"Me sinto magoado", diz advogado-geral da União sobre braço direito investigado pela PF
Em entrevista nesta quinta-feira (29) em Brasília, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, disse que se sente "magoado" com a conduta de seu ex-braço direito, José Weber Holanda, um dos principais alvos da Operação Porto Seguro desencadeada pela Polícia Federal no final da semana passada.
"Me sinto magoado, chocado, triste. A rigor, sinto que ele [Weber] tem condições de se esclarecer", disse Adams, que admitiu ter responsabilidade sobre a indicação de Weber à AGU (Advocacia Geral da União). Ele disse que conhece Weber há mais de dez anos, e que chegou a ser subordinado a Weber quando trabalharam juntos no Rio Grande do Sul. Adams afirmou que mantinha com o investigado relação profissional e pessoal.
Apesar da operação da PF, Adams defendeu a atuação da Advocacia Geral da União. "Não se pode falar que toda a AGU está sob suspeita. A AGU é muito grande e não há identificação de nenhum outro servidor envolvido."
"Infelizmente esse evento [a operação da PF] prejudica a instituição. Não tenho dúvida que afetou a credibilidade desta instituição. É fundamental para nós identificar onde estão os desvios e corrigi-los", afirmou.
O ministro também se disse indignado, e disse que o antigo auxiliar excedeu as suas funções. "O que está em jogo aqui é a credibilidade de uma instituição. A situação da instituição, que me é cara, foi prejudicada", afirmou.
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O advogado-geral da União afirmou ainda que o órgão tem investigado as denúncias da PF e que desde segunda-feira foi instalada uma sindicância interna. A AGU está fazendo ainda um "pente fino" em todos os pareceres mencionados no inquérito e que tinham participação de Weber. Segundo a PF, Weber participaria de quadrilha que comprava pareceres públicos atendendo a interesses privados.
Adams disse ainda que deu um prazo de 15 dias para que a instituição mude seus procedimentos internos para que haja mais transparência na emissão de pareceres. Segundo ele, são emitidos mensalmente mais de 9 mil pareceres.
Além de Weber, afastado, são advogadas-adjuntas da AGU Mariana Rodrigues Melo e Rosangela Oliveira.
Protesto
A entrevista de Adams ocorreu no mesmo dia em que servidores da AGU fizeram protesto em frente ao órgão pedindo o afastamento dele do cargo.
A manifestação reuniu cerca de 60 pessoas. Servidores também pediram o afastamento do chefe da consultoria, Arnaldo Godoy, do cargo.
Questionado, o ministro negou que vá deixar o posto. "Não tenho nenhuma responsabilidade na decisão [de ficar no cargo]." Adams disse que não colocou o cargo à disposição e que a presidente também não teria pedido que ele se demitisse.
Sobre sua relação com a presidente Dilma Rousseff, Adams disse apenas que "continua exatamente como está. Evidentemente uma situação muito difícil". O ministro disse que tem conversado com telefone com a presidente, que pediu que se punisse "quem tivesse que ser punido".
Em entrevista no começo desta semana, Adams avaliou como correta a decisão da presidente Dilma de exonerar os servidores públicos investigados na Operação Porto Seguro da Polícia Federal, inclusive o ex-número dois da AGU. Adams havia dito que o episódio decorrente da operação da PF era uma "crise pontual". "Nós temos que superá-la", enfatizou.
A investigação
Na sexta-feira (23), a PF prendeu seis pessoas acusadas de participar de organização criminosa que funcionava infiltrada em órgãos federais para favorecer interesses privados na tramitação de processos. As prisões foram efetuadas em São Paulo, Santos e Brasília. Foram presos em Brasília dois servidores públicos e um advogado, além de dois advogados em Santos e um empresário na capital paulista. Ao todo, 18 pessoas foram indiciadas.
A investigação que desbaratou o esquema começou em março de 2011. A PF foi procurada por um servidor do TCU (Tribunal de Contas da União) que disse ter recebido uma proposta para receber R$ 300 mil em troca de elaborar um parecer técnico beneficiando um grupo empresarial do setor portuário.
A testemunha teria se arrependido após receber R$ 100 mil e denunciado o esquema à Polícia Federal. A instituição afirmou que no decorrer da investigação descobriu que a denúncia dele não era um caso isolado. Os membros da quadrilha passaram então a ser identificados e investigados.
A quadrilha cooptava servidores de órgãos públicos para acelerar a tramitação de procedimentos e elaborar pareceres técnicos fraudulentos a fim de beneficiar interesses privados.
Os indiciados responderão pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha, tráfico de influência, violação de sigilo funcional, falsidade ideológica e falsificação de documento particular, cujas penas podem ir de 2 a 12 anos de prisão.
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