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Empresário preso no Rio pagou R$ 12,5 mi em propina a grupo de Cabral, diz Lava Jato

O empresário Marco Antonio de Luca pagava mesada ao grupo de Sérgio Cabral, diz MPF - Pedro Teixeira/Agência O Globo
O empresário Marco Antonio de Luca pagava mesada ao grupo de Sérgio Cabral, diz MPF Imagem: Pedro Teixeira/Agência O Globo

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

01/06/2017 10h39Atualizada em 01/06/2017 18h22

O empresário Marco Antonio de Luca, preso preventivamente nesta quinta-feira (1°) no âmbito da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, pagava mesada de R$ 200 mil em propina ao grupo que, segundo as investigações, era chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). No total, estima o MPF (Ministério Público Federal), Luca teria pago à quadrilha ao menos R$ 12,5 milhões em vantagens ilícitas.

De acordo com os procuradores, a propina foi paga em troca de favorecimento em contratos públicos de alimentação para escolas e presídios, entre outros serviços. De 2011 a 2017, os acordos comerciais entre as partes geraram mais de R$ 5,4 bilhões somente para uma das empresas de Luca, a Masan Serviços Especializados Ltda.

Outra empresa, a Comercial Milano Brasil Ltda, também firmou dezenas de contatos com o Estado no mesmo período. O valor ultrapassou R$ 1,6 bilhão. No total, portanto, as empresas do investigado conseguiram contratos que, somados, chega a mais de R$ 7 bilhões em sete anos.

Por solicitação do MPF, a Justiça autorizou sequestro de bens no valor de até R$ 12.595.700 de Luca e suas empresas.

Na manhã de hoje, foram apreendidos três carros de luxo, 16 obras de arte e mais de R$ 400 mil em espécie em sete empresas e dois endereços residenciais ligados ao empresário.

Luca foi detido em sua casa, na avenida Vieira Souto, em Ipanema, área nobre da zona sul carioca. Ele responderá por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

"As investigações conduzidas pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro apontam que Marco Antonio de Luca integra a organização criminosa chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral e realizou o pagamento de propina para receber benefícios em contratos com o governo do Estado, que incluem o fornecimento de merenda escolar e alimentação para os presídios", informou o MPF.

Foto em Paris, telefonemas e e-mails

Investigadores identificaram que o empresário trocou com o receptor da propina mensagens de e-mail e de texto, enviadas por aplicativos codificados, que registraram a movimentação do dinheiro. O contato era feito com um dos operadores de Cabral, Luiz Carlos Bezerra, também preso desde novembro de 2016.

Os pagamentos destinados a Luca foram registrados com o codinome "Louco", "Crazy" e "De Louco" nas anotações do operador do Cabral.

A quebra de sigilo telefônico identificou dezenas de ligações telefônicas entre Luca e outros integrantes da organização criminosa, como Hudson Braga, Luiz Carlos Bezerra, Sérgio Cabral e Wilson Carlos.

O nome da operação, Ratatouille, segundo a PF, remete a um prato típico da culinária francesa e faz referência ao jantar em um restaurante de alto padrão de Paris, no qual estavam presentes diversas autoridades públicas do Rio e empresários, entre eles Luca, que possuíam negócios com o Estado --em episódio que ficou conhecido como "farra dos guardanapos".

Faturamento bilionário

Apenas a Masan, empresa de alimentos que se tornou uma das maiores contratadas pelo governo do Estado na gestão Cabral, recebeu um total de R$ 2,1 bilhões em contratos com o Executivo. A Masan ficou responsável pelo fornecimento de merenda escolar e quentinhas para os presídios.

O MPF destacou o crescimento na quantidade e valor global de contratos do grupo empresarial ligado a Luca a partir de 2010. A Masan, que possuía apenas dois contratos em 2008 no valor de R$ 2,3 milhões, saltou para 26 contratos, em 2015.

Em 2017, o valor dos contratos da empresa junto ao governo do Rio chegou a cerca de R$ 2 bilhões.

Já a Comercial Milano Brasil Ltda, pertencente ao mesmo grupo familiar, chegou a ter 41 contratos em 2016, no valor global de R$ 300 milhões.

O MPF informou que estão sendo investigados "dezenas de contratos" que continuam em vigor na gestão de Luiz Fernando Pezão (PMDB), ex-vice de Cabral e seu sucessor a partir de 2014.

Relação com o Comitê Rio-2016

A Masan também firmou ao menos seis contratos com o Comitê Organizador da Rio 2016, o que indica possível influência da organização criminosa.

Por esse motivo, também foi solicitado que o Comitê apresente, em 24 horas, informações sobre os contratos.

Citado por operador de Cabral

No começo de maio, Luiz Carlos Bezerra, apontado como um dos operadores de Cabral, afirmou à Justiça ter recolhido dinheiro em empresas de De Luca, Fernando Cavendish e George Sadala, segundo reportagem da Folha de S.Paulo.

Os três aparecem nas imagens que remetem à "farra dos guardanapos", quando eles foram fotografados ao lado de secretários de Estado em um jantar em Paris.

"Eu apenas ia, recolhia o dinheiro e entregava onde era determinado", relatou Bezerra, na ocasião.

Segundo Bezerra --detido na Operação Calicute, da PF (a mesma que resultou na prisão de Cabral)--, De Luca constava com o apelido "Louco" na "contabilidade paralela" da quadrilha chefiada pelo ex-governador.

A investigação mostra que, entre 2011 e 2016, o somatório de recursos de propina apurados somente com as planilhas e anotações de Bezerra indica uma movimentação de R$ 37 milhões. "Se está nas minhas anotações, está correto", disse o operador, na ocasião.

Outro lado

A defesa de Sérgio Cabral se manifestará sobre as acusações em juízo. Já a Masan, em nota, informou que "trabalha com o governo do Estado desde 2005", isto é, antes do início da administração Cabral.

"Todas as licitações ganhas pela empresa foram pela modalidade de menor preço", alegou. Ressalta também que "nunca foi condenada por qualquer tipo de irregularidade em sua história."

"A empresa sofre hoje, como todos os prestadores de serviços, com a inadimplência do governo do Estado do Rio de Janeiro, que chega à casa de R$ 70 milhões. O passivo, iniciado em 2010, vem sendo cobrado na instância administrativa."

"A empresa sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários sobre suas operações."

A nota diz ainda que Marco Antonio de Luca não faria parte da Masan desde agosto de 2015 e que ele nunca teria feito parte do quadro societário da Milano.