Aos 71 anos, ex-presidente Lula vê futuro político na mira da Lava Jato
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega nesta quinta-feira (27) aos 71 anos de idade vivendo um dos momentos mais conturbados de sua trajetória política. Ao mesmo tempo em que aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto para eleições presidenciais de 2018 nos cenários de primeiro turno, como em levantamento divulgado há uma semana pela Confederação Nacional do Transporte, Lula enfrenta processos criminais que podem inviabilizar uma eventual candidatura, caso seja condenado. Ele já é réu em três processos criminais ligados à Operação Lava Jato.
A assessoria do ex-presidente afirma que não há previsão de eventos públicos em comemoração ao aniversário de Lula. Já o PT fala em mobilização permanente "em defesa" do presidente de honra do partido.
"A militância de esquerda, não apenas do PT, está se organizando de maneira espontânea em defesa de Lula e não apenas por causa do seu aniversário. A injustiça que se praticam contra Lula atinge o próprio estado de direito", disse o presidente nacional do PT, Rui Falcão.
Gestão bem avaliada
Cientistas políticos ouvidos pelo UOL atribuem o primeiro lugar do petista nas pesquisas ao chamado "efeito recall", já que é o político brasileiro mais conhecido, e o fato de sua gestão ter sido bem avaliada pela população. Lula deixou a Presidência da República no auge de sua popularidade: em 2010, 83% brasileiros avaliavam sua gestão como ótima ou boa, de acordo com o Datafolha.
Mas os especialistas fazem uma ressalva: "Lula continua bem posicionado, mas o apoio a ele caiu muito. As pesquisas também mostram uma rejeição muito alta", afirma o cientista político Maurício Santoro, professor do Departamento de Relações Internacionais da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
"Um grupo de apoiadores segue votando nele ou porque acredita que é inocente ou porque o vê como culpado, mas considera que o sistema político todo tem problemas e defende que ele fez um bom governo", acrescenta Santoro.
Para o doutor em Comunicação e Política Camilo Aggio, parte considerável dos entrevistados se lembra "dos anos de prosperidade econômica" alcançada durante a passagem de Lula pela Presidência [2003 e 2010].
"O Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU (Organização das Nações Unidas), as desigualdades regionais e o desemprego diminuíram, a distribuição renda melhorou, mesmo que timidamente. Esses fatos contam para as pessoas quando são questionados a indicar um nome de sua preferência", diz o professor do Pós-Com da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Em declarações em eventos públicos, o ex-presidente tem afirmado com níveis variáveis de ênfase de que poderá ser novamente candidato a presidente. Porém, mais do que comentar a respeito de eleições futuras, Lula tem usado os palanques e as redes sociais para se defender publicamente das acusações de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
O também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em entrevista recente, que é preciso cautela ao analisar as denúncias contra seu adversário histórico.
Referências e indícios
Nesta semana, em despacho em que indicia por corrupção o ex-ministro Antonio Palocci, a Polícia Federal concluiu que o apelido "Amigo", que consta numa planilha de pagamento de propinas apreendidas com funcionários da empreiteira Odebrecht. faz referência ao ex-presidente.
Em seu perfil no Facebook, além de rebater a acusação, o ex-presidente divulgou vídeo em que diz: "quem pensa que vai derrotá-lo com mentiras, com chantagem, com safadeza, vai cair do cavalo”.
Há quem considere que Lula deveria oferecer respostas mais esclaredoras em relações às denúncias que surgem contra ele. "O que está em discussão é o real nível de envolvimento dele com a Lava Jato, em que medida foi um articulador ou se foi alguém que recebeu benefícios e optou por não fazer nada. São indícios bastante graves, tem uma consequência política grave", diz o cientista político Maurício Santoro.
A defesa de Lula adotou a tese de que o ex-presidente tem sido "vítima" de uma arma de guerra, em que é eleito um inimigo e a lei passa a ser usada ou manipulada contra aquele definido como tal.
"O lawfare aqui se traduz no uso do direito como arma de guerra, aplicada contra Lula, o PT e o projeto político de inclusão social que representamos. A ordem é destruir Lula e o PT, abusando-se do sistema legal e da mídia, para conseguir o clamor público contra o inimigo", diz o presidente nacional do PT, Rui Falcão.
No caso, quem faria uso do expediente conhecido "lawfare", seriam os procuradores da força-tarefa e juiz Sergio Moro, que preside os processos em primeira instância da Lava Jato. O caso chegou à ONU.
"Na verdade, diante do bombardeio de acusações que cai seguidamente sobre Lula, não vejo como uma outra pessoa poderia apresentar uma defesa pública melhor do que a que ele vem fazendo. E há ocasiões em que ele consegue reverter o panorama negativo, a exemplo da entrevista coletiva que se seguiu à condução coercitiva em março", afirma Aggio.
Futuro do PT e de Lula
Para o cientista político e professor da PUC-RJ, Ricardo Ismael, Lula e PT não conseguem apresentar uma nova "narrativa política", e o debate interno sobre o futuro do partido se encontra interditado, o que impede a ascensão de novas lideranças que possam retirar o partido da crise em que se encontra. "Projetando para 2018, sem considerar a possibilidade de uma eventual condenação que o impeça de se candidatar, será uma eleição muito difícil para ele", afirma.
"Além das acusações da Lava Jato, que deverão ser usadas por ser seus adversários, ele deverá arcar com o peso de responder sobre o que deu errado no governo Dilma, cujo maior fiador era ele", acrescenta.
*Colaborou Paula Bianchi, no Rio
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