Ex-astronauta e militar: conheça o futuro ministro da Ciência e Tecnologia

Do UOL, em São Paulo

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    O ex-astronauta Marcos Pontes e o presidente eleito Jair Bolsonaro

    O ex-astronauta Marcos Pontes e o presidente eleito Jair Bolsonaro

Provavelmente você reconhece Marcos Pontes, 55, como o primeiro astronauta brasileiro a ir para o espaço. Mas em breve o militar da reserva irá fazer parte do grupo de governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

Em seu discurso, após a apuração de votos, neste domingo (28), Bolsonaro afirmou que já tinha acertado três ministros, só faltava Pontes: "O quarto, que é o Marcos Pontes, tá quase certo também e com o tempo... Nós, com muita cautela, passaremos a anunciar os nomes das pessoas que ao formar essa equipe conduzirão o Brasil ao lugar que merece, de destaque no mundo", declarou

Segundo o jornal "Folha de S.Paulo", na comemoração de sua eleição, Bolsonaro encontrou Pontes na casa de um dos filhos. Ao deixar a casa, Pontes contou que havia acabado de aceitar o convite para ser ministro da Ciência e Tecnologia.

Em entrevista à Band na última segunda-feira (29), Bolsonaro, porém, ainda não confirmou o nome de Pontes, mas diz que deve ser definido em breve. "Os três [ministros] anunciados até agora já estão fechados, o quarto pode ser, está na iminência de ser anunciado, o Marcos Pontes que é o nosso astronauta".

O astronauta se candidatou para deputado federal por São Paulo em 2014, pelo PSB, e falhou. Já como filiado ao PSL, em 2018 se candidatou a segundo suplente de senador na chapa de Major Olimpio.

Segundo Pontes, a ideia como ministro é unir os acadêmicos e pesquisadores e disse ter ouvido de Bolsonaro a promessa de crescer o orçamento da pasta de R$ 2,7 bilhões no próximo ano para cerca de R$ 15 bilhões em 2020.

Bolsonaro diz que sou o "Posto Ipiranga da Ciência e Tecnologia"

O UOL tentou entrar em contato com Pontes por meio de sua assessoria de imprensa, mas não obteve resposta. Em entrevista à rádio Jovem Pan na manhã desta segunda-feira (29), Pontes revelou que conversa com o novo presidente sobre o cargo desde março.

"Queremos aproximar a tecnologia para o dia a dia das pessoas. Vemos tecnologia em todos os lugares e podemos usá-la para melhorar a situação da seca do Nordeste, por exemplo", declarou à rádio.

Sobre ser conhecido apenas como um astronauta, Pontes se exaltou: "Não sou só isso. Sou administrador, engenheiro, bacharel em ciência aeronáutica, trabalho com a Nasa há 20 anos. Sei como conduzir isso de forma a ter resultados na riqueza do país ou na melhora da qualidade de vida."

AFP PHOTO / DENIS SINYAKOV
Pontes acena em momento de preparação para o lançamento da nave Soyuz TMA 8 rumo à Estação Espacial Internacional, em 2006

Primeiro astronauta brasileiro

Nascido em Bauru, em São Paulo, Pontes sempre sonhou em ser piloto. O ingresso na Força Aérea Brasileira iniciou sua carreira militar, em 1981, mas ele ainda se formou como engenheiro pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

Em 1998, passou no concurso público da AEB (Agência Espacial Brasileira) como o primeiro astronauta brasileiro, escolhido para representar o país na Nasa, no Johnson Space Center, em Houston, nos Estados Unidos. Em 2000, se formou como "Especialista de Missão", espécie de engenheiro de voo.

No espaço com os Russos

Em 2005, AEB o escalou para uma missão com os cosmonautas de dez dias no espaço. A viagem custou ao Brasil, que na época tinha como presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) US$ 10 milhões, gerando questionamentos de parte dos pesquisadores sobre o valor científico para o país.

Pontes decolou do Centro de Lançamento de Baikonur, no Cazaquistão, no dia 29 de março de 2006, a bordo da Soyuz TMA-8 sobre um foguete Soyuz com 200 toneladas de combustível. A Missão Centenário, como foi chamada, foi concluída com sucesso.

Sérgio Lima/Folhapress
Lula recebe Pontes em cerimônia de boas-vindas em Brasília, em 2006

Fim das Forças Armadas

Logo após regressar do espaço, em maio de 2006, Pontes foi transferido para a reserva militar. A decisão levantou polêmica se o astronauta optou deixar a carreira para ganhar dinheiro com sua vida (agora famosa) privada.

Em seu site, Pontes nega que sua saída das Forças Armadas tenha sido com esse propósito. "Com a transferência para a reserva, meu salário caiu para um terço do normal e eu não via como manter a família em Houston sem ser contratado pela AEB. Quando as empresas souberam através das calúnias da imprensa que havia um profissional com experiência única internacional à disposição no mercado, imediatamente começaram a me procurar para palestras e cursos."

Vida pública

Além das palestras, eventos e cursos, Marcos Pontes lançou três livros, tornou-se garoto-propaganda de travesseiro e criou a Fundação Astronauta Marcos Pontes, que tem diversos programas para estimular jovens que desejam ingressar e carreiras de ciência e tecnologia, além de auxiliar na formação de professores e funcionar como escola técnica.

Pontes ainda foi convidado a ser Embaixador da ONU para o Desenvolvimento Industrial, criando e promovendo projetos de sustentabilidade em diversos países.

Sergio Lima/Folhapress
O ex-presidente Lula conversa com Pontes durante uma teleconferência

Aproximação a Bolsonaro

De acordo com a BBC Brasil, neste mês, o presidente eleito teceu elogios ao astronauta em carta à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e à Academia Brasileira de Ciências (ABC). O texto reforça que o astronauta foi escolhido por meritocracia, e não por "toma lá da cá".

Bolsonaro afirmou ainda, no texto, que os investimentos do Brasil na área são tímidos, que devem ser estimulados e que o provável novo ministro "tem esse conceito sistemático bem presente nas suas propostas, além de ter ótimas relações internacionais, o que nos traz boas perspectivas de cooperações lucrativas para o país".

Em 19 de outubro, em entrevista ao Jornal da Band, Bolsonaro afirmou que estava na iminência de se acertar com o astronauta para o ministério, destacando que ele "é um conhecedor com profundidade do que acontece na ciência e tecnologia do Brasil, ou melhor, do que não acontece", além de ser "patriota, ter conhecimento, vontade de mudar as coisas e uma iniciativa muito grande".

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