e o que o senhor fez", disse Maia, durante um evento no início de agosto. Hoje, a foto do tucano não aparece nem nos santinhos do candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro.

Além disso, a deputada federal Tereza Cristina (DEM) mobilizou na última terça-feira (2) a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) para que apoiasse publicamente Bolsonaro, num duro golpe para campanha de Alckmin. A aliada do DEM chegou a ser considerada para ser vice do tucano nestas eleições. O candidato do PSDB chamou a manifestação de desrespeitosa.

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