Os "Fora, Temer": manifestantes têm pressa, mas pouca esperança
Os manifestantes presentes ao ato deste domingo (18) na avenida Paulista, na altura do Masp (Museu de Arte de São Paulo), convocado e organizado pelas frentes Povo sem Medo e Brasil Popular, mostravam pressa e alguma desesperança.
É que vai ficando cada dia mais apertado o prazo regulamentar para a convocação de novas eleições diretas para presidente ainda em 2016, como pedem muitos na Paulista. Pela Constituição, novas eleições só poderiam ser realizadas até o dia 31 de dezembro deste ano.
Uma possível impugnação e cassação conjunta da chapa Dilma Rousseff (PT)-Michel Temer (PMDB) pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) este ano exigiria novas eleições, conforme a legislação eleitoral. O julgamento da ação contra a chapa Dilma-Temer, por suposto abuso econômico na eleição de 2014, depende da iniciativa do presidente do TSE, Gilmar Mendes, e ele já avisou que não tem pressa e que o caso pode ficar mesmo para o ano que vem.
Segundo estimativa da Polícia Militar, cerca de 300 pessoas participaram do evento. Os organizadores do ato não divulgaram estimativa. Por volta das 17h, aconteceu uma confusão quando policiais militares tentaram impedir uma ambulante de vender água e cerveja durante a manifestação.
Ilegitimidade e farsa
Mateus Potumati e Mayara Fortes, presentes ao protesto deste domingo, não reconhecem Michel Temer como presidente, a quem acusam de traidor e golpista. Para o casal de namorados, Temer tomou o poder para implementar um plano de governo que não foi o escolhido pelas urnas e contrário à proteção e promoção de direitos trabalhistas, entre outros.
"É um governo ilegítimo", resume Mateus, empresário do ramo da comunicação. Para Mayara, a tese de que a cassação de Dilma foi motivada por um esforço efetivo de combate à corrupção é uma farsa. "Essa pecha do combate à corrupção foi a justificativa para a implementação de todas as ditaduras, inclusive a nossa [em 1964]", explica. "Veja só os senadores que votaram pelo impeachment, todos envolvidos [em casos de corrupção]."
Mateus defende a honestidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e diz que ele é vítima de perseguição política, incluindo do Judiciário. "Queremos que ele seja investigado e julgado por pessoas capazes. Esses caras do Ministério Público Federal [da força-tarefa da Operação Lava Jato] só conseguiram apresentar um PowerPoint que foi ridicularizado internacionalmente. Algo desqualificado."
"Mídia golpista"
O repórter aborda uma mulher de cabelos grisalhos e adesivos "Fora, Temer" colados à roupa, pedindo uma conversa. "O UOL é da 'Folha de S.Paulo', não é? Não vou falar", foi uma cena que se repetiu mais de uma vez no protesto deste domingo.
Muitos dos manifestantes pró-PT acusam a mídia de fazer parte de um plano deliberado para derrubar os petistas e a esquerda do poder. "A mídia faz uma lavagem cerebral no sentido contrário", analisa o militante petista e metalúrgico aposentado Paulo Silva e Souza. Para ele, todos os partidos receberam doações de empreiteiras e não só o PT, como mostraria a mídia.
Enquanto no carro de som montado junto do Masp se cantam paródias de clássicos da MPB numa versão "Fora, Temer", como a de "Juízo final", de Nelson Cavaquinho ("Quero ter olhos pra ver /O 'fora, Temer' acontecer"), Luciana Raposo, estudante de Direito e funcionária do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), apoiada na grade da ciclovia, denuncia o "golpe". "Todos os processos do impeachment de Dilma não obedeceram ao devido processo legal", acusa. E o rito e a fiscalização do processo, sob a responsabilidade do STF (Supremo Tribunal Federal)? Ela descrê. "Estão todos do mesmo lado."
Reforma política já
Luciana defende a convocação de novas eleições ainda este ano, mas confessa estar pouco confiante na realização do seu desejo. "Não tenho esperança, não. Quer dizer, talvez um pouco, senão, não estaria aqui", diz, quase sem empolgação. Para ela, a saída, a única, é a realização de uma profunda reforma política no país, de modo a mudar o jeito de se governar, hoje muito baseado numa troca de favores, com presidentes feitos reféns do Congresso, diz.
É também o que defendem as amigas e professoras Ana Paula Nascimento, Veruska Moura e Daniela Dias Carvalho, que vieram de Santos, na Baixada Santista, especialmente para o protesto. "Estamos aqui principalmente pela reforma política", dizem em coro.
Mas cada uma tem também um brado específico: Daniela: "Todo o povo precisa se mobilizar agora para termos novas eleições"; Veruska: "Temer não foi o projeto que a gente escolheu. Abaixo Pedro Parente [presidente da Petrobras, nomeado por Temer]"; Ana: "Tiraram uma presidenta eleita, fora, Temer".
Julia Soares e Luciana Gonçalves, também professoras, em São Paulo, dizem que a cassação de Dilma e a posse de Temer foram um golpe na democracia. "A democracia não se negocia. A saída é eleições já", brada Julia, que leva um cartaz pendurado ao pescoço pedindo "Fora, Temer" e não quis ser fotografada.
Ana Carolina Castro, estudante de moda, dança ao som suingado de Curumin, que se apresenta no palco. "Estou aqui para tirar esse governo. Só na rua vamos conseguir mudar", chama a garota.
Escurece, esfria. Às 18h23 o show é suspenso, a música termina, as luzes se apagam. A Paulista está já quase vazia, em breve começará a cair uma chuva fria. Encerra-se o terceiro domingo consecutivo de protestos na Paulista contra Temer.
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