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Leia a transcrição da entrevista de Paulo Maluf ao UOL e à Folha

Do UOL, em Brasília

24/07/2014 06h00

Paulo Maluf, deputado federal pelo PP de São Paulo, participou do Poder e Política,  programa do UOL e da “Folha” conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 22.jul.2014 no estúdio do UOL em São Paulo.

 

 

Paulo Maluf – 22.jul.2014

Narração de abertura [EM OFF]: Paulo Salim Maluf tem 82 anos. É filiado ao PP, o Partido Progressista, e atualmente é deputado federal por São Paulo.

Filho de imigrantes libaneses, Paulo Maluf é formado em engenharia pela USP. É um dos poucos políticos brasileiros vivos que dá nome a uma linha de pensamento político: o malufismo.

Apoiador da ditadura militar, Maluf exerceu cargos por designação do regime: foi prefeito de São Paulo, secretário estadual de Transportes e governador do Estado. Em 1984 perdeu a eleição indireta para presidente da República para Tancredo Neves.

Terminada a ditadura, Maluf elegeu-se prefeito de São Paulo pelo voto direto em 1992. Mas perdeu outras 4 eleições para a Prefeitura e 4 para o governo paulista.

Envolvido em escândalos, Paulo Maluf está, desde 2010, na lista de procurados pela Interpol. Em 2005, ficou preso por 40 dias na sede da Polícia Federal junto com o filho Flávio.

Entre as ações que relacionam Maluf à corrupção está a acusação de desvio de dinheiro público para um paraíso fiscal. Maluf nega ter conta no exterior.

Em 2012, Maluf apoiou seu arquirrival PT na eleição municipal paulistana. Ele fez questão de tirar fotos ao lado do petista Fernando Haddad e do ex-presidente Lula. Agora, em 2014, depois de sinalizar apoio ao PT na eleição para o governo paulista, desistiu e resolveu apoiar o PMDB.

Maluf vai disputar o seu quarto mandato como deputado federal. E para presidente da República, seu partido apoia oficialmente a reeleição da petista Dilma Rousseff.

Folha/UOL: Olá, bem-vindo a mais um Poder e Política - Entrevista. Este programa é uma realização do jornal Folha de S.Paulo e do portal UOL. A gravação está sendo realizada no estúdio do UOL, em São Paulo.

O entrevistado desta edição do Poder e Política é o deputado federal Paulo Maluf, do PP, aqui de São Paulo.

Folha/UOL: Olá deputado, como vai, tudo bem?
Paulo Maluf: Graças a Deus. A saúde vai bem, o resto resolve.

Por que o sr. apoiou o PT há dois anos aqui para a prefeitura de São Paulo e agora não vai apoiar o PT para a disputa do governo do Estado?
Boa pergunta. Ninguém pode me acusar de oportunismo. Fernando Haddad, quando nós apoiamos, tinha 3%, Soninha [Francine] tinha 4%, Paulinho [da Força] tinha 5%, Gabriel Chalita tinha 7%. [Celso] Russomanno tinha 21% e o [José] Serra tinha 31%, segundo o Datafolha. Então veja, Fernando, todo político gosta de ir para o poder. Por que eu não apoiei o Serra? O Serra esteve na minha casa, me deu muita alegria, e o Serra é um grande administrador. Mas ele veio na minha casa com o meu amigo, senador Aloysio Nunes Ferreira, duas vezes.

Isso em 2012?
É. Cada vez ficou duas horas. E eu perguntei: “ô Serra, você já foi prefeito, assinou para a ‘Folha’ que ia ficar os quatro anos, ficou um e três meses e foi embora. Você foi governador, poderia ter ficado oito anos, ficou três anos e pouco e foi embora. O sr. foi candidato a presidente e perdeu duas vezes. Será que você quer ser prefeito?”. Uma pergunta franca. “Eu quero terminar minha vida como o melhor prefeito”, disse. Eu tenho o direito, como ex-prefeito, escolher alguém que queira vir para a prefeitura e não fazer da prefeitura um trampolim. Por isso não fiquei com ele. Não fiquei com o Russomanno porque na eleição de 2010, que nós bancamos o partido para ele ser candidato a governador, no fundo a “Folha” mesmo publicou no Painel, tinha a dupla mano a mano. Era o Russomanno com Mercadante. [risos] E depois a dupla “Mercamanno”. Por quê? Ele foi língua de aluguel, essa que é verdade, para o PT agredindo o [Geraldo] Alckmin. Olha, o nosso partido sempre esteve em um lado –você me perguntou porque que eu fiquei com o Haddad–, mas nunca se vendeu, nunca vendeu tempo e nunca foi língua de aluguel. Nós apoiamos um candidato que tinha 3% e está provado que ele não está querendo fazer da política um trampolim, nem um trampolim da prefeitura. Se vai ser bem avaliado ou não, Deus permita que seja, porque eu gosto demais dele, nos quatro anos.

Mas por que neste ano de 2014 estava mais ou menos acertado que o PP poderia apoiar Alexandre Padilha, que é do PT, para o governo de São Paulo e no final o PP, a maioria, resolveu apoiar Paulo Skaf, do PMDB?
O que você está falando é absolutamente verdadeiro e eu explico por que: porque a eleição de 2012 é uma eleição que interessava à cidade de São Paulo e ao seu prefeito. Deputados federais, estaduais não tinham nenhum interesse na eleição de 2012. Na eleição de 2014, quando eu pessoalmente fui à Assembléia Legislativa junto com o [Alexandre] Padilha e lhe dei o apoio, quero lhe dizer que houve um mal-estar no partido. Por que nós demos o apoio? Porque o PP, o Partido Progressista nacional, está apoiando Dilma Rousseff de maneira pública e lhe deu o tempo de televisão. E quando nós almoçamos, em Brasília, junto com o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do partido, e junto com os deputados do partido e demos o apoio à presidenta Dilma, eles me disseram: “E em São Paulo? Por que você não dá um apoio ao Alexandre Padilha?”. Fizemos o ato. Fizemos o ato, mas depois verificamos a chapa de deputados federal do PT, da estadual do PT, e verificando, vamos ser muito claros também, o deputado quer ser reeleito, não é o meu caso. Eu acho que, se Deus permitir, a gente vai repetir a votação. Porque eu vivo os dividendos daquilo que eu já fiz por São Paulo. Mas então nós levamos o caso para a convenção do partido para a Executiva. Na Executiva eram 17 membros, eu votei Padilha. Deputado Salim Curiati votou Alckmin e 15 votaram Skaf.

Na direção do PP em São Paulo?
Na direção do PP, a direção do PP, vamos ser muito claro, contrariou a mim. Você pergunta: “Mas você tolerou?”. Sim, porque em 20 anos que eu sou presidente nacional e local do partido, o presidente é presidido, ou ele segue aquilo que a sua base quer ou ele cai. Eu nunca caí no meu partido porque eu nunca fui contra os membros do meu partido.

Quando a gente olha a associação dos partidos todos e essa mistura que tem existido entre várias siglas nesta eleição, é correto dizer que a imensa maioria dos eleitores não entende o que está acontecendo com tanto casamento esquisito em Estados diferentes?
Estou de acordo. Estou de acordo. Não pode entender, porque você sabe, e eu sou polêmico, porque eu falo a verdade. Você tem aqui cinco ou seis partidos, o resto é língua de aluguel, que se vende em programas eleitorais para atacar os outros. Veja, nós temos três candidatos prováveis e possíveis de ganhar a eleição presidencial: Dilma, Aécio, Eduardo Campos. Mas quantos candidatos a presidente tem? Dez?

Cerca de 10.
Então os outros sete vêm para querer ser presidente ou vêm para vender a sua língua para agredir os outros? Isso aqui é uma coisa nojenta e que tem que acabar um dia. E essas cláusulas de barreira, veja, que nós aprovamos no Congresso para impedir essa proliferação de partido de aluguel, infelizmente, caiu no Supremo. Porque eu acho que partido que não tem, vamos dizer, dez deputados e não teve 5% dos votos na última eleição, isso não é um partido, isso é quadrilha.

Dr. Paulo, em 2012, quando o sr. apoiou Fernando Haddad para prefeito de São Paulo, ele acabou ganhando, ele é do PT, o sr. pediu que Lula, Haddad, fossem até a sua casa onde foi selado o acordo...
Não, eu não pedi, eu os convidei.

Convidou. Convidou e eles foram até a sua casa. Quem olha as fotos fica com a impressão que havia um certo constrangimento no ar ali pelo fato de aquelas imagens estarem sendo feitas. O sr. sentiu isso?
Não. Fernando, eu quero dizer o seguinte: foi a coisa mais natural do mundo. Por quê? Eu guerreei sim o PT durante mais de 10 anos. Por quê? Porque eu sou um democrata. Eu sou um homem da livre empresa, eu sou empresário, minha origem é essa, eu sou um engenheiro. Quando eu governei São Paulo, eu governei São Paulo dentro do espírito mais democrático possível. Ora, o Lula, quando veio para a política, ele veio pelo sindicato. A barba dele não vinha até aqui [apontando para o queixo], vinha até aqui [apontando para a barriga]. Ele ia para Cuba. Quer dizer, o modelo de Cuba não servia nem para o Brasil e muito menos para Cuba. Porque eu vou dizer uma coisa para você que você que gosta de estatística deve saber, quando ele entrou, em 1959, em Cuba, o Fidel, o maior produtor de açúcar do mundo era Cuba, hoje acho que Cuba não produz 2% do que o Brasil produz. E tem o seguinte: quem quiser ir para um museu de automóvel não precisa ir para Detroit, vai para Havana, que os carros da década de 1950 e 1960 estão lá andando. Muito bem. Então aquele Lula que simbolizava a vinda de Fidel Castro ao Brasil não interessava nem a mim, nem aos brasileiros. Eu guerreei muito o Lula nesse aspecto. Agora, Lula em 2012 foi candidato a presidente. Aquela carta aos brasileiros feita pelo Palocci é muito mais uma carta de um partido republicano norte-americano do que uma carta do PT. E quem mudou? Eu não. Eu sou o mesmo. O Lula mudou. O Lula hoje está à minha direita. Eu perto do Lula me pareço um comunista. Porque se eu fosse presidente, como fui candidato duas vezes, eu não ia financiar multinacional para trazer indústria para cá. Por exemplo, estão dando dinheiro do BNDES para a BMW ir para Santa Catarina. Estão dando dinheiro do BNDES para a Fiat ir para Pernambuco. Quer dizer, nunca ninguém na história política econômica do Brasil favoreceu tanto os banqueiros e as empresas estrangeiras como o PT vem fazendo. Então, ele está à minha direita hoje. Quando ele esteve em casa, quero dizer para você muito claro, a minha conversa com ele foi uma de uma alegria como se dois amigos se reencontrassem porque eu tive muito debate com ele...

O sr. falou mais com ele depois disso? Tem falado com ele?
Bom, eu não tenho agenda para falar com ele, mas eu não tenho nenhuma dúvida, se eu ligar para ele, ele me atende.

Dr. Paulo, o sr. apoiou o Fernando Haddad então em 2012, o seu partido aqui na cidade de São Paulo, Fernando Haddad hoje é rejeitado por 47% dos paulistanos. Uma rejeição altíssima. O que aconteceu?
Quando você pega uma pesquisa da Datafolha, você pega uma fotografia, você não pega o filme.

Pois é, mas o filme dele está piorando. Sempre piora.
Não, não, perdão, perdão. Eu, quando também entrei na prefeitura, você pega o Datafolha, eu não era muito bem avaliado.

Depois de um ano e meio?
E saí tão carregando pela população, tão carregando pela população que eu saí pelo Datafolha com 62% de ótimo e bom, ninguém teve isso, e 30% de regular. Eu era apoiado por 92% da população. Agora, o Fernando está há um ano e meio.

O que ele fez de errado até agora?
Não sou eu que vou julgar o Datafolha. O que eu torço, como ex-prefeito, que ele, quando sair daqui dois anos e meio, saia até melhor avaliado do que eu saí. Agora, o que eu posso dizer é o seguinte: ele é um homem correto, honesto, a senhora dele é uma senhora de bem, honrada, ele está fazendo o que deveria ser feito e eu acho que um dia será bem avaliado.

Por que a população depois de um ano e meio ainda não entende que Fernando Haddad deve ser bem avaliado como o sr. diz e 47% rejeitam?
Você que estudou lá fora deve conhecer a frase do Winston Churchill. Acho que Winston Churchill é uma pessoa inatacável, não é? O que ele disse sobre imprensa? “There is no public opinion, there is published opinion”, quer dizer, não tem opinião pública, tem opinião publicada.

Mas ainda sim dr. O sr. não pode dizer que a culpa é da mídia, dr. Paulo?
Espera, espera. Antes da Copa a mídia só dava ônibus incendiado, loja incendiada, carro quebrado, todo mundo era contra a Copa.
Mas os carros estavam sendo incendiados... Veio 30 dias de Copa. Ficou cobrindo a Copa, inclusive a Globo, os canais de televisão, três, quatro, cinco horas por dia. Acabou a Copa, 87% acharam que a Copa foi um sucesso. Então, Fernando Haddad, eu respondo a pergunta, fui prefeito, moro nessa cidade, nasci nessa cidade, fui governador e amo essa cidade, eu torço para que ele vá bem.

Mas por que não vai?
E não tenho nenhuma dúvida de que ele vai terminar o governo com uma excepcional e boa avaliação, aposto nisso.

O fato é que existe...
E tem mais, tem mais. Deixa gravado.

Está sendo gravado.
Deixa gravado. Se ele continuar administrando, e vai continuar, com a honestidade que ele está administrando, punindo, inclusive, todos esses fiscais do ISS, que emporcalharam a cidade com a aprovação de plantas fantasmas, se ele continuar com essa política honesta, em 2016, o Partido Progressista irá apoiar a sua reeleição.

Dr. Paulo, o fato é o seguinte. O PT enfrenta, no Estado de São Paulo...
O PP ou o PT?

O PT, o Partido dos Trabalhadores.
Ah, Partido dos Trabalhadores.

Enfrenta no Estado de São Paulo, na cidade de São Paulo, uma parte da região Sudeste, uma rejeição aparentemente maior do que em eleições anteriores. Isso reflete, por exemplo, no caso da aprovação do prefeito Haddad. Temos eleições para governador e para presidente...
Espera. Isso não quer dizer nada. Espera. Isso não quer dizer nada. Espera. Você fala e parece que eu estou de acordo.

Não, não, não estou dizendo que o sr. está de acordo. Isso é o que está sendo apurado nas pesquisas.
Vou dizer para você, acho ele um prefeito correto, decente, está fazendo o que deveria ser feito e vou dizer mais, vou dizer mais para você, quando ele recuou no aumento das tarifas de ônibus ele ajudou quem?

Ajudou ao governo federal.
Ajudou ao Brasil, ajudou ao Brasil, porque os índices de inflação baixaram. Ele está na verdade com o orçamento de São Paulo subvencionando aquilo que o Guido Mantega devia fazer em Brasília. Eu acho que ele está sendo um grande patriota, o prefeito.

Mas deixa eu falar um pouco mais do plano estadual e federal. O fato é que existe uma certa animosidade talvez contra o PT, é o que mostram as pesquisas...
Não, é o que mostram os jornais.

A pesquisa Datafolha mostra isso.
Não. “There is no public opinion, there is published opinion”.

Vamos em frente.
Winston Churchill.

Tem eleição este ano para governador e para presidente da República. Nas eleições de 2010 e 2012 o ex-presidente Lula teve uma influência grande nas disputas. O sr. acha que neste ano de 2014 o ex-presidente Lula terá também essa influência, embora o ambiente pareça ser mais adverso para ele agora?
Acho que sim.

Por quê?
Porque o Lula se desligou do PT. Tem inclusive uma ala mais à esquerda do PT que critica o próprio Lula. Eu acho que o Lula é uma das coisas boas que Deus fabricou para o Brasil. E vou dizer, se eu olho hoje em um ambiente mais longínquo... Você não tinha nascido quando Juscelino [Kubitschek] foi presidente, não é?

Não.
Bom, Juscelino atirou no que viu e acertou no que não viu.

Ao fazer Brasília?
Quem sustenta hoje o Brasil? É o agronegócio do Centro-Oeste que está exportando 90 bilhões de dólares que não existiam. Quer dizer, nós somos hoje os maiores produtores de soja do mundo, nós estamos indo para...

Dr. Paulo isso não tem nada a ver com o Juscelino Kubitschek...
Espera, espera, espera, espera. Então, o Lula foi o Juscelino da nova geração, porque com toda essa crise que o mundo teve, a Espanha tem 22% de gente desempregada, a Grécia está falida, Portugal está falido. Uma das famílias mais tradicionais está entregando o banco, entendeu? Pois bem. A Itália também. A França se segura, por outras razões. Agora, quem está hoje na verdade sendo o motor da Europa? É a Alemanha, que perdeu a guerra. Então, neste mundo conturbado, onde a moeda americana se desvalorizou três vezes nesses 20 anos, vale um terço hoje, onde o Japão que era o Japão já não é mais, onde a China se sobressaiu nesses 25 anos. Não esqueça que há 25 anos atrás o Brasil tinha uma economia maior do que a China e o segundo país do mundo era a União Soviética. Você vê, a geografia do mundo mudou em 25 anos, mas o Brasil continua crescendo, a passos mais lentos do que eu gostaria, gostaria que fosse mais rápido, mas o Brasil não veio para trás não.

Mas dr. Paulo, deixa eu refrasear a pergunta então. A presidente Dilma Rousseff, segundo as pesquisas, todas, enfrenta uma rejeição alta. No Datafolha, é 35% no Brasil. No Estado de São Paulo, perto de 50%. Ela fez muita propaganda oficial nos últimos meses, a Copa do Mundo teve uma organização, senão perfeita, bem sucedida e as pessoas aprovaram...
Segundo o Datafolha.

E aprovada. Segundo o Datafolha. Exatamente. Agora, segundo o mesmo Datafolha, ela continuou mal avaliada. O que nos garante, como dizem os marqueteiros oficiais aí do governo, que com a propaganda eleitoral, a partir do dia 19 de agosto, a presidente Dilma Rousseff vai diminuir a rejeição e, enfim, caminhar para uma reeleição mais tranqüila?
Veja, Fernando, ninguém no Brasil disputou ou como candidato ou apoiando outras pessoas as eleições que eu disputei. Eu disputei 22. Você sabe que ninguém disputa isso. Não sou Zaratustra, também erro. Se eu não errasse, teria sido presidente da República. Também erro, mas eu posso, com muita tranquilidade, prever melhor o futuro vendo o que aconteceu no passado em outras eleições.

E o que o sr. acha que vai acontecer?
Bom, primeiro, ela é uma mulher correta. Ela não permite o malfeito e não faz o malfeito. Segundo, ela dá tempo integral, porque praticamente não tem família, não tem marido, tem a filha que é casada no Rio Grande do Sul. Ela dá tempo integral nisso. Terceiro, ela está focada na solução de todos os problemas. Quer dizer, na crise que aqui tem na Argentina, em outros países da América Latina, na Europa, o Brasil praticamente está passando com quase pleno emprego. Ela não está sendo uma presidenta que se possa criticar. Acho que nesse mundo moderno, ela está sendo uma das melhores presidentes que o Brasil teve. Agora, vem campanha eleitoral, ela tem 12 minutos, Aécio tem quatro, Eduardo Campos menos de dois, os outros não existem, os outros são língua de aluguel que estão se vendendo para alguém, a gente vai ver na campanha para quem...

Todos?
Hã?
Todos os outros o sr. acha?

Os outros todos estão se vendendo. Nós vamos saber para quem quando eles começarem a criticar alguém.
Mas tem alguns candidatos de partidos menores que podem ter, enfim, pouco tempo, pouca representação, mas que são ideológicos?
Ah, Fernando, você que estudou lá fora não é possível que a gente tolere um sujeito que tem um deputado e não tem voto ficar com um minuto de televisão integral durante 45 dias de graça para falar mal dos outros. Não existe isso. Você sabe que, inclusive, nos Estados Unidos é o partido que paga, não é o governo que paga. Aqui não tem horário eleitoral gratuito, isso é uma mentira. Isso é uma mentira. O governo paga as estações de televisão aquele horário para as pessoas falarem. Então, espera, então você tem 12, quatro e dois, em números redondos, muito bem. Ela tem o que mostrar, vou fazer uma afirmação, na próxima eleição tem um candidato só.

Como assim?
Só ela.

Na eleição deste ano?
É, porque ela vai falar do que ela fez e os outros vão falar mal dela. Não vai ter outro candidato.

O sr. está dizendo que a apesar...
O Aécio não tem o que mostrar, o Aécio não faz uma declaração, uma só, de programa de governo, só fica falando mal da presidenta. E o Eduardo Campos, que fez parte do governo Lula, idem. E ela está fazendo o quê? Ela está governando. Ela está tentando resolver os problemas do Brasil e os outros estão loucos para sentar no lugar dela, falando mal dela.

Mas as projeções de segundo turno hoje, segundo o Datafolha e outros institutos, dizem que seria uma disputa muito apertada entre ela ou Aécio Neves e ela ou Eduardo Campos. Por quê?
Eu não tenho nada contra o Aécio Neves, porque o Aécio Neves, que é Aécio Neves da Cunha, ele é filho do Aécio Cunha, ele usa o Neves que é um sobrenome muito honrado do avô Tancredo, mas ele é fruto do quê? Do avô. E o avô não teve 480 votos do colégio eleitoral. Teve um voto só.

O sr. está se referindo a 1985, né?
Foi o meu, foi o meu voto, porque se eu conspirasse ou eu renunciasse, ele não seria presidente. Eu tinha um verdadeiro respeito pelo Tancredo Neves e tenho também pelo Aécio. Agora, honestamente, eu não vejo condições hoje políticas do Aécio ser um bom presidente e te explico por que. Jânio Quadros foi eleito com 20 deputados do PTN, renunciou, não pode governar. Pelo PRN...

Collor, 1989.
Collor foi eleito, foi cassado. Se você não tiver uma base no Congresso, você não governa. Então a Dilma terá o PT que é o maior partido, PMDB que é o segundo, o terceiro bloco é o PP, com o Pros, é o nosso bloco. O quarto é o PSDB e o quinto é o PSD, do Kassab. Quer dizer, ela terá: primeiro, segundo, terceiro e quinto partido. O Aécio não terá apoio nenhum no Congresso. Então vai ter que repetir um mensalão ou um negócio qualquer para poder...

Estou sentindo que o sr. está fazendo campanha para a Dilma Rousseff. Você vai pedir votos para ela?
Eu não estou fazendo campanha. Não estou fazendo campanha nenhuma. Eu estou falando o que vai acontecer.

Mas o sr. vai pedir votos para ela quando fizer campanha este ano?
Na minha propaganda terá a candidata do meu partido, que é ela, o candidato do meu partido a governador, que é Paulo Skaf, o candidato do meu partido a senador, que é Gilberto Kassab, vai ter o meu nome e o estadual que quiser.

O sr. vai fazer santinhos com esses nomes?
Ah sim. Olha...

Dilma vai estar no seu santinho?
Estará no meu santinho e tem mais, e tem mais que eu vou dizer para você. Você que está me ouvindo, veja quantos políticos você conhece que está há 47 anos no mesmo partido, respeitando a fidelidade partidária. Você não encontra um segundo. Paulo Maluf é único.

Dr. Paulo, em que cenário, estou vendo que o sr. acha que Dilma vai ganhar, mas em que cenário ela poderia eventualmente perder?
Só se cair um avião... Com ela dentro, mas isso não vai acontecer, porque [risos] a Ucrânia está bem longe.

Ou seja, então o sr. não vê essa hipótese desenhando?
Evidente que eu já disputei muita eleição e posso escrever um livro. As eleições ganhas que eu perdi e as eleições perdidas que eu ganhei. É lógico, eleição cada um pode ganhar, só não ganha...

Mas então, em qual cenário talvez ela poderia perder?
Eu acho que hoje a chance de ela ganhar, vamos supor, é 98%. A chance de ganhar o Aécio é 1,9% e o Eduardo é 0,1%, sem juízo de valor, estou dizendo sob o aspecto estatístico-eleitoral.

Esses dois candidatos principais de oposição, Eduardo Campos, do PSB, e Aécio Neves, do PSDB. Aécio Neves tem mais robustez nas pesquisas, Eduardo Campos, menos. O sr. acha que é esse mesmo o cenário que vai se desenhar? Aécio em segundo, Eduardo Campos em terceiro? Eduardo não tem como decolar?
O Eduardo Campos eu conversei com ele três horas quando estive uma vez em Pernambuco.

Quando?
2011. Eu fui para um casamento, Fernando Bezerra Coelho, deputado federal, meu colega e telefonei para o chefe da Casa Civil dizendo “olha, eu não tenho uma agenda com o governador Eduardo Campos, mas só quero que você avise ele que eu estou aqui”. Mandaram um cara me buscar, fiquei com ele três horas conversando. Eduardo Campos é um homem encantador, eu era muito amigo do avô dele, Miguel Arraes, que esteve mais de uma vez na minha casa e eu estive mais de uma vez na casa dele. Me dava muito bem com Miguel Arraes. Encantador, e se um dia for presidente, Eduardo Campos será um grande presidente da República. É um conhecedor dos problemas, um homem correto, bem casado...

Ele se aliou a Marina Silva, fez bem?
Bem casado, pai de cinco filhos. Bom, a Marina eu não tenho nada contra ela, nada. Ao contrário, acho que ela é uma mulher de grande valor. Agora, ela tem uma visão das coisas um pouco, eu diria, antiquada. Por exemplo, o que seria o Centro Oeste sem o agronegócio? Era uma taba de índios. Então, uma vez eu perguntei ao ministro do Meio Ambiente o que é o bioma. Ele dizia “tem que defender o bioma”, “tem que defender o bioma”, “o bioma”, “o bioma”. O que é o bioma? Tem que defender três borboletas, quatro cobras, cinco lagartixas, dois sapos e uma taba de índios. Bom, é uma maneira de viver. Quer dizer, o homem antigo precisava de uma tanga e um pedaço de carne crua, mas será que é isso que os índios de hoje querem? Os índios de hoje querem plano de saúde, querem carro do último ano, carro do ano, quer educação, quer televisão, não é isso? Quer dizer, e eu acho que ele está certo. Você querer manter no status quo o Brasil tal como Pedro Alvares Cabral descobriu...

Eu estou entendendo que o sr. está achando que Marina Silva com Eduardo Campos não foi uma boa associação, é isso?
Eu acho que ele não daria votos para ela, se ele fosse vice dela, e ela não dá votos para ele, ela sendo vice, não dá.

E em São Paulo, Dr. Paulo, o que vai acontecer aqui na sucessão, porque hoje a indicação é que Geraldo Alckmin, que é do PSDB, atual governador, é um favorito grande aí, segundo as pesquisas. E deve ganhar no primeiro turno, se a eleição fosse hoje. O sr. acredita que há como o seu candidato, Paulo Skaf, que é do PMDB, ir para o segundo turno e ser um candidato competitivo?
Você disse bem, “hoje”. Eu perdi uma eleição do Mário Covas, éramos quatro candidatos, e ele era o quarto lugar, e ele ganhou a eleição. Então em eleição tudo pode acontecer.

Mas é difícil reverter esse quadro aqui, pelo que dizem as pesquisas.
Não, não fala muito em pesquisa porque se pesquisa fosse verdadeira, vamos ser corretos, para que eleição? Chama o Datafolha, faz a pesquisa e já vai para o Tribunal Regional Eleitoral...

Como é que o sr. explica a taxa atual de 54% de intenção de votos para Geraldo Alckmin?
É recall. É lembrança.

Mas é bom pra ele, né?
Não, lógico. Eu gostaria de ser candidato a governador e começar com 54%. O máximo que eu consegui começar foi com 40%. Quer dizer, com 54% você tem um nome expressivo e é evidente que pode ganhar. Agora, você aqui afirmar que você faz uma roleta russa com seis balas no tambor se ele não ganhar essa afirmação você não fala porque você pode, quem sabe, morrer.

Quem pode ir para o segundo turno com ele, se houver segundo turno?
O Lula tem um grande prestígio, isso eu não tenho dúvida, e o Lula vai entrar de cabeça na campanha.

De Alexandre Padilha, do PT?
De Padilha. Muito bem. O maior tempo de televisão é de Paulo Skaf, que tem o que mostrar, foi um grande comandante da geração de empregos aqui neste Estado, a melhor educação do Estado está no Sesi, comandado por ele. Eu posso te dizer, porque a minha secretária me pediu: “Dr. Paulo, será que o sr. arruma ou lugar no Sesi para a minha filha?”. Bom, eu telefonei para lá e arrumei um lugar no Sesi para ela. E eu pergunto: “Como é que é lá?”. E ela diz: “Dr. Paulo, que beleza, educação maravilhosa, a comida da refeição é limpa, é linda, é gostosa, que bom que o sr. arrumou um lugar para a minha filha”. Eu disse: “Bom, eu fico feliz por você, mas fico feliz que tem outras centenas de milhares de crianças nos Sesis no Brasil”. Porque sabe o Sesi, quem sustenta, né?

Claro.
É o UOL, a Folha, a Eucatex, todo o Brasil. 2% da nossa folha...

Compulsório.
Sesi e Senai. E o Senai é a melhor escola. Eu fiz Senai como engenheiro. E o Sesi... Então, o Paulo Skaf tem o Duda Mendonça, tem o maior tempo de televisão e tem um recall de um homem sério e correto. Ele pode ir para o segundo turno, Padilha pode ir para o segundo turno e, na minha visão, Alckmin estará no segundo turno.

Como o sr. explica o efeito aparentemente nulo que está tendo nesse processo eleitoral, aparentemente nulo, dessa crise de abastecimento de água?
Olha, esse é um assunto que eu posso te falar duas horas.

Não, mas, por favor, contenha-se.
Porque o Sistema Cantareira foi idealizado quando o presidente da Sabesp era o engenheiro Reinaldo de Barros, que foi meu prefeito, e ainda São Paulo fez muita injustiça porque ainda não deu para o Reinaldo ainda um nome de rua. Ele idealizou o sistema que foi mais de 90% construída pelo governador Paulo Maluf quando a cidade tinha 12 e meio milhões de habitantes, você que gosta de estatística, a Grande São Paulo, segundo o IBGE. Hoje tem 21 [milhões], então quando a presidenta da Sabesp diz ao governador “não está chovendo, por isso está falando água”, eu me permito dizer, Vossa Excelência está informando mal o governador. Falta água porque a população foi de 12 milhões e meio para 21 milhões e a adução de água ao invés de aumentar 80%, aumentou só 20%. Ao invés de buscar água em outros mananciais, disse “não, não chove”.

Não sim, isso...
Na verdade não tem água porque a Sabesp falhou, a Sabesp está ludibriando o governador. Vou fazer aqui uma declaração forte. Se eu fosse o governador essa senhora já estava no olho da rua, porque ela é incompetente.

Não. Muito bem. O sr. está falando de um aspecto. Eu queria mais o aspecto político-eleitoral, porque pessoas estão sofrendo com isso. Agora, aparentemente não atribuem essa dificuldade aí no abastecimento de água a um político em particular, a uma administração em particular. Eu estou errado ou isso realmente está acontecendo?
Hoje você realmente está certo. Mas eu acho que isso vem para a campanha eleitoral.

O sr. acha que vai ser um tema da campanha?
Acho que sim. Hoje, por acaso, almoçou comigo o deputado federal do meu partido, José Olímpio, missionário José Olímpio da Igreja Mundial do Poder de Deus, do Valdemiro Santiago, e ele me disse, ele foi vereador em Itu: “Dr. Paulo, há dez dias não tem água em Itu para tomar banho, nem para beber”. E aqui está sendo escondido o racionamento. O racionamento existe. Agora mesmo meu segurança que está sempre comigo me disse: “Olha, na minha casa só tem água de dia, eu não posso tomar banho de noite”.

Dr. Paulo, o tema da corrupção vai fazer parte da campanha este ano? Porque eu pergunto. O Supremo Tribunal Federal acabou julgando o mensalão, condenou vários políticos, muitos do PT, tem esse caso do mensalão, chamam mineiro, do PSDB, que também uma hora ou outra acabará sendo julgado. Esse tema é sempre muito recorrente na política. O sr. acha que nesta eleição estará presente também?
Veja, a Dilma é séria. O Aécio Cunha eu acho ele sério, não tem nada apesar desse negócio do aeroporto não tem nada que o implique. O Eduardo Campos é sério. Aqui em São Paulo o Alckmin é sério, o Paulo Skaf é sério e o Padilha também é sério. Então eu acho que esse tema não estará na pauta porque os candidatos são corretos.

O sr. falou desse assunto do aeroporto de Minas Gerais relacionado ao senador Aécio Neves do PSDB.
Eu falei não, a Folha falou.

Não, o sr. mencionou aqui.
Ah, isso sim.

O sr. fez...
Eu leio a Folha...

Muito obrigado.
Deixa eu fazer um comercial. É meu primeiro jornal.

Muito obrigado. O sr. fez um juízo sobre esse episódio lendo a notícia a respeito do que aconteceu?
Fiz.

Qual é o seu juízo?
O juízo para mim é negativo.

Por quê?
Eu não teria construído esse aeroporto.

Aécio Neves diz que não houve nada errado.
Ele pode dizer o que ele quiser, mas dentro da liberdade de expressão ele vai permitir que eu que sou mais velho também tenho opinião. Ou não vai permitir que eu tenha opinião?

Por que o sr. acha que é negativo?
Veja, em volta são só fazendas da família. A explicação que ele dá é a seguinte, não foi na fazenda, foi em um terreno público, foi desapropriado da fazenda. Foi pior a explicação. Então deram o aeroporto de presente e ainda pagaram para tirar a terra do sujeito. Quer dizer, vou lhe dizer o seguinte, a explicação foi pior do que a construção do aeroporto. Quer dizer, desapropriaram, pagaram um milhão de reais por uma terra que eu acho que a fazenda inteira não vale isso e ainda construíram o aeroporto. E tem mais, ele não é um aeroporto público, disso eu entendo, eu construí Guarulhos com quase quatro quilômetros de pista, é o maior aeroporto da América Latina e eu tenho graças a Deus meu esforço lá. Um aeroporto para jato, Learjet, precisa de mínimo 1.500 a 1.600 metros de comprimento. Se construiu para mil metros é só para uso particular da família. É para turboélice. Se fosse público, teria que ter no mínimo 1.500.

Mas que efeito tem isso?
Eu levei avião para Ribeirão Preto, para São José do Rio Preto, para Marília, para Bauru, para Presidente Prudente, para Avaré, para Sorocaba, para Barretos, que eu me lembro, de aeroportos asfaltei ou que eu ampliei. Um aeroporto que se preze, para jato Boeing, tem que ter no mínimo como tem Congonhas, tem 1.900 metros. Então não foi para todo mundo não, foi um aeroporto particular para a família.

O sr. é um político experiente...
Não, eu sou engenheiro.

Não, sim, mas que efeito terá esse episódio durante a campanha eleitoral?
Eu acho que não é um pecado mortal.

Mas terá efeito?
Terá um pecado venial. Algum efeitinho tem. Quer dizer, sempre é uma manchinha, entendeu?

Mas tira votos?
Parece aquela viúva que morreu e era solteira. Isso é... Como é que vamos enterrar em caixão branco, solteira é caixão branco, e lírios brancos também, aí alguém diz, “põe umas violetinhas também”. É um pecadinho venial. Isso tem.

Como é que o sr. se dá com os ex-presidentes da República...
Isso não impede de ser presidente não, mas é um pecado.

Como é que o sr. se dá com os ex-presidentes da República que estão por aí, Sarney, Collor, Lula, Fernando Henrique?
Bom, Sarney foi presidente do PDS...

Isso.
É o único presidente do mundo que estando no PDS se elegeu pelo PMDB, não tem dois. Isso, quando eu estava na Europa, me perguntavam: “Mas ele está em outro partido?”. É como se você pudesse supor que o [Barack] Obama fosse eleito presidente pelo Partido Republicano. Isso não existe [risos]. Ou Margaret Thatcher pelo Trabalhista. Isso só no Brasil e só na nossa Justiça que, na ocasião, na minha opinião, claudicou. Ele não estava inscrito em partido nenhum para ser presidente. Bom, mas me dou bem com o Sarney. Sarney esteve na minha casa uma dezena de vezes.

Deixa eu fazer uma pergunta para um engenheiro então. Que nota o sr. daria para cada um deles? Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula.
Sarney não estava preparado para ser presidente, quem estava preparado era Tancredo Neves.

Mas que nota o sr. dá para a Presidência dele? De 0 a 10?
Vamos pegar o último ano do mandato, sempre.

Pode ser.
Lógico. O último ano do mandato do Sarney, com todo o respeito, tinha 90% de inflação, ao mês.

84%.
84% é pouco, não é. Pouquíssimo, ao mês. [risos] Ao mês. Eu ia em supermercado que o remarcador remarcava o carrinho das donas de casa que iam entregar a mercadoria no caixa já para pagar, remarcava na boca do caixa. Bom, eu acho que ele não foi bom presidente, não foi, e foi muito prejudicado porque ele se deixou dominar por diversos partidos. Era tão fraco que se deixou dominar. Não foi. O Collor, o Collor quis ser um bom presidente, tinha vontade política de ser um bom presidente e é um homem de primeiro mundo, que fala cinco línguas, mas estava naquela hipótese, foi eleito pelo PRN com 20 deputados. Ninguém governa com 20 deputados.

De zero a dez ele merece quanto?
Ele eu acho que já merece de 7 a 8 porque ele modernizou uma boa parte do Brasil, quer dizer, permitiu que aquelas carroças se tornassem carruagens.

Estamos com o tempo apertado. Fernando Henrique e Lula, que nota o sr. dá?
O Fernando Henrique é um homem do primeiro mundo. Eu acho que o Fernando Henrique foi um presidente que fez muitas amizades, como com o Bill Clinton, salvou duas vezes o Brasil da bancarrota, através do FMI. Eu daria uma nota 7.

Lula.
Ah, Lula eu dou 9, porque o Lula se reciclou. O Lula teve a coragem de vir do Partido Comunista, sanguinário, terrorista, e se tornou um grande democrata. E tem mais, a grande virtude do Lula, ele não tem rancor. Nunca, das minhas conversas com Lula, eu vi ele falar mal de ninguém.

Então vamos lá: Lula, 9, Fernando Henrique o sr. falou 7,5...
7.

Collor?
7, 8.

E Sarney o sr. não deu nota...
Eu não dou nota porque vou dizer, essa inflação de 84%, que você diz, ao mês, não existe.

Não merece nota?
Não.

Dilma?
Dilma, como pessoa física, correta, decente, eu dou nota dez com louvor. Como administradora eu dou nota 7 a 8.

Dr. Paulo, alguns políticos da sua geração, de expressão nacional, têm anunciado aposentadoria. Vou citar dois: José Sarney, Pedro Simon.
Perdão, Sarney se aposentou porque foi no Amapá, onde ele queria ser candidato a senador...

Mas o sr...
Espera.

E não conseguiu ser.
E não podia ser candidato a senador pelo Amapá porque ele nasceu no Maranhão. Foi uma fraude.

Não, mas tudo bem.
E foi vaiado. Então ele desistiu.

Mas ainda sim, ainda sim, ele anunciou, não estou falando o motivo, ele anunciou que não vai disputar mais.
Não, ele renunciou à sua candidatura.

O efeito é a aposentadoria. Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, também anunciou que não disputa mais.
Esse ao contrário, eu vou dizer para você que é um homem que eu respeito muito, correto, decente, lamento que o Senado vai perder um dos seus grandes nomes.

Então, o sr., dessa geração, continua, vai disputar mais um mandato.
Eu estou quase. Tenho dois anos a menos.

É, mas é da mesma geração.
Sou.

Do mesmo grupo geracional. O sr. pensa em se aposentar?
Quando Deus me levar para o céu porque eu acho que...

O sr. vai disputar eleição até...?
Vida pública é vocação. Eu tenho uma experiência acumulada em construção de estradas, construção de aeroportos, construção de escolas, saneamento básico, hospitais, que eu não desperdiço. Eu sou hoje, em Brasília, um consultor de todos os deputados de Estados mais pobres. Eu sou um consultor deles. Não vou desperdiçar essa experiência que Deus me deu.

Então o sr. nem pensa em aposentadoria?
Não.

Nunca pensou?
Não. E vou dizer, não peço o teu voto para não cometer um crime eleitoral, pelo menos aqui, vai lá quando a gente sair vou te dar o meu número.

O sr. nunca pensou em sair da política?
Não, porque política é vocação, é como se você fosse perguntar para um padre: “O sr. vai sair de padre?”. Perguntar para um médico: “O sr. vai deixar de ser médico?”. Perguntar para uma enfermeira: “A sra. vai deixar de ser enfermeira?”. Eu sou um homem público.

Dr. Paulo, desde 2010...
Olha, vou dizer o seguinte, o cacoete do passado para o político é eles pedirem um autógrafo. Hoje é a fotografia. Eu estive este sábado em Campos do Jordão e vou lhe dizer o seguinte, não consegui sentar na mesa e comer alguma coisa. Cada dez segundos eu tinha que levantar para tirar uma fotografia.

Muitos selfies?
Todos, só.

Dr. Paulo, em 2010, e até agora, existe no site da Interpol uma notificação a respeito do sr. entre as pessoas que são procuradas internacionalmente pela Interpol. O sr. voltou a negociar com autoridades dos Estados Unidos a respeito de ter a retirada dessa condição de procurado no site da Interpol?
Olha, veja Fernando, tudo que você está falando é absolutamente verdade, mas eu não sou procurado por eles, se eu for para um outro país, porque eu estou condenado. Eu sou procurado porque eles querem a minha oitiva. Agora, te pergunto eu. Esqueça Paulo Maluf, deputado, ex-governador, ex-prefeito, um cidadão brasileiro, um entre os 200 milhões de brasileiros, é chamado para depor na Alemanha, na Dinamarca, na Áustria, no Japão ou nos Estados Unidos. Ele tem a obrigação constitucional de tomar um avião e ir lá? Ou ele teria a obrigação constitucional de ser ouvido aqui por juiz brasileiro, numa carta rogatória, ou então por videoconferência. Aqueles criminosos, pilotos dos Legacy americanos que mataram 159 pessoas do Boeing da Gol foram ouvidos por videoconferência pela Justiça brasileira. Então eu não estou procurado, eu estou aqui, dando uma entrevista para você. Amanhã estou em outros lugares, está certo? Então estou às ordens, agora, tomar um avião para ir lá? Não. Segundo, o que eu estranho e digo para você, de coração, que um brasileiro que nasceu aqui, que tem serviços prestados aqui, não tem a mesma defesa do governo brasileiro que teve o Cesare Battisti, este sim criminoso, assassino, matou gente na Itália. Esse está condenado pela Justiça italiana, está condenado pela Justiça francesa, condenado pela Justiça europeia e recebeu asilo aqui. E o Paulo Maluf não é defendido pelo governo brasileiro dizendo “peraí, tem uma Constituição nesse país, esse país não é quintal de ninguém”.

O sr. já falou disso com a Dilma Rousseff?
Não, com a presidenta não.

Com o ministro da Justiça?
Sim, já estive com ele diversas vezes.

Com quem? José Eduardo Cardozo?
José Eduardo Cardozo, meu amigo, foi vereador comigo.

O que ele disse?
Ele tentou sim, interferir no assunto, mas o governo, como um todo, Ministério das Relações Exteriores.

Tentou interferir como, dr. Paulo?
“Espera um pouco, quer ouvir o sr. Maluf, ele está aqui na tribuna da Câmara, está na casa que ele mora...”

Ele mandou um comunicado para a Justiça americana?
Não, ele fez um comunicado ao Departamento de Estado americano, mas não teve a força que teve para defender a permanência do assassino italiano aqui no Brasil. Eu não fui defendido pelo governo brasileiro, como eu ou qualquer um desses 200 milhões teria o direito de ser defendido.

Quando que o ministro José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça do Brasil, fez esse comunicado ao Departamento de Estado americano?
Há uns dois anos.

E nunca mais soube nenhuma gestão?
Ele dá entrevista fácil. Pergunta a ele o seguinte, será que o Brasil não deveria, no mínimo, não na defesa do Paulo Maluf, na defesa de qualquer brasileiro que quiser ser ouvido porque atropelou uma pessoa na Dinamarca, por que não pode ser ouvido no seu país de origem?

Mas Dr. Paulo, deixa eu entender uma coisa.
Você entendeu bem.

Entendi muito bem.
Você entendeu bem, agora não vai me pegar em nenhuma contradição. O que eu disse, eu digo, afirmo e deixo gravado.

Há dois anos o ministro da Justiça mandou esse comunicado. Nesses dois anos que se passaram o sr. fez alguma nova gestão para, enfim, tentar solucionar essa situação?
Sim, mas eu...

Mas quais foram essas gestões?
Eu, ao meu custo.

Quais foram elas?
Foram advogados americanos para dizer “o seu Maluf está lá, e ele não é um fugitivo, ele mora na mesma casa há 40 anos”.

E o que diz a Justiça americana aos seus advogados?
Querem que eu vá lá. Eu não vou. Eu sou brasileiro.

O sr. teme que possa ser admoestado, preso, alguma coisa?
Não, este é um país autodeterminado, isso não é quintal de país nenhum e o ruim é que vocês jornalistas não defendem o Brasil com o mesmo vigor que eu defendo. Como? Então um brasileiro, amanhã, do Rio Grande do Sul, diz “não, eu quero ser ouvido pela Justiça italiana”. Tem que tomar um avião e ir pra lá? Não tem essa obrigação, não tem.

Por que a Justiça dos Estados Unidos se recusa?
Se recusa a quê?

A ouvi-lo por vídeo conferência.
Você vai lá e entrevista.

Mas eles devem dar para o sr. o argumento.
Eu não sou informante do Ministério Público de Nova York. Vocês têm todo o direito. Vão lá e dizem: “Por que vocês não ouvem o Paulo por vídeo conferência? Ele quer falar”.

Nesse período o sr. não viajou ao exterior?
Não. Viajei uma vez.

O sr. viajou para onde?
Eu tenho passaporte diplomático. Eu estive na Inglaterra e estive na Itália.

E daí o sr. não teme que por conta desse aviso na Interpol o sr. tenha problemas em uma viagem dessa?
Não, não pelo seguinte, porque eu não tenho processo condenatório, Fernando. Vocês, às vezes, com todo o respeito, para ter uma manchete, para vender jornal, porque o Maluf vende jornal, eu devia cobrar direitos autorais. Põe lá manchete “Maluf”. E eu não tenho nada a ver com aquilo. Vocês deviam perguntar a eles. “Mas porque vocês não ouvem o Maluf que vive na mesma casa há 40 anos? Ele não é fugitivo. Ele está na tribuna da Câmara em Brasília. Ele faz parte da Comissão de Constituição e Justiça”. Não passa uma lei no país que não passa pelas minhas mãos, não é?

Mas os seus advogados, que eu imagino que sejam competentes, lá nos Estados Unidos, dizem o que para o sr., Dr. Paulo, a respeito disso? Porque a situação se estende desde 2010.
Eu vou dar a você o endereço deles para não perder tempo e eu ter que esclarecer por conta deles. Você pode entrevistá-los, eles darão entrevista a você.

O sr. tem expectativa de que essa solução, para esse caso, venha em breve? Tem algum cronograma?
Tenho porque eu estou no bom direito. Eu não estou me negando a falar. Eu estou aqui com você. Quando você me telefonou de Brasília e me convidou, eu disse que não vinha? Eu aceitei na hora. Quando eles quiserem que eu fale, eu falo, mas é no meu território. Eu sou brasileiro, respeito o Brasil e repito, esse país não é quintal de ninguém, aqui tem Constituição e é um país que tem que ser respeitado. Eu e os 200 milhões que moram aqui.

 Dr. Paulo, há dois ou três meses a Folha de S.Paulo publicou uma reportagem dizendo que documentos que constam do julgamento, lá na Ilha de Jersey, indicam que o sr. teria tratado pessoalmente com advogado encarregado de dar explicações ao Deutsche Bank sobre a origem de um valor depositado no Deutsche Bank, isso está no processo lá em Jersey. O que aconteceu nessa negociação?
Olha, eu tenho muito respeito pela Folha de S.Paulo. Você sabe que eu era amigo pessoal do Otávio Frias e é meu decreto a nomeação de Carlos Caldeira Filho, que era outro sócio da Folha, para prefeito de Santos. Agora, eu sei que a Folha quer vender jornal e vocês tinham lá o Jamelê, aquele que fazia as manchetes da Folha, das Notícias Populares. Um dia publicou uma manchete “Cachorro fez mal à moça”. Lembra? Vendeu 200 mil exemplares na banca porque todo mundo queria saber o cachorro que fez mal à moça. Aí na página estava pequenininho. “Fulano de tal morando no Capão Redondo foi lá e comeu um cachorro quente e ficou mal do estômago, do intestino”. Eu sei que a Folha quer vender jornal, agora, o que a Folha não diz, e eu vou dizer, não digo que ela mente, ela sonega, que, primeiro, eu não sou réu em Jersey, e que a sentença diz que eu não tenho conta em Jersey. Isso a Folha nunca disse e eu sou obrigado a dizer a você que ela é parcial.

Mas por que o sr. está envolvido nesse processo em Jersey?
Você ficou entupido agora, né? Você não sabia disso. Você ficou entupido agora, porque não sabia disso. Você sabia que eu não sou réu em Jersey?

Mas o sr. é citado.
Mas espera, “citado”, eu poderia citar você também, Fernando.

Mas eu não estou citado.
Não sou réu, não me defendi, não sou réu, e tem mais, a sentença diz que eu não tenho conta.

Mas por que o sr. teve que constituir advogados para apresentar explicações desse processos em Jersey então?
Se fosse no regime nazista, ou fascista, você não precisava de advogados. Mas no regime do Estado de Direito quando você eventualmente é acusado de maneira falsa, o que você faz? Ou você é pobre e tem um defensor publico ou você tem recursos e contrata um advogado. Foi o que eu fiz.

Tem alguma novidade desses processos nos últimos dias?
Tem. Que eu não tenho conta e nem sou réu. Essa é novidade para a Folha.

E sobre o caso da notificação na página da Interpol, o sr. está aguardando que venha, enfim, uma iniciativa por parte da Justiça americana?
Não, tenho lá um advogado que está conversando com eles, continua conversando.

A solução seria o sr. ser ouvido aqui?
Só tem uma solução, a Constituição brasileira tem que ser respeitada. É videoconferência ou é carta rogatória e eu quero ser ouvido por um juiz brasileiro.

Dr. Paulo, o sr. tem um carreira muito longa já como político e muitos casos rumorosos ligam o sr. a esses episódios. Sempre o sr. quando é descrito menciona...
Sabe por quê?

Isso incomoda o sr.?
Não. Eu tenho que pedir só direitos autorais que vocês já ganharam muito dinheiro de maneira falsa me envolvendo em coisas que eu não fiz. Por exemplo, a filha que vocês disseram que eu tinha fora do casamento. Me humilharam, tive que ir no Fórum da Penha, tirar o DNA com o meu laboratório, o DNA com o laboratório da menina, o DNA com o laboratório do juiz e depois de três analises eu não era o pai. Você acha que isso é justo?

O sr. acha que há uma injustiça então da mídia em relação ao sr.?
Não, não. Um dia me perguntaram, sabe o que é o gênero mais perecível? Eu disse, eu não sei, o que é? O pepino, o tomate? Não, o gênero mais perecível é notícia falsa. Ninguém quer comprar o jornal de ontem.

Na sua campanha...
Você se entupiu agora também. [risos]

Na sua campanha agora para deputado o sr. tem viajado bastante, tem me dito, as pessoas perguntam desses episódios para o sr.?
Não, não. Eu vou lhe dizer mais, o que a experiência me diz, o voto da gratidão é muito relativo. O que a população quer é o voto da esperança. Você tem que dizer não o que você fez, o que você ainda vai fazer, o que eles estão absolutamente corretos e onde erra a campanha do Aécio e do Eduardo que eles deviam dizer “eu quero ser presidente para fazer isso, e não quero ser presidente porque ela tem esse, esse, esse...”. Então, eu quero dizer para você, onde eu tenho ido, e faço isso há 47 anos, eles querem saber o seguinte, “o que o sr. vai fazer se for eleito”. O resto é repórter que pergunta e povo não é repórter. O povo, você que estudou nos Estados Unidos, quer saber o seguinte: “What about me?”. E eu, como é que eu entro nisso?

Dr. Paulo, e o sr., por que o sr. quer ser deputado federal de novo?
Porque eu adoro tudo que eu faço, eu adoro ir para Brasília, eu adoro quando, por exemplo, o governador de Mato Grosso do Sul, Sebastião Puccinelli uma vez me disse: “Maluf, você construiu tanta estrada vicinal, lá, barata, como é que faz?”. Eu ensinei ele. Com o mesmo recurso que ele fazia um quilômetro, eu ensinei eles a fazerem dez quilômetros. Eu acho que Mato Grosso do Sul me deve isso. Quando, por exemplo, lá em Roraima eles tinham um problema de gado, eu ensinei eles como é que se faz. Quando tem, por exemplo, problema no Amazonas de navegação eu digo qual é o tipo de barco que é mais barato para ser impulsionado pelas hélices de motor diesel e o tipo de hélice. Sabe? Eu tenho experiência.

O sr. teve votação expressivas no passado, mas algumas delas para alguns cargos foram caindo ao longo do tempo.
Uma só.

Não é?
Uma só.

A sua expectativa neste ano de votação para disputar uma vaga de deputado federal é de ter quantos votos e quantos candidatos o sr. enxerga neste momento a deputado federal que serão bem votados em São Paulo? Quem são eles?
Em primeiro lugar eu não vou dizer quem vai ser bem votado porque eu não vim aqui para fazer propaganda de concorrente. Agora eu, se tiver um voto a mais do que necessário, eu agradeço.

Deputado federal Paulo Maluf, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S.Paulo e ao UOL.
Muito obrigado eu, Fernando Rodrigues, aliás, eu gosto muito do Fernando, vou aqui fazer uma confissão e um comercial, porque o Fernando não tem medo de falar a verdade.