"Candidato meme", Daciolo fica em 6º, à frente de Meirelles e Marina

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

  • Eduardo Anizelli/Folhapress

    Candidato partiu de zero nas pesquisas para mais de 1 milhão de votos

    Candidato partiu de zero nas pesquisas para mais de 1 milhão de votos

Desconhecido por boa parte do eleitorado no início da campanha, tanto que nem pontuou na primeira pesquisa do Ibope após a oficialização das candidaturas, em 20 de agosto, o candidato Cabo Daciolo (Patriota) terminou a eleição em 6º lugar, à frente de nomes experientes como Henrique Meirelles (MDB)Marina Silva (Rede) e Álvaro Dias (Podemos). Ao todo, ele recebeu mais de 1,3 milhão de votos (1,26%).

Com menos de R$ 10 mil investidos em sua campanha (valor muito inferior aos R$ 54 milhões de Meirelles), Daciolo chamou atenção principalmente nos debates. Em agosto, no primeiro encontro entre presidenciáveis realizado pela TV Bandeirantes, o candidato do Patriota chegou a ser um dos assuntos mais comentados na internet em razão dos posicionamentos enfáticos e ataques a adversários.

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O principal momento ocorreu no embate com Ciro Gomes (PDT). Em pergunta direta ao candidato, Daciolo o acusou de ser um dos fundadores do Foro de São Paulo e idealizador de um projeto chamado Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), que criaria uma união de países socialistas. A fala do presidenciável rendeu reações de incredulidade e resposta bem humorada de Ciro Gomes.

"Meu estimado Cabo, eu tive muito prazer de conhecê-lo hoje e pelo visto o amigo também não me conhece. Eu não sei o que é isso, não fui fundador do Foro de São Paulo e acho que está respondido", disse o ex-governador do Ceará. Após a réplica de Cabo Daciolo dizendo que Ciro "sabe sim" e que "o comunismo não vai ter vez", o pedetista completou: "A democracia é uma delícia, uma beleza, eu dei a vida inteira e continuarei dando, mas ela tem certos custos".

O troco do bombeiro veio em 26 de setembro no debate promovido pelo UOL em parceria com Folha de S. Paulo e SBT. "A democracia é uma delícia, uma delícia", afirmou Daciolo antes de criticar o fato de o pedetista, ao se sentir mal, ter ido ao hospital Sírio-Libanês no dia anterior ao debate. "E o povo? Fala bonito, fala lindo, mas não muda nada. Por que o senhor não foi ao hospital público?", questionou.

Cabo Daciolo também cunhou bordões durante a campanha, ao chamar a "nação brasileira", dizer que um dos problemas do Brasil era "falta de amor", dar "glória a Deus" com sotaque carregado e encerrar respostas quase sempre com "para honra e glória do senhor Jesus". Ele carregava uma Bíblia em todas as aparições públicas.

Retiro no monte em meio à campanha

Divulgação/Cabo Daciolo
Candidato passou quase metade do período da campanha em retiro e jejum

Dos 52 dias da campanha eleitoral, Cabo Daciolo passou 25 deles isolado em montes pelo Brasil. Segundo ele, era "a estratégia que Deus nos deu". Ele se ausentou de sabatinas e debates, não divulgou agenda de campanha e chegou a se comprometer com um jejum de 21 dias interrompido apenas para marcar presença no debate UOL/Folha de S. Paulo/SBT. Durante o retiro no monte ele fez algumas transmissões ao vivo na internet, em que disse acreditar na própria eleição à presidência em primeiro turno, apesar de as urnas eletrônicas serem "fraudulentas", e questionou a existência das estátuas da loja Havan.

Em seu segundo debate, Daciolo roubou a cena novamente. Ele fez declaração de amor à mãe, à mulher e todas as mulheres do Brasil, ironizou Ciro Gomes, fez dobradinha com troca de elogios com Guilherme Boulos (PSOL), tentou ensinar economia a Henrique Meirelles, que é ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, e reforçou que ganharia com 51% no primeiro turno.

Boulos ironizou: "Daciolo, a gente estava com saudade de você aqui no debate", assim como Meirelles: "Cabo, se você continuar querendo ser candidato a presidente para as próximas eleições, o senhor vai ter que estudar um pouco mais."

Cabo Daciolo também chamou atenção pela desinformação ao dizer que o Brasil tinha 400 milhões de pessoas na extrema pobreza, sendo que o número total de brasileiros, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no entanto, é estimado em 208,8 milhões.

Firmeza na Record, ausência na Globo

Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo
Cabo Daciolo não foi convidado para dois debates, inclusive o da TV Globo

Cabo Daciolo compareceu ao debate da Record e foi uma espécie de alívio cômico no clima de tensão entre os candidatos. Ele anunciou que levaria óleo de peroba para "curar a cara de pau" dos opositores "para a honra e glória do senhor Jesus", disse que queria um "Brasil sem a dona Rede Globo pregando o ódio e (...) aprendendo a trabalhar como a Record, com amor e levando a palavra de Deus nas suas novelas" e divulgou um evento chamado "Vostok 2018" que colocava em risco a "nação brasileira".

"Satanás, pega tudo que é seu e saia da nação brasileira" foi uma das frases de suas considerações finais. Ele não foi convidado para o último debate antes do primeiro turno, realizado pela TV Globo, e se disse "boicotado" pela "farsa política do país".

Aos 42 anos, Cabo Daciolo é bombeiro militar e deputado federal eleito pelo PSOL em 2014, com 49.831 votos (0.65%), com mandato até o fim deste ano. Em 2015 ele foi expulso do partido e então se filiou ao Patriota, pelo qual concorreu à presidência da República.

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