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Leia a transcrição da entrevista de Valdemar Costa Neto à Folha e ao UOL

Do UOL, em Brasília

04/09/2013 06h00

Valdemar Costa Neto, deputado federal (PR-SP), participou do "Poder e Política", programa do UOL e da Folha conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 3.set.2013 no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

 

 

Valdemar Costa Neto– 3/9/2013

Narração de abertura: Valdemar Costa Neto tem 64 anos. É formado em administração de empresas. É deputado federal e um dos réus do mensalão. É filiado ao PR, Partido da República, que no passado se chamava PL, Partido Liberal.

Valdemar entrou na política seguindo o caminho do pai, Valdemar Costa Filho, prefeito de Mogi das Cruzes por quatro vezes.

Valdemar foi chefe-de-gabinete e secretário de obras do pai, quando ganhou o apelido de “boy”, usado até hoje.

O primeiro partido de Valdemar foi a Arena. Depois, passou pelo PDS... PL... até o atual PR. Está no sexto mandato de deputado federal.

Valdemar Costa Neto articulou a escolha de José Alencar como vice de Lula, em 2002.

Em 2006, a Procuradoria-Geral da República o acusou de receber cerca de R$ 10 milhões do esquema do mensalão em troca do apoio de seu partido ao governo.

O Supremo Tribunal Federal condenou Valdemar Costa Neto a sete anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Folha/UOL:Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política - Entrevista".

Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. A gravação é realizada no estúdio do Grupo Folha, em Brasília.

O entrevistado desta edição do Poder e Política é o deputado federal Valdemar Costa Neto, do PR de São Paulo.

Folha/UOL: Olá, deputado Valdemar Costa Neto. Muito obrigado por estar aqui no estúdio do Grupo Folha. Deputado, o sr. foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 7 anos e 10 meses de prisão e multa de R$1,1 milhão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Apresentou recursos. Esses recursos foram recentemente rejeitados por unanimidade no Supremo Tribunal Federal. O sr. pretende apresentar mais recursos e se considera inocente desses crimes que lhe são imputados?
Valdemar Costa Neto:Não. Não. Nós cometemos um crime eleitoral na eleição de caixa 2. E vamos ter que pagar por isso. Temos que cumprir o nosso dever com a sociedade. Acontece que os crimes foram classificados de outra maneira. É difícil para o Supremo também poder fazer um julgamento com uma pressão dela porque ficou o bem contra o mal.

Quando estourou o mensalão, como o PT estava envolvido – e o PT sempre foi o partido que tratou da moralidade no Brasil, que combateu a corrupção – aquilo chocou a opinião pública. Então, a repercussão daquilo foi mundial. Então, ficou muito difícil para que um juiz, um ministro do Supremo, tocasse aquilo com tranquilidade.

O único problema nosso é que o processo demorou demais e nós estamos sofrendo com isso aí. Estamos nessa história há oito anos.

Mas então deixe eu entender. Os crimes que lhe foram imputados foram corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O sr. está dizendo que considera que essa imputação é que foi a errada. É isso?
Foi. Eles consideraram o seguinte: Quem pegou dinheiro no mensalão, é lavagem de dinheiro. Não importa. A lei da lavagem é clara. Lavar dinheiro é esquentar dinheiro. Então, quem pegou dinheiro, vamos enquadrar em lavagem.

Então, eles tomaram essa decisão e vão incluir todos em corrupção ativa ou passiva. No meu caso, passiva.

O sr. se consideram apenas culpado de crime eleitoral de caixa 2?
Nós cometemos um crime eleitoral, mas a demora do processo fez com que esse processo fez com que esse crime ficasse prescrito. Então, eles não podiam chegar, na hora do julgamento, em 2012... Depois de 7 anos de denúncia, eles não podiam chegar e falar: “Ó, está todo mundo absolvido. É crime eleitoral e isso está prescrito”. Então eles tiveram que tomar uma providência. E tomaram essa providência que nós não podemos discutir porque uma decisão do Supremo nós temos que cumprir. Nós não devemos discutir.

Foi por isso que o sr., nos recursos por meio dos seus advogados, não requereu redução de pena?
Eu não requeri a redução de pena por causa da absolvição do Duda. Como absolveu o Duda Mendonça... Nós tínhamos um acordo. O meu caso era diferente dos outros. Nós tínhamos um acordo PT-PL. Nós tínhamos um acordo de eleição. Nós fizemos um caixa de campanha, constituímos um caixa de campanha. Constituímos um caixa de campanha de R$ 40 milhões que nós íamos arrecadar. Isso foi público. Está aqui a Folha de S.Paulo. Olha aqui. A Folha de S.Paulo de 2002. “PL diz que vai participar de caixa de campanha do PT”. Não foi nada escondido. Nós íamos ter uma participação de acordo com os deputados que nós tínhamos de R$ 10 milhões e o PT de R$ 30 milhões. Esse caixa foi constituído com ajuda do nosso vice-presidente José Alencar, com os empresários e com a doação dele [José Alencar] também.

Então, quer dizer, se você me perguntar: “Mas foi errado fazer?” Foi. Eu fiz mal de insistir nisso aí porque, quando veio a verticalização, a obrigatoriedade em cima, para presidente, e no Estado também, faltava um mês para as convenções. Ninguém mais podia mudar de partido. E nós tínhamos uma situação diferente. Porque nós tínhamos em cada Estado... Nossos Estados são autônomos.

Só para recapitular. Na argumentação do seu recurso na fase do julgamento dos embargos de declaração, o seu advogado – entre outros – Nilo Batista, argumentou que o seu caso era semelhante, guardava similitudes com o do publicitário Duda Mendonça. Duda Mendonça, um publicitário, vendeu serviços ao PT na campanha de Lula. Recebeu dinheiro por isso. Dinheiro não declarado no exterior. E foi absolvido. Inclusive pagou os impostos para a Receita Federal. No seu caso, era um acordo entre o PT e o PL, na época como se chamava, não é?
Isso. PL.

PL. Partido Liberal ainda, antes de se tornar PR. Só que o Supremo rejeitou por unanimidade esse argumento. Por que o sr. acha que o Supremo rejeitou esse argumento?
O Supremo... Nós já estávamos julgados faz tempo. Nada,  na minha opinião... Eu já tinha discutido isso com o nosso advogado e também com o Marcelo Bessa, que é meu advogado, e que depois, nós – eu junto com o Marcelo Bessa – resolvemos contratar o Nilo Batista. E o Nilo não queria pegar a causa. O Nilo falou: “Essa causa... O Marcelo Bessa já fez o que tinha que fazer”. Aí nós insistimos, eu e o Marcelo, com ele e aí saiu... Quando veio a absolvição do Duda Mendonça, surgiu essa oportunidade porque, se eu fiz um acordo... Como Duda o prestou o serviço dele, nós fizemos um acordo. Nós somos um partido político. Tem a mesma característica da empresa do Duda. Temos parecer no processo.

Pois é. No julgamento mais recente dos embargos, um dos argumentos usados pelos ministros do Supremo para rejeitar o seu recurso foi diferenciar o seu acordo do acordo feito por Duda Mendonça dizendo que, no seu caso, o sr. e o seu partido comercializaram a função pública. Diferentemente de Duda, que era um serviço privado.
Você está certo. O Duda prestou o serviço dele. Mas acontece o seguinte: o caixa de campanha foi feito por nós. Quem contribuiu com esse caixa foi o Zé Alencar que, só da empresa dele, ele deu R$ 4 milhões. E ele que foi atrás dos empresários para constituir esse caixa. Nada mais natural do que você dividir um caixa de campanha para fazer a campanha dos deputados. É a coisa mais comum do mundo.

Então, nós pegamos um parecer, inclusive do Gustavo Tepedino, mostrando que a empresa do Duda tinha a mesma característica da empresa PL. A mesma característica comercial. E que esse acordo valeria desde que você tivesse prova de que você tivesse esse acordo. Eu tinha a Folha de S.Paulo e eu tinha o depoimento do Zé Alencar, que confirmou isso. Não pus 10 depoimentos no embargo. O Marcelo e o professor Nilo não quiseram por 10 depoimentos a meu favor. Só puseram o do Zé Alencar contando como foi o acordo.

O fato é que foi rejeitado o seu recurso. O sr. pretende, por meio dos seus advogados, apresentar novos recursos na fase seguinte do processo do mensalão?
Pelo que eu entendo, o Marcelo Bessa me disse que nós temos direito a mais um recurso. Precisa ver se eles vão aceitar porque no caso de outro deputado eles aceitaram. E, aí, precisa ver os infringentes. Se eles vão aceitar os infringentes ou não, que não é o meu caso.

Mas, aí, o que influenciaria no seu caso, os infringentes?
Depende. Se eles corrigirem, como têm corrigido os erros do Congresso... Porque o Congresso não tem legislado. Desde a morte do Ulysses [Guimarães], o Congresso parou. O Congresso não tem legislado.

Então, eles têm corrigido. Por exemplo, o Congresso fez a lei delimitar o funcionamento de partido com menos de 5% dos votos. Televisão e fundo partidário. Aí, eles resolveram, isso tudo provocado por deputados, essas consultas. Eles modificaram e modificaram no Supremo. Aí você veio com a fidelidade partidária. Então, o deputado fez uma consulta, eles estabeleceram a fidelidade partidária que não tinha na lei. Está certo. Não está errado. Eles estão ocupando o espaço que o Congresso perdeu. Então, eu acho que se eles olharem a situação como eles têm que olhar... Como nós não legislamos, nós tínhamos na Constituição que nós tínhamos 2 graus de jurisdição, hoje nós só temos 1 grau de jurisdição. Não tem ser humano no mundo que não tenha direito a um recurso.

Agora, eles tinham que tomar essa providência de dar para todos os condenados mais 1 julgamento no Supremo com outro relator e outro revisor, que o [embargo] infringente prevê isso aí.

Mas não no seu caso. Daí, como seria?
Aí que está. Eles tinham que dar para todo mundo. Para o pessoal do banco... Para todo mundo, outro julgamento. Porque todo cidadão – você sabe que somos signatários disso na OEA [Organização dos Estados Americanos] – tem direito a dois julgamentos. Nós só vamos ter um julgamento.

A propósito, encerrada a fase no Supremo – como parece que será encerrada –, no seu caso sem essa outra instância para julgamento, essa dupla jurisdição, o sr. e o seus advogados pretendem recorrer às cortes internacionais?
À OEA.

Isso já é uma decisão tomada?
É uma decisão tomada, mas só que para o recurso para OEA são 2, 3 anos. É um negócio muito demorado. Eu não acredito que a OEA se manifeste diretamente. E a OEA não tem poder sobre o Supremo Tribunal Federal. Pode impor sanções ao país.

É isso que eu ia dizer. Para efeito prático no seu caso, vai ser uma atitude política, mas o sr. não vai se beneficiar disso.
Não acredito porque no meu caso eu tenho uma pena de 16 meses de prisão semiaberta. Eu acho que nós não conseguiríamos fazer esse processo andar antes disso.

Deixa eu fazer algumas perguntas históricas para o sr. sobre o caso do mensalão. O acordo que foi feito, que o sr. mencionou inclusive nessa reportagem da Folha de S.Paulo, menciona um valor que seria pago de aproximadamente R$10 milhões compartilhado no caixa de campanha entre PT e PL na época, atual PR. Quando o sr. começou a receber esse dinheiro, o sr. não desconfiou em nenhum momento sobre a origem ilegal disso daí?
Desconfiei.

Por que o sr. não denunciou na época?
Não, não. Porque eu tinha que pagar o agiota que eu devia. Quem tinha assinado a promissória era eu com ele. A única coisa que eu fazia quando eu pagava uma parte era trocar a promissória. Eu peguei o dinheiro de um doleiro. O Bradesco não ia emprestar dinheiro para eleição. Eles combinaram que iam me dar o dinheiro. Quando chega no meio da campanha, o Delúbio chega para mim e fala...

Delúbio é o Delúbio Soares?
Delúbio Soares. Delúbio chega para mim e fala: “Valdemar, eu não vou ter condições de te pagar”.

O tesoureiro do PT.
O tesoureiro do PT. Ele falou. “Mas como?”, eu falei. “Mas pelo menos me dá o dinheiro do Zé Alencar. Pelo menos a doação do Zé Alencar, pessoal”. Ele falou: “Não. Nós já gastamos por conta. Você faz um empréstimo, eu te pago depois da eleição”. Eu falei: “Como você vai me pagar?”. Com o fundo partidário, que é legal.

Peguei um empréstimo.

De quem?
De um doleiro. Do Lúcio Funaro. Peguei um empréstimo dele. Peguei um empréstimo a 3,5% por mês. Peguei R$ 6 milhões. A 3,5%, são R$ 200 mil reais por mês de juros. E aí, passou o tempo, o Delúbio começou a me pagar. Aí mandaram o nosso pessoal retirar um dinheiro no Banco Rural. Mandamos 2, 3, 4 vezes, não me lembro. Me pagaram uma vez em São Paulo. Eu falei: “Delúbio, eu não quero mais isso aí. Eu vou te pedir um favor. Pede para o Marcos Valério, que está pagando esse dinheiro”... Porque ele me falou que o Marcos Valério tinha feito um empréstimo, tinha endossado um empréstimo para o PT. “Pede para o Marcos Valério pagar diretamente o agiota para mim não ter que me envolver mais nisso. Eu só vou lá trocar promissória cada vez que pagar. Me avisa quando pagou”. E aí, o Marcos Valério começou a pagar diretamente o Lúcio Funaro.

Durante a campanha, o sr. tomou esse empréstimo do doleiro Lúcio Funaro e pagou os seus fornecedores de campanha. Esses recibos foram comprovados e apresentados para descrever as despesas?
Não. Eu doei esse dinheiro para os deputados na eleição.

E eles não tinham como comprovar as despesas?
Eu falei: “Espera, que quando eles me pagarem nós vamos poder... Como o dinheiro vem do fundo partidário, nós vamos poder regularizar esse dinheiro”.

Porque uma das acusações que pesam contra o sr. no seu caso ao longo do processo foi que não foi comprovada a despesa objetiva na campanha pelos deputados a quem o sr. diz ter entregado o dinheiro. Isso daí nunca será possível de comprovar? Essas notas fiscais de serviços ao longo da campanha?
Não. Não tinham notas fiscais.

Ou recibos?
Eu dava o dinheiro para o cidadão que eu tinha prometido. Tenho vários depoimentos no meu processo de deputados e de candidatos a deputados falando que receberam dinheiro meu na campanha. Eles não levaram isso em consideração. Nenhuma testemunha eles levaram em consideração.

E o sr. rejeita a tese de que parte desse dinheiro foi paga já ao longo do mandato do presidente Lula para que os deputados do seu partido, entre outros, se mantivessem fieis ao Palácio do Planalto?
Não, eles estavam foram. Eu já tinha dado o dinheiro para eles antes da eleição. Eu não tinha compromisso mais com eles. O compromisso do PT era só comigo. Não tinha nada disso. Isso é uma bobagem. Dizer o que você está me perguntando aí: “Você comprou deputados para votar na reforma da previdência?”. Nós éramos governo. Nós tínhamos tudo no governo. Nós tínhamos lá... Você pega a reforma da previdência, isso é uma piada. A reforma tributária nunca saiu do papel.

A reforma da previdência... Eu briguei o tempo todo com o Zé Dirceu por causa do subteto porque a base do Poder Judiciário brasileiro era no PL por causa do Álvaro Valle, que era o nosso presidente. O Álvaro dava assistência para o Poder Judiciário. E aí o Álvaro morreu no ano 2000. E, quando chegou em 2003, que começaram a discutir a reforma da previdência, eles colocaram na reforma da previdência que o juiz e o desembargador ficavam vinculados ao salário do governador. O governador não tem salário. O salário dele é baixo porque ele tem casa, comida, roupa lavada. Tem tudo. Então, eles queriam permanecer vinculados ao Supremo.

E eu avisei ao Zé [Dirceu]: “Zé, eu sou obrigado a defender o Poder Judiciário por causa do Álvaro Valle, sempre defendi o Poder Judiciário. Eu vou entrar com destaque”. Eu tinha direito a um destaque supressivo. E ele que precisava por os 308 votos. Falei: “Você não vai por nunca”. E o Zé foi para imprensa. Isso tem tudo na imprensa e no processo. Foi para imprensa dizendo que eu tinha que sair da base do governo porque eu não estava trabalhando com o governo. Que eu não podia apresentar um destaque contra a reforma. E aí eu levei a história até o final. Até o final. E eu falei: “Zé, se você não tirar, o destaque está pronto”. E aí chegou no final e ele tirou isso da reforma. E foi uma briga que eu tive a reforma inteira com ele por causa disso.

Ainda outra informação histórica. Nesse acordo PT-PL em 2002, na casa do deputado do PT aqui em Brasília, Paulo Rocha. No apartamento, estavam presentes o sr. e várias pessoas. Inclusive, a chapa que viria a ser, a chapa presidencial Lula e José Alencar. Os relatos do sr. mesmo são de que no momento em que foi fechado o acordo financeiro, Lula e José Alencar ficaram de fora.
Ficaram na sala.

Ficaram na sala. E no quarto se discutiu o acerto financeiro entre os 2 partidos. Mas Lula e José Alencar sabiam do que se tratava naquele momento?
Sabiam que eu estava tratando desse acerto.

Desse valor que seria dividido?
Desse valor... O Lula falou assim para o Zé Alencar: “Zé Alencar, deixa eles conversarem que isso não é assunto nosso”. E nós fomos para o quarto e resolvemos e chegamos num acordo. Voltamos para a sala e: “Está resolvido o problema”.

Em que medida, depois desse acerto entre os dois partidos, esse acerto financeiro, Lula e José Alencar souberam detalhes de como se processavam os pagamentos?
Nunca. Nunca souberam. Nunca o Lula tomou. Eu cobrava o Delúbio porque o Delúbio era que comandava a parte financeira.

O sr. nunca teve oportunidade de dizer isso para o Lula ou para o José Alencar? “Olha, estão me pagando de jeito esquisito. Vem pelo banco, pelo Marcos Valério...”.
Não, não. O problema é que no começo não pagavam. Atrasaram muito para pagar.

Mas quando passaram a pagar.
E depois, quando começaram a pagar, não. Nunca comentei esse assunto com o Lula. Eu estava com ele em reunião de líderes, reunião de partido. Nunca comentei o assunto com o Zé Alencar, porque eles sempre foram contra eu fazer esse acordo. O Zé Alencar foi contra. O Zé Alencar não queria que eu fizesse. E se eu tivesse que fazer hoje, eu não faria mais.

Acontece que a verticalização veio um mês antes. Eu não tinha como levar os deputados para votarem na convenção a favor do Lula. Eles não queriam mais a coligação com o Lula. Não por causa do Lula.

Mas depois, deputado Valdemar Costa Neto? Ao longo do governo Lula, no início, o sr., no melhor do seu juízo, acredita que o então presidente Lula não tinha o menor conhecimento do que fazia Delúbio Soares?
Nunca tomou conhecimento disso. O Delúbio tinha autonomia total no partido. Nunca tomou conhecimento disso. E mais ainda. E nem o [José] Genoino, que era presidente do PT, que não cuidava desses assuntos.

Mas de onde exalava o poder do Delúbio?
Ele tinha. Ele era o tesoureiro do partido.

Sim. Mas quem o empoderou para ter esse poder absoluto sem falar com ninguém?
Na época, ele já tomou frente de todos esses acordos.

Sozinho?
Sozinho, sozinho.

Sem ninguém saber?
Sem ninguém tomar conhecimento.

José Dirceu sabia?
Não, não. Disso tomaram conhecimento do acordo PT-PL. Isso foi publicado em 2002, antes das convenções. Mas preste bem atenção. Quanto aos pagamentos, nunca tocaram no assunto. E ainda ele falava para mim: “Deixa que eu vou resolver isso aí. Eu vou te pagar centavo por centavo”. Só que eu esperava que ele me pagasse pelo fundo partidário e não deu certo.

E o sr. acha que, então, as declarações de algumas personalidades envolvidas nesse escândalo quando dizem que a cúpula do PT sabia, o presidente Lula sabia mais ou menos como se davam os pagamentos, essas informações não procedem?
Não procedem. Não procedem. Não estão falando a verdade.

O sr. acha que o presidente Lula não conhecia, não tinha ciência de como atuava Marcos Valério ou não conhecia Marcos Valério pessoalmente?
Não acredito que ele atuasse com o Marcos Valério. Não acredito que ele conhecesse. Eu estava sempre no Palácio. Eu mesmo fui conhecer o Marcos Valério muito tempo depois. Eu nunca tinha ouvido falar nele. Nunca vi ele frequentar palácio, nada.

O processo começou com 40 pessoas, Alguns acharam exagerado o número, outros o acharam reduzido porque não incluiu, por exemplo, o ex-presidente Lula. O sr. acha que foi correta a apresentação da denúncia em termos de pessoas envolvidas e que foram julgadas?
Acho, acho. Com uma restrição somente que não é importante para você.

Qual é?
Que o Lúcio Funaro fez 4 depoimentos na Polícia Federal. Em todas ele confirmou o empréstimo que fez para mim. E aí, para sair do processo, ele fez uma delação premiada que eu não sei como que o Ministério Público aceitou. Fez uma delação premiada para poder sair do processo. Foi o único caso que eu vi.

O sr. acha que dentro do Supremo Tribunal Federal, o sr. já fez um reparo, dizendo que o Supremo foi lento, a condução do processo por parte do Supremo e. sobretudo, por parte do relator, Joaquim Barbosa, depois do revisor, Ricardo Lewandowski, foi apropriada ou o sr. faria algum reparo?
Eu quero te dizer o seguinte, eu não tenho nada a considerar sobre o julgamento do Supremo. Nesses 8 anos o Porfírio [assessor de imprensa do deputado Valdemar Costa Neto], através de notas, tem escrito que nós não comentamos decisões judiciais. Decisões judiciais são para ser cumpridas, e não para ser discutidas. Agora, quanto à escolha do ministro Joaquim Barbosa, isso foi um erro.

Por que foi um erro?
Eu vou te explicar, eu vou chegar lá. O Itamaraty estava certo quando reprovou o Joaquim Barbosa. Porque você veja bem, o Álvaro Valle...

O que o sr. quis dizer com ‘o Itamaraty estava certo’? Naquela argumentação sobre a personalidade dele, que constam dos registros do Itamaraty, é isso?
É, ele não podia ser diplomata, porque..

Por quê?
Por quê? Porque é um recalcado, porque é um desequilibrado, é um homem sem educação. Eu convivi muito com diplomatas, o Álvaro Valle eu convivi muito com ele, muito próximo, ele era presidente do meu partido, eu era vice-presidente.

Sabe que o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, acusa o Itamaraty de maneira até razoavelmente direta, de preconceito por conta disso.
Não, um erro, porque ele, você viu o desequilíbrio dele, é um desequilibrado. Por quê? Porque ele, passar pela cabeça dele, mesmo tendo preparo, tendo estudo, ser diplomata? Fernando, você conhece os diplomatas do Brasil, essa é a classe mais preparada do país. Eu convivi com vários diplomatas, não vi nenhum do tipo dele. Só de passar pela cabeça dele em ser diplomata você ver que ele é um homem desiquilibrado. E aí agora vem o erro. Quem errou? O Lula errou. Porque o Lula quis fazer uma homenagem pros afrodescendentes. Justa homenagem. Mas ele deveria ter pesquisado melhor o Joaquim Barbosa.

Eu quero te dizer que o Lula errou, porque ninguém pode tirar nota 10 em tudo. O Lula foi muito bem na presidência. Ninguém vai tirar nota 10 em tudo. Eu vou te dizer no que que ele errou. Você, quando manda um ministro... E o Senado também [errou], só que o Senado tem menos culpa. Você quando manda um ministro pro Senado, ou ele é de um tribunal superior, ou ele é de um tribunal de Justiça, ou ele é um advogado-geral da União, ou ele é um jurista, tem um cargo de destaque num Estado. Então, quer dizer, você veja bem, ou ele é um advogado de renome.

Então quando o cidadão vai para o Supremo, todos os senadores já conhecem, ou têm informação. O Joaquim Barbosa foi pro Supremo, ninguém tinha informação dele. Aí começaram a chegar as informações. É um homem que bate em mulher. Ele foi correndo fazer um acordo com a mulher dele, lógico, chegou pra ele, disse “vou ser ministro do Supremo, você vai fazer um acordo comigo”. Aí fizeram o acordo, não, “a agressão foi mútua”. E quem falou isso foi a [ex-ministra] Ellen Gracie lá no Supremo, foi o [ex-ministro] Eros Grau falou também no Supremo isso aí.

Falou o quê?
Ele chamou o Eros Grau de velho caquete.

Caquético?
Caquete.

Caquete?
Caquete. Caquético. Caquético. Ele chamou o Eros Grau de velho caquético, e o Eros Grau pegou e falou pra ele, “só falta o sr. querer bater num velho caquético, porque o sr. já bateu em mulher”. Isso no Supremo. Agora, o pior. Vou te mostrar que ele não tem qualificação pro cargo. Ele vai lá e compra um apartamento em Miami. Você já viu um ministro do Supremo ter apartamento em Miami? Não tem nada ilegal nisso aí, agora, criar uma empresa lá fora? A lei está aqui, ele não pode ter empresa, ele pode ser cotista de empresa. Compra um apartamento em Miami, veja bem, e cria uma empresa lá fora, isso é fraude. E põe o endereço da empresa no apartamento funcional, que é do governo, que ele está morando. É proibido. Está aqui no decreto. E agora quero te perguntar uma coisa, Fernando.

Só pra deixar registrado, ele respondeu em relação a essa operação dizendo que está tudo dentro da lei e declarado no Imposto de Renda.
Da lei dele. Está aqui a lei, eu te mostro a lei, a lei não diz isso. Então deixa eu só pra continuar. Está aqui: é vedado ao magistrado, Lei Complementar nº 35, exercer ou participar de sociedade comercial, inclusive de economia mista, exceto como acionista ou cotista. Ele é proprietário. Segundo lugar. Você tem, o imóvel funcional só pode ser usado para residência. Se é um deputado ou um senador que compra um imóvel em Miami, cria uma empresa lá fora, e põe o endereço dele no imóvel funcional, quer dizer, no imóvel da Câmara, ou no imóvel do Senado, já estava no Supremo. Eu te pergunto, o que que o Ministério Público e o que que o Conselho Nacional de Justiça fez a esse respeito? Nada.

Há uma contestação, parece, no Conselho Nacional de Justiça, não há? Não sei em que pé está, mas parece que...
Não sei, precisa ver, mas se fosse contra um deputado ou senador, nossa senhora! E vou te dizer mais, ele ganhou, recebeu R$ 520 mil da UERJ [Universidade Estadual do Rio de Janeiro] sem dar aula. Olha só. E vou te dizer uma coisa, eu tive informações no Rio que ela era um professor medíocre. Ele era um professor medíocre. Era um professor medíocre. Então. Agora, vou te dizer mais, as ofensas que ele faz para as pessoas, pro jornalista do Estadão, que ele fez, vou te dizer mais, olha aqui, as licenças que ele tirou durante o julgamento do processo do mensalão. Num ano ele tirou 4 meses. 127 dias.

Mas ele estava de licença médica, não é?
Licença médica, mas ele ia em bar aqui em Brasília comemorar aniversário dos amigos dele, vivia em restaurantes, porque ele começou a ser aplaudido quando ele chegava nesses lugares. Eu não sei se ele vai ser aplaudido ainda, depois dessa compra desse apartamento em Miami. Agora eu quero te dizer uma coisa, então, 4 meses em 1 ano, estou dizendo. Então veja bem, quando chegou no julgamento do Supremo, quando chegou no julgamento do Supremo, ele tira uma licença no meio do julgamento, o ano passado, pra ir para a Alemanha fazer um tratamento. Sabe por que que ele tirou a licença? Ele deve ter uma assessoria de imprensa boa. Porque ia ter eleição do Obama na semana seguinte, e aí não ia ter mídia, não ia sobrar espaço nos jornais pro processo do mensalão. Porque ele só pensa numa coisa: em aparecer e se promover. Só pensa nisso.

O sr. está fazendo várias críticas ao presidente do Supremo, Joaquim Barbosa...
Só ao presidente do Supremo. Lógico, eu respeito o Supremo.

Mas essas suas críticas, elas são em relação ao presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, mas agora o que que isso poderia ter influído no resultado nas sentenças do mensalão, uma vez que são 11 integrantes?
Ele era o relator.

Mas há um revisor e há outros [ministros].
Eles não têm condições de se dedicar a um processo de 50, 60, 80 mil páginas, eles têm processos lá que eles não dão conta. O relator tem um peso muito grande nessas decisões, por isso ele é relator.

O sr. fez críticas graves aqui ao ministro Joaquim Barbosa. O sr. pretende, além dessas críticas, dar provimento a elas, tomar alguma atitude, ou são só críticas que o sr. está fazendo?
Não, eu como deputado, veja bem, ainda eu sou deputado, eu tive 174.826 votos. Eu tenho que mostrar alguma coisa pros meus eleitores. Eu não tenho atuado na Câmara como deveria, pra não criar constrangimento para os meus colegas, eu tenho trabalhado, tenho cuidado dos municípios, tenho ido em ministérios pra arrumar verba pra municípios, pra desenvolver projetos e tudo o mais. Mas eu, a minha função principal como deputado é denunciar esses erros. E isso foi um absurdo, foi um erro, um erro do Lula. Quer dizer, ele teve boa intenção no primeiro momento. Agora, chega no Senado, a aprovação dele. E aí nessa fase eu acompanhei. Aí nessa fase o Joaquim Barbosa, saiu um comentário muito grande lá sobre a aprovação do Joaquim Barbosa. Aí ele, por ser afrodescendente, o Senado não mexeu. Porque já veio... Quem deveria ter feito isso tinha que ter sido o governo Lula. Volto a repetir. Ninguém pode tirar 10 em tudo. Errou, e isso foi um erro muito grande e que está trazendo um grande prejuízo pra imagem do Poder Judiciário brasileiro, apesar deles estarem com o processo do mensalão, que dá um prestígio grande pra eles, dá uma popularidade bárbara. Você vê, ele com essa popularidade... que isso vai acabar, e o Senado, que é quem ter o poder de tirar um ministro do Supremo, você pode esperar. Se ele continuar com esse comportamento, e esses casos aflorando, você não tenha dúvida que o Senado vai tomar providência contra ele. Não agora, porque agora ele está julgando o mensalão.  O julgamento do mensalão é o julgamento do bem contra o mal. Pegou isso aí, não tem jeito. Então ninguém quer fazer nada com ele porque vão dizer “tá fazendo isso pra salvar os mensaleiros”. Mas vai acontecer, o Senado vai reagir um dia.

O sr. não acredita que seus comentários sobre o Joaquim Barbosa possam ser interpretados como preconceito contra ele?
Não, não tenho preconceito nenhum. Eu sempre prestigiei os afrodescendentes. Sempre prestigiei demais. E mais do que merecidamente, eles ajudaram a construir esse país. Eu tenho o maior respeito. Acontece que não é preconceito, é a realidade. Estão nos jornais.

Tudo caminha para a sua condenação realmente transitar em julgado e ser mantida tal qual foi definida pelo Supremo. Mantida a sua condenação, o sr. terá o seu mandato de deputado federal contestado. Pretende lutar pela sua absolvição no plenário da Câmara?
Eu não pensei nisso ainda porque nós não temos o resultado do Supremo. O Supremo teve uma decisão lá trás, presta bem atenção, que, por 5 a 4, o deputado tem que ser cassado no Supremo. Já decidiram. Aí, no caso do [senador] Ivo Cassol [PP-RO], já mandaram para o Senado porque mudou a composição do Supremo. Então, não me passou pela cabeça isso ainda.

Mas vamos fazer passar agora então.
Vamos.

O que o sr. fará?
Não pensei. Não decidi. Não decidi o que fazer.

Houve um caso recente muito rumoroso relativo ao deputado Natan Donadon, de Rondônia, que foi eleito pelo PMDB e agora está sem partido. Condenado pelo Supremo, transitou em julgado. Está preso desde o dia 28 de junho. No dia 28 de agosto, no plenário da Câmara dos Deputados, não teve o seu mandato cassado. A Câmara, nesse caso, agiu corretamente?
A Câmara é o vácuo constitucional que nós temos. Se ele tivesse sido julgado pela Câmara antes como nós tínhamos na Constituição, nós não tínhamos chegado nesse ponto.

Mas chegamos. O fato é que chegamos. Na quarta-feira, dia 28 de agosto, a Câmara fez bem ao absolvê-lo?
A Câmara agiu... Nós tivemos 404 deputados que votaram e 233 votos a favor. A maioria foi a favor.

Isso.
Faltaram 24 votos dos 257. A Câmara agiu como achou que deveria agir porque não conhecia o seu processo. Não foi consultada sobre o processo. Por culpa nossa. Por causa do vácuo legislativo que existe hoje no Brasil.

O sr. estava nesse dia aqui em Brasília. Registrou presença na Câmara. Porém, foi um dos que não votaram na sessão propriamente. Por que o sr. não votou?
Eu não votei porque eu não conhecia o processo, então preferi me abster.

Ao se abster, o sr. ajudou na absolvição
Não tenha dúvida. Porque se eu votasse, eu tenho certeza...

O sr. votaria para absolvê-lo?
Se eu votasse, eu iria me abster. Mas adianta eu falar isso para você? Se eu votasse, se eu tivesse na lista dos votantes...

Ou seja, abstendo-se, ajudaria a absolvição.
Se eu tivesse... Não você, Fernando, que é um jornalista de alto nível. Mas a imprensa brasileira, se eu tivesse votado, [diria]: “Valdemar é um dos que votou pela absolvição”. Então preferi não ir votar.

Mas é a mesma coisa, não é? Porque o efeito é ajudar na absolvição ao não votar.
Sim, mas acontece que muitos deputados que não têm nada a ver com essa história, como não conhecem o processo, preferiram não votar. Mas isso tudo por causa desse vácuo constitucional.

Esse vácuo que o sr. diz, embora não importe, ele existe. Vai acontecer no seu caso eventualmente, se a sua condenação for mantida, como tudo indica no Supremo. Está sendo. Em dado momento, o seu processo vai chegar no plenário da Câmara. Se a Câmara o absolver, como o sr. pretende organizar operacionalmente a sua rotina?
Eu acho que a Câmara vai ter outro procedimento, na minha opinião. Porque agora vem o voto com a questão do Donadon, que foi um erro, que foi um erro. Não quero condenar o Donadon porque eu não tenho condições disso porque eu não conheço o seu processo. Vão aprovar agora o fim do voto secreto.

O sr. é  favor ou contra [do fim do voto secreto]?
Totalmente a favor. Mas de tudo. Não é só para cassar deputado. Sou a favor para votar veto, para votar tudo. Acabar com o voto secreto para tudo. Eu sou a favor.

Aí vai vir agora cassação no Supremo. O cidadão é cassado no Supremo, não tem mais por que vir para a Câmara. Nós temos que por ordem na Constituição.

Dado esse novo cenário que pode vir a acontecer, mantida a sua condenação, o sr. considera eventualmente renunciar ao mandato?
Não pensei nisso ainda vou te dizer por que. Primeiro porque eu vou cumprir 1 ano de mandato se eu for absolvido e depois vou ter que cumprir pena. Então, eu tenho que avaliar o que é melhor. Vou considerar o pessoal, meus companheiros de partido. E vou ver o que é melhor para fazer, como eu fiz no passado. Porque eu renunciei porque o [ex-deputado] Roberto Jefferson estava ameaçando o nosso pessoal de por todo mundo no Conselho de Ética e a responsabilidade do acordo com o PT foi só minha. Então, fui para a tribuna, falei: “A responsabilidade é minha, pessoal. Nosso deputados não têm nada a ver com isso. Quem fez o acordo financeiro fui eu”. E fui embora para ele poder parar de perturbar os nossos deputados.

Então, a sua renúncia em 2005 foi para proteger os seus companheiros de partido. É isso?
Não é para proteger. O Roberto Jefferson, como eu entrei contra ele no Conselho de Ética e ele não podia renunciar – mas ele queria renunciar –, começou a chamar os deputados do PL e falar: “Olha, se o Valdemar não tirar o processo meu do Conselho de Ética, eu vou te por”. Porque só presidente de partido com representação no Congresso que pode representar no Conselho de Ética. E aí ele começou a ameaçar todos os nossos deputados, que ia colocar todo mundo no Conselho de Ética. A bancada toda no Conselho de Ética.

Renunciei. Fui embora. Assumi o meu erro. E agora vou pagar pelo meu erro.

Essa é uma hipótese a ser considerada agora também, não é?
Precisamos ver. Precisamos ver o que vai acontecer. Se eles aceitarem... Por exemplo, o Supremo, se for corrigir o que está errado, eles teriam que aceitar os infringentes para todos.

Mas não vão aceitar, a gente sabe. Para todos.
Na minha opinião, do jeito que eles estão fazendo, podem não aceitar para ninguém.

Isso também é uma hipótese. Mas no seu caso é bem mais difícil.
Bem mais difícil. Deveriam aceitar para todos. O duplo grau de jurisdição e isso tem que ser decidido.

Mas admitamos aqui, com grau de razoabilidade grande, que no seu caso é muito difícil. É difícil. Aí, a sua condenação já está definida. O sr. não reflete como é que vai ser a sua vida após esse trânsito em julgado?
Poxa, eu reflito nisso há oito anos, Fernando.

O que o sr. pensa? Como vai ser a sua vida?
Ué? Vou tocar a minha vida. Vou ter que trabalhar como fiz quando renunciei outra vez. Fui registrado no partido na parte administrava e trabalhei.

Mas o sr. teria que cumprir pena em regime semiaberto.
Aí vou trabalhar. Eu tenho domicílio aqui em Brasília. Eu vou trabalhar no partido novamente, mas saio da secretaria-geral do partido.

O sr. é secretário-geral do PR hoje.
Isso, porque eu não vou poder ter decisões políticas no partido estando com os meus direitos políticos suspensos. Saio da secretaria-geral e vou trabalhar na gestão do partido, na parte administrativa do partido como fiz em 2005 até 2007.

O sr. já avaliou onde poderá cumprir a pena em regime aberto aqui em Brasília?
Não. Não avaliei. Eu tenho visto, tenho lido alguma coisa a esse respeito, mas eu creio que não deve ser... A gente não pode reclamar de uma prisão porque prisão é prisão e não é um lugar para o camarada ir se divertir. Você vai passar dificuldades, é lógico. Ter que dormir todo dia na prisão, ficar de 6h [da tarde] às 6h da manhã cumprindo pena. É uma situação difícil, mas que nós temos que enfrentar. Eu tenho que pagar essa dívida com a sociedade.

Onde que pode ser? O sr. já averiguou aqui em Brasília?
Tem um que saiu uma matéria grande no jornal, no Correio [Braziliense]. Que tem um centro de detenção só para cargos de semiaberto. Mas pode ser numa área da Papuda. Você dorme e sai de manhã. Aí precisa ver o que eles vão fazer. Isso eu não tomei conhecimento ainda.

Mas a decisão sobre ser em Brasília o sr. já tomou por conta do seu domicílio?
Eu tenho domicílio aqui há... Eu estou aqui há 22 anos. Eu tenho domicílio fixo aqui há uns 15 anos já. Fixo. Já trabalhei aqui.

O seu domicílio eleitoral continua sendo em Mogi [das Cruzes], em São Paulo?
Agora eu transferi para cá.

Transferiu?
Transferi porque eu vou ficar aqui em Brasília esse período todo. Não vou poder ser mais candidato.

Sobre isso. O sr. não pode ser mais candidato por quantos anos, no caso da confirmação?
Oito anos fora o mandato.

Fora o mandato?
É. Quer dizer que eu vou ficar mais 9 anos sem poder ser candidato. Não me passa isso mais pela cabeça de ser candidato. São muitos anos. Eu estou com 64.

A sua atuação no PR é muito conhecida. O sr. foi presidente do PR, antes do PL. E é uma pessoa muito influente no partido. Com a sua condenação, como será a sua atuação partidária? O sr. já disse que vai ficar administrativamente, mas do ponto de vista da influência política?
Não. Eu saio fora. Isso a gente automaticamente sai fora. Eu já senti no passado quando eu renunciei ao meu mandato. Eu era presidente do partido. Passei a presidência para outro. Saí da executiva. A tendência é sair fora da parte política. Ficar só na parte administrativa. É uma tendência normal. É normal isso aí.

O PR deve apoiar a reeleição da presidente Dilma no ano que vem?
Deve. Tem tudo para apoiar. Tem tudo para apoiar. O nosso partido faz parte do governo dela. E nós devemos apoiá-la.

O partido hoje é bem atendido pelo governo?
O partido hoje... Depois que nós largamos o Ministério [dos Transportes] há 1 ano e meio atrás, e hoje nós voltamos já com respaldo do Ministério Público que já, você sabe, mandou para o Supremo que não tinha prova contra o Alfredo [Nascimento] e contra mim. Nós estamos tocando o Ministério. Estamos começando a tocar. O Ministério ficou parado todo esse tempo. E isso, para recuperar, vai demorar um tempo.

A presidente Dilma é uma grande administradora, como se dizia durante a campanha de 2010?
Ela é eficiente. Ela é eficiente. É que a situação é outra. Hoje, a China está comprando menos. Os outros países e essas crises aí nos países árabes faz com que eles importem menos. Isso pesa muito para o país.

O sr. disse que é a favor do voto aberto na Câmara. Isso está para ser votado. Mas no caso da Câmara, é apenas para a cassação de mandato. Daí, como é que o sr. votaria nesse caso?
Se não tiver opção, eu voto para isso. Mas eu estou dizendo que sou a favor. Vai ter proposta nesse sentido – eu não tenho dúvida disso –, do voto aberto ser aberto para tudo. Eu não tenho dúvida disso, que nós vamos ter destaque nesse sentido.

Se a votação acabar sendo apenas para voto aberto em cassação de mandato, o sr. se posicionaria como?
Totalmente favorável. Agora, nós vamos ter destaque, com certeza, de votação em separado para que seja o voto aberto em todos os sentidos. E aí eu apoio que seja em todos os sentidos. Tem que ser aberto para tudo.

Eu conheço o sr. há muitos anos como político aqui em Brasília. E o sr. é muito influente no seu partido. Quando o sr. diz que vai se afastar da política, é difícil de acreditar como isso vai se dar na prática. Porque a influência a gente não pode simplesmente pegar e dar para outra pessoa. Como isso vai se dar no PR?
Olha, nós temos hoje o senador Alfredo [Nascimento, do Amazonas], que é o presidente do partido. Quem vai me substituir na secretaria-geral, porque é o primeiro-secretário, é o senador Antônio Carlos Rodrigues, de São Paulo. Nós temos hoje senadores, deputados, todos que participam do diretório, todos que participam das convenções. Nós temos gente altamente qualificada para isso.

Quando se dará essa transição?
Logo que eu tenha que começar a cumprir a pena. Eu já saio da secretaria-geral do partido e já começo a trabalhar na área administrativa do partido, como fiz da outra vez em 2005, que eu passei 1 ano e meio trabalhando no partido na área administrativa.

E vai ser nessa mesma época que o sr. vai decidir sobre qual estratégia tomará na Câmara? Se renuncia, se luta pelo mandato em plenário?
Não pensei nisso. Sinceramente, eu não pensei nisso porque eu quero ver a decisão que o Supremo vai tomar. Porque tem muita gente, por exemplo, funcionários que dependem de mim na Câmara e tudo mais, que gostariam que eu ficasse até o fim do mandato. É evidente que sim. E se tiver uma oportunidade essa, vão chegar até a me pedir. Agora, precisa ver se isso é o melhor para mim porque eu tenho que liquidar essa dívida logo. Quero passar por isso logo para poder tocar a minha vida para a frente depois.

Como tem sido a sua vida pessoal nesses anos todos?
Triste. Triste. Muito aborrecimento. Muito constrangimento. Não tenho problema com meus amigos. Todos os políticos me conhecem. Com os políticos, não tenho. Não tenho com os meus amigos que me conhecem. Mas quem não me conhece pessoalmente pensa muito mal de mim. É natural isso aí. O camarada não me conhece pessoalmente, não sabe quem eu sou, como eu procedo. Então, ele...

O sr. foi hostilizado nesse período em algum momento?
Não. Só em 2006, na campanha, que eu não saí na rua para fazer campanha. Em 2005 e 2006, eu não fui hostilizado porque eu não saía. E em 2006, na campanha, eu evitei sair para não ser hostilizado. Só ia em lugar de redutos mesmo, fortes nossos. Então, eu não fiz campanha em 2006. Tanto que a minha votação caiu muito. Minha votação em 2006. Depois, em 2010, não. Passou tudo. Em 2010, acabou, não tive problema.

Não sou hostilizado. Não sou hostilizado. Mas na época que estourou o mensalão, eu me recolhi porque aonde o pessoal podia te agredir, te agredia. Os deputados, em todos os locais que eles frequentavam.

O sr. está arrependido?
Muito. Eu não devia ter feito acordo com o PT, financeiro. E não foi culpa deles, não. Eu que insisti. Quando eu comecei a discutir isso, o Zé Alencar foi contra, o Zé Dirceu foi contra. Quando nós participávamos numa mesa antes da eleição que eu falava que precisava do dinheiro, eu falava: “Se eu não der uma ajuda para os deputados, eles vão votar contra na convenção. Vai ser um carnaval. E eu preciso dar uma ajuda financeira para eles porque eles não vão ter mais coligação nos seus Estados. O camarada tem que sair sozinho”. O [ex-deputado] Eujácio Simões fez quase 100 mil votos na Bahia, fez 90 mil e poucos votos e não se elegeu. Os outros desistiram mesmo com ajuda, mesmo eu prometendo ajuda. Então, eu não faria mais. O erro foi meu.

O ex-ministro José Dirceu, comentando o processo do mensalão em uma entrevista aqui, disse que alguns ministros, quando foram nomeados já depois do processo do mensalão, manifestavam-se a respeito do caso e depois, quando empossados no Supremo, tomaram outra atitude. O sr. tem conhecimento desses fatos?
Acredito. Acredito nisso. Acredito.

Acredita ou sabe?
Não. Eu não sei porque o PT nunca discutiu isso comigo. É interessante isso daí. Eu me encontrava com o Zé Dirceu, com o pessoal todo, com o Genoino, com o João Paulo [Cunha], para discutir o assunto. Eles não discutiam o negócio de ministro do Supremo comigo você não sabe por quê. Para mim não pedir para eles. Porque se ele já estava pedindo para ele, ele não podia chegar e “ó, me resolve o caso do Valdemar também”. Eu não tinha acesso aos ministros.

O sr. acha que eles pediam para eles?
Então, quer dizer, eles não tocavam nesse assunto comigo. Nunca.

O sr. acha que eles pediam para eles?
Eles deviam pedir para eles. Agora, chegavam para mim e falavam: “Mas vem cá. Como é que está o Supremo?” No indiciamento lá atrás, em 2006, 2007, o Genoino chega para mim... Que o Genoino é o mais inocente, o Genoino não mexe com essas coisas. O Genoino é um cara especial. Aí, o Genoino chegou para mim: “Ô Valdemar”... Era uma segunda-feira, nós estávamos vindo para Brasília. Ele falou: “O que você acha? Quarta-feira aí”. Eu falei: “Estamos mortos. Vamos ser indiciados”. Eles tinham certeza que não iam ser indiciados. Tinha certeza. Todos foram indiciados.

Essas coisas não adianta porque você precisa se colocar no lugar do ministro também. Pressão popular, pressão em casa. Você chega em casa, o pessoal comenta. A mulher vai no cabelereiro: “Ó, teu marido como é que vai votar?” É desse jeito que acontecem as coisas. As coisas são difíceis, então por isso que eu não julgo ninguém. Por isso que eu aceito a decisão do Supremo. Decisão do Supremo é para ser cumprida. Eu sempre discuto o segundo grau de jurisdição. É um absurdo um cidadão só ter um julgamento. E esse julgamento só demorou o que demorou porque ficou na mão do Joaquim Barbosa. Se fosse qualquer outro ministro, esse julgamento estaria liquidado em 3 anos. Dois, 3 anos no máximo. Estamos há 8 anos nessa história. Oito. Um absurdo.

Deputado federal Valdemar Costa Neto, do PR de São Paulo. Muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Eu que agradeço.