"Estou com o nome sujo", diz testemunha de ação contra a chapa Dilma/Temer
Terceira testemunha a depor nesta segunda-feira (20) na ação que pede a cassação da chapa Dilma/Temer, o desempregado Jonathan Gomes Bastos, 36, reclamou que não consegue emprego desde que foi usado como laranja pelo empresário Carlos Roberto Cortegoso, dono da gráfica Focal Confecção e Comunicação, mas reforçou que os trabalhos para os quais a empresa foi contratada foram efetivamente prestados.
A empresa é investigada na ação apresentada pelo PSDB no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em que a chapa petista/peemedebista é acusada de abuso de poder econômico na eleição de 2014. O PSDB, com a chapa Aécio/Aloysio Nunes, acabou derrotado no segundo turno.
Os depoimentos foram tomados por videoconferência, desde as 10h, no TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo).
Bastos era motorista de Cortegoso e disse ter sido chamado pelo então chefe e "amigo" a ceder seu nome para ser laranja em outras três empresas que não a Focal, onde trabalhava havia 15 anos -- no caso, a Focal Point, a CRLS e a Notícia Comunicação. As três são investigadas na Operação Lava Jato.
"Minha vida mudou muito desde então. Estou com o nome sujo, desempregado, citaram meu nome em três empresas da operação Lava Jato - Focal Point, CRLS e Notícia Comunicação... Fui laranja, né?", comentou. "Mas na Focal [Confecção e Comunicação, o laranja], foram um amigo meu e outros", afirmou. "Eu era motorista do seu Carlos, ele era meu amigo, ia na minha casa e eu ia na casa dele. Ele me pediu [para usar o nome], mas eu não sabia para que era --até então era para trabalho, depois foram surgindo essas coisas aí."
Se os serviços para a chapa Dilma/Temer --pelos quais, segundo as investigações, a Focal recebeu cerca de R$ 24 milhões --foram executados? "Sim, e trabalho gráfico com lonas e bandeiras. Eu mesmo ajudei a distribuir viajando pelo Brasil", afirmou.
É o segundo depoimento de Bastos --ele já havia falado no TRE no último dia 8, afirmou, "mas com as mesmas perguntas que me fizeram hoje --se o serviço tinha mesmo sido prestado", relatou.
O que espera daqui em diante, face ao que sabe e ao que já ouviu?
"Preciso voltar a trabalhar. O que vai acontecer com eles aí nem me importa, são tudo peixe grande, tudo bandido. Isso vai dar em nada para eles. Já eu vou continuar com meu nome sujo, sem trabalhar", desabafou.
Mais cedo, depuseram os irmãos Rogério e Rodrigo Zanardo, apontados nas investigações como proprietários da Rede Seg Gráfica. A advogada deles, Cássia Resende, porém, negou que eles sejam os donos da empresa, ainda que os serviços tenham sido prestados à chapa.
Defesas de Dilma e Temer negam irregularidades
Antes de os depoimentos começarem, o advogado de Dilma, Flávio Caetano, disse que os depoimentos de hoje explicariam como funcionava o fornecimento dos serviços gráficos para a campanha.
"A prova pericial já foi feita e já demonstrou que os serviços foram feitos. Com isso, hoje não restará dúvidas --é um processo longo que caminha para fase final e essas são oitivas importantes", classificou o advogado, que estima em mais um mês a fase de instrução do processo.
"A tese da defesa é que a campanha foi regular, sem máculas nas receitas ou despesas", concluiu.
Para o advogado de Temer, Gustavo Bonini Guedes, as testemunhas "devem esclarecer a situação fiscal das gráficas, quem eram os verdadeiros proprietários."
"Na avaliação da defesa, isso não diz muito sobre o mérito do processo. Vai é subsidiar outras investigações no âmbito tributário, porque as gráficas tinham uma composição societária no papel e outros proprietários de fato. Isso está descolado do processo. Entendemos que o núcleo de investigação trate da campanha em si --essa questão não diz respeito a esse processo, mas, na nossa avaliação, pode ser importante para outros processos", analisou.
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