Estamos aqui porque acreditamos no Lula, diz agricultor que viajou 20 h até Curitiba
“Lula não é imune à lei. Se for provado [que é culpado], tem que pagar. Seria uma decepção, ele é um líder. Mas até agora não tem nenhuma prova [contra o ex-presidente]. Acreditamos na palavra dele. É por isso que estamos aqui [em Curitiba]”, explicou o agricultor gaúcho Abílio Venâncio, 48, desde 1989 integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
A fé na inocência do ex-presidente, que depõe nesta quarta-feira (10) ao juiz federal Sergio Moro em processo em que é acusado de receber propina, incluindo um triplex no Guarujá, da empreiteira OAS, levou Venâncio a viajar 1.076 quilômetros entre Piratini, sul gaúcho, à capital paranaense.
Ele e colegas de MST saíram de lá às 14h30 de ontem. Só chegaram ao acampamento montado pelo Frente Brasil Popular num terreno na região central de Curitiba, às 10h desta terça-feira (9).
“Vemos uma avalanche de mentiras nos meios de comunicação. Há claramente perseguição a um partido, enquanto outros [também mencionados na Operação Lava Jato] a imprensa não põe no foco”, criticou o agricultor.
Venâncio e seus colegas foram uns dos primeiros a chegar no terreno de cerca 20 mil metros quadrados, que dá de fundos para a estação rodoviária da cidade.
No local também param trens de carga, que pelos próximos três dias dividirão espaço com integrantes de movimentos sociais que irão à cidade para manifestar apoio ao ex-presidente.
Na expectativa da presidente da CUT [Central Única dos Trabalhadores] no Paraná e coordenadora da Frente Brasil Popular, Regina Cruz, são esperados de 4.500 a 6.000 manifestantes no acampamento.
Também gaúchos, Jéssica Oliveira, 37, e Itamar Silva, 35, vieram de Eldorado do Sul, distante 747 quilômetros de Curitiba. Por volta das 11h, eles terminavam de montar a barraca que servirá de casa pelos próximos dias.
Trabalhadores rurais, há três anos desistiram de ser empregados e se uniram ao MST em busca de “uma vida melhor”. “Quero trabalhar numa terra que seja minha”, explicou Itamar.
A insatisfação contra uma investigação “política" é que os trouxe a Curitiba. “Acreditamos na inocência de Lula”, falou Jéssica.
Segurança reforçada
Numa manhã de sol e até algum calor em Curitiba, o acampamento montado pela Frente Brasil Popular ainda estava em fase de preparação para a chegada de seus ocupantes na manhã de hoje.
Ao chegar ali por volta das 10h, a reportagem encontrou um caminhão que vinha entregar banheiros químicos para os manifestantes.
Uma cozinha comunitária, abastecida por uma gigantesca caixa d’água plástica, estava sendo montada. Ali há espaço para até 6.000 pessoas.
Já havia, contudo, uma barreira formada por seguranças trajados com terno e gravata. São quase cem homens, ao todo, contratados para garantir a segurança de todos os eventos programados pelos apoiadores de Lula.
“Queremos sair de Curitiba sem problemas de segurança pública”, explicou Regina.
Se os manifestantes buscaram se precaver contra eventuais agressões, a polícia também se faz ostensivamente presente no local. Ao longo das quase duas horas em que o UOL permaneceu ali, um helicóptero da Polícia Militar sobrevoava quase o tempo todo o acampamento.
Numa avenida próxima, desfilava um comboio de mais de dez veículos da tropa de choque da PM, inclusive um "caveirão", usado para reprimir multidões.
Apesar de uma decisão judicial que impede acampamentos em ruas e espaços públicos de Curitiba, a cessão do terreno em que está o acampamento --espólio da antiga Rede Ferroviária Federal, atualmente propriedade da União-- foi negociado com o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN), e o governo do Estado.
“A cidade é de todos, não só de quem mora nela. O próprio prefeito Greca quem sugeriu esse local para o acampamento”, explicou Roberto Baggio, coordenador estadual do MST e um dos organizadores da Frente Brasil Popular em Curitiba.
“O aparelho do Estado protege o capital. Isso inclui o aparelho judiciário e investigativo. A instrumentalização política da investigação [na Operação Lava Jato] é visível”, disse Baggio, porta-voz escalado pela organização do acampamento para falar com jornalistas.
Até a chegada dele ao local, por volta das 11h, os acampados se recusavam a conceder entrevistas. "Só os credenciados falam com vocês", disse um rapaz que afirmou ter vindo da região Sul do Paraná. "É uma decisão do nosso comando", explicou outra sem-terra.
“Os meios de comunicação burgueses e o Judiciário não estão conseguindo destruir o Lula. Não há provas consistentes, mas uma tentativa de iludir a sociedade, que tem carinho pelo ex-presidente e vê que ele está sendo injustiçado e perseguido”, disparou.
A Frente Brasil Popular espera usar a “visibilidade de Lula” para fazer da manifestação que começa nesta terça-feira uma pauta crítica às propostas de reformas pretendidas pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB). “Esse governo é ilegítimo para fazer quaisquer reformas, ainda mais essas que só prejudicam os mais pobres”, argumentou Baggio.
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