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Em gravação, Temer garante a dono da JBS "alinhamento" com Meirelles

Ouça a íntegra da conversa entre Temer e Joesley

UOL Notícias

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

18/05/2017 20h19Atualizada em 18/05/2017 22h37

A gravação de uma conversa entre o presidente Michel Temer (PMDB) e o dono da JBS, Joesley Batista, divulgada nesta quinta (18) após autorização do STF (Supremo Tribunal Federal) mostra que o peemedebista garante ao empresário um "alinhamento" com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Ao UOL, a Presidência da República e o Ministério da Fazenda negaram irregularidades por parte de Temer e Meirelles (veja resposta abaixo). 

Em determinado trecho do diálogo, Joesley Batista parece fazer reclamações a Temer sobre a relação com Meirelles, na tentativa de fazê-lo influenciar os dirigentes do Banco Central, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Cade (Conselho Adminstrativa de Defesa Econômica) e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão que regula o mercado financeiro brasileiro.

Joesley:  "Não sei. Talvez... Por exemplo, agora tá o Presidente da CVM pra trocar, não trocar... É outro lugar, é fundamental. E aí... queria assim..."

Temer:  "Você poderia falar com ele [Meirelles]. "

Joesley: "Mas é que se eu falar com ele e ele empurra pra você, eu poder dizer: 'não, não, não, espera aí'".

Temer: "Pode fazer."

Joesley: "Só isso que eu queria ter esse alinhamento, pra gente não ficar... E pra ele perceber que nós estamos..."

Temer:  (inaudível)

Joesley:  "Mas quando eu digo de ir mais firme no Henrique é isso. Falar: Henrique, porra, mas você vai levar? Você vai fazer isso? Vou. Então tá bom. Então que ele venha. Pronto, é só esse alinhamento só que eu queria ter..."

Temer: "Pode fazer isso."

"Consulte o presidente"

Mais adiante, Joesley insiste com Temer na busca de um "alinhamento". O presidente responde de forma aparentemente solícita.

Joesley: "É isso que eu quero. Se ele [Meirelles] escorregar, eu digo, ó..."

Temer: "Consulte."

Joesley: "Consulta lá."

Temer: "Consulte o presidente."

Meirelles foi presidente do Banco Central em todo o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). Está na Fazenda desde que Temer virou presidente interino, em maio de 2016. Entre um cargo e outro, foi convidado por Joesley para comandar o Conselho Consultivo da J&F, a holding que controla a JBS.

Meirelles também atuou no relançamento do Banco Original, outra empresa do grupo, menos de dois meses antes de Temer assumir.

Entre 2007 e 2009, mais de R$ 10 bilhões em recursos do BNDES foram injetados na JBS, seja na forma de compra de ações, seja como empréstimos à empresa.

A conversa entre Joesley e Temer aconteceu no dia 7 de março no Palácio do Jaburu, residência do presidente, por volta das 22h30, em compromisso que não foi divulgado na agenda oficial do presidente.

Joesley gravou a conversa escondido e entregou o conteúdo como parte de um acordo de delação premiada recentemente homologado pelo STF.

Outro lado

Ao UOL, a assessoria de imprensa da Presidência da República negou que Temer tenha intercedido junto a Meirelles a favor de empresas de Joesley Batista. Segundo o órgão, Temer "falou no sentido de dialogar com o ministro" quando disse que o empresário poderia indicar Meirelles a consultar o presidente em relação a um eventual “alinhamento”.

Já o Ministério da Fazenda negou que Henrique Meirelles tenha recebido pedidos de Joesley Batista para que influenciasse dirigentes do Banco Central, BNDES, Cade e CVM. A assessoria também negou que o ministro tenha recebido pedidos de Temer para interceder a favor de empresas da J&F; e que Meirelles tenha ouvido de Joesley que poderia consultar Temer em relação a interesses de empresas do grupo J&F

Em nota divulgada na noite desta quinta, Joesley Batista disse ter errado e pediu desculpas "a todos os brasileiros". "Não honramos nossos valores quando tivemos que interagir, em diversos momentos, com o Poder Público brasileiro. E não nos orgulhamos disso", diz o comunicado. Joesley informou também que suas empresas assinaram acordos com o Ministério Público e que assumiram publicamente o compromisso de serem "intolerantes e intransigentes com a corrupção."