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Dilma diz que Eduardo Cunha é "pecado original" do processo de impeachment

Em evento com Dilma, plateia grita que cuspiria em Bolsonaro

UOL Notícias

Do UOL, em São Paulo

27/04/2016 18h16

A presidente Dilma Rousseff, na tarde desta quarta-feira (27), classificou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como o "pecado original" de um processo de impeachment que ela tornou a dizer que é "golpe". 

"Vocês sabem perfeitamente que esse processo tem um pecado original, o presidente da Câmara", disse. A plateia do evento sobre direitos humanos já havia gritado e continuou a gritar: "Fora Cunha".

"Por que ele?", continuou, "vou explicar: o senhor presidente da Câmara queria fazer um jogo escuso com o governo. Votem para impedir que eu seja julgado no conselho de ética, tirem os votos que o governo tem lá (eram 3) e eu arquivo o processo de impeachment. Mas um governo que aceita isso é um governo que entra em processo de apodrecimento, por isso nos recusamos a essa negociação", prosseguiu Dilma.

"Acontece que o senhor presidente da Câmara, que tem acusações e pedidos de processo no Supremo [Tribunal Federal], abriu o processo de impeachment. Eu não tenho contas no exterior, jamais usei dinheiro público para me beneficiar, não tenho acusação de corrupção. O que eles fizeram? Arranjaram uma acusação. Toda acusação arranjada é frágil. Acusam-me de ter práticas contábeis incorretas. Para me beneficiar? Não!", disse a presidente, lembrando que as acusações que motivam seu processo de impeachment não são sobre enriquecimento ilícito, mas sobre má administração. 

A petista voltou a refutar que as "pedaladas fiscais" são o suficiente para caracterizar o afastamento. "Sempre foi feito isso no Brasil, desde 1994, mas no meu mandato é crime. Por que é crime? Porque, já que eles não têm crime do qual me acusar, inventam que é crime aquilo que não é crime".

"Quero dizer ainda que vou lutar até o fim para garantir que a democracia seja respeitada. Esse impeachment não é um processo de impeachment, é um processo de eleição indireta promovido por aqueles que não têm voto para se colocarem em uma disputa e receberem os votos do povo brasileiro, o único caminho correto para se chegar ao governo. Não vamos deixar que encurtem caminho ao poder com uma eleição indireta falsificada de impeachment".

Nas conferências conjuntas dos direitos humanos, Dilma discursou para uma plateia que lhe apoiava. A presidente foi recebida aos gritos de "não vai ter golpe" e interagiu com o público, sorridente -- em dado momento, se levantou do seu lugar para recolher uma flor atirada no palco.

A cerimônia marcou abertura da Conferência Nacional de Direitos Humanos e os encerramentos das Conferências Nacionais dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Pessoa Idosa, de LGBT e da Pessoa com Deficiência. 

Bolsonaro vira alvo

Em evento que abria conferência sobre direitos humanos, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi alvo de protesto. Já na abertura de seu discurso, a presidente Dilma Rousseff cumprimentou o também deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), presente no palco, a quem chamou de "guerreiro" e que foi ovacionado pelo público. A plateia, quando Wyllys se levantou, puxou o grito: "Ô, Bolsonaro, vou te dizer, eu também cuspo em você".

O canto lembra a cusparada que Jean Wyllys disparou contra o adversário político durante votação sobre a admissibilidade do processo de impeachment da presidente na Câmara dos Deputados, no dia 17 de abril. Antes do ato, Bolsonaro havia homenageado o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro torturador reconhecido pela Justiça do Brasil e ex-chefe do DOI-CODI, aparelho de repressão do Estado durante o regime militar.

Em outro momento Dilma listou o que considera avanços que tivemos na área de direitos humanos, destacando a Comissão Nacional da Verdade (CNV). "Significa que avançamos na compreensão de uma fase da história brasileira que não queremos que se repita: a ditadura. Tortura nunca mais", disse Dilma, em mais um momento em que o público se levantou contra Jair Bolsonaro.

Nos bastidores, Dilma já admite afastamento

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo publicada nesta quarta-feira (27), a presidente já admitiu a aliados que seu afastamento temporário, a partir da admissibilidade do processo de impeachment pela comissão especial do Senado, é inevitável. Dilma já estaria traçando agenda para impedir que o vice Michel Temer “se aproprie” de projetos e medidas de seu governo.

De acordo com assessor citado pela reportagem, a petista não quer deixar que Temer aplique medidas elaboradas em seu mandato, como as licitações de mais quatro aeroportos (Porto Alegre, Fortaleza, Florianópolis e Salvador) e concessões de portos.

Dilma também deverá instalar o CNPI (Conselho Nacional de Política Indigenista), anunciar a extensão do programa Mais Médicos e entregar novas unidades do Minha Casa, Minha Vida no Pará.

Ainda que considere seu afastamento inevitável, a presidente crê que pode ser inocentada ao fim do julgamento pelo Senado, podendo, assim, retomar seu mandato. Por hora, a estratégia defendida por aliados de Dilma, a qual ela estuda, pretende tirá-la do "imobilismo" e mostrar que ela ainda tem apoio social.

A petista considera inclusive ir a São Paulo para evento das centrais sindicais em celebração ao 1º de Maio, Dia do Trabalho.