Ações do MST alcançam 20 Estados nesta terça; 105 vias foram bloqueadas
As ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) alcançaram 20 Estados nesta terça-feira (17), data em que o massacre de Eldorado do Carajás completa 16 anos. O movimento diz ter realizado 105 bloqueios em rodovias, estradas vicinais, avenidas e ferrovias em protesto contra a impunidade.
As vias foram bloqueadas pela manhã por 21 minutos, em referência às 21 vítimas do massacre, segundo contabilização do movimento --para a polícia paraense, foram 19 mortos. Também foram ocupados prédios do Incra e 45 propriedades em nove Estados. O movimento também escolheu a Justiça como alvo e realizou atos em frente a vários tribunais nas capitais.
Dos 154 policiais militares indiciados pelo massacre na época, apenas dois foram condenados: o coronel Mário Collares Pantoja e o major José Maria. Ambos foram condenados no Tribunal do Júri, mas recorreram em instâncias superiores e respondem em liberdade. O último recurso aguarda julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal).
Ações nos Estados
Em São Paulo, os manifestantes bloquearam a rodovia Anhanguera no km 27, na chegada à capital, nos dois sentidos. A interdição foi mais longa do que o previsto e durou 35 minutos. Segundo o movimento, a mesma rodovia foi bloqueada em outros três trechos. Outras três rodovias foram bloqueadas no interior do Estado.
No Pará, na curva do “S”, na PA-150, onde aconteceu o massacre, 3.000 sem-terra fizeram um ato político em memória dos mortos e para cobrar a prisão dos responsáveis. Dois mil manifestantes participaram do fechamento de outras três rodovias federais, segundo o movimento.
Em Alagoas, foram interditadas 17 rodovias; em Pernambuco, 15; em Sergipe, 14; e no Rio Grande do Sul, 16. Em Minas Gerais, cerca de cem pessoas ocuparam a sede do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Belo Horizonte. Outros 900 trabalhadores liberaram o pedágio da rodovia federal Fernão Dias, no município de Perdões. A BR-050 também foi fechada, diz o MST.
No Rio de Janeiro, cerca de 300 sem-terra bloquearam a avenida Presidente Vargas, na altura do prédio do Detran, onde fica a sede do Incra, que está ocupado. Depois, os manifestantes fizeram um ato em frente ao Tribunal de Justiça. No Paraná, o MST trancou quatro rodovias.
Segundo o movimento, em Santa Catarina, 400 trabalhadores rurais ocupam o Incra em Florianópolis, onde também foi realizado um ato para relembrar o massacre. Os sem-terra depois se juntaram a outras 10 mil pessoas na Marcha dos Catarinenses, organizada pela Central dos Movimentos Sociais (CMS).
Em Mato Grosso, trabalhadores rurais fecharam a BR-163, no município de Sorriso. Na Bahia, foram fechadas duas ferrovias e sete rodovias federais. No Tocantins, 2.000 manifestantes fecharam nove rodovias. No Piauí, 600 pessoas fecharam a principal rodovia que dá acesso à capital, Teresina. No Maranhão, foram fechadas a BR 316 e a rodovia Belém Brasília, com 600 militantes.
Em Rondônia, o fluxo na BR-364 foi interrompido. No Rio Grande do Norte, o alvo foi a BR-304, perto de Natal, de acordo com o movimento.
Na Paraíba, o protesto foi na avenida Epitácio Pessoa ,em João Pessoa, com 500 pessoas. No Ceará, a BR-116 foi trancada com apoio de uma comunidade que luta pela construção de uma passarela. No Mato Grosso do Sul, foi trancada uma rodovia, segundo o MST.
Reforma agrária
Dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) apontam que o número de desapropriações de terra para fins de reforma agrária no primeiro ano do governo Dilma Rousseff foi o menor dos últimos 16 anos.
Segundo o MST, o Ministério do Planejamento decidiu, em abril, cortar 60% dos recursos do Incra, o que, segundo o movimento, impedirá novas desapropriações e investimentos em programas de assistência técnica e de educação nos assentamentos. Os sem-terra querem que o orçamento do Incra seja reposto e pedem uma audiência com a presidente Dilma Rousseff.
O MST reivindica ainda um plano emergencial para assentar 186 mil famílias acampadas pelo país e a criação de um programa de desenvolvimento dos assentamentos, com investimentos em habitação rural, educação, saúde e crédito agrícola.
*Com reportagem de Guilherme Balza, em São Paulo
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