Campanha de Bolsonaro reage, diz que notificará empresas e processará PT

Luciana Amaral e Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília e no Rio

  • Mauro Pimentel/AFP

A campanha do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, reagiu nesta quinta-feira (18), em várias frentes, à reportagem da "Folha de S.Paulo" que afirma que empresários simpáticos ao candidato teriam comprado "pacotes" de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp, o que pode configurar crime eleitoral.

Os integrantes da campanha foram à Procuradoria-Geral da República, em Brasília, deram entrevista coletiva no Rio de Janeiro e usaram as redes sociais para atacar o PT e a imprensa. Em comum, os integrantes da campanha dizem desconhecer o esquema e criticaram o adversário, Fernando Haddad (PT), a quem devem processar.

Em Brasília, a coordenadora jurídica da campanha Karina Kufa, afirmou que notificará as empresas citadas por reportagem do jornal para que se expliquem acerca da denúncia de supostas ações ilegais. Além disso, deve processar o candidato do PT.

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"É de total desconhecimento da campanha. Inclusive, estamos notificando as empresas citadas na matéria. Empresas que não conhecemos, que não temos qualquer contato", afirmou Karina.

Esses atos isolados não são autorizados pela campanha. Não temos qualquer anuência em relação a isso, mas temos que confessar que acaba sendo incontrolável."

Karina Kufa, advogada do PSL

A reportagem cita as empresas Quickmobile, a Yacows, Croc Services, SMS Market e a AM4. Esta última consta na prestação de contas do candidato como tendo recebido R$ 115 mil para serviços em mídias digitais.

A advogada defendeu que responsáveis por eventuais excessos sejam penalizados e se disse completamente disponível a contribuir com investigações. De acordo com Karina, a campanha pedirá que as empresas não cometam condutas ilícitas e que, caso tenham sido praticadas, não estavam nem estão autorizadas pela coligação do pesselista.

Ainda de acordo com a advogada, a campanha de Bolsonaro irá intensificar ações judiciais contra Haddad. Entre esta quinta e sexta, disse, serão dez. No primeiro turno, a campanha de Bolsonaro entrou com 68 pedidos de direito de resposta. Estas novas ações incluirão direitos de respostas, pedidos de retirada de fake news e análise sobre a legalidade de atos de Haddad em universidades.

Em entrevista à imprensa após a publicação da denúncia, Fernando Haddad disse haver testemunhas de reuniões em que Bolsonaro teria pedido apoio de empresários para atuação no WhatsApp, mas não quis dar nomes. Karina negou que tenha havido qualquer pedido e exigiu a apresentação de provas.

"Essas provas, ao meu ver, não existem. Quero que sejam apresentadas, se verdadeiras, ao processo, porque nos defenderemos nos autos. Não tem nenhuma participação do candidato em relação à disseminação de matérias falsas, ainda mais pagas por empresas. Sem dúvida nenhuma conseguiremos provar isso no processo", disse, negando haver caixa dois e creditando a denúncia como "um desespero" da campanha de Haddad.

Nesta quinta, Karina Kufa participou de reunião na PGR (Procuradoria-Geral da República) sobre combate às fake news e o processo eleitoral com a presença da procuradora-geral Raquel Dodge, do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, de procuradores eleitorais e dos advogados da campanha do candidato do PT à Presidência e adversário de Bolsonaro no segundo turno, Fernando Haddad.

Em entrevista coletiva no fim da tarde no Rio de Janeiro, o advogado e presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, também mirou suas críticas em Haddad, depois de dizer que não teve tempo de ler a reportagem da "Folha", mas ouviu declarações do petista contra Bolsonaro.

"O senhor Haddad precisa saber que denunciação caluniosa é crime e ele vai ter que responder por isso. Estamos ansiosos aqui por apreciar os elementos que estão sendo efetivamente apresentados. Nossa consciência é absolutamente tranquila. Nem o PSL, nem a campanha do candidato Jair Bolsonaro e muito menos o candidato Jair Bolsonaro se prestam a esse tipo de papel", declarou.

Ele também disse não ter "a menor ideia" de onde surgiu o suposto esquema revelado pela reportagem.

É simplesmente ridículo. O que nos sabemos é que há uma tentativa desesperada de se criar um fato político qualquer."

Gustavo Bebianno, presidente em exercício do PSL

O advogado classificou a fala do presidenciável do PT como "uma grande piada" e disse que ele está "absolutamente desesperado porque vai perder a eleição". Bebianno afirmou ainda que todas as doações feitas até hoje, para o PSL ou para a campanha do de Bolsonaro, vieram pela plataforma de financiamento coletivo, "de acordo com a legislação".

Bruno Rocha/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Bebianno disse que a campanha nunca fez qualquer tipo de impulsionamento ou direcionamento nas redes sociais

"Apesar de ser permitida a doação por pessoas físicas, nós sempre evitamos doações diretas. Sempre recomendamos que as doações fossem feitas via nossa plataforma, com limite muito baixo, de mil e poucos reais por dia, por CPF. Nossa campanha no primeiro turno gastamos pouco mais de R$ 600 mil. Encerraremos o segundo turno gastando um pouco mais do que o dobro disso", declarou, classificando a campanha como "muito modesta".

Questionado se empresários porventura podem ter patrocinado a difusão de mensagens pelo aplicativo de troca de mensagens, Bebianno disse ser "óbvio que existe sempre a possibilidade de apoiadores, tanto de um lado, quanto de outro, lançarem mão de suas redes sociais, incluindo o WhatsApp, para se manifestarem".

"Agora a história que o PT tenta contar é simplesmente ridícula. Eu nem li direito a matéria da Folha, não tive tempo hoje, mas pelo que eu vi um pronunciamento do senhor Haddad na CBN, se não me falha a memória, deu para ver ali que aquilo não passa de uma brincadeira --'milhões e milhões e milhões'. Isso não existe. Não faz parte da nossa política", afirmou.

Ao falar da reação jurídica contra Haddad, Bebianno referendou o que disse Karina: "certamente ele será processado". Ele negou ainda que Bolsonaro tenha pedido a empresários que pagassem pelo impulsionamento, como disse o petista. "Nunca houve isso", declarou.

Indagado sobre como a campanha vai se defender caso empresários estejam realmente cometendo a irregularidade eleitoral, o presidente do partido foi categórico. "Não está feito. Não sei como eu vou me defender de algo que eu nem imagino que aconteça. Há que se provar, pelo menos apresentação de indício", declarou.

Em seguida, disse que defende uma investigação, mas afirmou que ela não depende da campanha.

Bolsonaro e família reagem pelas redes sociais

Pela manhã, as primeiras reações vieram pelas redes sociais, onde Bolsonaro enviou mensagens em que critica a imprensa e o PT, sem citar diretamente a denúncia.

O presidenciável só respondeu diretamente a reportagem do jornal em entrevista ao site "O Antagonista".

"Eu não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso. Eu sei que fere a legislação. Mas eu não tenho controle, não tenho como saber e tomar providência. Pode ser gente até ligada à esquerda que diz que está comigo para tentar complicar a minha vida me denunciando por abuso de poder econômico", afirmou o candidato ao site.

Seus filhos Carlos e Flávio também foram ao Twitter dizer que a campanha é feita por voluntários.

O vereador Carlos Bolsonaro subiu o tom das críticas na rede social. O" jogo de grande parte da IMPRENSA em conluio com o PT é claro: O controle social DA INTERNET. Viram que perderam com a entrada do Facebook e outras redes ABERTAS, então atacam o WhattsApp porque podem especular pois não há como comprovar fatos diante de uma rede social privada", postou na rede social.

Bolsonaro passou o dia dentro de casa, na orla da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Ele recebeu representantes da Frente Parlamentar Evangélica.

PT aciona TSE

O PT entrou na tarde desta quinta com uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra Bolsonaro por abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação. O que o PT pede:

  • Que, ao final das investigações, Bolsonaro seja declarado inelegível pelos próximos 8 anos;
  • Que o WhatsApp apresente, em um prazo de 24 horas, um plano de contingência capaz de suspender o "disparo em massa" de mensagens que seriam ofensivas a Haddad e aos partidos que integram sua coligação, sob pena de suspensão de todos os serviços do aplicativo de mensagens até o cumprimento da determinação
  • Busca e apreensão de documentos na sede da Havan e na na residência de Luciano Hang, proprietário da empresa.

(Colaborou Ana Carla Bermúdez, de São Paulo)

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