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Leia a transcrição da entrevista de Benjamin Steinbruch ao UOL e à Folha

Do UOL, em Brasília

29/09/2014 06h00

Benjamin Steinbruch, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diretor-presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e do Grupo Vicunha, participou do Poder e Política, programa do UOL e da "Folha" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues.  A gravação ocorreu em 26.set.2014 no estúdio do UOL em São Paulo.

 

 

Narração de abertura [EM OFF]: Benjamin Steinbruch tem 61 anos. É formado em administração pela Fundação Getúlio Vargas.

 

Benjamin Steinbruch nasceu em uma família de empresários. Seu pai, Mendel Steinbruch, foi um dos fundadores da Vicunha, que se tornou a maior indústria têxtil da América Latina. O primeiro emprego de Benjamin foi na Vicunha, como vendedor de tecidos.

Na década de 1990, o Grupo Vicunha se viu ameaçado pela abertura do mercado têxtil à concorrência internacional e decidiu diversificar suas operações.

Em nome do grupo, Benjamin comprou parcelas da Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN, em 1993, e da Companhia Vale do Rio Doce, em 1997. Ambas as empresas haviam sido fundadas por Getúlio Vargas, durante o Estado Novo.

Em 2002, Benjamin Steinbruch vendeu a participação do Grupo Vicunha na Vale e sua família usou os recursos para assumir o controle total da CSN.

Benjamin Steinbruch é hoje diretor-presidente da CSN e do Grupo Vicunha.

Em junho de 2014, assumiu interinamente a Presidência da Fiesp, a Federação de Indústrias do Estado de São Paulo, no lugar de Paulo Skaf, que pediu licença do cargo para disputar o governo de São Paulo.

Folha/UOL: Olá, bem-vindo a mais um Poder e Política - Entrevista. Este programa é uma realização do jornal Folha de S. Paulo e do portal UOL. A gravação desta edição do Poder e Política é realizada no estúdio do UOL, em São Paulo. O entrevistado desta edição do Poder e Política é Benjamin Steinbruch, presidente da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], diretor-presidente da CSN [Companhia Siderúrgica Nacional] e do Grupo Vicunha.

Folha/UOL: Olá, como vai, tudo bem?
Roberto Rodrigues: Tudo bem, e você Fernando, tudo bom?

Muito bem. Quais deveriam ser as prioridades do governo que toma posse em janeiro de 2015?
Eu acho que talvez a maior é restabelecer a confiança para que o Brasil possa ter tranquilidade para seguir no rumo de crescimento e da melhoria de vida dos brasileiros. Então, eu acho que isso aí seria a coisa mais importante para qualquer dos candidatos que assuma o país a partir do ano que vem.

Como é que faz isso?
Eu acho que tem que fazer aquilo que... do fácil pro difícil. Quer dizer, muitas das coisas que precisam ser feitas são as coisas conhecidas que já vêm sendo discutidas há bastante tempo. Então...

Cite duas ou três mais relevantes.
Do ponto de vista de economia, por exemplo, eu acho que a questão de moeda, do valor da moeda, dos juros, e da carga fiscal, vamos dizer assim, são três das coisas que teriam que ser encaradas de imediato.

O sr. disse em um discurso recente que “só louco investe no Brasil”. Daí o ministro da Fazenda, Guido Mantega, veio aqui ao programa e disse que o sr. estaria, ao dizer isso, “redondamente equivocado”, na palavra dele. Na interpretação do ministro Guido Mantega, o sr. está preocupado porque o setor de aço, onde a CSN atua, está em crise no mundo inteiro e a sua visão é crítica sobre o estado da economia porque o sr. olha com os olhos do ramo da siderurgia. É isso mesmo?
Não. Na verdade nós estamos na mineração, na siderurgia, na energia, na ferrovia e nos portos. E com esse setores nós temos uma visão muito ampla da economia. Então, nós, através da siderurgia, atingimos o setor automobilístico, o setor de linha branca, o setor de móveis, distribuição, construção civil, então eu diria que através dos setores que nós estamos, nós estamos bem infiltrados na economia como um todo.

Mas quando o ministro disse que o sr. está “redondamente equivocado” ao dizer que “só louco investe no Brasil”, quem que está equivocado? Ele ou o sr.?
Não. Eu acho que a questão do “só louco investe no Brasil” foi dita em função dos altos custos do Brasil. Então quando você compara um investimento novo, “greenfield”, no Brasil com qualquer outro lugar do mundo, ele é pelo menos duas vezes mais caro que em qualquer outro lugar do mundo, e as complicações para que se realize esse investimento, a burocracia, a demora, é muito, muito maior do que em qualquer outro lugar do mundo. É claro que o Brasil, a gente tem que olhar a médio e a longo prazo, e isso é o que nos encoraja, inclusive a nós do grupo CSN investir o que estamos investindo. Mas a realidade é matemática, então se você compara o investimento hoje no Brasil com qualquer país do mundo, você vai ver que o Brasil, certamente, é o dobro ou o triplo. E se você tem racionalidade para optar pelo investimento, certamente você vai fazer onde você tem uma possibilidade de retorno maior.

Mas, deixa eu repetir. Quando ele disse que o sr. está “redondamente equivocado”, o que o sr. acha que ele quer dizer então?
Eu acho que ele quer dizer que as coisas estão boas, em termos de condições para investimento no Brasil. Que é justamente aquilo que a gente não acha. E se você for ver o potencial de investimento que poderia ser direcionado para o Brasil, se as condições fossem boas, certamente são muito maiores do que está ocorrendo hoje.

O ministro Guido Mantega é uma pessoa bem informada, o ministro da Fazenda da sétima economia do mundo. Se ele tem à disposição todas essa informações porque ele insiste nessa posição, então? De dizer que o sr. está equivocado?
Eu não sei. Eu acho que o Guido é super esclarecido, não tenho a menor dúvida disso e eu sei que ele sabe a realidade das coisas. Então, aqui no Brasil às vezes a gente acha que está oferecendo condições diferenciadas e na verdade a gente está fazendo muito menos do que eventualmente teria qualquer investidor fora do Brasil. Então vou te dar um exemplo que aconteceu com a gente agora recente. Nos Estados Unidos, por exemplo, se você for fazer um investimento novo o governo estadual negocia contigo em dinheiro em função do número de empregos que você cria. Não é juros baixo, não é condições diferenciadas de BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], carência, nada disso. O governo te dá dinheiro em troca do número de empregos, mais do que isso te dá toda a infraestrutura que você necessita e, ainda, a total não burocracia em relação a todos os itens relativos ao investimento, e o empreendedor lá é tratado de bandeja, quer dizer, é muito, muito bem-vindo. Aqui para você fazer um investimento, se você não considerar o custo, só considerar a situação, vamos dizer, para o investimento você vai ver que você tem que ser muito persistente para vencer todas as etapas burocráticas que são afins com esse investimento. Então eu diria que o ministro sabe, e eu tenho certeza que ele sabe, ele é um ministro super bem informado, super ativo, e ele certamente sabe dessa realidade. Agora, o Brasil tem a burocracia não só para investimentos, o teu dia a dia de cidadão é cheia de burocracia também e cheia de dificuldades também, quer dizer, não é uma questão específica de investimento, é do dia a dia nosso do Brasil.

A presidente Dilma Rousseff deixou bem claro que vai trocar a sua equipe se vier a ser reeleita, e ficou muito claro que a equipe econômica vai ser trocada e muitos interpretaram de maneiro correta, do meu entender, como todo mundo interpretou, que o ministro Guido Mantega não ficará no próximo governo se a presidente Dilma Rousseff ganhar. A eleição é agora dia 5 de outubro, segundo turno é dia 26 de outubro. Na eventualidade de a presidente Dilma Rousseff vencer, há uma incerteza grande nos mercados, a bolsa sempre cai quando ela sobe nas pesquisas. Isso significa que ela vencendo, se ela vencer no dia 26 de outubro, que ela deveria já na semana seguinte dizer quem vai ser o ministro da Fazenda dela? Ou se ela demorar para dizer, vai haver muita instabilidade?
Eu acho que vai depender muito dela, porque se você for ver agora. Se você for ver mais recentemente, o ministro Guido ele tem feito um esforço grande de aumentar a interlocução com os empresários, nós temos tido com frequência reuniões para tentar uma convergência dentro daquilo que o governo pode suportar e daquilo que os empresários precisam no curtíssimo prazo, no médio e longo prazo. Então essa persistência por parte desse relacionamento, eu acho que, de certo modo, suavizaria essa troca no próximo governo. Sem diálogo ou sem esforço para uma convergência, esse risco seria muito maior. O fato da presidenta depois, se reeleita, nomear em seguida o seu ministro, ou logo depois, dependendo de como anda até o final desse governo o relacionamento da parte de economia com a iniciativa privada, com o capital, seja nacional ou estrangeiro, acho que minimiza qualquer efeito, você entendeu? Quer dizer, é uma opção dela de quem for o presidente, se nomeia em seguida ou se nomeia com mais tempo.

É porque evidentemente se for dos outros dois candidatos de oposição que têm alguma competitividade que são Marina [Silva] e Aécio [Neves], se ganharem eles não vão ter que nomear em seguida porque não podem nomear ainda não é?
O Aécio já manifestou qual seria o ministro.

Mais enfim, daí fica o ministro Guido até o final e na posse tomam posse os outros ministros. Agora, no caso da presidente Dilma [Rousseff] o sr. acha que seria desejável, em ela vencendo, que ela anunciasse, com alguma rapidez, como seria a configuração da nova equipe que ela disse que terá para tentar aumentar a credibilidade de todos os agentes econômicos em relação ao governo?
Eu acho que eventualmente sim, porque eu gosto do ministro Mantega, eu acho que ele está fazendo um esforço agora brutal agora para diminuir as divergências que existem do setor produtivo com o governo.

Mas, se ele for sair?
Agora, se ele for sair, se for de desejo dela que saia, então que quanto antes nomeasse melhor.

Assim, vamos supor, terminou a eleição 26 de outubro, no começo de novembro ter uma clareza ali sobre qual seria a equipe econômica seria desejável?
Mesmo para ter uma transição tranquila, porque daí já segue jogando, se for o caso. Mal não faz.

E, alternativamente, se ela não fizer isso fica sempre uma instabilidade, uma dúvida sobre quem vai comandar a economia mais ainda?
É em casos de continuidade do governo, acho que o quanto antes tiverem as coisas claras melhor. Só ajuda todo mundo, eu acho.

O ministro Guido disse aqui também que a China, não é novidade, subsidia muito fortemente o aço que é produzido por lá. Como produtor brasileiro, como é possível o seu setor fazer frente a isso? Competição na China.
Não é só o aço que a China subsidia, ela subsidia tudo, quer dizer, ninguém faz frente à  China. Então, a gente tem que tomar muito cuidado porque uma China agressiva, ela não respeita ninguém, e a gente tem que estar preparado para isso, porque eventualmente, em algum momento, a China pode ser agressiva, defendendo os seus interesses, defendendo os seus empregos.

O que significa agressiva?
Ela exportar mais forte. Ela voltar mais força para a exportação, ela está priorizando a questão do mercado interno, ela está querendo agregar valor, está querendo desenvolver a economia interna. E eu te diria que ela está exportando hoje, vamos dizer, o excesso. Agora, se eventualmente ela tiver como prioridade de exportação, eu não vejo quem possa concorrer com ela nesse momento.

Quais são os principais mercados hoje da CSN?
Em termo de aço era Brasil, basicamente mercado interno que a gente estava trabalhando, e em termos de minério, por exemplo, seria a Ásia, basicamente a China, Japão, Coreia, mas basicamente a Ásia.

Olhando a história um pouco, enfim, da atividade empresarial do sr., da sua família, o Grupo Vicunha produzia originalmente tecidos, têxteis, aí houve muita competição, abertura de mercado, o mercado ficou difícil, houve uma migração para a siderurgia. Vinte anos depois dessa história, hoje o sr. cogita, pensando nas dificuldades do aço da siderurgia, em algum outro mercado prospectivo também?
O têxtil nosso a gente entrou para a siderurgia em [19]93.

Isso.
E o têxtil não estava mal naquele momento, a gente estava bastante bem. O Brasil estava no algodão bastante bem. A questão nossa era que a gente já era bastante grande, a gente era o maior grupo latino-americano de têxteis. E o meu pai chegou para mim e disse “Benjamin, você vai abrir um novo negócio e eu vou ficar com o seu irmão Ricardo [Steinbruch] cuidando do que nós já temos”. E a gente esperou oportunidades na privatização, aquele momento.

CSN e depois Vale.
Então a gente entrou na CSN em [19]93 e meu pai me disse naquela época para que eu fizesse todo o possível para aproveitar o período de desestatização que tinha ocorrido em outros países, e os grupos privados fortes pós-privatização eram completamente diferentes dos grupos pré-privatização, porque na verdade o Estado vendia empresas de capital intensivo, que a iniciativa privada normalmente não tinha condições. E a gente entrou em [19]93 e meu pai, infelizmente, morreu logo em seguida em [19]94, mas eu fiz exatamente o que ele me falou. Eu participei de praticamente todos os processos de privatização que após a CSN ocorreram, então nós participamos da Light, no Rio [de Janeiro], da Eletropaulo, em São Paulo, participamos da Vale, alguns obtivemos sucesso, alguns perdemos, mas na verdade eu fiz aquilo que o meu pai tinha dito, e realmente a gente construiu um grupo importante e que por uma questão de cruzamento entre as empresas. A Vale tinha participação na CSN, a CSN tinha participação na Vale. Em 2000 se resolveu, por uma questão de conflito teórico, separar as empresas. E daí nós optamos pela CSN e os bancos e os fundos de pensão ficaram com a Vale. E foi, e a história foi essa.

Agora, o sr. mencionou...
Mas, você me perguntou da siderurgia.

Em [19]93 o têxtil não estava, realmente, caindo pelas tabelas, ainda era uma situação boa, mas nos anos seguintes a coisa foi se complicando. No caso da siderurgia, do aço, a situação hoje realmente também não é ruim, mas olhando prospectivamente, que outro ramo da economia, ou setor da economia, poderia ser um alvo para o grupo do qual o sr. faz parte entrar ou prospectar negócios?
Eu te diria que a siderurgia não está ruim. Eu acho que a gente tem um mercado enorme no Brasil, a gente tem tudo para fazer.

Por quantos anos?
Por muitos anos, Fernando. Se você for pensar o que a gente precisa fazer de infraestrutura e se você for pensar o que é o consumo de 200 milhões de pessoas, você vai ver que é o mundo para a gente percorrer. Então, eu sou muito otimista com o Brasil.

Mas daí não vai ter o excedente da Ásia, da China, que vai entrar aqui, canibalizar o mercado.
Certamente vai ter, mas você vai ter que estar preparado para competir e você tem que ser bom nesse momento, quer dizer, se a gente estiver condições iguais, eu te garanto que muitos setores do Brasil são competitivos e têm boas empresas e bons empresários e têm que sobreviver, quer dizer, eu não vejo problema de competir. Agora, tem que ter condições iguais e você ter a capacidade tecnológica, ter a capacidade de ter matéria prima local e ser verticalizado, aí a briga não me mete medo.

Porque olhando o que está acontecendo, a China já tem trem bala, já tem ferrovias, rodovias, viadutos, enfim. Não é que esteja pronto o país, mas está quase pronto nessa área. Tem muita infraestrutura que já foi feita, diferentemente do Brasil. O excedente que eles têm de aço nessa área de siderurgia toda vai aumentar, eles vão ter que colocar isso em algum lugar e o único lugar, olhando, é aqui não é? Aí, como é que vai ser?
Mas não vai ser aço, aí você tem que comparar coisas com coisas. Aí vai ser sapato, roupa, vai ser aço, vai ser carro, geladeira, o que você quiser. Partindo desse pressuposto, a China vai ter condições de competir com tudo e com todos. Agora, aí você vai ter que ter competência nos países e também por parte do governo, quer dizer, a gente tem que ter uma atenção muito particular com essa questão comercial, porque na verdade isso daí é uma guerra de empregos, quando você importa os bens você está importando os empregos também.

Claro.
E isso é o futuro da diplomacia. Na verdade acho que não vamos viver uma guerra de canhão, mas vamos viver uma guerra comercial entre os países.

O sr. mencionou emprego. O sr. sempre fala na flexibilização de leis trabalhistas, fala que é necessário acompanhar a experiência de outros países do mundo sobre esse tema. Objetivamente, quais alterações pontuais o sr. acha que são necessárias e urgentes na área da regulação do emprego?
Eu acho que, como você bem sabe, nós estamos em uma lei que é da época de Getúlio Vargas [1882-1954]. Que foi de vanguarda naquele momento e que nos serviu até hoje. Agora, o Brasil mudou. As condições de emprego mudaram. Então a gente tem que se adaptar a uma nova realidade, se possível ainda de vanguarda.

Mas, o que por exemplo?
Muito mais flexível.

Fala um item da CLT [Consolidação das Leis de Trabalho] que deveria ser eliminado, ou alterado, e de que forma alterado?
O custo do emprego não pode ser o dobro, porque você paga para o empregado X, você tem dois X de custo indireto.

Mas vamos lá, Fundo de Garantia...
Tem que ser flexível. 

Vamos lá, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço [FGTS], isso deve ser mantido ou deve ser eliminado?
Não, eu acho que os direitos devem ser mantidos. O que você tem que fazer é flexibilizar a lei trabalhista, ou seja....

Mas, como?
A jornada pode ser flexível, a idade pode ser flexível.

Idade, como?
A idade do empregado poder trabalhar.

Trabalhar mais jovem?
Trabalhar mais jovem, em condições ideais. A gente pode ter por parte do empregador e do empregado uma convergência de interesse. A gente hoje está engessado, está penalizando tanto o empregador quanto o empregado.

O sr. me desculpe, mas só flexibilizar a idade mínima para trabalhar e flexibilizar a jornada não diminui muito os custos.
Você pega o que tem de mais moderno no mundo e copia e depois melhora aqui no Brasil. O Brasil em leis trabalhistas é um dos mais atrasados, nesse momento, no mundo.

Como o sr. fala de custos que dobra para o empregador...
Você sabe quanto custa para mandar um empregado embora?

Sei.
Você sabe que tem muita gente hoje que não pode mandar empregado embora porque não tem dinheiro para mandar...

Para mandar o empregado embora. Agora, mas aí então...
Então, se você for ver a....

Mas, o problema do custo do empregado para o empregador está relacionado diretamente aos direitos que os empregados têm. Como é possível reduzir o valor que se paga para ter empregado sem reduzir os direitos que lhe tem hoje?
Por exemplo, se você vai hoje em uma empresa nos Estados Unidos, aqui a gente tem uma hora de almoço, normalmente não precisa  de uma hora do almoço, porque o cara não almoça em uma hora. Você vai nos Estados Unidos você vê o cara almoçando com a mão esquerda e operando... comendo o sanduíche com a mão esquerda e operando a máquina com a direita, e tem 15 minutos para o almoço, entendeu? E eu acho que se o empregado se sente confortável em poder, eventualmente, diminuir esse tempo, porque a lei obriga que tenha que ter esse tempo?

Mas o sr. não enxerga algum Congresso, porque isso teria que ser aprovado pelo Congresso, porque está na lei, algum Congresso, Câmara e Senado, aprovando uma redução do horário legal de almoço?
Se for vontade dos empregados porque não? Será que o pessoal gosta de ficar uma hora para almoçar sendo que pode almoçar em meia hora, e essa meia hora podia ser aproveitada para voltar antes para casa? Será que não é mais legal para ele voltar antes para casa do que ficar uma hora sem ter o que fazer porque a lei exige que tenha esse tempo determinado de almoço? Eu estou falando isso em benefício do empregado também, entendeu?

Mas o sr. está falando num item que realmente teria algum benefício, talvez para o empregador, mas ainda sim em relação o que você paga de INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], os vales transporte, alimentação, Fundo de Garantia [por Tempo de Serviço], um terço de férias, todos esses direitos, esses daí o sr. acha que algum deles deveria ser facultativo entre patrão e empregado, ou não, você acha que devem ser mantidos na lei?
Eu acho que pode ser negociado.

Quais?
Todos. Porque tem que ver se o empregado quer também, entendeu? Se você propõe para o empregado, por exemplo, se reduzir metade dos direitos que ele tem e outra metade vai para o bolso dele, eu te garanto que os empregados vão querer que metade vá para o bolso.

Você enxerga o Brasil maduro [para isso]?
Então tem um espaço enorme, o custo é muito grande e o empregado não tem o benefício equivalente, entendeu? Então eu acho que tem que ter a regulamentação e tem que ter os direitos, mas para atender também o empregado, porque hoje essa lei que está aí, na minha opinião, ela não atende nem o empregador e nem o empregado. É claro que teria negociação, teria que ser aceito por ambas as partes, mas certamente a gente pode andar um montão.

Mas, o sr.... tudo isso depende de alteração legal, depende do Congresso Nacional, do voto de deputados, senadores, e da liderança de um presidente na República. Nenhum dos três candidatos mais competitivos à presidência defende nada próximo a isso que o sr. está falando. O sr. enxerga um Brasil maduro no curto prazo para ter a discussão e aprovar?
A reforma das leis trabalhistas tem que ser defendida sim, porque é uma necessidade.

Mas, nesses termos ninguém defende.
Não. Os termos têm que ser negociados. É aquilo que eu falei, tem que ser bom para o empregado e tem que ser bom para o empregador. Agora, que existe um espaço enorme para ser negociado existe.

Por que o sr. acha que os políticos não conseguem fazer uma discussão madura sobre esse tema, nesses termos que o sr. está dizendo, que tem que ter vantagem para ambos os lados e propor uma flexibilização?
Porque está prevalecendo a ideologia, não está prevalecendo a racionalidade.

O sr. enxerga, no curto prazo, o amadurecimento do debate para culminar isso daí?
É uma necessidade, sem isso a gente não vai conseguir desamarrar essa questão trabalhista, das leis trabalhistas. A gente tem que encarar isso de frente, tem que resolver. O país tem que ser um país leve na lei trabalhista, entendeu? A gente está em pleno emprego, praticamente estava no pleno emprego, melhor momento do que esse não existe para negociar essas mudanças. Mas, não ocorreu, agora vai ser mais difícil.

Aliás o sr. disse outro dia que o desemprego pode estar batendo à porta, ou algo assim. O que o sr. quis dizer com isso?
Só para te falar de lei trabalhista, esses negócio, um primo do meu pai, Arão Steinbruch [1917-1992], que era senador, que fez o 13º salário.

Ah é?
Então, a questão trabalhista está dentro da família há muitos anos. E eu te diria que eu não teria medo de fazer uma discussão no benefício dos dois, tanto empregado quanto empregador, isso seria bom para os dois, eu te garanto isso.  Do desemprego, que você me perguntou, a questão nossa...

Está batendo na porta?
Está batendo na porta. Já está ocorrendo.

Mas as taxas são baixas.
Isso é uma coisa curiosa, porque se você ver os números, realmente as taxas são baixas.

Exato.
Mas se você anda por esse Brasil, se você anda no interior de São Paulo, você vai ver que o índice de desemprego, o índice de pessoas agora sendo mandadas embora,  a percentagem é muito alta.

Mas, por que não aparece na taxa?
É uma pergunta boa, porque eu acho que vai aparecer. Eu acho que agora esse mês vai começar a aparecer.

Acabou de sair o número.
Não, já está começando a aparecer.

Mas agora é justo o oposto, não é?
Empregos têm 100 mil.

Pelas contratações de fim do ano.
Empregos têm 100 mil da indústria que eventualmente deixariam de existir nesse ano. Agora, até o final do ano, eu acho que esse número vai ser muito maior. A minha expectativa é que seja muito maior. Independente da teórica contratação que nós teríamos para o final de ano para o varejo, e também para a eleição.

Pois é. Tem eleição, tem varejo que contrata para final do ano, acabam os estoques, vem o início do ano que vem, a indústria contrata de novo, uma coisa não compensa a outra?
Esse ano, pela primeira vez que eu me lembro, nós temos um ano recessivo com eleição. Eu nunca vi um ano que tivesse eleição ter um segundo semestre em recessão, é a primeira vez que está acontecendo. Então, realmente alguma coisa diferente tem aí, porque eu te garanto que o desemprego está crescente.

Existe uma percepção na sociedade que empresário privado brasileiro vive pedindo auxílio ao BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], ao governo. Essa percepção é correta?
Não, essa percepção é errada, porque na verdade....

Por que ela existe então?
Porque é uma percepção, não é uma realidade.

Por que a percepção se forma?
Porque se cria isso.

Mas, do nada?
Não, é a mesma coisa... por que o banqueiro é ruim? Por que empresário é ruim? Se você quer falar alguma coisa que é ruim hoje é banqueiro ou empresário, e por quê? Porque essa percepção no resto do mundo é super bem-vinda. É aquilo que eu falei antes, é tratada, assim, com todo carinho. Agora, aqui tem essa percepção, por quê? Entendeu?

Qual é a sua aposta?
Na verdade são empregadores, são investidores que criam empregos, geram riqueza. Agora, o que existe é que no Brasil as condições são diferentes do resto do mundo. Então aqui o empresariado tem que ser muito bom, as empresas têm que ser muito boas para resistir às questões que nós temos, às instabilidades, às mudanças de rumos que nós temos no Brasil.

O volume de empréstimos feitos pelo BNDES, a indústria, o setor produtivo brasileiro, é adequado? E dois, a política dos campeões nacionais adotada no governo federal do PT foi correta para o país?
Eu acho que os recursos são poucos para o BNDES, deveria ter muito mais. Eu acho que se você for ver, no Brasil, existe uma distorção grande que banco nenhum privado financia médio e longo prazo, e principalmente para investimentos. Então você não tem por parte do sistema financeiro condições para investimentos de longo prazo, a não ser do BNDES, então o BNDES é um agente fundamental para investimentos que considere carência, médio e longo prazo.

Mas e a forma discricionária como são concedidos esses empréstimos?
Agora, essa questão que você perguntou, que você chamou de como?

Campeões nacionais, que foi uma expressão cunhada, inclusive, dentro do próprio governo, dizendo que era necessário que o governo estimulasse grandes grupos nacionais, para que eles se fortalecessem dentro do Brasil e também se expandissem internacionalmente.
Isso eu acho completamente equivocado, eu não acho que... Mesmo porque eu não sou um dos campeões nacionais eleitos e sou...

E se o sr. fosse?
E sou um dos campeões nacionais correndo em paralelo dos eleitos. Então eu acho equivocada essa política, porque eu acho que ela tem que ser abrangente, tem que ser para todos, e também não só para os grandes. Eu acho que, principalmente, a gente tem que ter uma política de incentivos para o pequeno, para o médio e para o grande. Esses gigantes nacionais eles têm que ser constituídos basicamente pela sua competência, e teoricamente para os grandes é mais fácil de você conseguir financiamento fora do Brasil do que dentro do Brasil. Então eu acho que é uma distorção, eu não concordo com isso. Eu não sou um dos eleitos, então, eu não quero que pensem que eu sou contra porque eu não sou um dos eleitos, mas é que realmente eu acho desnecessário para os grandes e acho que isso prejudica os pequenos e médios.

Foi um erro da política econômica do atual governo esse tipo de atitude?
Eu acho que sim. A própria política mostrou muitos erros também, porque dentro dos eleitos, alguns não se tornaram realidades. Então eu acho que essa política de eleger campeão, o campeão tem que se fazer por si mesmo, é essa que é a realidade.

A presidente Dilma [Rousseff] demostrou, algumas muitas vezes, irritação com atrasos na conclusão da ferrovia Transnordestina.
Muitas vezes.

Sobe responsabilidade da CSN. O que impede a conclusão dessa obra?
Essa obra ela é muito mal compreendida, porque você pensar em uma ferrovia de 1.700 km, 1.756 km, é um projeto eu diria, com exceção da China, é um projeto único e com toda a sua complexidade, porque para você construir uma ferrovia você tem que ter a questão ambiental resolvida, você tem que ter a questão do meio ambiente, você tem que ter a questão do projeto, você tem que ter a questão da desapropriação, você tem que ter a questão de qualquer coisa pontual de arqueologia, de quilombola, uma capela, qualquer coisa para uma ferrovia e a ferrovia tem que estar licenciada e tem que estar desapropriada, coisa que não é fácil. A construção em si também é difícil, porque 1.750 km é obra de governo, e de poucos governos. E a gente aqui no Brasil está fazendo isso, está fazendo Norte-Sul, está fazendo algumas outras. A única que está sendo tocada do ponto de vista privado é a Transnordestina, e a gente precisa andar junto o funding com desapropriações, com os projetos, com a complexidade do projeto, e eu acho que a gente andou bastante. Nós já concluímos 450 km, que estão concluídos, nós estamos atacando todo o eixo do Piauí, estamos com cinco frentes de trabalho no Piauí, e estamos com quatro frentes de trabalho contratadas no Ceará. Então, ela está andando. É claro que atrasou, é claro que teve um reajuste no investimento em função do tempo, mas eu te diria que apesar dos problemas eu acho que é um projeto que está sendo executado dentro da sua possiblidade, e preservando custo também, porque esse negócio de tocar a qualquer preço também depois não dá certo.

A obra da Transnordestina foi lançada em 2006 para ser inaugurada em 2010, agora, pelo o que eu entendi, a meta é inaugurar em 2016. Está confirmada essa meta?
Pelo menos do trecho principal, principal não porque são dois acessos portuários, um por Recife outro por Fortaleza, com certeza o trecho do Piauí ele vai estar concluído e a gente vai estar bastante adiantado no acesso aos dois portos.

E quando que ela termina?
Em 2016 ela deve estar terminada. Eu não te digo toda.

Mas, e os acessos aos portos?
Não, com acesso ao porto, pelo menos um porto vai ter que estar terminado, e o outro vai estar prestes a terminar. Eu acho que a gente pode contar como operacional em 2016, saindo de sua origem e chegando ao porto.

2016, dezembro?
Eu não sei exatamente quando que é, mas por aí.  Agora, eu vou te dizer uma coisa, você conseguir as licenças ambientais, as desapropriações para o projeto inicial, que não tinha projeto executivo, não tinha... Era impossível, quer dizer, a gente às vezes também quer acreditar no impossível, porque dentro da complexidade e da falta de tudo, até que a gente está andando bem. Não é o que a presidente gostaria, eu sei.

É isso que eu ia falar.
Mas, eu posso te dizer uma coisa, eu estou participando ativamente desse projeto e eu estou confiante de que nós vamos cumprir os prazos.

Então vamos lá,  de zero a 10 que nota o sr. dá para o governo da presidente Dilma Rousseff na área de política industrial?
De zero a 10? Eu acho que, sei lá, uns.... Difícil de você quantificar assim, mas, sei lá, seis.

E do ex-presidente Lula?
Com relação à política industrial?

É.
Talvez um pouquinho mais, sete.

Em termos gerais, de maneira ampla, o governo Dilma foi inferior, menos eficaz que o governo do ex-presidente Lula?
Você está falando em termos de política industrial?

Na área econômica em geral.
Porque com a mesma política, pelo timing dos dois governos, o governo Dilma seria prejudicado pelas dificuldade que nós temos lá fora, quer dizer, o governo Dilma pegou um período de crise que o governo Lula não pegou.

Fazendo essa abstração, na forma de atuar.
O governo do presidente Lula era um pouco mais aberto, o da presidente Dilma um pouco mais fechado. A política, eu acho, está até muito parecida, do ponto de vista industrial, estamos falando de política industrial, não teve nem grandes evoluções nem grandes retrocessos, quer dizer, a política é mais ou menos a mesma. Agora, a facilidade na aplicação da política, eu acho que era mais fácil no governo Lula.

Agora a gente está no meio de uma campanha política para a eleição de presidente, governador, Congresso [Nacional], e a campanha da presidente Dilma Rousseff na televisão tem feito o que alguns chamam de narrativa do medo, satanizando alguns setores da sociedade como bancos, empresários, e falando que há uma situação em que se houver, por exemplo, autonomia do Banco Central, vai faltar comida na mesa do trabalhador, que se ganhar a candidata Marina Silva haverá menos investimos no pré-sal, portanto menos dinheiro para a educação, e dando isso como um fato consumado. O sr. acha que essa narrativa é correta?
Olha, eu não gosto dessa questão de medo, entendeu? Eu acho que a gente não tem que ter medo. Então, eu não acho que a gente tem que cultivar, cultuar essa questão do medo, eu acho que teria que ser propositivas as campanhas, porque falar que um vai fazer, vai por medo, eu não acho que seja produtiva essa maneira de fazer política, mas na verdade está acontecendo um pouco e eu não gosto não, mas aí ela está sendo efetiva, vamos dizer assim, se você for ver o resultado das pesquisas, é uma coisa engraçada, porque está todo mundo certo. Então, a política do PT fez com que a presidenta Dilma crescesse dois pontos, a Dilma, dentro dessa atitude, ela se fortaleceu de 36% para 38%. O Aécio que estava com 15%, dentro da mesma política de bater no PSB foi para 19%, e a Marina que tinha 31%, tinha caído para 30%, foi 29%, sendo pressionada pelos dois partidos, em termos de tempo 12 minutos mais 6 minutos, contra 2 minutos, e resistiu também. Então deu certo para a presidente Dilma, deu certo para o Aécio, e deu certo para a Marina, que resistiu. É uma coisa engraçada, a gente está vivendo uma situação meio diferente, mas certamente agora esse negócio vai afunilar.

Em quem o sr. vai votar para presidente?
O sr. em quem vai votar?

Eu ainda não decidi, inclusive eu não vou votar. Estarei em São Paulo, como eu tenho título em Brasília não vou poder votar.
Então, eu também não sei onde eu estarei. Porque talvez eu também não possa votar, mas independente se eu tivesse aqui eu também não te falava.

Por quê? Porque os empresários brasileiros resistem?
O voto não é secreto? Não, eu acho que uma das graças do voto é ser secreto também. Se todo mundo abrir o voto, como é que fica?

Mas o sr. se sentiria incomodado de revelar o seu voto, é isso?
Não, eu não sinto necessidade de revelar o meu voto. Eu acho que o voto é de cada um, quer dizer. E vou te falar uma coisa, se você me perguntar hoje em quem eu votaria, eu não sei ainda, porque o meu voto é a favor das mudanças, ou seja, se a presidente Dilma propor mudanças com relação ao futuro do Brasil, ela tem chance de ter meu voto, se a candidata Marina propor mudanças, ela tem possibilidade do meu voto, assim como Aécio.

Todos estão propondo.
Agora, eu sou radical em favor das mudanças, entendeu? Eu acho que o Brasil, se a gente não fizer as reformas e as mudanças que têm que fazer, nós, não é que não vamos crescer, não é que nós não vamos para frente, nós vamos ter um período de retrocesso, nós vamos para trás.

Em quem o sr. vai votar para o governador de São Paulo?
É igual. Eu não sei o porquê do seu interesse no meu voto.

Porque o seu voto é importante. Veja, numa democracia...
Meu voto é um, é um meu voto.

O sr. citou vária vezes o exemplo dos Estados Unidos.
Agora, no caso de São Paulo, particularmente, pela proximidade que eu tenho com o candidato Paulo Skaf, e pelo fato dele ser empresário, meu presidente, eu sou o vice-presidente dele, eu teria que ter uma infidelidade muito grande de não votar nele.

O sr. vai votar em Paulo Skaf?
Mas tem essa particularidade pela situação que eu estou vivendo. Então, certamente, eu vou votar no Paulo. Agora, por isso, entendeu? E eu estou te falando porque eu não seria correto se eu não votasse nele em função da proximidade que eu tenho com ele.

Em democracias desenvolvidas e consolidadas é natural que artistas, empresários, intelectuais, muitos revelem o voto, porque, enfim, são pessoas influentes na sociedade. O sr. citou os Estados Unidos, várias vezes como exemplo, em alguns aspectos da economia, e lá nos Estados Unidos é muito comum empresários que têm sob o comando empresas como a do sr. revelarem o voto, por isso que eu perguntei para o sr.
Mas as condições são muito diferentes.

Quais são as diferenças?
Lá tem fidelidade partidária. Lá são dois partidos, basicamente.  Lá ideologicamente é muito claro o que é um partido Republicano  e o que é um partido Democrata, são diferentes as condições. Hoje, você não tem fidelidade partidária.

O sr. acha que se o sr. revela o voto no Brasil, um empresário como o sr., revela o voto no Brasil, pode sofrer perseguição de algum grupo político quando fala ao público?
Com certeza, com certeza. Pode.

De que ordem?
De toda ordem.

Por exemplo?
Não existe essa prática aqui de você poder falar e ficar por isso mesmo, entendeu? Mesmo porque é isso que eu estou te dizendo. Lá fora você defende uma ideologia, você defende um partido, você defende um agrupamento de pessoas que têm a mesma ideia. Aqui no Brasil não é isso.

É o quê?
Então quando você fala o voto, você vai votar numa pessoa, você não está votando na ideologia, nem no partido, nem no agrupamento de pessoas que tenham determinado interesse. Então, o voto em si é quase que um voto pessoal, do que um voto partidário, ou um voto ideológico.

Mas, por exemplo, o sr. está dizendo que o sr. digamos, dissesse “vou votar no candidato X”, vamos dizer “vou votar na candidata Marina Silva” e ela ganhe a eleição aí não vai ter problema, se ela perde eleição, ganha um grupo oponente, o sr. acha que o sr. poderia ser perseguido por isso?
Eu acho que poderia sim. Acho que poderia. Acho que é esse... mas não é esse que é o inibidor de falar o voto, entendeu? Porque falar o voto você poderia até falar, essa realidade eventualmente pode existir. Então você pega, por exemplo, o empresário brasileiro, banqueiro, são tremendamente dependentes do governo, no seu dia a dia e muitos deles às vez com uma única fonte de sustentação no governo, o que é diferente também lá fora. Lá fora você não tem essa necessidade de ter a boa vontade do governo. É o que eu te falei, aqui no Brasil, por exemplo, só o BNDES te dá financiamento de longo prazo com carência, ninguém mais te dá. Então se você não tiver do BNDES você não tem de ninguém.

O sr. disse que lá fora há diferença.
Lá fora é diferente.

Pois eu tenho a impressão que se o sr. revela o voto, enfim, fala a favor de um candidato  e esse candidato não ganha, eu entendo que o sr., por conta disso, o sr. falou que não é por conta da revelação do voto, mas por conta disso?
O empresário aqui não deve fazer política. A gente tem experiências passadas que mostram que política e negócios não se misturam. Um cara para ser político ele não pode ser empresário.

Política sim, política eleitoral não.
Não, mesmo política eleitoral. O fato de ser afiliado de partido, eu acho que empresário no Brasil ele tem que ser empresário, entendeu? Para ele ser político, ele tem que deixar de ser empresário, justamente por causa desses...

Dessa imbricação que existe?
É, que existe. Eu acho que aqui é muito claro isso, para mim é muito claro. Eu não recomendaria ninguém, empresário, a fazer política. Assim como eu acho que político fazer a empresa também, ser empresário, também acho que não dá muito certo, quer dizer, eu acho que aqui é bem definido as coisas.

Deixa eu perguntar o seu juízo sobre os três candidatos mais competitivos hoje à presidência da República. Aécio Neves, qual juízo o sr. faz do candidato Aécio Neves, do PSDB?
Sempre me perguntam isso, e eu sempre digo a mesma coisa, eu vejo qualidades nos três e vejo eventuais fraquezas nos três. E é uma coisa engraçada até, porque, se você for analisar, a presidente Dilma está sempre aquele nível de 30% a 40%, a Marina também está ali nos 30%, e o Aécio agora está entre os 20%, 30% também. Então, certamente tem pessoas que gostam da presidente Dilma e votam nela, que gostam da Marina e que gostam do Aécio. Então eu te diria, o Aécio, você perguntou Aécio primeiro, não é isso?

O Aécio.
Tá. O Aécio, eu gosto dele é um bom amigo, é um jovem com história política de vida toda, acho ele preparado, acho ele com vontade de dar continuidade ao trabalho político que veio lá de trás, que teve o avô eleito presidente e não pode exercer o mandato.

Mas, eu queria que o sr. resumisse um pouco por causa do tempo.
Eu tenho que falar um pouco, calma. Você não me perguntou? Eu estou falando. Então eu acho que o Aécio ele tem condições, tem qualidades, é de um partido que teve chances de governar, acho que poderia ser um pouco mais agressivo nas mudanças. Mas acho que é um cara preparado, acho que é uma cara, uma pessoa, que certamente um dia vai ter chances de exercer funções maiores dentro da política.

Marina Silva, candidata pelo PSB?
Eu acho a Marina também uma candidata que teve história, quer dizer, a Marina não é um fato novo. A Marina teve 20% dos votos na eleição passada. Ela foi senadora, tem uma história de vida bonita, quer dizer, saiu do seringais do Acre para num momento ser candidata a presidente, ela sintetiza todos aqueles que são contra, então ela conseguiu aglutinar esse voto que é o voto contra as condições que existem e que foi manifestado nos movimentos de rua....

No ano passado.
...tempos atrás. Então é uma coisa consistente, é uma coisa que está lançada e eu vejo ela como uma pessoa que evoluiu também, quer dizer, a gente tem as pessoas...

É um risco a candidatura dela para o Brasil pelo fato dela ter um grupo político tradicional pequeno para sustentá-la e, possivelmente, um grupo pequeno institucional dentro do Congresso se vier a ser eleita?
Eu não acho que não é um risco. Eu não acho a Marina um risco, porque depois de ganhar a eleição, se você tem bom senso, você consegue aglutinar todas as forças do Congresso. Então, a hora que você está eleito esse risco não existe, a não ser que você não tenha racionalidade e bom senso, no caso eu acho que ela tem, porque se não ela não estaria onde ela está. Então eu não vejo esse risco.

Em resumo, como o sr. já disse, o sr. considera que ela seria também uma boa opção para presidente?
Eu acho que não só o candidato Aécio é uma boa opção, como a Marina é uma boa opção, assim como a Dilma para alguns também é uma boa opção.

Para o sr. é?
Eu acho que se houver reformas, se houver evolução, eu acho que sim. Eu acho que a presidente Dilma...

Mas falta uma semana para eleição, o sr. acha que ela já não poderia ter convencido o sr. de que vai fazer mudanças?
Eu acho que isso daí tem que ser, para quem está no governo, isso aí tem que ser um processo de evolução. Eu acho que a presidente Dilma fez muitas coisas boas no governo, eu acho que o Brasil de hoje é muito melhor do que o de 10 anos atrás e o de 10 anos atrás muito melhor do que o de 10 anos atrás. Então, a gente está numa evolução, não é que está tudo errado, não é que está tudo... eu acho que dentro de algumas coisas ideológicas, a gente tem que tentar ter uma convergência, ou seja, ela... Para ser eleito hoje você vê que nenhum dos três, dentro das propostas que estão na mesa, consegue ser eleito sozinho. Se não a presidente Dilma ganharia no primeiro turno, a Marina ganharia no primeiro tundo, o Aécio ganharia no primeiro turno. Então, os três têm que evoluir e conquistarem aquilo que não tem. Quem evoluir e conquistar o que não tem, é o que vai ser eleito. Então, isso que eu estou falando vale para os três.

Mas falta uma semana para a eleição, para o primeiro turno no dia 5 de outubro, quem até agora dos três, de acordo com essa sua descrição, vocaliza mais as mudanças que o sr. diz serem necessárias?
As mudanças que eu digo serem necessárias, relativas a questão de economia, a questão de investimento, a questão de diminuição do tamanho do Estado, da economia, e abertura para a iniciativa privada seja nacional, internacional, na verdade não foram postas na mesa por nenhum dos três. Talvez um pouquinho mais pelo candidato Aécio, que é uma linha do PSDB. Então dentro do que é o meu setor específico, isso na verdade não foi posto na mesa, mas isso não ganha eleição, porque nós somos uma minoria, está certo? E isso pode ser negociado qualquer tempo. Agora, eu acho que é importante, do ponto de vista do futuro, que a gente tenha claro, porque é aquilo que eu falei antes, eu acho que o risco do Brasil não é só de não crescer, o risco do Brasil é de voltar para trás. Então, por isso que eu acho que é necessário a discussão.

Se a presidente Dilma mantiver a mesma política que manteve até agora, o Brasil anda para trás?
E ela não está mantendo a mesma política, tanto é que o ministro Mantega está fazendo esforço grande de convergência com os empresários para tentar....

Tem tido resultados?
Tem. Tem tido resultados. Tanto é que nós estamos fazendo reunião atrás de reunião, nós estamos evoluindo nesse processo, e eu acho que está tendo resultado, tanto para o governo quanto para os empresários.

As suas declarações recentes a respeito da eleição levaram alguns a interpretar em Brasília que o sr. teria “marinado”, feito declarações sucessivas que davam a entender que o sr. votaria em Marina Silva. Criou um mal-estar dentro do governo, o sr. se sentiu em algum momento incomodado por declarações de alguém do governo que possa ter ligado com o sr. ou conversado?
Eu não vejo nada de mais na declaração que eu dei. Eu dou aqui ela outra vez. O que eu disse é que a Marina é uma boa opção para o Brasil. E eu digo para você que a Marina é uma boa opção para o Brasil, não vejo problema nisso. Agora, acho que também o Aécio é uma boa opção para o Brasil, conforme eu te disse.

E a Dilma?
E a presidente Dilma também pode ser uma boa opção para o Brasil, ela atendendo certas mudanças que são necessárias, não porque eu estou dizendo. Porque o Brasil está nessa situação que está.

O sr. fala que Marina é uma boa opção, o Aécio é uma boa opção, no caso da presidente Dilma você a qualifica, diz “se ela fizer as mudanças”, etc. Isso me leva, por analogia a interpretar assim. Então Marina e Aécio são opções melhores. Porque o sr. diz é uma boa opção, outro é uma boa opção e Dilma é uma boa opção se fizer as mudanças, etc.
Porque eu já te falei também, os dois outros candidatos, tanto a Marina quanto o Aécio, do ponto de vista daquilo que me diz respeito direto. Não tem um posicionamento claro com aquilo que a gente está discutindo com o governo Dilma, no sentindo das mudanças. O PSDB tem a linha dele que já é conhecida de vem desde lá de trás. A Marina a gente ainda não sabe exatamente qual vai ser a linha dela em termos de econômicos, vamos dizer assim, a gente tem um programa, mas a gente não tem a pessoa, não tem a equipe, não tem a ideia ainda, e na presidente Dilma a gente sabe aquilo que deu certo e aquilo que não deu tão certo, é de conhecimento de todos. Agora, se você for ver, a presidente Dilma tem 38% de apoio, a Marina tem 29% e o Aécio tem 20%. Então tem gente que vê certeza nos três. No caso específico, do ponto de vista do empresariado privado,  a gente vê, em função da experiência recente, mudanças que devem ser feitas, e é isso que nós estamos negociando com o governo. Então, quando eu falo das mudanças é só nesse aspecto que me diz respeito direto o que está sendo negociado com o governo e que está tendo uma boa vontade, porque você falar falta uma semana, tudo bem, falta uma semana mas a gente está discutindo toda semana para ver se a gente consegue um consenso.

Ou seja, o sr. pode “dilmar” ainda então?
É aquilo que eu te falei, eu não sei em quem eu vou votar ainda. Posso até “dilmar”. Desde que atendidas algumas mudanças que eu acho importante. Porque é aquilo que eu te falei, o que era o que a gente muda não é por mim, eu quero que a gente mude pelo Brasil. A gente está vivendo um momento que podia estar, o Brasil, muito melhor.  É isso que me incomoda, entendeu?

O sr. foi ou se sentiu pressionado nos últimos dias a dar declarações menos efusivas a respeito de Marina Silva?
Não, por quê? A declaração que eu dei no passado, eu estou dando aqui para você agora, entendeu? E acho que o que falei está certo, porque eu acho que a Marina é uma boa opção, ela pode ser uma boa opção. A mudança é necessária, pode ser que venha através da Dilma, através da Marina, através do Aécio, mas as mudanças são necessárias.

O sr. já dedicou muitos anos da sua vida, da sua carreira à iniciativa privada. Gostaria de, eventualmente, ter alguma experiência dentro de alguma administração pública? De algum governo?
Eu acho que isso é um dever de cada um de nós. Eu acho que em algum momento do vida, a gente tem que retribuir de alguma forma aquilo que a vida nos deu. Então, eu penso sim em algum momento fazer algum tipo de serviço público.

Então, o sr. aceitaria, se convidado, ser ministro de Estado de algum governo?
Se eu tivesse condições de aceitar, do ponto de vista da iniciativa privada, ou seja, se pudesse ter certeza que os negócios estariam bem administrados, eu aceitaria sim.

Em que área o sr. se vê em um eventual governo?
Qualquer uma.

Não, alguma que o sr. ache “puxa, se eu estivesse lá como ministro ali eu ia trabalhar bem”.
Eu tenho uma característica particular de se fazedor, então teria que ser uma área que precisasse que fossem feitas as coisas. Então... Mas, muita aberta. Pode ser desde educação, saúde, agricultura, habitação.

Pode ser já, a partir do ano que vem, 2015?
Eu acho que eu não tenho tempo não. Os negócios estão precisando da gente hoje. Eu acho que eu não teria condições ainda de, por mais que eu quisesse, eu acho que eu ainda tenho esses próximos anos de organização, e acho que, particularmente, o ano que vem vai ser difícil. Então, para o empresariado poder...

O Brasil vai crescer quanto no ano que vem?
Depende.

Mais ou menos. Entre quanto e quanto?
Eu acho que mais importante do que crescer é a gente estabelecer as condições para o crescimento, quer dizer, talvez o Brasil cresça pouco o ano que vem, mas estabeleça condições para crescer muito nos próximos anos.

É porque o crescimento do ano que vem já está comprado agora, não é?
Esse ano vai ser quase zero.

Tudo que acontecer ano que vem é o que se fez agora.
Esse ano vai ser muito ruim, eu acho.

E o ano que vem, em função do que se fez neste, vai ser como?
Eu acho que vai ser difícil para qualquer um dos candidatos.

O PIB cresce pouco, por consequência, então?
O PIB cresce pouco, eu acho que esse ano nós vamos crescer pouco, mas isso tudo bem. Aquilo que eu falei, crescer pouco um ano não quer dizer nada. Eu acho que a gente tem que estabelecer condições, a gente tem que fazer correções para que não volte para trás, essa é a primeira preocupação. A partir daí, a gente tem que criar condições para crescer.

O ano que vem já era?
O ano que vem, muito difícil, porque se você for ver a arrecadação está caindo, em função da recessão que nós estamos vivendo, então nós vamos entrar num ano com crescimento baixo, uma recessão na porta, desemprego na porta, o governo vai ter que se adaptar com ajuste fiscal, porque a arrecadação cai, o gasto também, o investimento, o gasto tem que a cair e tem que se adaptar a uma nova realidade também externa, porque as coisas lá fora também estão difíceis, e temos que ter boa vontade sempre do pessoal de fora para poder, de alguma forma, suportar o nosso crescimento. Então, é um ano que vai ser muito difícil independente de quem ganhe.

Muito bem. Benjamin Steinbruch, presidente da Fiesp, diretor-presidente da CSN, do Grupo Vicunha, muito obrigado por sua entrevista à Folha de S. Paulo e ao UOL.
Obrigado a você.