Bolsonaro não vai ter oposição porque não vai ser governo, diz Haddad
Ana Carla Bermúdez
Do UOL, no Recife
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CARLOS EZEQUIEL VANNONI/ELEVEN/ESTADÃO CONTEÚDO
25.out.2018 - Fernando Haddad, candidato à Presidência pelo PT, discursa durante ato de campanha em Recife
O candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (25) que seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL), não vai ter oposição porque não vai ser governo.
A declaração foi dada durante um ato de campanha na cidade de Recife, minutos após pesquisa Datafolha apontar que a diferença entre os dois candidatos caiu seis pontos em uma semana, passando de 18 para 12 pontos percentuais. O petista, no entanto, ainda aparece atrás do deputado federal: 56% a 44%.
"Quero dizer a ele que ele não vai ter oposição, porque ele não vai ser governo. O Brasil merece mais que isso, muito mais", afirmou Haddad.
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Em um discurso inflamado, o petista declarou que o povo brasileiro está sendo "enganado" ao ser levado a votar em "alguém que não tem currículo". "Pior, alguém que não tem amor pelo povo", complementou.
Haddad ainda disse que "está fácil virar voto no Brasil inteiro" e incentivou os presentes a usarem os próximos três dias até o domingo (28), data marcada para o segundo turno, para conversar com eleitores de Bolsonaro e convencê-los a mudar o voto.
"Nesses três dias, o Brasil vai se fazer respeitar", disse.
"Arregão"
Em todo o seu discurso, Haddad usou um tom bastante agressivo para criticar Bolsonaro. Ele voltou a chamar o deputado federal de "soldadinho de araque" e o classificou até mesmo de "arregão", em referência à ausência de Bolsonaro nos debates.
Alvo de uma facada no dia 6 de setembro, o pesselista alega que seu quadro de saúde o impede de participar dos encontros, mas já assumiu que sua ausência é também uma estratégia de campanha.
"Quero dizer para o Bolsonaro: seu arregão, coitado é você", afirmou Haddad. Na última terça (23), Bolsonaro afirmou, em entrevista a uma TV do Piauí, que iria acabar com o "coitadismo" dos negros, das mulheres, dos gays e dos nordestinos.
"Você é um arregão e vem chamar alguém de coitado, rapaz? Se olha no espelho. Vem pro debate", disse Haddad, ao que foi prontamente aclamado pelos presentes.
Palanque com vaias a membros do PSB e parabéns a Lula
O clima de festa do comício de Haddad foi interrompido por vaias em dois momentos: nos discursos do atual prefeito de Recife, Geraldo Julio, e do governador reeleito Paulo Câmara, ambos do PSB. Além das vaias, os dois foram alvo de gritos de "golpista".
Em uma manobra orquestrada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que impediu o PSB de selar apoio a Ciro Gomes (PDT) ainda antes do primeiro turno, o PT apoiou a reeleição de Paulo Câmara. Com o acordo, o PSB declarou neutralidade na eleição nacional e o PT abriu mão de lançar Marília Arraes para o governo do estado --o que foi classificado por muitos como uma "rifagem" da candidatura da neta de Miguel Arraes.
Em seu discurso, Haddad tentou amenizar o mal estar. "Eu estou aqui em Pernambuco recebendo apoio de todas as lideranças do estado. Todos percebem o risco que o Brasil está correndo. Agora é hora de unidade", disse.
Em seguida, o petista citou nominalmente os pessebistas e quem mais estava a seu lado no palanque: "Eu estou aqui com Paulo Câmara, Geraldo Julio, em memória do Eduardo Campos com a Renata Campos, com Marília Arraes, Humberto Costa".
O momento de maior comoção do público aconteceu quando Haddad, já bastante rouco, pediu "um presente" para um amigo seu que faz aniversário neste sábado (27). A militância, que logo entendeu se tratar de Lula, começou a gritar o nome do ex-presidente.
Classificando Lula como "o maior presidente da República da história do Brasil", Haddad puxou um "parabéns para você" cantado pelos militantes e prometeu que um vídeo do momento será exibido para o ex-presidente, que está preso em Curitiba.
"Quero dizer para Pernambuco que seu filho direto faz aniversário no sábado. Mas eu faço questão de dar um presente para o Brasil vencendo as eleições no domingo", disse Haddad.
Mandando um abraço para "todas as mulheres pernambucanas", Haddad se despediu e passou o microfone para sua mulher, Ana Estela.
"Queria só mostrar para vocês a camiseta que vou usar amanhã", disse Ana Estela, enquanto exibia uma camiseta vermelha com os dizeres "lute como uma nordestina". Mais uma vez, o público gritou e aplaudiu efusivamente.
Nesta sexta (26), Haddad continua em campanha pelo Nordeste. Pela manhã, ele vai a João Pessoa, na Paraíba, de onde seguirá para Salvador para uma caminhada com presença do governador Rui Costa e do senador eleito Jaques Wagner.
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