Em discurso, Lula manda recados para Lava Jato, FMI, imprensa, Temer e petistas
Em quase 40 minutos de discurso em seminário promovido pelo PT sobre a economia brasileira, nesta segunda (24), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva distribuiu recados aos adversários políticos, aos correligionários, aos integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e à imprensa.
Falou também aos eleitores, dando corpo ao discurso que pretende adotar caso concorra novamente à Presidência da República nas eleições do ano que vem.
Durante o evento, batizado de "Estratégias para a economia brasileira: desenvolvimento, soberania, inclusão", Lula foi celebrado e defendido pelas lideranças petistas que o acompanharam no seminário. Entre elas estavam o presidente do partido, Rui Falcão, e a senadora Gleisi Hoffmann (PR), líder do PT no Senado e favorita a suceder Falcão na liderança da sigla.
Leia abaixo os principais recados de Lula:
Lava Jato
"A hora que for marcado o meu depoimento, eu estarei em Curitiba ou onde quer que seja, porque dentre todos, do Ministério Público, do Poder Judiciário e da imprensa, quem deseja a verdade só é o companheiro Lula.
Vai ser a primeira grande oportunidade em que eu não vou ser atacado e defendido pelas revistas, pelas televisões, pelos rádios, ou por quem quer que seja. Eu vou ter, de viva voz, o direito de me defender. É o direito que eu tenho de falar, porque faz três anos que eu estou ouvindo. Eu estou muito tranquilo, não estou preocupado com a data. A data quem marca é o juiz [Sérgio] Moro.
Eu vi agora a pressão que fizeram em cima do Léo [Pinheiro, ex-presidente da OAS] lá no depoimento, uma coisa quase que obrigando um cara que já está condenado a 26 anos de cadeia... O cara está lá condenado a 26 anos. Fala: vou falar até da minha mãe. Nós temos que ter claro como as coisas acontecem..
Eu acho que está chegando a hora de parar com falatório e mostrar prova. Tem que aparecer em cima do papel. Eu quero que eles mostrem um real numa conta minha fora desse país ou indevido."
Instituições
"Para a gente voltar a funcionar, nós precisamos ter um Poder Executivo que seja Executivo e que governe o país pensando no povo. Nós temos que tem um Legislativo que volte a legislar. Nós temos que ter uma Suprema Corte que garanta a nossa Constituição para que as coisas sejam respeitadas. Nós temos uma Polícia Federal, que é para investigar e abrir inquérito. Nós temos um Ministério Público, que é para investigar quando o inquérito estiver pronto. E nós temos o Poder Judiciário, que é para julgar.
O que acontece agora é que está tudo uma mistureba. Ninguém sabe quem faz o quê. E tem a imprensa coordenando o processo. É a imprensa que diz quem é bandido, quem vai ser culpado, quem é a lista, quem não é a lista."
Imprensa
"Eu queria cumprimentar os companheiros da imprensa, a imprensa tão democrática, que me trata maravilhosamente bem, e por isso eu os amos [sic] de coração [...] Aqui vai um recado: nós temos que dizer que nós vamos ter que regulamentar os meios de comunicação.
Mas eu não quero que a gente tenha uma regulamentação como os dos companheiros cubanos ou chineses. Quero do tipo Inglaterra. Eu quero que seja democratizado de verdade, que meia dúzia de famílias não detenham todos os meios de comunicação. Eles têm que saber disso, porque eu sei o que eu estou passando. As mentiras que estão inventando contra mim.
Ninguém aguenta. São quase 18 horas de Jornal Nacional contra um coitado de Garanhuns. "Eles têm que escolher o candidato deles. Eu quero orgulhosamente dizer: derrotei o candidato da Globo. Até gostaria que eles dissessem explicitamente qual é a razão do ódio? Será que as políticas sociais que nós fizemos?"
Na campanha vamos ter que dizer algumas verdades duras. Porque, sinceramente, ser candidato para depois ficar preocupado com 'você que jantar com os Marinhos [donos da Globo], você tem que almoçar no Estadão, e a Veja, você não vai conversar?'. Não vou! Eles vão ter que aprender que eles estão lidando com um cidadão diferente. Que tem mais honra, mais caráter e é mais honesto do que eles."
Governo Temer
"Esse país está desgovernado. Esse país não precisa ter uma pessoa ocupando um cargo indevidamente dizendo que não tem popularidade, mas tem voto no Congresso Nacional. Esse país não pode ser governado do ponto de vista legal, 'eu tenho maioria eu aprovo o que eu quero'.
A solução que nós queremos depende de um outro fator, de uma coisa chamada credibilidade. E credibilidade depende de outra coisa: voto popular. Se eles quiserem resolver o problema desse país, eles vão dizer: ‘nós temos que abrir uma eleição direta, temos que antecipar. O povo não vai aguentar até 2018. A fome tem pressa. O desempregado tem pressa de arranjar um emprego.
Os Estados Unidos são dos americanos, a Alemanha é dos alemães, a França dos franceses, e agora o Brasil não é mais nosso. Eles agora estão arreganhando as portas do Brasil no momento em que todo mundo defendendo o Estado nacional. Ou seja, no fundo, no fundo, é a volta do complexo de vira lata da elite brasileira governando esse país."
FMI
"Eu fiquei estarrecido. Eu não leio sempre os jornais mais hoje eu recebi uma materinha interessante que dizia assim: 'FMI afirma que reforma da Previdência é imperativa para o Brasil'. O FMI não tem a menor autoridade moral de dar nenhum palpite sobre o que nós devemos, queremos e podemos fazer na nossa economia. Foi por isso que nós tomamos a decisão de não dever mais ao FMI.
Foi por isso que quando quebrou o coração da economia partir do [banco de investimento americano] Lehman Brothers, nós emprestamos US$ 10 bilhões, na perspectiva de que eles não dessem mais palpite.
Porque ele não deu um único palpite na crise americana, na crise alemã, na crise francesa, na crise italiana, na crise inglesa. Na verdade, não estava preparado para dar palpite sobre a economia dos países ricos. Portanto, nós sabemos tomar conta do nosso nariz."
Correligionários
"Sempre que nós discutirmos qualquer coisa, precisamos colocar uma pitada de política nesse debate. Nós temos que politizar a sociedade e dizer que para a gente fazer tudo isso ['as mudanças que a gente deseja'] nas eleições de 2018 nós precisamos melhorar a qualidade de deputados e senadores eleitos.
Nós temos que estabelecer meta para cada movimento, para o movimento sindical para o PT, para todo mundo. Porque senão a gente briga, briga, briga e quando chega nas eleições a gente elege três deputados ligados ao movimento sem-terra, a bancada ruralista elege 200. Os empresários elegem 349 e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) elege dois ou três. Nós precisamos construir uma maioria nas eleições de 2018.
Eu acho que, graças a Deus, o PT está se reencontrando em ser oposição. Vamos deixar para ser governo quando a gente ganhar [a eleição] outra vez. Nós agora temos que assumir o papel do mais importante partido de oposição, com a moral elevada. Porque ninguém fez por esse povo pobre mais do que o PT nesses 13 anos de governo.
E eles [adversários políticos] às vezes tentam nos encurralar. Eu queria que os deputados tentassem formar o argumento para um discurso que eles fazem contra a gente, dizendo que a situação do Brasil que eles estão recebendo foi herança maldita do PT. E tem gente que fica inibido."
Eleitores
Os trabalhadores são maioria, e não são maioria. As mulheres são maioria, e não são maioria. Os negros são metade e não são metade. Então algo está errado. Talvez o nosso discurso, talvez a nossa mensagem. Talvez não precise ser pauta de reivindicação.
Quem sabe seja outra mensagem tentando mostrar por que o povo tem que eleger uma mulher. Porque a mulher tem que votar na mulher, o negro no negro, o trabalhador no trabalhador, o pessoal do LGBT em muitas pessoas deles, o pessoal do sem-teto em muita gente do sem-teto... É uma necessidade.
Se eu for indicado para vocês e se tudo der certo e eu possa ser candidato, eu não posso ser candidato para dizer que eu vou fazer as mesmas coisas que eu já fiz. Eu tenho que fazer um pouco mais. Porque se alguém se separa da mulher, ou a mulher do homem, e depois de dez anos quer voltar para fazer a mesma coisa não vai dar jogo. Alguém tem que ter melhorado. Na política é a mesma coisa.
Se eu for candidato a alguma coisa, eles têm que saber. Primeiro: a nossa política internacional vai privilegiar a relação com a América Latina e com a África.
O povo está descontente com os políticos? Ótimo. Que quero que fique mais descontente, pra quando chegar nas próximas eleições votar em gente melhor. Se o cara acha que eu não presto, ótimo. Então se candidate e seja você o senador, o deputado ou o presidente. O que você acha que vai resolver o problema do país. O que não dá é você negar a política e indicar um fascista, um nazista, para ser presidente desse país.
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