Comissão da Verdade aponta oficiais do Exército como autores de atentado à OAB
Pouco mais de 35 anos após o atentado a bomba na sede do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Rio de Janeiro que resultou na morte da secretária do então presidente do órgão, a CEV-Rio (Comissão da Verdade do Rio) anunciou nesta sexta-feira (11) os resultados da investigação sobre a autoria do crime, cometido durante a ditadura militar. Segundo a comissão, os responsáveis pelo atentado foram três oficiais ligados ao CIE (Centro de Informação do Exército). Procurado pelo UOL, o Exército informou que não deve se pronunciar sobre o caso.
De acordo com o relato de uma testemunha ocular ouvida pela comissão, não identificada para preservar sua integridade, o sargento Magno Cantarino Mota, que adotava o codinome "Guarany", formado na turma de paraquedistas do Exército, foi o responsável por levar a carta-bomba que matou Lyda Monteiro da Silva no dia 27 de agosto de 1980. Ele é o único que continua vivo até hoje. Segundo a pesquisadora da CEV-Rio Denise Assis, que ouviu Magno na sua casa, na zona oeste do Rio, o militar negou participação no atentado e alegou ser fotógrafo do Exército.
O envelope estava endereçado ao então presidente, Eduardo Seabra Fagundes. Dona Lyda, como era conhecida, morreu no caminho para o hospital. A investigação apontou ainda que o artefato foi fabricado artesanalmente por Guilherme Pereira do Rosário, morto no atentado ao Riocentro em 1981, por uma bomba que explodiu no seu colo no estacionamento do local. O coronel Freddie Perdigão Pereira, morto em 1996, foi identificado como o comandante do atentado. Ele também é apontado como mentor do atentado que resultou na morte de Guilherme do Rosário.
A testemunha ocular da entrega da carta-bomba, localizada no final do ano passado, afirmou ter conversado com o sargento quando ele entrou no elevador com destino ao quarto andar e reconheceu Magno em uma foto na qual ele aparece socorrendo colegas no estacionamento do Riocentro, com uma arma no coldre. A comissão também apresentou um retrato falado confeccionado a partir do relato da testemunha no ano 2000, ao lado da imagem do sargento.
A presidente da CEV-Rio, Rosa Cardoso, leu um dossiê citando as provas coletadas ao longo de dois anos de investigação. Outras três testemunhas confirmaram a identidade dos autores do atentado. "Estamos aqui sem ódio, sem preconceito. Mas com sentimento do dever de revelar atrocidades havidas no passado para que elas não se repitam, com nomeação de autores, porque isso afasta visões negacionistas, como têm surgido atualmente", afirmou a presidente da comissão.
O deputado federal Wadih Damous, ex-presidente da OAB-RJ e da CEV-Rio, afirmou que o perfil dos atentatos comprova que os agentes envolvidos foram treinados para isso. "Fico feliz de ter cumprido a promessa que fiz ao Luiz Felippe Monteiro, filho de Dona Lyda", declarou.
Muito emocionado e assistido por filhos e pela mulher, Luiz Felippe agradeceu o empenho da comissão: "Tirei o maior peso que jamais imaginei que conseguiria aguentar das costas". Ele aproveitou o momento para cobrar do ministro da Defesa, Jaques Wagner, um pedido público de desculpas por parte das Forças Armadas do Brasil.
Também presente no evento de divulgação dos resultados, o presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, afirmou que levará na próxima semana o relatório da CEV-Rio ao ministro e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que sejam tomadas as providências cabidas. "O intuito não é a punição, mas os crimes contra a humanidade são imprescritíveis", disse Coêlho.
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