PDT declara apoio a Haddad ante "forças reacionárias", sem Ciro em palanque
Luciana Amaral
Do UOL, em Brasília
-
Eduardo Knapp/Folhapress
Haddad (PT) cumprimenta Ciro (PDT) durante debate presidencial no 1º turno
O PDT anunciou nesta quarta-feira (10) que apoiará Fernando Haddad (PT) no segundo turno da eleição presidencial contra Jair Bolsonaro (PSL). A decisão foi tomada durante reunião da executiva nacional do partido, em Brasília.
No entanto, a legenda decidiu que o posicionamento servirá mais como uma declaração anti-Bolsonaro do que uma "carta branca" a Haddad. Não haverá demandas nem contrapartidas entre pedetistas e petistas.
Em nota, o PDT informou que manifesta "apoio crítico à candidatura de Fernando Haddad para evitar a vitória das forças mais reacionárias e atrasadas do Brasil e a derrocada da democracia".
Leia também:
- PT diminui Lula e a cor vermelha nos materiais de campanha de Haddad
- Médicos vetam ida de Bolsonaro a debates; Haddad diz que vai até enfermaria
- Haddad: Bolsonaro "naturalizou" violência e agora se assusta com ela
- Análise: Lula deveria ter optado por Ciro para segundo turno mais tranquilo
No primeiro turno, o PDT concorreu à Presidência com Ciro Gomes, que ficou em terceiro lugar na disputa com 13,3 milhões de votos válidos, 12,47% do total.
Na reunião desta quarta, a Executiva não condicionou o apoio a Haddad a qualquer exigência de alteração no plano de governo do presidenciável. Nos últimos dias, porém, a campanha petista já vinha fazendo acenos aos pedetistas, oferecendo mudanças no seu programa se fosse necessário.
Segundo o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, Ciro não fará campanha para Haddad, muito menos subir em seu palanque. Ele deve, inclusive, sair do país de férias com a família e só retornar ao Brasil para a votação do segundo turno, informou um presente à reunião de hoje.
Ciro Gomes preferiu não falar com a imprensa na chegada e na saída da reunião. "O presidente do partido falou por mim e pelo conjunto do partido. Abaixo o fascismo! Pela democracia!", falou o presidenciável, ao sair do encontro.
Questionado pelo UOL se o posicionamento dele era mais um ato contra Bolsonaro do que um apoio a Haddad, Ciro gritou "Abaixo a ditadura! Nunca mais de volta."
Segundo um pedetista, Lupi perguntou por diversas vezes se Ciro não queria falar à imprensa na saída, mas o candidato derrotado disse que não queria fazer propaganda para Haddad.
ANÁLISE: LULA DEVERIA TER ESCOLHIDO CIRO PENSANDO NO 2º TURNO
Críticas ao PT e a Haddad
Ao longo da campanha, o candidato pedetista sempre declarou que considera injusta, em termos legais, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, ele fez diversas críticas à escolha de Fernando Haddad como representante do PT na disputa e chegou a chamá-lo de "poste.
Ciro também se posicionou como terceira via entre os "extremos" representados pela candidatura de Bolsonaro e pela chapa encabeçada pelo PT.
Nesta quarta, quando a reportagem perguntou se ele estava magoado com o PT, Ciro voltou repetir o discurso das últimas semanas: "que mágoa, rapaz? Que negócio de mágoa? Eu faço é política".
De acordo com uma pessoa presente à reunião, não apenas Ciro, mas outros integrantes da Executiva mostraram-se chateados com a forma como o PDT foi tratado pelo PT nos últimos meses. Segundo esse interlocutor, o apoio declarado a Haddad foi apenas para não poderem se atacados de terem "lavado as mãos" se um eventual governo de Bolsonaro romper com a Constituição Federal e princípios democráticos.
Embora tenha fechado apoio a Haddad, nem todos os pedetistas aceitaram o acordo de bom grado. No período das articulações políticas para este pleito de outubro, Ciro tentou articular uma aliança com o PT e, de acordo com ele próprio, chegou a ser convidado como vice de Lula, quando o ex-presidente ainda era pré-candidato. No entanto, as negociações não foram para frente, e o PT acabou isolando o PDT. O PSB, por exemplo, avaliou ficar com Ciro, mas, diante de articulações de Lula, se declarou "neutro".
No Nordeste, onde a centro-esquerda tem mais força em comparação a outras regiões, governadores petistas com alianças regionais com o PDT – parte eleita em primeiro turno – fizeram campanha para Haddad ou para ambos os candidatos. Coligada apenas com o Avante, a candidatura de Ciro se esvaziou.
À reportagem, alguns pedetistas falaram que não votam em Haddad e reclamam que o PDT foi "muito maltratado" pelo PT nos últimos meses. É preciso haver a reciprocidades nas relações, avaliam.
Bolsonaro é "golpe" e "fujão", diz Lupi
Ao chegar para a reunião, Carlos Lupi, chamou Bolsonaro de "fujão" e "covarde". Para ele, o candidato está usando os atestados médicos em decorrência da recuperação do ataque à faca como "desculpas esfarrapadas" para não comparecer a debates televisivos nesta semana. O primeiro debate do segundo turno, promovido pela TV Bandeirantes, estava previsto para esta sexta-feira (12).
"Ele está correndo dos debates e está sendo covarde. Não quer apresentar ao povo brasileiro o que ele pensa. Como haverá uma eleição com dois candidatos no segundo turno em que um deles não quer participar do debate eleitoral? Ele não quer que o povo conheça sua verdadeira identidade. Virou desculpa esfarrapada feia. Por que então ele pode dar entrevista para TV Record? É medo, é correr, é fujão", falou.
Ainda segundo Lupi, a candidatura de Bolsonaro representa o "golpe". "Muita gente diz que se o Bolsonaro ganhar vem golpe. Não vem, ele é o golpe. É um capitão candidato a presidente e um general candidato a vice-presidente, para quê golpe? Então as pessoas têm de acordar para essa realidade", afirmou.
Kátia Abreu pede desistência de Haddad
A senadora e vice na chapa de Ciro, Kátia Abreu (PDT), pediu nesta quarta que Fernando Haddad desista de sua candidatura em favor de Ciro já que este, segundo pesquisas de intenção de voto feitas no primeiro turno, teria mais condições de vencer Bolsonaro no segundo turno.
"[Haddad está] numa chapa com menos condições de ganhar. Abra mão. O projeto é Brasil ou o projeto é PT?", afirmou Katia, que disse que com os atuais candidatos na disputa, votará em branco ou nulo e fará oposição pelos próximos quatro anos. "Eu deixo aqui esse desafio. Se Haddad tem espírito público, se gosta do Brasil, dos brasileiros e da democracia, por que não abrir mão desta candidatura e ceder para Ciro, que em todas as pesquisas é tido como vitorioso desde agosto?".
O pedido tem como base o artigo 77, parágrafo 4º, da Constituição Federal: "Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação".
Carlos Lupi informou que agora o partido começará a trabalhar na candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República para 2022, quando ocorrerão as próximas eleições presidenciais.
Questionada se não está cedo para pensar em lançar Ciro em 2022, Kátia Abreu negou, porque o PDT tem projeto de governo consolidado e não apoiará a reeleição de ninguém. "Se o projeto acaba em uma reeleição, que projeto é esse? Não, o nosso projeto é consistente. Nós vamos lutar por ele indefinidamente, até que alguém possa se eleger com um [projeto] igual ao nosso. Aí nós podemos apoiar. Mas Ciro Gomes é o nosso candidato. Não somos agregados de ninguém", disse.