"Exemplo anticorrupção", pato da Fiesp não faria sentido agora, diz Skaf
Candidato derrotado do PMDB ao governo de São Paulo em 2014, e do PSB, em 2010, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, 61, fez barulho, nos últimos meses, com a campanha que associava um pato gigante ao volume de impostos pagos pelo contribuinte brasileiro.
Batizada de “Não vou pagar o pato”, a iniciativa teve seu ápice este ano, depois de a entidade se posicionar a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT), no final de 2015. Dominados pelo verde-amarelo dos manifestantes, os protestos –não apenas em São Paulo, mas em Brasília– passaram a contar também com a figura de imensos patos infláveis que se tornavam agora parte também da chamada "luta contra a corrupção".
Nesta entrevista ao UOL, Skaf acusa a presidente agora afastada de “perda do controle do país”, critica os gastos públicos e a falta de soluções que permitissem a retomada da confiança na economia nacional e conclui: a campanha do pato, durante a gestão de Michel Temer (PMDB), não "teria sentido algum" –mesmo que o presidente em exercício tenha adotado medidas que vão na contramão do corte de gastos defendido pela Fiesp, como um reajuste de 41% a servidores do Judiciário.
Para Skaf, esse é o momento de se conceder um “voto de confiança” ao peemedebista. “Nessa transição de governo, e sem aumento de impostos, não teria sentido algum o pato, mas ele está de prontidão”, afirma o presidente da Fiesp, que, durante cerca de uma hora de conversa, atrelou a expressão “gastança” aos governos petistas ao menos quatro vezes.
Leia, abaixo, a entrevista concedida por Skaf, na sede da federação, sobre três eixos temáticos principais.
IMPEACHMENT
UOL - Que tipo de relação o senhor vislumbra entre a presidente afastada Dilma Rousseff e o empresariado, caso o impeachment não passe no Senado?
Paulo Skaf - Eu não considero essa hipótese, essa possibilidade, até porque o Senado já manifestou isso na votação do parecer da comissão do impeachment, com 59 votos. O Senado praticamente já deu o sinal, e com folga, e não creio que haverá qualquer mudança dessa tendência –e é bom que não haja mesmo, porque, pelo bem do Brasil, qualquer retrocesso seria gravíssimo.
UOL - O senhor se recusou a subir no palanque da então candidata à reeleição Dilma Rousseff, em 2014, mesmo o PMDB sendo o vice na chapa à época. Avalia que o partido errou ao endossar apoio ao PT em uma cabeça de chapa?
Skaf - Isso [o apoio ao PT] foi uma decisão do partido, por meio de uma convenção. Respeitando a democracia, não se pode considerar um erro respeitar a decisão de uma convenção. No meu caso, em São Paulo, seria uma opção minha [não apoiar Dilma], até porque, o PT tinha um candidato a governador [Alexandre Padilha, terceiro colocado na disputa]. Por essa razão, me sentia muito à vontade com meu compromisso com o PMDB.
UOL - Em que momento a Fiesp percebeu que era momento de apoiar o impeachment?
Skaf - Foi no final do ano passado. Fizemos muitas consultas às nossas bases, com pesquisas, no sentido de estar a par de como as coisas estavam caminhando. E em uma dessas consultas, às empresas de São Paulo, buscamos saber a opinião delas em relação ao processo de impeachment, sempre respeitando a ordem legal. Nem se falava do julgamento, mas do processo. Na nossa opinião, o processo de impeachment não seria golpe, mas um caminho legal para aquele momento. Uma dessas pesquisas sinalizou que mais de 90% das empresas estava a favor do processo de impeachment, e mais que 90% delas dizia que a Fiesp não deveria se omitir; deveria ter uma posição. Baseado nessa pesquisa, feita nos últimos meses do ano passado, eu aproveitei a última reunião da diretoria e do conselho de representantes das nossas entidades, então a maior reunião do ano, em dezembro, e nela apresentei a pesquisa que tinha sido feita. Consultei o conselho de representantes, que é o fórum mais alto da Fiesp, e as diretorias da Fiesp e da Ciesp, sobre qual seria a nossa posição –por unanimidade, foi a de apoio ao processo de impeachment.
Depois, durante os primeiros meses deste ano, por muitas vezes víamos que seria uma verdadeira prática e exercício de cidadania participar dos movimentos de rua [pró-impeachment] que tiveram na Paulista. Eu diria que foi com muito orgulho que grande parte desses movimentos sediou [a causa] bem em frente ao nosso prédio – e tivemos ali a participação da Fiesp, da Ciesp, de setores produtivos, e toda a sociedade, acima de tudo, como cidadãos brasileiros, nesse movimento que estimulava o encaminhamento legal do processo de impeachment e contrapondo aqueles que diziam que havia o encaminhamento de um golpe.
Em momento algum fizemos algo pensando em partido político ou mesmo na pessoa do vice-presidente –qualquer que fosse o vice, ou de qualquer partido que ele fosse, nossa posição seria exatamente a mesma, porque entendíamos que a presidente Dilma havia perdido o controle do país: da economia, da política, e estava dando um prejuízo muito grande à sociedade brasileira.
Havia a necessidade de uma mudança no cenário político para possibilitar uma mudança na economia, que estava em queda livre
UOL - Quais os argumentos concretos do empresariado para a defesa do impeachment?
Skaf - Acho que, quando se discute um cenário político do país, não se fala mais de uma posição do empresariado. Todos nós participamos, acima de tudo, como cidadãos brasileiros. No momento em que você vê seu país com a economia despencando, o desemprego chegando a 12 milhões de pessoas com carteira assinada, com empresas, indústrias e comércios fechando –tivemos o fechamento de quase 100 mil lojas, no Brasil, em um ano, e isso é quase o número de lojas que existem nos shopping centers do país-- e uma situação caótica na política, na economia, no emprego, na sobrevivência das empresas, e tudo isso causado principalmente por uma perda de confiança e um descontrole total vindo de uma crise política, havia necessidade de mudanças.
UOL - O julgamento de Dilma no Senado é político?
Skaf - Não, acredito que o julgamento do processo de impeachment é técnico e político. Não é só político, tanto que o parecer da comissão foi assim [pelo impeachment] na Câmara e, no Senado, o parecer do relator, Antonio Anastasia (PSDB-MG), foi aprovado por 59 senadores, mais do que o necessário. E ainda tem o embasamento do TCU [Tribunal de Contas da União] para a questão técnica. Eu diria que esse é um processo com base técnica, sem dúvida, mas que não se pode dizer que, no processo de impeachment, não haja o lado político também.
UOL - Para o senhor, ela cometeu algum crime?
Skaf - Não cabe a mim julgar –esse julgamento cabe ao Congresso. Não sou deputado, nem senador; respeito as instituições. Então, cabe às instituições julgarem.
UOL - No curso da campanha pró-impeachment, a Fiesp foi apontada por grupos contrários à saída de Dilma como uma importante financiadora de apoio aos movimentos de rua –especialmente apoio logístico, com cessão de espaço e alimentação. Considera adequado esse tipo de iniciativa?
Skaf - Apoiamos no sentido de dar apoio, até participando; pessoalmente estive na Paulista. Mas apoio financeiro não houve nenhum. O que ocorreu, apenas, até se comentou, mas acho coisa algo tão insignificante e que não merecia espaço, é que, me parece, teve um grupo de jovens que em algum momento resolveu acampar na Paulista, com uma vigília, até o final do processo de impeachment. E no primeiro dia, logo que chegaram, estavam há 24 horas sem alimentos e tal. Permitimos o uso de banheiro e também foi fornecida uma refeição para meia dúzia deles, não mais. Falar que isso foi apoio logístico e financeiro é um exagero tremendo. O uso de banheiros [do prédio da federação] permitimos, e eu diria que algum transeunte que tenha necessidade de uso de banheiro e que passe por aqui, a Fiesp não vai impedir que os use também. Esses foram os apoios, assim como cedemos para a imprensa o nosso mezanino para que os jornalistas pudessem se instalar e fazer imagens [dos protestos]. São esses apoios que ocorreram, mais que naturais, e que, se tivesse que fazer, faria tudo do mesmo jeito, e sempre que for necessário faremos também.
13 ANOS DE GOVERNOS DO PT
UOL - Lula deixou o governo com uma aprovação alta, e Dilma foi afastada temporariamente do governo com uma desaprovação também alta. Para o empresariado, que fatores explicam essa diferença?
Skaf - Não sei. Nesse momento, estou muito mais preocupado em olhar para a frente e encontrar caminhos para a retomada de crescimento do que fazer grandes análises em relação ao passado. O que tem que se levar em conta é que a economia mundial tem várias fases. Na fase Lula foi uma, na da Dilma foi outra. E algo comum para se analisar nos últimos dez anos: o gasto do governo federal foi 5,8% acima da inflação, e essa gastança fez com que a dívida pública chegasse a R$ 4 trilhões. Com isso, temos que conviver com juros altíssimos, e, no momento em que as coisas pioram na economia global, temos que conviver com uma crise particular nossa, independente da global, somada a um alto endividamento e à ineficiência do governo. Nunca se pode falar que não tenha havido coisas boas, mas o que vale é o balanço final: não adianta nada você fazer coisas boas, se fizer coisas ou conduzir certas situações que levam depois a um desastre. Aí as coisas boas se perderam nas ruins.
UOL - Lula e a Fiesp eram figuras relativamente próximas no governo do então presidente –a ponto de analistas políticos mencionarem, à época, que o petista o considerava uma espécie de “plano B”, em São Paulo, na eleição de 2014– caso Alexandre Padilha não avançasse ao segundo turno. Como é a relação sua hoje com o ex-presidente?
Skaf - Nunca soube que era plano B de nada. Nossa candidatura era totalmente independente do PT e do ex-presidente Lula; eu nunca tive uma conversa com ele em relação a isso. Desconhecia esse plano B. Em relação ao período em que Lula foi presidente, ele inúmeras vezes recebeu chefes de Estado aqui na Fiesp, e em todas as vezes ele nos deu a honra de estar presentes aqui. Todas as vezes que Lula veio para cá, como presidente da República, foi muito bem recebido, e sempre com uma agenda muito positiva, focando o crescimento país, o desenvolvimento, a geração de emprego... Nossa agenda sempre foi dentro disso.
UOL - E como é sua relação com Lula atualmente?
Skaf - Eu nunca mais falei com ele. Desde que ele deixou o governo, não lembro... Se eu falar que em seis anos não nos encontramos... mas não lembro, pode ser que tenha tido algum encontro.
UOL - Qual seu sentimento hoje em relação ao ex-presidente?
Skaf - Primeiro, não houve contato entre nós depois que ele deixou o governo. Aliás, houve uma fase da CPMF em 2007 em que creio que ele não tenha gostado muito da posição que tomamos –contrária à recriação do imposto; muitas vezes ele criticou e tal. Nossa relação era exclusivamente institucional, de um presidente da República com o presidente da Fiesp. Eu não gostaria muito de ficar olhando pelo retrovisor.
UOL - No que se diferenciava a relação da Fiesp e de outros setores do empresariado com Lula e com Dilma?
Skaf - Não tinha diferença, a diferença eram o Lula e a Dilma em relação às pessoas, ao setor empresarial e à Fiesp. O problema não era da Fiesp em relação a presidente, mas de presidente em relação à Fiesp. O Lula tinha um jeito de ser, e a Dilma, outro. Lula esteve inúmeras vezes aqui e, quando esteve, até recebeu chefes de Estado. A Dilma, diferente do Lula, é outro estilo, mais distante, menos diálogo, e isso com a Fiesp e com todo mundo. Isso é sabido. A Dilma é mais retraída. Mas a diferença não está daqui para lá, e sim de lá para cá.
GOVERNO TEMER
UOL - Após três meses, o que o senhor consegue ver no governo Temer que é diferente do governo Dilma?
Skaf - A confiança foi restabelecida em relação à economia. A economia vive de confiança e, quando não se tem isso, não se tem também investimentos. E, sem investimentos, não há crescimento, geração de emprego, aumento de consumo, enfim. O que se pode notar agora, apesar do período curto, foi isso –e constamos isso também por meio de pesquisa que fizemos para saber se houve recuperação da economia. Há muitos problemas? Há. As coisas estão boas? Ainda não. As coisas melhoraram, as empresas estão bem? Não, mas a situação está muito melhor do que estava. Ou seja, se compararmos o cenário de 90 dias atrás com o de hoje, é melhor, e na nossa visão, daqui a 90 dias, ele será melhor que o de hoje. Vamos ter muitas dificuldades, mas o que importa é que há um sentimento melhor a cada dia que passa.
UOL - O que esperar, aliás, desses dois anos e quatro meses de governo Temer, uma vez consolidado o impeachment?
Skaf - Em primeiro lugar, é necessário que esta confiança que está sendo recuperada se traduza na retomada de investimentos, e eu creio que isso vai acontecer. Acho que a partir do mês de setembro, quando o processo de impeachment definitivamente estiver resolvido pelo Senado, haverá uma retomada de investimentos muito forte –tanto daqui quanto de fora. Esses investimentos vão começar a mexer a roda da economia, que estava em queda livre, parou de cair e tem uma tendência de recuperação. Com confiança, vêm investimentos; com investimentos, vêm empregos, crescimento, e com crescimento, temos aumento na arrecadação.
O que esperamos do governo é que ele faça a sua lição de casa em apertar os cintos, reduzir gastos, combater desperdícios, de forma permanente combata a corrupção, estimule e passe a confiança necessária para que os investimentos aconteçam. É importante que haja redução da taxa de juros --nesse momento eu não concordo em ter aumentado a taxa, e ela aumentou, porque, quando se mantém a taxa Selic onde está mantida, a 14,5%, com uma inflação menor, temos um aumento de taxa de juros. No ano passado, com uma inflação de 11%, era uma situação; [com inflação de] 7%, agora, a mesma Selic, temos um aumento significativo na taxa de juros. Isso está errado, os juros precisam baixar.
UOL - Como isso vai ser cobrado?
Skaf - Isso já tem sido cobrado. Na semana passada estive em Brasília com o presidente e disse a ele da necessidade da redução de juros. Com a queda da inflação, os juros reais aumentaram, então a taxa Selic, sem qualquer prejuízo, só com vantagens ao país, à sociedade, ao emprego, ao governo, a todo mundo, já poderia ter um ciclo de baixas iniciado. Isso daria uma grande economia para o governo e seria uma sinalização que daria confiança. E é muito importante também a questão cambial, não há nada mais grave para tirar a competitividade do país do que ter uma moeda sobrevalorizada. Com a subida do dólar, houve uma retomada de atenção com as exportações, uma recuperação da competitividade das exportações em relação ao mercado interno. No momento em que se começa a ter uma queda do dólar fora de certos parâmetros, ou níveis mínimos, comprometem-se as exportações e a concorrência com os importados do mercado interno. Então se compromete o crescimento industrial. Um país como o Brasil não tem crescimento se a indústria não crescer.
UOL - Que ênfase a Fiesp vai dar à campanha de redução de impostos (“Não vou pagar o pato”) no governo de um presidente que é do mesmo partido que Paulo Skaf? E, por falar nisso, onde está o pato?
Skaf - O tempo passa muito rápido. No final de 2014, entrei com um processo contra o aumento do IPTU em São Paulo –e a bancada do PMDB havia votado a favor. Depois entramos com a campanha para reduzir a conta de luz e energia, e o ministro de Minas e Energia era do PMDB [Edison Lobão]. Melhor que um milhão de palavras é um gesto, e já dei inúmeros gestos e demonstrei claramente que as coisas não têm ligação. Questões partidárias não entram na Fiesp. Não é porque o presidente da federação tem uma filiação partidária ou foi candidato a governador e poderá, futuramente, ser um candidato, que a Fiesp não terá como prioridade aquilo que seja melhor para o país.
Em relação ao pato: hoje, se ele estivesse por aí, estaria sem sentido. A campanha contra o aumento de impostos ocorreu com sucesso, porque o imposto não aumentou. A CPMF, que parecia que seria aprovada no governo Dilma, micou. A campanha do pato foi um sucesso absoluto –1,2 milhão de pessoas assinaram, presencialmente e online. O objetivo foi cumprido: os impostos não aumentaram, a CPMF foi enterrada em duas, três grandes tentativas.
E a imagem do pato é simpática; no momento do impeachment, de forma muito natural, o pato estava presente pelo combate ao aumento de imposto –mas começaram a vê-lo também como símbolo da indignação popular, contra corrupção, contra coisas erradas, desemprego, juros altos
Nessa transição de governo, e sem aumento de impostos, não teria sentido algum o pato. Ele está de prontidão; no momento em quem houver qualquer ameaça de aumento de impostos, ele sai voando. Ele não desapareceu, apenas não teria sentido. Enquanto não houver essa ameaça, ele está quietinho, se recuperando, porque trabalhou muito durante um ano e meio.
UOL - O senhor manifestou em mais de uma oportunidade a necessidade de o governo federal revisar a carga tributária e fazer cortes. Alguns setores do funcionalismo receberam índices de reajuste superiores a 40% no atual governo, e só metade dos ministérios que tinham promessa de corte foram efetivamente limados. Como o senhor analisa isso?
Skaf - Me perdoe, mas a informação é que foram contratos assinados pelo governo passado e cumpridos para que não houvesse rompimento nesse governo. O presidente disse que herdou contratos assinados pelo governo passado assumindo compromissos com essas categorias todas. Então temos que entender. O que eu quero é torcer pelo Brasil agora, para que tudo dê certo. Não adianta potencializarmos problemas que às vezes não são bem existentes. Houve aumento de gastos, é verdade, o ideal seria não ter tido, mas quais foram as circunstâncias? Pelo que o presidente justificou à sociedade, ele herdou contratos assinados com compromisso de todos esses aumentos. Ele tinha dois caminhos: ou rompia, ou aceitava. E além do rompimento de contratos não estar dentro dos princípios dele, isso poderia soar como uma provocação ao funcionalismo em geral e poderia criar um momento delicado.
UOL - Mas o senhor concorda com esse tipo de medida? Mais de 40% a servidores do Judiciário, por exemplo?
Skaf - Se ele recebeu contratos assinados, eu não defendo quebra de contratos também, não. Mas ele deve saber –está na Presidência da República, então creio que ele deva saber--: a responsabilidade é dele. Você tem que dar um voto de confiança, entende? Se você chega, alguém assume a Presidência da República nas circunstâncias em que ele assumiu, o país como um trem descarrilado, sem dar chance e um tempo para que esse trem entre no trilho? Não vamos estar ajudando o Brasil. Temos que dar um pouquinho mais de tempo, mas sem dúvida o caminho tem que ser de corte de gastos e de despesas e, em hipótese alguma, de aumento de impostos.
UOL - As críticas ao governo interino passam também pelas propostas de revisão de interesses trabalhistas –o que afetaria, por exemplo, trabalhadores da própria indústria. Qual a receita para se agradarem empresários e empregados em um ajuste fiscal, na sua avaliação?
Não é momento para discutir interesse de industriais, trabalhadores, pontualmente. O momento é o de se ter uma agenda que interesse ao Brasil. Por exemplo: quando se fala da necessidade de reduzir gastos e desperdícios, certamente no governo federal deve ter muito gasto que pode ser reduzido, e muito desperdício. O governo tem participações em empresas que não têm nada a ver, que não precisaria ter, ele tem que se desfazer delas. Qualquer dona de casa, quando precisa, aperta o cinto e reduz suas despesas, qualquer empresa faz isso. Imagine só o governo federal, que deve ter tudo multiplicado por mil em relação a descontrole, desperdício, trabalho feito várias vezes. Precisa é de gestão, governança com eficiência. Além disso, é possível ter aumento de despesa com crescimento, porque há um grande volume de passivos fiscais com um projeto, um plano de recuperação desses passivos. Há R$ 600 bilhões de dívida --não na ativa, mas na fase administrativa, fora o R$ 1,5 trilhão de dívida ativa. Há muito recurso que o governo tem que buscar sem aumentar impostos. E há necessidade também de se encararem as reformas necessárias para o país. E qualquer reforma que se faça não se deve tirar direitos de quem já os tem.
Existe a PEC [Proposta de Emenda Constitucional] do Teto, por exemplo, que é fundamental porque limita os gastos públicos com base na inflação do ano anterior. Se essa PEC tivesse sido aprovada há dez anos, a dívida pública que hoje é de quase R$ 4 trilhões estaria em R$ 700 bilhões, seis vezes menor.
UOL - O governo Temer conseguirá aprovar reformas tão polêmicas em um tempo muito menor? O PT não conseguiu em 13 anos, nem o PSDB em oito.
Skaf - Em primeiro lugar, o PT e os governos do PT não combinam com uma PEC do Teto, porque mostraram que [o governo petista] foi uma gastança. E também não sei se tinham disposição para discutir reformas estruturais, porque não houve nenhuma. Você tem que ter uma disposição política de pensar no país, não na questão partidária. O que temos na mesa hoje não é partidário. Para quem interessa a PEC do Teto? Para o Brasil. A quem interessa uma reforma da Previdência? Ao Brasil. Então essa é uma agenda Brasil, não uma agenda peemedebista.
UOL - E o senhor acha que ele vai ter tempo para fazer uma reforma da Previdência?
Skaf - Há um provérbio que diz que “a necessidade é mãe das invenções”. Tudo tem um esgotamento. Tem um ponto em que o caldo transborda –transbordou, não há mais escolha. A reforma da Previdência e a PEC de Teto passaram do ponto máximo até. Não há alternativa. Se essas coisas não acontecerem, isso compromete o futuro da nação, o emprego, tudo.
UOL - O senhor estipula um prazo para o governo Temer conseguir aprovar medidas como teto para gastos públicos e reforma da Previdência? Até quando os empresários pretendem esperar?
Skaf - Creio que esse seja um momento de construção. Então, em vez de marcar prazos, todos temos que nos esforçar para essa construção. De um lado, com essa recuperação da confiança, é estimularmos o crescimento, porque com investimentos a roda da economia começa a movimentar e tem-se geração de emprego. Temos sempre, como sempre tivemos, a liberdade e a independência de cobrarmos dos governos o que entendemos que seja o melhor para o Brasil. Então, mais que fixar prazos, é arregaçar as mangas e trabalhar –como no sentido de cobrar mudanças em relação a câmbio, crédito e juros.
UOL - O ministro da Fazenda não descartou, em mais de uma oportunidade, que o ajuste venha acompanhado de aumento de impostos que ajudem a melhorar a arrecadação do governo. Como a Fiesp vai reagir caso isso aconteça, tendo em vista a campanha recente da entidade?
Skaf - Fortemente. Ele não foi taxativo, mas nós fomos, por várias vezes, contra o aumento de impostos. Fomos supertaxativos, não é a primeira vez. A Fiesp é radical contra o aumento de impostos –primeiro porque a carga de impostos no Brasil é bastante elevada e os serviços públicos são muito ruins; além disso, esse excesso de impostos leva a uma gastança com descontrole. Há uma má gestão, há desperdícios. A melhor forma para fazer com que o governo se enquadre e busque eficiência é que ele reduza gastos e combata corrupção. É apertar o cinto, ter limite nos impostos.
UOL - Como seria esse “reagir fortemente”? Retornar com a campanha do pato é um exemplo?
Skaf - Da forma como for necessário. A campanha do pato não precisa ser reativada: ela existiu e atingiu seu objetivo, os impostos não foram aumentados, foi um sucesso, e o pato está quieto. Mas, no momento em que for necessário, o pato vai para a rua de novo, não tem a menor dúvida, qualquer que seja o governo. Aumento de impostos a Fiesp não aceita.
UOL - Segundo o Ministério do Trabalho, a Fiesp recebeu ano passado do governo federal R$ 15,6 milhões de Contribuição Sindical Patronal. A entidade se recusou, recentemente, à "Folha de S.Paulo", a dizer quanto gastou na campanha “Não pague o pato”. Quem pagou pela campanha, e quanto ela efetivamente gastou?
Skaf - As campanhas da Fiesp são da Fiesp –são pagas pela federação. Em relação ao orçamento, a Fiesp é uma entidade que tem conselho fiscal, diretoria, auditoria externa, as contas são aprovadas por seus conselhos de representantes. Quanto à gestão da Fiesp, não cabe ela ser discutida publicamente. É como como se chegar a uma instituição, um clube, uma empresa de comunicação, por exemplo, e querer interferir na gestão cujos responsáveis estão lá e respondem por aquilo que decidem e fazem. As contas da Fiesp são aprovadas sempre por unanimidade e sempre com superavits.
UOL - O senhor não vai dizer então quanto custou a campanha?
Skaf - Nem sei o valor. A mídia espontânea do pato foi o maior retorno do mundo de qualquer campanha, deu capa até de jornais europeus. Ela foi uma decisão interna da entidade. Não me lembro de cabeça quanto foi gasto, mas foi tudo dentro do orçamento aprovado, com seriedade.
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