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Leia a transcrição da entrevista de Gilberto Kassab à Folha e ao UOL

Do UOL, em Brasília

29/08/2013 06h00

Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, participou do "Poder e Política", programa do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 28.ago.2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

 

 

Gilberto Kassab – 29/8/2013

Narração de abertura:

Gilberto Kassab tem 54 anos. É formado em engenharia e em economia pela Universidade de São Paulo.

É ex-prefeito de São Paulo e presidente do Partido Social Democrático, o PSD, legenda criada por sua iniciativa.

Gilberto Kassab chegou à Prefeitura de São Paulo como vice de  José Serra, do PSDB. Tornou-se prefeito em 2006, quando Serra deixou o cargo para disputar o governo do Estado. Em 2008, reelegeu-se.

Gilberto Kassab também exerceu mandatos de vereador, deputado estadual e federal. Já foi filiado ao PL, que hoje é o PR; e também ao PFL, atual Democratas.

Seu partido, o PSD, foi fundado em 2011 e hoje tem a 4ª maior bancada da Câmara dos Deputados.

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Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. E a gravação é realizada aqui no estúdio do Grupo Folha, em Brasília.

O entrevistado desta edição do Poder e Política é o Gilberto Kassab, ex-deputado federal, ex-prefeito de São Paulo e atual presidente nacional do PSD.

Folha/UOL: Olá. Como vai o sr.? Agradeço pela sua presença aqui no estúdio do grupo Folha. Eu começo perguntando: O sr. criou um novo partido, o PSD. Vários novos partidos estão sendo criados. Sobretudo um chama muita atenção, a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. No melhor do sr. juízo, esses partidos têm atendido às especificações da lei para receberem os seus registros?
Gilberto Kassab: Olá, Fernando. Obrigado pelo convite. É um prazer muito grande mais uma vez estar aqui com você, com o Grupo Folha e com o UOL.

E é evidente que é um tema importante. Um tema que é polêmico para o momento por conta do prazo do registro de filiações para as pessoas que queiram disputar as eleições no ano que vem. Porém, é importante registrar que nós temos uma legislação. Vale aqui lembrar, eu quero deixar minha posição, eu defendo ardorosamente a oportunidade que a ex-senadora e ex-ministra Marina tenha de ser candidata a presidente da República. As próprias pesquisam mostram que ela tem um apoiamento importante na sociedade brasileira, portanto é importante que ela se apresente para que ela represente esse eleitorado que ela tem momentâneo porque as pesquisas flutuam ao longo do tempo.

Mas também é importante registrar que nós temos quase 40 partidos no Brasil. E existe uma lei. Eu torço para que tudo dê certo com a rede. E torço para que, caso não dê certo, que ela encontre uma alternativa para se apresentar perante o eleitorado brasileiro.

Mas o sr. acha que o Tribunal Superior Eleitoral deve atender ao pedido da ex-senadora Marina Silva e validar as assinaturas aqui em Brasília e não esperar a validação nos cartórios eleitorais?
Olha, é muito difícil você dar a sua opinião em relação a um processo jurídico quando você não acompanha os fatos. Então, eu não tenho domínio dos fatos da criação da Rede, partido da ex-senadora. Portanto, é muito complexo você dar uma opinião.

Volto a dizer. Eu confio muito na Justiça Eleitoral. Ela tem se mostrado, ao longo das últimas décadas, com um padrão de comportamento, de seriedade, exemplar. Tanto é que, se você fizer um histórico das últimas décadas, você não tem denúncias em relação á Justiça Eleitoral, qualquer que seja o município, o Estado, o país. Ela funciona exemplarmente bem. Não apenas na questão dos julgamentos, mas também na operação. O Brasil é um exemplo para o mundo inteiro em relação ao sistema de votação, não é? E eu tenho certeza absoluta que o Tribunal Superior Eleitoral vai se manifestar de uma maneira adequada. Vai se manifestar de uma maneira correta. Eu tenho certeza absoluta que ele vai respeitar a lei, até porque os tribunais, o Poder Judiciário, em qualquer lugar do mundo é para que eles possam fazer com que prevaleça a lei.

Mas a impressão que se tem é que haverá um precedente numa interpretação um pouco elástica da legislação eleitoral se o registro for concedido ao partido de Marina Silva. Outros acham que não. Que, enfim, está dentro da lei. Pelo que o sr. conhece, qual é a sua interpretação?
Olha, existe um limite na admissibilidade da elasticidade. Porque a lei tem limites, não é? O Poder Judiciário interpreta as leis, é evidente. Ele segue as leis. Então, existe uma lei que deve ser obedecida. Essa elasticidade é compreensível diante de algumas circunstâncias, mas todos nós temos que tomar muito cuidado porque a lei é para todos e em todos os momentos, não é?

Nós não teremos eleições apenas no ano que vem e nós não vivemos apenas o dia de hoje politicamente.  E o Tribunal sabe disso. Na medida em que ele atende uma maneira um partido, ele vai atender dessa mesma maneira todos aqueles partidos que tentarem ser formados a partir de agora. Mas eu confio muito na Justiça Eleitoral.

O Brasil assistiu protestos de rua intensos em junho e depois alguns mais. Os partidos políticos e os governos souberam interpretar e responder as demandas das ruas?
Olha, Fernando. Existe uma lição a partir desses movimentos das ruas. Essa lição tem que ser assimilada por todos aqueles que estão na administração pública principalmente. É a necessidade e importância da transparência porque o cidadão, qualquer que seja – você, eu, quem está nos assistindo –, tem o direito de saber tudo o que acontece com o seu dinheiro, o dinheiro que ele paga com os seus impostos. E hoje tem mecanismos que levam a ele ter a informação mais rapidamente. O poder público, o gestor, que tiver essa agilidade, vai ter menos questionamento. Pode até ter discordância.

Então, o povo quis dizer quando ele foi às ruas que ele exige seriedade no trato do dinheiro público. Se ele exige seriedade, ele não pode ter dúvidas. Se ele não poder ter dúvidas, o gestor precisa ter a agilidade para mostrar o que está fazendo. E hoje nós temos mecanismos – seja internet, seja outras formas de tecnologia – que fazem com que, praticamente em tempo real, a informação possa ser levada ao cidadão.

Então as ruas mostraram que elas vão exercer o seu direito como elas sempre exerceram, mas agora com esses instrumentos, como são as redes sociais, que lhes permite muito mais agilidade, muito mais poder de mobilização. Então, quem está na vida pública que se cuide porque o eleitor, o cidadão, o povo, está organizado. Ele quer fazer valer os seus direitos e saber a informação. E aqueles que errarem vão pagar muito mais rapidamente pelos seus erros porque o povo mobilizado às vezes é muito mais rápido do que o Poder Jucidiário, do que a imprensa. E ele faz a denúncia em tempo real.

Isso é positivo, é saudável para a democracia. Porém, é muito importante que essa organização esteja blindada dos movimentos organizados que tem outros motivos, que tem outros objetivos. Como levar a violência às ruas, como se manifestar de uma maneira adequada. E, aí, o poder público precisa manter o seu poder de autoridade. Porque precisa haver autoridade, precisa haver ordem porque o povo também quer isso. O povo quer justiça, mas o povo também não quer interferência dos baderneiros, daqueles que pregam a violência.

O sr. foi prefeito de São Paulo. Na cidade de São Paulo, os poderes constituídos – o governo do Estado, a prefeitura de São Paulo – souberam reagir corretamente aos protestos, inclusive para conter a violência?
Olha, é evidente que é fácil falar depois porque ninguém estava esperando, sempre tem uma primeira vez, uma mobilização com essa intensidade. Houve erro sim.

Quais?
Houve erros no diálogo. Houve erros no momento em que aconteceu esse diálogo. Em alguns momentos, houve erro de não se enfrentar a violência como ela deve ser enfrentada. Houve erros de não respeitar aqueles que queriam legitimamente fazer a sua manifestação e não foram ouvidos.

Então, como foi a primeira vez, o importante é que a lição seja assimilada. Que não haja mais esses erros. É importante ter diálogo. É importante poder exercer a sua autoridade para resguardar o direito das manifestações. Então, houve erros, mas que essa primeira oportunidade sirva de lição para que não aconteça mais os erros porque, cada vez mais a partir de agora, essas manifestações vão acontecer. E que sejam pacíficas, organizadas pelo bem do desenvolvimento do Brasil.

Que nota o sr. dá, de 0 a 10, para a reação do governador Alckmin e do prefeito Fernando Haddad?
É difícil dar nota porque você estando longe, você não consegue avaliar.

Mas eles foram bons, médios...?
Olha, teve erros e teve acertos. Acertaram...

Um acertou mais do que o outro? Foi igual?
Eu acho que houve primeiro um erro de não vincular os aumentos [das passagens de ônibus] à negociação da desoneração. Já que era para fazer a desoneração, por que não foi feito simultaneamente?  Então, houve sim falta de integração entre os poderes públicos – o municipal, o estadual e o federal – para que as ações fossem concatenadas, não é? Porque foi feita a desoneração depois que foi dado o aumento. E aí voltou atrás do aumento. Então, é evidente que foi desorganizado o processo.

Do ponto de vista federal. A presidente Dilma Rousseff apresentou várias propostas, falou à nação em rede nacional. As propostas que ela apresentou e as ações que empreendeu foram as melhores e as mais apropriadas?
Naquele momento, todas elas foram positivas. Aqui, o que você pode acrescentar à sua pergunta é se foram suficientes. Eu acho que ainda não. Tanto é que o próprio Congresso Nacional, os poderes municipais, os prefeitos e os governadores estão discutindo medidas para evitar novos aumentos no ano que vem, como por exemplo uma contribuição da Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico] no plano municipal em relação à gasolina. Tem várias ideias sendo debatidas. O que mostra que, diante das circunstâncias, as medidas ainda são insuficientes.

A presidente chegou a propor uma assembleia constituinte exclusiva para a reforma política. Recuou em seguida e falou em plebiscito para a reforma política. Foram boas propostas?
Olha, você sabe que eu defendo a reforma política. Eu acho que ela fundamental para que a gente tenha um sistema de representação mais autêntico, mais legítimo. E também não sou contra o plebiscito, não sou contra constituinte exclusiva para a reforma política, nada disso. Mas as medidas de curto prazo sempre são abandonadas. Por exemplo, existe uma comissão de reforma política no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados. Essa comissão está praticamente criando um consenso de se votar o fim da coligação nas eleições proporcionais e o restabelecimento da cláusula de barreira. Por que o Congresso não vota já essas duas medidas? Eu não entendo. Eu acho quase que inadmissível porque não é conflitante com a proposta do governo. O governo, quando mandar um projeto de plebiscito, qualquer que seja a forma...

Qual é o seu palpite sobre a razão pela qual não são votadas essas duas medidas?
No caso específico, eu não sei porque existe um consenso no Congresso Nacional. Eu acho que, no caso dessas duas medidas, valeria a pena o governo refletir se ele não está errando, se ele não pode aproveitar esse momento para pelo menos já votar o fim da coligação nas proporcionais e o restabelecimento da cláusula de barreira para as eleições de 2018, que é a proposta do Congresso. Não é nem 2014 e nem 2016. Para que os atuais governadores, os atuais prefeitos não se sintam vítimas da uma mudança na legislação. Legislação essa que eles foram eleitos. Então, é incompreensível, Fernando.

O sr. hoje tem um partido que apoia a administração da presidente Dilma Rousseff em muitos aspectos. Como está indo a administração da presidente Dilma Rousseff na sua avaliação?
Primeiro eu quero registrar a posição do partido, Fernando. Nós temos um entendimento interno no partido desde a sua criação de que ao longo desse primeiro mandato da presidenta Dilma, nós daríamos a todos os nossos parlamentares o conforto de serem independentes para atender aqueles que estariam vindo para o partido e tinham nas eleição de 2010 apoiado a candidatura Dilma e, com isso, queriam continuar apoiar o seu governo e também dando o conforto para aqueles que não apoiaram a presidente Dilma, como é o meu caso. Eu apoiei o então candidato Serra. E poderiam os parlamentares, principalmente, continuar tendo uma posição um pouco distante. Eles sentiam mais confortáveis em ficar independentes.

Então, o partido no Congresso não é da base do governo. O partido é independente. Porém, existe uma predisposição forte no partido. As consultas estão em andamento.

Porque há dois aspectos, não é? Um é apoiar a reeleição da presidente e o outro é dar sustentação à atual administração.
Essa sustentação...

Tem sido dada, não é?
Tem sido dada naqueles projetos que a bancada entende que sejam projetos vinculados ao que ela pensa que seja bom para o país. Mas não teve nenhum momento em que o partido fechou questão de ir ao junto aos seus parlamentares [e dizer]: “Vão voltar com o governo dessa maneira”. Todos eles têm liberdade para votar com o governo e liberdade para votar contra projetos do governo.

Mas, antes que a gente avance sobre a posição final que vai ser tomada, a sua avaliação atual sobre o nível de eficiência da administração pública federal, qual é?
Eu sempre digo, até porque é um lugar-comum nas avaliações dos últimos 16 anos do país. O governo Fernando Henrique teve avanços extraordinários no campo da economia. O grande mérito do presidente Lula foi manter esses avanços. E [o governo Lula] iniciou algumas ações no campo social que foram preservadas pela presidenta Dilma. Agora, ela tem tido, mais na fase final desse seu primeiro mandato do que na fase inicial, posições muito importantes no campo da infraestrutura. Nós vamos finalmente ter no Brasil os aeroportos em pouco tempo funcionando de maneira adequada ou de avanços bastante grandes. O Brasil inteiro está em reformas. Os aeroportos, seja Guarulhos, que é o maior, seja os outros menores, o de Brasília, Viracopos, estão passando por reformas, passando por um aumento na sua capacidade de atendimento. A questão dos portos. A legislação foi alterada. Nós vamos ter avanços notáveis na questão dos portos. Daqui a algumas semanas, nós teremos a licitação na concessão da operação de estradas com obras importantes que poderão acontecer ou não, até porque a licitação... Ainda existem dúvidas em relação ao seu sucesso.

Então, a presidente Dilma pode estar construindo ou iniciando a construção de uma marca importante do seu governo, que é no campo da infraestrutura, que vai dar suporte a um eventual crescimento. Retomada do desenvolvimento do país com o desenvolvimento da nossa economia.

Mas há uma impressão geral, que é evidentemente contestada pelo governo, sobre uma espécie de perda de credibilidade na capacidade gerencial do governo, na capacidade de o governo incentivar investimentos. E muitos acreditam que seria necessário uma mudança na equipe econômica, seja de peças, de pessoas ou de forma de atuar. Qual é a sua opinião sobre isso?
É o que eu disse. Estamos vivendo um momento importante no governo. A análise...

Houve perda de credibilidade?
... A análise tem fundamento em relação... Eu não sei se é credibilidade ou não, mas os investidores estavam inseguros. Isso é público. Esse momento está passando, tanto é que vamos aqui falar, os aeroportos, todos eles, estão em obras no Brasil. São investimentos com parte expressiva de capital privado. Os portos, com a nova legislação, eles vão sofrer, vão passar por investimentos importantes. Então, você tem razão na sua observação em relação a uma insegurança que, muito possivelmente – como brasileiro, eu torço para que a minha expressão seja correta – existia. E está passando porque nós estamos vendo ele voltando. Voltando os aeroportos, os portos. Talvez, e espero que sim, nas estradas.

Então, esse que era um problema, a própria presidente pode ter identificado, superado esse momento com mudanças importantes no conceito de convivência com o investidor.

Houve algum erro estratégico do ponto de vista macroeconômico que levou o país a essa situação que agora, segundo o sr., estaria passando? Ou não?
Olha, teve momentos importantes que causaram um certo estresse na relação do poder público com o investidor.

Por exemplo?
Na questão da forma como que foi anunciado, por exemplo, o reajuste nas tarifas da energia elétrica. E eu defendo o que foi feito pelo governo. Mas houve, talvez, um erro no diálogo, na forma com que foi abordada a questão. E, assim como essa questão, algumas outras que se você olhar isoladamente diante da dimensão do que é o país parecem coisas menores mas, no seu conjunto, acabou se criando uma expectativa ruim em relação a segurança para os investimentos do país.

Mas esse momento – é isso o que eu quero dizer – foi superado. Esse momento hoje acho que é uma página virada diante dos investimentos que voltaram a acontecer, principalmente nas obras de infraestrutura no país.

As manifestações de junho abateram a popularidade de quase todos os políticos, talvez de todos. No caso da presidente Dilma Rousseff, houve uma queda abrupta da popularidade, muito grande, de junho para julho. E em seguida, no começo de agosto, ela recuperou alguns pontos. Poucos, é muito longe ainda do que ela tinha. Com a sua experiência na política, o sr. acha que existe uma curva de crescimento para ela ou ela dificilmente chegará na popularidade que já teve?
Eu acho que existe uma possibilidade grande de ela retomar a sua popularidade até porque essa queda foi geral. Ela atingiu a todos. Fruto da insatisfação da sociedade brasileira com a eficiência do uso dos recursos públicos, com a eficiência dos serviços prestados pelo poder público. Foi de caráter geral. Porém, na medida em que as manifestações foram se acalmando, nós voltamos a rotina e você sabe que a avaliação também tem o seu aspecto comparativo. As pessoas comparam fulano com beltrano. E aí começam a avaliar. “Poxa, está bom”, “Está ruim”. E, diante dessa constatação, dessa avaliação, eu acredito sim que a presidente Dilma tem uma margem grande, um tempo grande para se recuperar e ela vai se recuperar.

O próprio publicitário, marqueteiro da presidente Dilma Rousseff, João Santana, disse que ela, em quatro meses, já teria recuperado. O sr. acha que é um pouco otimista ou pode ser isso mesmo, lá para o final do ano já recuperar?
Não posso fazer essa afirmação até porque o próprio João Santana, ao fazê-la, é muito mais uma intuição dele. Mas, mantida essa curva de retomada do seu índice de popularidade, eu não acho difícil que ela tenha uma melhora acentuada até o final do ano.

Sobre o seu partido agora. Como está o atual processo de consultas internas para validar uma posição para o ano que vem a respeito de apoiar ou não a reeleição da presidente Dilma?
Neste momento, como qualquer partido, o partido está procurando selecionar seus pré-candidatos para as eleições de deputado estadual, deputado federal, senador, governador. Fase essa que se encerra no dia 30 de setembro. Deixamos o mês de agosto e setembro para esse processo. Todos os Estados. Aliás, como qualquer partido no Brasil.

Em outubro, retomamos o processo de consulta. O processo de consulta é muito mais uma referência para a conduta do partido até porque a verdadeira consulta acontece na convenção do partido no mês de junho [de 2014], mas é evidente que...

Por enquanto, qual é o placar?
O meu sentimento que, salvo nos Estados que tenham um presidenciável ou um pré-candidato a presidente da República, existe uma convicção grande, uma torcida, para que o partido caminhe com a presidente Dilma no seu projeto de reeleição. Por todo o país e, principalmente, o dos seus principais líderes. Essa é a vontade do governador [Raimundo] Colombo em Santa Catarina, que caminhemos com a reeleição da presidente Dilma. É a vontade do govenador Omar Aziz [do Amazonas]. É a vontade da senadora Kátia Abreu [PSD-TO]. É a vontade dos nossos sete vice-governadores de Estado no partido. E de uma maioria grande dos nossos deputados federais e principalmente aqueles que vieram já do apoio à candidatura da presidente Dilma.

Mas, volto a dizer, o momento definitivo vai ser o mês de junho, que é o mês das convenções.

Mas a tendência continua sendo a dar o apoio à reeleição da presidente Dilma?
A tendência continua sendo essa.

O PSD hoje, na Câmara, efetivamente – porque tem alguns deputados que estão licenciados – é a quarta maior bancada. Para efeito de tempo eleitoral, seria a terceira? É isso?

A terceira.E, agora neste mês de setembro que entra, vários partidos novos podem ser criados.
Dois ou três.

Dois ou três. E alguns desses partidos falam abertamente, os organizadores, que vão receber filiações de deputados, inclusive do seu partido, o PSD. O sr. tem algum cálculo sobre eventual perda de congressistas ou, enfim, filiados importantes para esses novos partidos?

É muito natural quando surge um novo partido, obedecido as regras da legislação, que qualquer parlamentar que tenha uma certa insegurança de qualquer natureza política, de relacionamento interno, seu Estado, no plano nacional, que avalie a conveniência, já que a lei lhe dá esse direito, de sair do partido. Acho que não apenas o PSD como qualquer partido pode sim ter parlamentares que...

Quantos seriam os que o sr. poderia eventualmente perder? Em números, mais ou menos.
Olha, eu tenho uma convivência rotineira com todos eles. E eu posso lhe dizer que existem quatro ou cinco parlamentares que estão entrando no partido. Acabou de entrar a deputada federal em Roraima. Já está entrando, praticamente, consolidou já o processo de entrada de mais três parlamentares. E tem também uns quatro ou cinco que me procuraram já que estavam avaliando. Alguns eu chamei para conversar e eu dei totalmente liberdade...

Para sair?
Não, não. Incentivei que façam a reflexão e que, caso saiam, que sejam felizes, contem com o nosso respeito, a nossa consideração. Portanto, eu acredito que se sair, vão sair poucos e vão entrar também alguns.

Agora, para efeito do cálculo do tempo de rádio e TV, o que vale é aquele número que foi homologado na criação?
52 deputados titulares.

Porém, se algum desses 52 saírem, eles levam para o novo partido o tempo de TV também?
Sim. A legislação permite.

Aí então diminuiria um pouco.
Aí diminuiria.

Aí o sr. está dizendo que existem quatro ou cinco que conversaram com o sr. e que poderiam sair?
E que têm tendência de não sair.

Entendo. Podem, mas têm [tendência de não sair]...
Sim. Que estão conversando, mas têm tendência de não sair.

Entendi. E isso daí, evidentemente, vai ser decidido em setembro, que é o prazo final. Até 5 de outubro, na verdade. Não é isso?
É. O parlamentar que vai sair ele já está bem encaminhado para sair, qualquer que seja ele, porque é muito difícil você sair em cima da hora porque, geralmente, quando sai, você quer levar os seus prefeitos, os seus vereadores, seus deputados estaduais, as pessoas que você tem mais ligação. Então, eu acredito que aqueles que vão sair já se definiram e já estão trabalhando. Por isso que eu digo que a grande maioria desses quatro ou cindo não deve sair porque eles mesmo disseram que estão avaliando, mas muito possivelmente ficam.

Qual é o cenário, com todas as dificuldades que existem para fazer cenários ainda, que o sr. imagina de candidatos a presidente da República no ano que vem? Quem o sr. acha que vai ser candidato? Além da presidente Dilma, não é?
Olha, eu vou aqui fazer um exercício de imaginação, não é? Porque eu não tenho informação. A minha informação é igual a sua. Eu acredito que a presidenta Dilma é candidata. Que a ex-senadora e ex-ministra Marina é candidata. Tem uma tendência grande para o governador [de Pernambuco] Eduardo Campos, mas ele mesmo tem dito que não é uma coisa definida. Mas o seu partido avalia, sim, lançá-lo. O senador Aécio vai sair pelo PSDB. Pelo que eu observo, eu acredito que tem uma chance grande do ex-governador José Serra sair candidato por um outro partido. Pelo que eu observo. Ele não me disse isso, mas pelo que eu observo. E acredito que são esses.

O sr. acha que Joaquim Barbosa vai desejar ser candidato?
Acredito que não. Ele mesmo já teve oportunidade de se manifestar.

O sr. mencionou. numa outra resposta, a tendência do seu partido é caminhar – a tendência, ainda não definida – com a reeleição, dando apoio oficial para ela. Tem algum candidato desses que o sr. listou que o seu partido teria muita dificuldade em apoiar na ponta oposta?
É uma discussão que acontece hoje é quem apoiar. Não tem essa discussão...

Em quem não apoiar?
É. Porque eu falar em nome do partido não tendo essa consulta seria uma leviandade. A discussão é quem apoiar, e não quem não apoiar. Portanto, é uma resposta difícil.

O sr. mencionou também que, pela observação que o sr. tem, há uma possibilidade ainda do ex-governador José Serra ser candidato a presidente por algum outro partido que não o PSDB.
Eu acredito.

Por quê?
Porque são as manifestações de companheiros seus. Algumas manifestações cuidadosas que ele tem feito. Mas, para quem conhece o Serra, portanto, pode concluir que existe essa avaliação sim.

É bom pra carreira dele que ele seja candidato fora do PSDB?
Olha, eu prefiro falar da figura do Serra. Eu tenho admiração por ele, eu acredito ser ele uma das pessoas da vida pública mais bem preparadas do país, todos sabem da estima que eu tenho por ele, não é? Então ele tá preparado pra ser candidato, é uma pessoa bem preparada, está preparado para ser um bom presidente da República, se vencer as eleições, portanto a questão PSDB precisaria ser respondida por alguém que esteja vivendo o momento dentro do PSDB. Eu não estou vivendo esse momento, é muito difícil responder.

O sr. tem uma relação muito amistosa com ele, foi vice-prefeito em São Paulo, quando ele era prefeito, apoiou o José Serra para presidente em 2010, na eventualidade dele vir a ser candidato em 2014 a presidente e pedir pra conversar sobre uma possível aliança com o seu partido, qual é a perspectiva disso prosperar?
A minha posição será a posição do meu partido, não é? Sou presidente de um partido. E, portanto, qualquer que seja a conversa que eu tenha com o Serra ele saberá, e como ele sabe, que a tendência do nosso partido, qualquer que seja o quadro, é apoiar a reeleição da presidente Dilma.

É difícil o seu partido apoiar o José Serra em 2014, então?
É difícil deixar de apoiar a presidente Dilma.

Isso significa então que é difícil apoiar o José Serra?
É, porque diante das circunstancias é um quadro muito bem encaminhado, é público isso.

Pra ele ainda sim, nessas circunstâncias, sem o apoio de um partido grande, o sr. acha que ele teria chances competitivas de concorrer a presidente?
Eu não quero aqui menosprezar a importância dos partidos políticos. Não quero. Mas tem algumas figuras no Brasil que, no momento da sua vida, o partido já não é tão importante, as alianças, numa eleição presidencial... e o partido não é tão importante quanto seria no passado. Falando do presidente Lula, presidente Fernando Henrique Cardoso, do próprio ex-governador José Serra. Não que não seja importante o partido, mas em outros momentos da sua vida o partido teve mais importância, qualquer que seja ele. O tempo de televisão teve mais importância, não é? Todos sabem quem é o Serra, o que ele pensa, o que é o Lula, o que ele pensa, o que é o Fernando Henrique, o que ele pensa, então...

O que isso significa?
São pessoas que numa campanha a presidente da República, elas vão ter o contato direto, através dos meios de comunicação, dos debates, não é? Com o eleitor. Então a figura do partido ela perde um pouco de importância numa candidatura presidencial de pessoas, de figuras publicas como essas.

Ainda que não tenha tempo de TV por conta de estar num partido menor?
Porque você tem hoje alternativas importantes, como é a internet, como são os debates, com uma audiência grande em alguns meios de comunicação, como são as coberturas diárias que os meios de comunicação fazem das campanhas.

O sr. acha que José Serra seria competitivo mesmo fora do PSDB, é isso?
Eu acredito que sim, acho que é um candidato que tem muito valor e portanto vai ter, por parte do eleitorado, um acompanhamento das suas propostas, que independe da questão partidária.

O sr. tem conversado com ele? O que ele fala pro sr. sobre isso?
A questão da campanha eu não tenho falado com ele, sinceramente. O Serra é uma pessoa muito inteligente, mas muito reservada na articulação política. E aqui realmente falo com muita sinceridade, eu não tenho discutido essa questão com ele.

O sr. acha que a eleição para presidente no ano que vem tende a ser resolvida no primeiro ou no segundo turno?
No segundo turno.

Por quê?
Porque você já começa com três candidatos com uma probabilidade grande de chegar ao segundo turno.

Quais sejam?
A presidente Dilma tem uma condição importante. É muito difícil que ela não chegue ao segundo turno. Pode até ganhar no primeiro turno. A candidata Marina, se consolidando como candidata, é uma candidata no patamar dos 20% hoje, não é? Falta mais de um ano para as eleições, mas você pode associar a candidatura da Marina a um patamar de 20%.  A candidatura do Serra também é uma candidatura que você pode associar a um patamar de 20%. E a candidatura do senador Aécio é uma candidatura que vem de um partido importante, que tem dois governos estaduais importantes – de Minas Gerais e São Paulo – que pode também atingir esse patamar de 20%. E o Eduardo Campos, caso se confirme a candidatura, é uma pessoa de muito valor, com muito talento. Eu não digo que é uma promessa para o futuro porque ele já é uma realidade. Mas, no plano nacional, é uma promessa importante para o futuro do país, seja para 2014, 2018, 2022.

Então, diante desse quadro, eu acredito que é muito difícil que nós não tenhamos segundo turno. Se não tivermos, a única candidata que pode ganhar no primeiro turno e que, até há alguns meses atrás, tudo levava que poderia ganhar e ela está retomando esse crescimento da sua popularidade, é a presidenta Dilma.

Quem seria, numa disputa dessas, o principal adversário da presidente Dilma? Dada a conjuntura atual.
Todos esses candidatos que nós temos, aqui na entrevista lembrados, são pessoas de valor. São pessoas que...
Mas quem que competitivamente tem mais chance de espetar, enfim, o governo e eventualmente ir para o segundo turno contra ela?
Olha, é muito difícil uma projeção agora, não é? O Serra já foi para o segundo turno. Então, ele já teve um percentual importante dos eleitores que o levaram para o segundo turno. A Marina já teve uma votação expressiva. E o senador Aécio, como eu disse agora, tem muita consistência política na sua candidatura.

Mas dos três, quem o sr. acha que vai acabar vingando?
Qualquer um dos três pode vingar. Qualquer um dos quatro pode vingar, com o segundo colocado podendo ou não ir para o segundo turno, caso tenha. Sinceramente, os quatro têm qualidade para isso. As quatro candidaturas têm qualidade para isso.

O sr. está falando muito com o Serra como candidato, não é? Parece que ele já vai ser mesmo, não é?
Não. Eu estou partindo do princípio que ele possa ser, não é? Se ele não for, são os três. Sempre substituindo por três.

Se ele não for, diminuem as chances de ir para o segundo turno a eleição?
Sim, porque [se] você tem mais candidatos, aumentam as chances de ter segundo turno.

O sr. é candidato ao governo de São Paulo no ano que vem?
O nosso partido, através da direção nacional, tem uma diretriz recomendando, definindo, que os Estados se esforcem, deem prioridade à candidatura própria a governador. Muito importante na fase de criação do partido.

O partido ainda não nasceu definitivamente, Fernando. Nós não temos nenhum deputado estadual que foi eleito pela legenda, nenhum deputado federal que foi eleito, governador, vice-governador, senador... Eu sempre digo que o PSD vai nascer no dia 1º de janeiro de 2015. Daí, sim, tendo já vereadores, prefeitos, vice-prefeitos, governadores, deputados eleitos pela legenda.

Então, nós estamos na fase de criação. Nessa fase, nós temos que nos esforçar para ter o maior número possível de candidatos. Como foi nas eleições municipais. Tanto é que nós elegemos 500 prefeitos. O terceiro partido, numericamente, em termos de eleição de prefeitos. Então, em São Paulo não será diferente. Nós devemos ter sim um candidato a governador. E eu tenho dito que...

Essa é uma decisão já tomada ou ainda é possível fazer uma aliança?
Não. É uma decisão tomada.

Terá candidato próprio?
O partido vai ter candidato próprio a govenador [de São Paulo].

E o sr. desejaria ser esse nome? Vai postular?
Não. Eu não vou postular. Eu acho que um cargo majoritário nunca pode ser fruto de uma postulação, de uma obstinação, de uma ansiedade. O que existe no partido – isso seria aqui uma bobagem eu não dizer porque isso é de conhecimento público – uma vontade das lideranças do partido no Estado – e eu fui consultado já para isso – que tendo candidato, que seja eu o candidato. E me consultaram caso eu aceitaria caso no início do ano se defina que o nome preferencial seja o meu. Eu já disse que caso isso se confirme, eu aceitarei.

Nas 27 unidades da Federação, em quantas o sr. imagina que o PSD poderá ter candidato próprio aproximadamente?
Com essa vontade de darmos prioridade à candidatura própria, eu acredito – nós fizemos um levantamento outro dia numa reunião do partido – que nós possamos ter em dez Estados candidato próprio a governador. Deveremos ter no Amazonas, Santa Catarina, São Paulo, Amapá, Rio Grande do Norte. E poderemos ter em mais uns oito ou nove Estados. Vamos dizer que desses oito ou nove que estejam [com a candidatura] encaminhados, mas não definidos, tenhamos, pode chegar a dez Estados. O que é um bom número.

Candidatos com sucesso para deputado federal em termos de eleger bancada. Qual é a meta o PSD  realista? Hoje tem 52 [deputados] que se filiaram na fundação. Quantos o sr. acha que terá o PSD voltando em 2015 já eleitos?
Nós não fizemos esse levantamento. Mas a meta tem que ser bastante otimista, não é? Porque o importante é que haja um esforço em todos os Estados para eleger o máximo possível.

Os seus adversários dizem que o partido volta menor depois da eleição. O sr., evidentemente, vai negar isso. O que o sr. acha que seria o...
O importante é que ele, no dia 1º de janeiro de 2015, nasça com uma cara, com uma proposta e com uma posição no Congresso Nacional. Se vencermos as eleições, nós vamos deixar de ser independentes. Porque a independência, a partir do dia 1º de janeiro, acaba. Ou vamos ter governo porque ganhamos as eleições e legitimamente vamos participar do governo, dar satisfações para a sociedade dos nossos atos, ou vamos ser oposição. E que possamos ter o maior número possível de parlamentares compromissados com as diretrizes, com o programa do partido.

Essa questão se vamos ser maior ou menor... Não há partido no mundo que não queira crescer sempre com qualidade. E também será assim com o PSD. Mas nunca fizemos esse levantamento de qual é a nossa expectativa numérica.

Mas, evidentemente, deve tentar trabalhar para manter uma bancada semelhante a atual, claro.
É evidente. É para crescer.

O sr. falou alguns Estados. No Sul e no Sudeste, quais são os Estados em que pode haver candidato próprio? Santa Catarina...
E São Paulo.

... E São Paulo. Nos outros Estados dos Sul e do Sudeste, possivelmente fará alianças?
Muito possivelmente. No Paraná, o nosso presidente do partido, que é o líder do partido no Congresso Nacional, o deputado Eduardo Sciarra... Nós temos lá um candidato a governador, um pré-candidato, o [Joel] Malucelli, que pode ou não confirmar. Não é definida a sua candidatura. No Rio Grande do Sul vamos caminhar para uma aliança. Depois, em Minas Gerais existe uma divisão no partido. Uma parte do partido querendo caminhar com a candidatura do ministro [do Desenvolvimento, [Fernando] Pimentel [do PT], e outra parte do partido querendo caminhar com o candidato do PSDB. E está havendo um entendimento. Isso será ser definido no momento certo.

E no Rio?
No Rio de Janeiro tem um encaminhamento para a caminhar com a candidatura do vice-governador Pezão [Luiz Fernando Souza, do PMDB].

No Nordeste, quais Estados há chance de ter candidato próprio?
Nós temos dois Estados com a candidatura a governador bastante avançada internamente no partido. Rio Grande do Norte, o vice-governador Robson Faria já definido a sua posição no quadro majoritário e o partido querendo tê-lo como candidato a governador. E na Bahia, também já definido o candidato majoritário, o vice-governador Otto Alencar, e o partido querendo que o cargo majoritário ocupado por ele seja o cargo de candidato a governador.

Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Obrigado, Fernando. Parabéns a você pelo seu trabalho, à Folha e ao UOL.