"São do PSDB", diz França sobre investigados de corrupção na gestão Alckmin

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/TV Cultura

    15.out.2018 - Márcio França (PSB) participa do programa Roda Viva, na TV Cultura

    15.out.2018 - Márcio França (PSB) participa do programa Roda Viva, na TV Cultura

O candidato do PSB à reeleição para o governo de São Paulo, Márcio França, evitou críticas nesta segunda-feira (15) a investigados de casos de corrupção na Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) durante a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), mas enfatizou que os acusados pertencem ao partido do tucano e também de seu oponente no segundo turno, João Doria. França foi vice do tucano de 2015 até abril deste ano.

"Não tenho intimidade com essas pessoas, elas são do PSDB", esquivou-se França, ao ser sabatinado no programa "Roda Viva", da TV Cultura, na noite desta segunda. Ele havia sido questionado sobre a criação de mecanismos de prevenção à corrupção capazes de evitar casos como os investigados na Dersa, por conta de obras do Rodoanel.

Entre as "pessoas" mencionadas indiretamente por França estão o ex-secretário de Alckmin Laurence Casagrande Lourenço, denunciado pelo Ministério Público Federal em julho passado com outras 13 pessoas sob acusação de fraude a licitação, associação criminosa e falsidade ideológica, e o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, apontado como operador do PSDB e que foi denunciado por suspeitas de desviar dinheiro em obras do governo paulista.

Segundo o MPF, Laurence e os outros 13 denunciados teriam favorecido empreiteiras na obra do trecho norte do Rodoanel.

França afirmou que Laurence "não estava no alto escalão do governo" e destacou que tanto ele quanto outros investigados que acabaram presos "não foram meu governo – estavam no [mandato do] governador Alckmin".

Por outro lado, o candidato à reeleição lembrou que é advogado e afirmou que não gosta de "associar inquérito a uma condenação". "No final, quem vai reparar aquela pessoa?", indagou, em caso de absolvição no STF (Supremo Tribunal Federal). "Não acho correto deixar todo mundo em uma só fornalha e tacar fogo, sem deixar chance de as pessoas se defenderem", definiu.

Também entrevistado nesta noite pelo Roda Viva, Doria defendeu a punição de eventuais culpados ao ser questionado sobre o tema. Segundo o ex-prefeito, caberá à Justiça punir se "comprovado o dolo" (ou seja, a intenção do ilícito), mas negou ver falhas na gestão Alckmin.

Reprodução/TV Cultura
15.out.2018 - João Doria (PSDB) participa do programa Roda Viva, na TV Cultura

Doria diz que 'perdoa' Alckmin

Sobre o ex-governador, por sinal, o ex-prefeito voltou a afirmar que o perdoa pela discussão da semana passada, durante a reunião da executiva nacional, em que Alckmin sugeriu que ele seria seu traidor.

"Eu o perdoo por essa colocação", afirmou Doria. "Era uma situação emocionalmente muito difícil", conjecturou, sobre o fato de a reunião ter ocorrido dois dias após a derrota tucana na sucessão nacional --a pior nos 30 anos do PSDB para a Presidência. "Ele é uma boa pessoa, mas a reunião foi na terça, depois de um resultado tão adverso", pontuou, destacando que o manifesto de neutralidade do PSDB, apresentado na ocasião, continha "colocações muito ruidosas a Jair Bolsonaro e muito suaves com Fernando Haddad", disse.

Perguntado se o episódio com Alckmin e o abandono da Prefeitura de São Paulo para disputar o governo, após um ano e três meses no cargo, Doria afirmou ter mantido coerência nas posições: "Saí pelo esforço e pela necessidade de não ter um esquerdista comandando o governo", respondeu, lembrando que França era a indicação de parte dos tucanos para a sucessão estadual. O ex-prefeito lembrou que pelo menos desde 2007 se colocava como antipetista e anti-esquerda por meio do movimento "Cansei".

França descarta PT em eventual governo

O tucano voltou a tratar França como "socialista" em vários momentos da entrevista. Além de o termo estar na sigla do partido do rival (Partido Socialista Brasileiro), Doria relembrou o apoio do PSB à candidatura Fernando Haddad à Presidência da República e uma coligação da sigla com o PCdoB, aliado histórico do PT, no estado.

Indagado sobre dar algum tipo de abertura ao PT em uma eventual equipe de governo, caso seja eleito, França descartou a possibilidade. "Não, acho que não, eles não têm também nenhuma intimidade comigo para pleitear isso", esquivou-se. "As pessoas devem votar no segundo turno por eliminação", sugeriu, lembrando ser a rejeição de Doria maior que a dele. "[Porque] Ele foi agressivo com as pessoas desnecessariamente", destacou.

Para França, a eleição nacional "está muito encaminhada para uma definição, não tem como negar". "Isso se dá em função dessa polarização que o PT construiu", avaliou o candidato, que evitou, porém, responder em quem votaria no segundo turno presidencial. Em São Paulo, o PSB declarou neutralidade na disputa pelo Palácio do Planalto. 

Doria elogia Bolsonaro e defende postura de pacificador

Se o candidato do PSB não divulgou a sua opção, Doria novamente buscou associar a própria imagem à de Bolsonaro --seja pelo discurso focado em segurança pública, área que prometeu ser sua prioridade de governo, ainda que admita não ser "um especialista em segurança", seja pelos elogios ao militar. A estratégia já vem sendo adotada pelo tucano desde que foi confirmado o segundo turno presidencial, em 7 de outubro.

Doria enfatizou que o apoio ao candidato do PSL se dá, especialmente, em virtude da área econômica. "No plano econômico, endosso [as propostas de Bolsonaro] plenamente", disse, citando Paulo Guedes como futuro ministro da Fazenda de um eventual governo eleito. "Eles [Bolsonaro e Paulo Guedes] estão em harmonia, e quem vai comandar a economia é Paulo Guedes. Bolsonaro tem bom senso e equilíbrio e delegará a Guedes a condução da economia", argumentou.

Instado a comentar declarações consideradas preconceituosas ou violentas por parte de Bolsonaro --por exemplo, as favoráveis à tortura durante a ditadura militar ou a sugestão de que "corruptos deveriam ser fuzilados", incluindo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso --, Doria minimizou.

"Todas as pessoas podem errar e podem melhorar e aprimorar seu sentimento", justificou. "Não vi nenhuma declaração recente dele nesse sentido (...); as últimas declarações têm sido colocadas com muita sensatez e equilíbrio", defendeu. "Essas posições são extremistas, mas prefiro acreditar que são [mais] do passado que do presente. Ele tem que ser um homem pacificador e transformador, e não buscar o conflito", concluiu.

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