PT perde 2º turno e chega ao menor percentual de votos em 20 anos

Leandro Prazeres

Do UOL, em São Paulo

  • Ricardo Matsukawa/UOL

    Com Haddad, PT teve menor votação percentual desde as eleições de 1998

    Com Haddad, PT teve menor votação percentual desde as eleições de 1998

A derrota do PT nas eleições presidenciais deste ano não marca apenas o fim de um ciclo vitorioso que começou em 2002. A votação de Fernando Haddad (PT) neste domingo (28) foi a menor que o partido teve em termos percentuais em 20 anos. Cientistas políticos ouvidos pelo UOL avaliam que o partido terá que se reorganizar para continuar competitivo nas próximas eleições.

Fernando Haddad recebeu 47 milhões de votos no segundo turno das eleições presidenciais. Isso equivale a 44,87% dos votos válidos (excluindo ausentes, brancos e nulos). A última vez que o PT teve um percentual tão baixo em uma eleição presidencial foi em 1998, quando o partido obteve apenas 31,7% dos votos válidos.

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Na época, o candidato do PT era Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele perdeu as eleições no primeiro turno para o então presidente e candidato à reeleição Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Entre 2002 e 2014, o PT venceu todas as eleições presidenciais com percentuais de votos que oscilaram entre um elástico 61,27% dos votos em 2002 (com Lula) e um apertado 51,64% em 2014 (com Dilma Rousseff).

Desafio é não virar o partido do Nordeste, diz especialista

Para o cientista político e professor da UnB (Universidade Nacional de Brasília) André Borges, o resultado das eleições deste domingo coloca o partido diante de dois desafios: renovação de suas lideranças e evitar que o PT se transforme no "partido do Nordeste".

"Acho que a renovação dentro do partido é inevitável. Considerando o cenário adverso, Fernando Haddad não se saiu mal. Resta saber se as vozes que pedem por renovação no partido conseguirão colocar esse processo em marcha", diz Borges.

ANÁLISE: SERÁ DIFÍCIL PARA HADDAD LIDERAR OPOSIÇÃO

Analisando a votação expressiva do PT no Nordeste, Borges vê um risco para o partido continuar competitivo. A região foi responsável por 43% dos votos obtidos pelo partido neste segundo turno. Além disso, os quatro estados que serão governados pelo partido estão na região: Bahia, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte.

"O risco é que o partido perca sua característica nacional e se transforme em um partido do Nordeste. Todas as vitórias do PT nos governos foram nessa região. Um dos grandes desafios do PT será recuperar suas bases em outras regiões do país", afirmou.

Estratégia de Lula gerou discordâncias no PT

O cientista político e professor da UnB David Fleischer também diz acreditar que, para se manter vivo no cenário nacional, o PT terá que reavaliar o papel e a influência das suas atuais lideranças.

"O PT vai ter que fazer uma reavaliação porque foi extremamente prejudicado pelas posições do Lula. Muito petista achou isso ruim", disse.

Na avaliação de Fleischer, a estratégia de manter Lula como candidato do PT até que a Justiça Eleitoral cassasse o registro de sua candidatura deu pouco tempo para que Haddad pudesse fazer sua campanha. Segundo o professor, petistas avaliaram que essa estratégia desagradou integrantes do partido.

"Se Haddad tivesse sido o candidato oficial do PT, ele teria tido muito mais tempo para fazer campanha. Tem muitas vozes dentro do PT que estão contrariadas com isso", disse.

Números não são o fim do partido, diz cientista política

Para a cientista política Kellen Gutierres, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), os números da derrota do PT no segundo turno não decretam o fim do partido.

"Apesar de não ter sido o resultado que o PT esperava, o partido conseguiu, novamente, uma votação expressiva em um segundo turno de eleições presidenciais. Considerando o processo de desconstrução ao qual o partido foi submetido, é um resultado significativo", afirmou.

Kellen diz ainda que o futuro do PT vai depender, em grande parte, da capacidade de mobilização do partido em se apresentar como líder de um movimento amplo de oposição ao governo de Bolsonaro.

"O PT tem a maior bancada na Câmara dos Deputados. Bolsonaro vai enfrentar oposição dentro e fora do Congresso Nacional. É preciso saber como o partido vai interagir com esse movimento para saber o tamanho dele no futuro", afirmou.

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