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Lula pede a líderes que não saiam de Washington sem propostas contra a crise

Mylena Fiori<br>Enviada especial da Agência Brasil<br>Em Washington (EUA)

14/11/2008 19h18

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez hoje um apelo aos líderes da Austrália, Japão e Reino Unido: os chefes de governo não podem sair de Washington de mãos abanando, pois há grande expectativa da sociedade em relação a propostas concretas para acabar com a crise financeira global. O relato foi feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que acompanhou os encontros bilaterais da manhã desta sexta-feira (14), véspera da cúpula convocada pelo presidente George W. Bush.

Segundo Mantega, há consenso de que é preciso trabalhar de forma coordenada e rápida sobre um programa de medidas anticíclicas. Os governos da Austrália e do Reino Unido estão dispostos a tomar medidas concretas para evitar uma depressão mundial, garantiu o ministro.

No encontro com Lula, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, defendeu a adoção de um programa de políticas monetárias, com redução das taxa de juros e aumento do crédito, de forma a fazer com que a liquidez chegue ao produtor e ao consumidor. Já o primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, frisou a necessidade de medidas urgentes e "ousadas".

O fundamental, na avaliação do ministro Guido Mantega, é devolver confiança ao mercado. "Existe uma insegurança, o consumidor não toma crédito e reluta em fazer as aquisições. Os bancos que têm recursos relutam em dar o crédito, porque não sabem o que vai acontecer. Temos que eliminar essa desconfiança", resumiu, em entrevista coletiva.

Mantega e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmaram que todos concordam, em maior ou menor grau, com a necessidade de regulação do mercado financeiro e acreditam na possibilidade de algum avanço nesse sentido, mesmo com a resistência já explicitada pelo presidente Bush. "Poderá haver divergência quanto ao tipo de regulação que se queira fazer. Agora, no comunicado que vamos apresentar, estará dito que é necessário haver uma regulação do mercado financeiro", antecipou Mantega.

Segundo ele, o Brasil proporá a criação de grupos de trabalho, com prazos fixados para apresentação de propostas de como regulamentar os mercados. "A regulação não é algo que se faça do dia para a noite. Isso significa estudar como vamos regulamentar os hedge funds [fundos de risco], como vamos regulamentar derivativos. Tudo isso requer estudos técnicos aprofundados", frisou o ministro da Fazenda. Segundo ele, apenas o mercado de credit default swaps [derivativos de crédito] conta com US$ 55 trilhões de derivativos que precisam ser regulamentados.

A expectativa é que o presidente eleito, Barack Obama, vá "mais fundo" nesses temas. Obama não participará da reunião, mas mandou uma representante - a ex-secretária de Estado de Biill Clinton, Madeleine Albright, que integra a equipe de transição. "A idéia é de que ele [Obama] venha com um pacote de medidas anticíclicas mais robusto para não frustrar o eleitorado que levou ao poder", disse Mantega.

Essa é também a expectativa do chanceler Celso Amorim: "Não é apenas uma opinião nossa, mas também dos interlocutores com quem conversamos, especialmente os primeiros-ministros da Austrália e da Grã-Bretanha. A avaliação é de que as políticas fiscais de encorajamento do governo Obama irão mais longe."