PT perde liderança de 20 anos no governo do Acre com vitória de Cameli (PP)

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

  • Arte/UOL

    O ex-governador Jorge Viana (à esq.) e o atual governador, Tião Viana

    O ex-governador Jorge Viana (à esq.) e o atual governador, Tião Viana

A vitória do senador Gladson Cameli (PP), 40, sobre Marcus Alexandre (PT) já no primeiro turno das eleições no Acre consumou o fim da hegemonia petista no estado. Os governadores petistas no período foram Jorge Viana (1999-2007), Binho Marques (2007-2011) e Tião Viana (2011-2019).

Além de perder a chefia do governo, o PT também não conseguiu nenhuma das duas vagas ao Senado em disputa. Sérgio Petecão (PSD) foi reeleito, e Márcio Bittar (MDB), que disputou o governo com Tião Viana em 2014, ficou com a outra vaga. Jorge Viana (PT) não conseguiu voltar ao Congresso.

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Em seus últimos mandatos, Tião e Jorge Viana se tornaram alvos de investigações da Operação Lava Jato e tiveram seus nomes envolvidos em escândalos de corrupção. Os inquéritos, contudo, foram arquivados.

Cientistas políticos dizem que a derrubada pode ser explicada pelo antipetismo, por um certo cansaço com a dominação familiar e por uma série de tentativas da oposição --só agora bem-sucedida-- de desbancar o partido no cenário político.

"Havia um revezamento entre os dois irmãos Viana no Senado e governo [do Estado]. Essas coisas cansam", opina David Fleischer, cientista político da UnB (Universidade de Brasília). Ele cita como exemplo de outras dinastias que chegaram ao fim a da família Sarney no Maranhão. A mesma opinião é a de Humberto Dantas, pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas). "Há uma lógica de fadiga", afirma.

Para Dantas, a oposição ao PT finalmente triunfa após tentativas de diferentes partidos. "O Democratas, PSDB, PMDB, uma série de partidos tentaram vencer o PT", diz. Para Raimundo França, cientista político da Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso), a hegemonia petista vinha dando mostras de cansaço, já que as últimas eleições tiveram resultados acirrados. "A oposição esteve fragmentada, mas as eleições no Acre foram muito divididas nos últimos anos", afirma.

Reprodução/Facebook
Marcus Alexandre (à esq.) Tião Viana (ao centro) e Jorge Viana (à dir.) em campanha em 2014


Dantas lembra que a oposição ao PT no estado já foi marcada pelo ex-deputado Hildebrando Pascoal, conhecido como "deputado da motosserra", condenado criminalmente por liderar um grupo de extermínio no Acre. Na avaliação de França, o mérito de Cameli, vencedor da eleição deste ano, foi unir a oposição em torno de uma coligação ampla, que lhe deu maior tempo de propaganda na TV durante a campanha e uma boa penetração em todo o Estado.

Os pesquisadores também apontam a explosão da violência nas regiões de fronteira do Acre como um problema ao qual a candidatura petista não conseguiu dar uma resposta. "Ao longo dos últimos 20 anos, houve um esgotamento do projeto petista, que não se renovou de forma a responder novas demandas da sociedade", diz Raimundo França.

Já o fracasso de Jorge Viana em sua tentativa de reeleição ao Senado pode ser visto como símbolo da derrocada do PT. "Ele representa todo o projeto do PT ao longo dos 20 anos. Foi o primeiro prefeito petista de Rio Branco, o mentor intelectual e orgânico da hegemonia do partido", diz França. O PT, que já chegou a ter as três cadeiras do Senado do Acre em seu arco de influências, agora ficará sem representação na Casa.

Investigações

Nos últimos anos, a família Viana apareceu envolvida em escândalos de corrupção e em delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato.

Em 2013, um sobrinho de Viana, Tiago Paiva, foi preso durante operação da Polícia Federal no Acre em 2013, acusado de envolvimento em esquema de desvio de recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) e de fraude em licitações para beneficiar sete empresas com o dinheiro de programas habitacionais em cinco cidades do Estado.

Em setembro de 2016, a Polícia Federal conduziu coercitivamente para depor o consultor Marcio Antônio Marucci, um ex-assessor ligado a Viana. Contudo, as investigações da Lava Jato que tinham os irmãos Viana como alvo foram arquivadas pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) e pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Divulgação
O senador Gladson Cameli (PP) é o novo governador do Acre

Quem é o novo governador Cameli?

Formado em engenharia civil, Gladson Cameli é sobrinho de Orleir Cameli, que governou o Acre entre 1995 e 1999, antes do início da hegemonia petista, e filho de Eládio Cameli, empresário dono da construtora Etam, alvo de duas denúncias no Ministério Público.

"Cameli vem de uma família tradicional, que possui influência no Vale do Juruá, mas que extrapolou sua força para outras regiões do Acre", diz o cientista político Raimundo França.

O senador enfrentou problemas com a Justiça no inquérito da Lava Jato que investiga 30 políticos do PP por suspeita de ligação com os desvios na Petrobras. Ele é suspeito de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e formação de quadrilha.

Segundo Youssef, o parlamentar fazia parte do grupo do Progressistas que recebia repasses mensais entre R$ 30 mil e R$ 150 mil da cota da legenda no esquema na Petrobras.

Cameli nega qualquer irregularidade. O senador diz que as doações no período eleitoral de 2014 foram obtidas de maneira lícita pelo seu comitê e aprovadas pela Justiça.

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