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Alvo da Lava Jato no Rio, linha 4 do metrô opera abaixo da capacidade e faz promoções

Linha 4 do metrô do Rio liberou catraca e reduziu tarifa para atrair passageiros - Divulgação
Linha 4 do metrô do Rio liberou catraca e reduziu tarifa para atrair passageiros Imagem: Divulgação

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

17/04/2017 16h37Atualizada em 17/04/2017 16h45

Inaugurada a seis dias da abertura da Olimpíada do Rio, em julho do ano passado, a linha 4 do metrô opera atualmente com quase metade da sua capacidade máxima, estimada em 300 mil passageiros nos estudos que antecederam a execução da obra mais cara dos Jogos Olímpicos (R$ 10,4 bilhões).

Quase um ano depois, para atrair mais público, a concessionária responsável pelo sistema decidiu dar uma semana de catracas liberadas e, ao fim do período de gratuidade (que foi de 8 a 16 de abril), anunciou uma redução na tarifa do trecho entre as estações da Barra da Tijuca, zona oeste, e General Osório, zona sul. A partir desta segunda-feira (17), os usuários pagarão R$ 3 --quase 30% a menos do que o valor original (R$ 4,80)-- até o final deste mês.

Procurado pelo UOL, o MetrôRio informou que a Secretaria de Estado de Transportes estima que a linha 4 precise de mais três anos para atingir a sua capacidade plena. Com as promoções divulgadas recentemente, a circulação passou de 110 mil passageiros por dia para 140 mil. Na última quarta-feira (12), durante o período de gratuidade, a linha 4 transportou 194 mil pessoas, o número mais alto já registrado.

As medidas para impulsionar a circulação surgem em meio a uma enxurrada de delações no âmbito da Operação Lava Jato. Os depoimentos indicam que houve cobrança de propina e caixa dois no andamento das obras da linha 4.

Os pagamentos ilícitos teriam beneficiado principalmente o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso pela Polícia Federal na Operação Calicute, e o ex-secretário de Estado de Transportes e hoje deputado federal Júlio Lopes (PP), segundo depoimentos de ex-executivos da Odebrecht. A empreiteira fez parte do consórcio executor do projeto. Juntos, Cabral e Júlio Lopes teriam levado R$ 40 milhões, de acordo com pedidos de investigação remetidos pela Procuradoria Geral da República ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Na versão do delator Benedicto Júnior, a Odebrecht aceitou pagar propina a Lopes por receio de que ele pudesse, na condição de secretário estadual de Transportes, "criar problemas" ou interferir no andamento das obras. O também delator Marcos Vidigal, ex-diretor de contratos da empreiteira, afirmou que o consórcio temia eventuais "represálias", caso a propina não fosse paga.

Em quatro anos, o político do PP ganhou cerca de R$ 4 milhões em recursos ilícitos, relatou Vidigal. Esse montante faria parte de uma cifra ainda maior, que supera os R$ 12 milhões, em pagamentos ilícitos que também abrangem doações de campanha feitas pela Odebrecht ao partido do ex-secretário.

Cabral queria 5%

Benedicto Júnior declarou que, durante a construção da nova linha de metrô, ele foi procurado pelo então governador Sérgio Cabral, que insistia em cobrar propina de 5% do contrato. Na versão do ex-executivo, a empresa não aceitou pagar, já que havia acabado de desembolsar cerca de R$ 11 milhões para entrar no consórcio da linha 4.

"Ele voltava com a conversa dos 5%, e eu sempre dizendo: paguei aqui R$ 11 milhões para entrar nesse negócio. Paguei com [dinheiro] privado. (...) Eu não tenho problema de ajudar [isto é, pagar propina], mas eu não posso ser tratado como os 5% que o senhor entende que um prestador de serviço comum faz aqui", relatou Júnior em seu acordo de colaboração.

Na semana passada, o procurador e coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Rio, Eduardo El Hage, afirmou à imprensa que a propina de 5% destinada a Cabral era "praticamente uma regra de mercado". O ex-governador costumava cobrar o mesmo percentual em vários contratos.

A defesa de Cabral informou que só se manifestará sobre as acusações dos delatores em juízo. Procurado pela reportagem, Júlio Lopes afirmou, por meio de nota, estar "surpreso e indignado" com o conteúdo das delações e chamou a Odebrecht de "organização criminosa". "Reafirmo que não tive qualquer responsabilidade na definição de custos, preços e pagamentos da linha 4", disse.
 

Histórico

As obras da linha 4 começaram em 2010, sem preço definido, e acabaram custando praticamente o dobro do valor que havia sido estimado. Além disso, representaram mais de um quarto dos R$ 39,1 bilhões gastos na organização e infraestrutura da Rio-2016.

Já no ano passado, no âmbito da Operação Lava Jato, havia indícios de corrupção envolvendo o Estado e o consórcio composto pela Odebrecht e liderado pela Queiroz Galvão.

Apesar do alto investimento, o sistema não ficou totalmente pronto antes da Olimpíada e da Paraolimpíada. Além dos indícios de irregularidade, a construção foi prejudicada pela crise financeira do Estado e por mudanças no projeto original.

Durante os eventos, o funcionamento era restrito ao público que se deslocava até os locais de competição, no Parque Olímpico da Barra. Em setembro, a linha 4 foi oficialmente aberta ao público, das 6h às 21h.

Em 25 de março, a baldeação na estação General Osório, em Ipanema, foi eliminada do trajeto da linha 4, possibilitando a conexão direta entre as linhas 1 e 4. Com isso, houve um aumento efetivo de 25% na circulação, informou o MetrôRio.

A empresa divulgou ainda que os horários de pico das três linhas de metrô (1, 2 e 4) ocorrem entre 6h e 9h e 16h30 e 20h30. A estação Jardim Oceânico é a mais movimentada, com passagem de aproximadamente 52 mil pessoas por dia útil.