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Deputados fazem campanha durante desfile cívico do 7 de Setembro

Cláudia Andrade e Piero Locatelli<br/> Em Brasília

07/09/2008 14h50

Neste ano não haverá eleições no Distrito Federal, mas isso não impediu que alguns deputados saíssem em campanha pela Esplanada dos Ministérios neste domingo. Eles aproveitaram a concentração de público por conta do desfile em comemoração ao Dia da Independência para se promoverem.

"É incomum as pessoas verem um deputado na rua, porque se espera isso apenas em época de eleição", avaliou Cristiomário Medeiros, chefe de gabinete do deputado distrital Rogério Ulysses (PSB). "Estamos aqui em 30 pessoas, divulgando os projetos que o deputado tem feito e fazendo a prestação de contas para a população", completou.

A estratégia para disputar a atenção da platéia que acompanhava o desfile foi eficaz. Os grandes bonecos dos políticos chamaram a atenção principalmente das crianças, que queriam tirar muitas fotos com as figuras de sorriso largo.

O boneco do deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) passeou pelo gramado ressecado da Esplanada ao lado de JK, a reprodução do presidente Juscelino Kubitschek. "Faz parte da nossa atividade política divulgar o que a gente está fazendo no Congresso nacional. A receptividade do público está sendo muito boa", disse o verdadeiro Rollemberg, enquanto relacionava seus principais projetos e distribuía panfletos.

No contato com o público, os políticos também cumpriram outras funções eleitoreiras, como tirar foto e dar beijos em crianças, apertar muitas mãos e receber todo tipo de pedido. Como o do gari João Batista de Souza, que aproveitou o encontro com o deputado Rollemberg para pedir uma vaga para o filho em uma universidade pública.

"Eles me disseram para ir até o gabinete dele, mas é difícil, porque tem que pagar condução", avaliou o morador de Santo Antônio do Descoberto, município do Estado de Goiás. Este foi o segundo ano consecutivo que ele trabalhou na limpeza da Esplanada, no dia 7 de Setembro. "O pior não é nem o serviço, é o sol quente", disse.

Até mesmo um parlamentar licenciado resolveu fazer panfletagem no feriado de domingo. O boneco do deputado federal Rodovalho (DEM), que deixou a Câmara em abril deste ano para assumir a secretaria do Trabalho do Distrito Federal também podia ser visto do lado atrás das arquibancadas montadas para o público assistir ao desfile.

Petróleo
Se no desfile oficial o petróleo foi um destaque entre os "valores nacionais", a panfletagem dos bastidores também abordou o tema, de maneira oposta. A UJS (União da Juventude Socialista), ligada ao PCdoB, espalhou cartazes com os dizeres: "O Pré-Sal é Nosso" e distribuiu papéis "convocando a sociedade brasileira a lutar para que nosso patrimônio não vá para no bolso de especuladores".

Em uma área próxima a Rodoviária de Brasília, ponto de chegada e de partida da maioria dos que foram assistir ao desfile, integrantes de movimentos sociais ligados à Marcha dos Excluídos também protestavam. Assim como o Movimento Educacionista que revindicou a aplicação da lei que estabeleceu o piso salarial aos professores públicos.

Empolgação e decepção
Mais do que políticos ou movimentos sociais, contudo, a apresentação da Esquadrilha da Fumaça foi o que chamou a atenção do público, ávido por uma foto das acrobacias aéreas.

O problema era acompanhar a narração, cheia de termos técnicos e embalada por uma trilha sonora que incluía temas clássicos de Van Halen, Scorpions e Survivor.

"Agora eles fazem um looping de imersão em 90 graus. Vão realizar agora um 360 em espiral", dizia o narrador. "A manobra em conjunto com as aeronaves 1, 2 e 3 no invertido e a 4, 5 e 6 formando um espelho por baixo", acrescentava, em um estilo e tom de voz que lembrava as narrações das provas de ginástica olímpica em Pequim, com seus duplo twist carpados e esticados.

Para acompanhar a festa, que durou cerca de 3h30, o público foi abastecido com um cardápio pouco variado, formado basicamente por churrasquinho, cachorro-quente e o inusitado ovo de codorna cozido. Além das comidas e bebidas, também foi possível comprar todo tipo de chapéus, brinquedos e artesanato.

Muita gente veio de longe acompanhar o desfile, como o casal Christian Abrão e Brunna Rugue, que saíram às 6h30 de Goiânia para chegar à capital federal duas horas depois. "Eu sempre quis vir, mas nunca dava certo", disse o professor universitário, que considera a festa uma "manifestação patriótica do povo e um resgate do civismo".

Já a impressão de pessoas vindas de lugares mais distantes foi diferente da reação dos goianos. Três alemãs que vieram para o desfile depois de vê-lo na TV se mostraram decepcionados com o que consideraram o fim prematuro do evento. "Por que tá todo mundo indo embora?" perguntou uma alemã chamada Deliah, que veio ao Brasil trabalhar numa ONG (Organização Não-Governamental). "Em praça dos três poderes não tem festa mais? Um espetáculo, coisa assim? (sic)". Perguntadas se estavam decepcionadas, elas não hesitaram em responder: "muito!"

Os brasileiros também tiveram motivos para se decepcionar ao final do desfile quando tiveram de enfrentar filas intemináveis na Rodoviária. Tanto para ir aos lotados banheiros como para tentar pegar ônibus para voltar para suas casas.