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Despesas de ex-mulher de Cabral também eram pagas com propina, diz MPF

Então candidato a deputado, Cabral é fotografado ao lado da mulher, Susana, em 1996 - Rosane Marinho/Folhapress
Então candidato a deputado, Cabral é fotografado ao lado da mulher, Susana, em 1996 Imagem: Rosane Marinho/Folhapress

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio*

08/12/2016 12h00

A propina paga pela construtora Andrade Gutierrez ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) era usada por homens de confiança dele para arcar também com despesas de sua ex-mulher, Susana Neves Cabral, 48. Em dois anos, ela teria recebido mais de R$ 883 mil, segundo o MPF (Ministério Público Federal) no Rio.

O esquema é descrito na denúncia oferecida à Justiça Federal pela força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio, que deflagrou a Operação Calicute. Com a exceção da ex-mulher de Cabral, os envolvidos nos pagamentos ilícitos estão presos, inclusive sua mulher, a advogada Adriana Ancelmo, que se entregou à Justiça nesta terça-feira (6).

Os procuradores, no entanto, indicam que Susana será investigada "oportunamente", assim como "outros possíveis recebedores de valores ilícitos". Mãe do secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude do Rio, Marco Antônio Cabral (PMDB), ela faz parte de uma família de políticos.

Susana é neta do ex-presidente Tancredo Neves (1910-1985), prima do vice-governador do Rio, Francisco Dornelles (PP), e do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

A reportagem do UOL telefonou para o celular da ex-mulher do governador na tarde desta quarta (7). Antes de ser informada sobre o motivo da ligação, ela disse que não poderia falar naquele momento e pediu que o repórter voltasse a ligar mais tarde. Duas horas depois, o celular estava na caixa postal nas três tentativas feitas pela reportagem.

Em seu telefone residencial, uma funcionária informou que ela não estava em casa naquele momento.

Segundo a denúncia, os pagamentos eram feitos por Carlos Bezerra e Carlos Miranda. Assessor especial da Secretaria de Estado da Casa Civil durante o governo Cabral, Bezerra é apontado com "operador financeiro" da quadrilha montada e amigo íntimo do ex-governador. Já Miranda é ex-sócio de Cabral e também era próximo ao ex-governador.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com representantes dos dois citados na denúncia, que estão presos preventivamente no Complexo Penitenciário de Bangu.

Os procuradores dizem que a ex-mulher de Cabral recebeu, ao menos 13 vezes, dinheiro transferido por Bezerra e Miranda, "oriundo de recursos ilícitos da organização criminosa", no valor de R$ 883.045. Os repasses ilegais teriam ocorrido de 2014 a 2016.

O MPF aponta a existência de provas como a análise de mensagens de e-mail de Carlos Bezerra, na qual foi "identificada a distribuição de dinheiro em espécie em favor de Susana". A ex-mulher de Cabral é identificada pelo codinome "Susi" nas mensagens.

A relação entre os dois foi confirmada, segundo as investigações, pela análise dos dados telefônicos, que tiveram o sigilo quebrado. Nos últimos cinco anos, a investigação identificou 221 ligações entre Miranda e Susana.

O MPF também apresenta como "prova testemunhal contundente" um depoimento de Sônia Ferreira Baptista, ex-secretária pessoal de Cabral e Miranda. Ela afirmou que Carlos Bezerra e Carlos Miranda movimentavam recursos --dinheiro em espécie-- em benefício de Adriana Ancelmo e do ex-governador, além de saldar despesas para Susana Cabral.

A secretária disse ainda que as despesas mensais de Cabral giravam em torno de R$ 220 mil, e incluíam "contas de previdência privada, gastos com funcionários, encargos trabalhistas, médicos, terapeutas, condomínio, IPTU, IPVA, seguro de carros, conserto de automóveis, entre outras coisas".

Procurada pelo UOL, a Andrade Gutierrez não quis se pronunciar sobre a denúncia do Ministério Público Federal.

*Colaborou Vinicius Konchinski