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Todos os governadores eleitos no Rio nos últimos 18 anos são alvo de delatores

Anthony Garotinho (PR) (à esq.) e Luiz Fernando Pezão (PMDB), em debate eleitoral na TV - André Mourão/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Anthony Garotinho (PR) (à esq.) e Luiz Fernando Pezão (PMDB), em debate eleitoral na TV Imagem: André Mourão/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo

17/04/2017 04h00

Os nomes de todos os governadores eleitos no Rio de Janeiro nos últimos 18 anos – Anthony e Rosinha Garotinho (PR), Sérgio Cabral Filho (PMDB) e Luiz Fernando Pezão (PMDB) – aparecem em delações premiadas feitas à força-tarefa que conduz a operação Lava Jato como beneficiários de doações ilícitas realizadas em dinheiro pela Odebrecht.

A partir de relatos de funcionários da empresa, como Benedicto Barbosa da Silva Júnior (ou BJ), ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, a Justiça entendeu que são passíveis de investigação as supostas trocas ocorridas entre a companhia e os quatro políticos do Rio.

O casal Anthony e Rosinha e o peemedebista Cabral são alvo de pedidos de abertura de inquérito enviados pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), à Justiça Federal no Estado. O caso do atual governador, Luiz Fernando Pezão, fica com o STJ (Superior Tribunal de Justiça). As cortes inferiores devem decidir se aceitam ou não a investigação (entenda as etapas do processo no vídeo abaixo).

Em alguns de seus testemunhos, gravados em vídeo, BJ afirma que a Odebrecht fez doações milionárias, via caixa 2, para as campanhas eleitorais de Pezão, Garotinho e Sérgio Cabral ao governo do Estado, e para a campanha de Rosinha à Prefeitura de Campos dos Goytacazes.

Luiz Fernando Pezão, no poder desde 2014, afirma que “nunca recebeu recursos ilícitos e que as doações recebidas por ele eram legais”.

A defesa de Sérgio Cabral, governador entre 2007 e 2014, informou que ele vai se manifestar apenas em juízo.

Anthony Garotinho, que comandou o Estado entre 1999 e 2002, e sua mulher, Rosinha, que chefiou o governo do Rio entre 2003 e 2007, afirmam que não receberam doação não contabilizada pela Justiça.

De acordo com uma planilha de controle de pagamentos ilícitos feitos pela empresa a políticos, e que foi apresentada por BJ aos investigadores, Sérgio Cabral recebeu R$ 62 milhões entre 2008 e 2014; Pezão, R$ 20,3 milhões; e Garotinho, R$ 13 milhões. Embora tenha sido citada por BJ, Rosinha não aparece nesta planilha. 

Acompanhado de agentes da PF, Sérgio Cabral faz exames no IML de Curitiba - Rodrigo Félix/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo - Rodrigo Félix/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo
Imagem: Rodrigo Félix/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo

Sérgio Cabral Filho (PMDB)

Em um de seus relatos à Justiça sobre o esquema envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-executivo Benedicto Barbosa da Silva Júnior descreve repasses financeiros realizados pelo grupo Odebrecht, em 2006, a sua campanha eleitoral para o governo do Rio de Janeiro, com pagamento feito extraoficialmente.

Barbosa declarou que foram doados R$ 3 milhões ao então candidato. Após as eleições, Cabral o teria chamado ao Palácio da Guanabara (sede do governo) para informá-lo que havia uma despesa sobressalente de campanha no valor de R$ 12 milhões, e teria solicitado que a empresa pagasse essa diferença por meio de repasses mensais de R$ 1 milhão.

Como contrapartida, a Odebrecht participaria de projetos de infraestrutura do governo. Os pagamentos foram realizados, segundo BJ, extraoficialmente.

Luiz Fernando Pezão (PMDB)

O atual governador do Rio teria sido favorecido a partir de pedidos de doações feitos por Sérgio Cabral, de quem foi vice, para sua campanha. O delator BJ se refere a negociações que ocorreram no primeiro trimestre de 2014.

Os pagamentos foram de dois tipos, de acordo com ele, e totalizaram "R$ 20,3 milhões e 800 mil euros, pagos lá fora [no exterior]", afirmou BJ.

"Esse esquema, da minha parte, nunca foi tratado com o governador Luiz Fernando Pezão, nunca procurei para saber se o dinheiro tinha sido entregue, mas efetivamente não fizemos outras doações para a campanha dele, o que me faz crer que esse dinheiro foi combinado com o Cabral e usado na campanha", diz.

Anthony e Rosinha Garotinho (PR)

O ex-executivo afirmou à Lava Jato que, pelos últimos oito anos, manteve uma relação próxima com Anthony Garotinho, tendo ele sido diretor-superintendente da Odebrecht no Rio, “o que permitia que ele [Garotinho] tivesse acesso a mim direto para, durante os períodos eleitorais, fazer pedidos de doação para o seu grupo político”.

O deputado federal (PP-RJ) e ex-governador Anthony Garotinho e sua mulher, a prefeita de Campos dos Goytacazes (RJ), Rosinha Garotinho (de rosa), participam da passeata 'Veta, Dilma', contra a redistribuição dos royalties do petróleo, no centro do Rio de Janeiro nesta segunda-feira (26). A avenida Rio Branco foi interditada para veículos. Segundo cálculos da secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, o Estado e os municípios perderão R$ 77 bilhões em receitas de royalties e participações especiais até 2020, caso a nova divisão se concretize - Zulmair Rocha/UOL - Zulmair Rocha/UOL
Imagem: Zulmair Rocha/UOL

O delator revelou que Garotinho pediu dinheiro para as campanhas de sua mulher, Rosinha, à Prefeitura de Campos dos Goytacazes nos anos de 2008 e 2012, e também para as próprias campanhas, a deputado federal e a governador do Estado, todas mediante contribuição por meio de recursos não contabilizados.

Foi doado R$ 1 milhão para a campanha de Rosinha no ano de 2008, “como caixa 2”. “Em 2010, para sua campanha de deputado federal, nós fizemos uma doação de R$ 1,2 milhão, de caixa 2, vindo do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. E na última campanha, que foi a de governador, de 2014, nós fizemos uma doação de R$ 7,5 milhões, via caixa 2.”

BJ nega que a empresa tenha recebido benefícios ilegais em troca do apoio que dava ao casal.

“Sempre enxerguei o Garotinho como um opositor ao Sérgio Cabral, e apesar de toda a relação que eu tinha com o Sérgio, achava importante manter o Garotinho como uma pessoa próxima à Odebrecht para que, numa alternância de poder, a gente não ficasse muito vinculado ao Sérgio Cabral”, afirmou o ex-executivo.

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