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Contra presença de governador do PMDB, CUT e ala do PT deixam caravana de Lula em SE

Presença de Jackson Barreto (à esq.) gerou críticas da CUT e de parte do PT sergipano - Beto Macário/UOL
Presença de Jackson Barreto (à esq.) gerou críticas da CUT e de parte do PT sergipano Imagem: Beto Macário/UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Aracaju

22/08/2017 13h51

A presença do governador de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB), no palanque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva causou o afastamento da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e de uma ala do PT durante a passagem da caravana do ex-presidente pelo Estado.

O ex-presidente está percorrendo nove Estados do Nordeste desde o último dia 17. A passagem por Sergipe é apenas um trecho dessa caravana. Em âmbito nacional, a CUT vem apoiando a iniciativa. 

Jackson participou de três dos cinco atos de Lula no Estado - exceto em Lagarto, na entrega de um título de doutor honoris causa (título honorífico concedido por instituição de ensino) e em Aracaju.

Em dois desses atos, o governador falou ao público e foi vaiado. Lula, porém, tem defendido o governador e agradecido sua presença.

Em nota, a CUT informou que não participa dos atos no palanque em Sergipe porque lá "não cabem os traidores ou os que lavaram as mãos ante ao processo mais desastroso da recente história brasileira, que foi o impeachment da presidente eleita Dilma [Rousseff]".

O governador afirmou em discurso na cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória que "tem história ao lado de Lula e do povo".

A CUT afirmou ainda em nota: "A presença de Jackson Barreto no palanque de Lula tem o único objetivo do governo estadual de acumular força para continuar massacrando os trabalhadores", afirmou a central sindical.

Lula e Jackson Barreto - Beto Macário/UOL - Beto Macário/UOL
Lula informou que ficou feliz com a presença de Jackson Barreto
Imagem: Beto Macário/UOL

Para a entidade, o governador "nega sua história" e "reproduz a política dos dias atuais do PMDB nacional, expressas nas faces de [Michel] Temer, [Luiz Fernando] Pezão (RJ) e [José Ivo] Sartori (RS): reformas com retirada de direitos, tentativa de privatização de empresas públicas essenciais, pagamento de salários atrasados e congelamento salarial."

Jackson Barreto tem afirmado, por sua vez, que Sergipe está respeitando os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal e não tem como oferecer reajuste aos servidores até que a arrecadação e repasses federais aumentem. 

Sem conceder reajustes salariais, o governo enfrenta greve de duas categorias: professores e servidores da Companhia de Saneamento de Sergipe. Os servidores alegam que estão com os salários congelados desde 2014. Outras categorias também pressionam o governo.

Crítica dentro do PT

A subida no palanque também causou divergência dentro do próprio PT. A ala "Articulação de Esquerda", comandada no Estado pela deputada estadual Ana Lúcia, faz oposição a Jackson e criticou a participação peemedebista. A deputada tem histórica ligação com os sindicatos locais.

A reportagem não conseguiu localizar a deputada nesta manhã, mas ela informou, em nota, que a participação do governador se trata de "oportunismo". "Logo após o golpe em Dilma, [ele] foi para as emissoras de rádio dizendo para 'deixarem Temer trabalhar'", disse.

Hoje, o PT sergipano tem um racha ideológico. Possui duas secretarias no governo de Jackson Barreto: do Meio Ambiente e da Agricultura. Tem também o líder do governo na Assembleia, Francisco Gualberto.

Segundo apurou o UOL, das quatro lideranças do partido no Estado, três apoiam o governador: o deputado federal João Daniel, o presidente local do partido Rogério Carvalho e o 1º vice-presidente nacional do PT, Marcio Macedo - Ana Lúcia é a única a liderar linha de oposição a ele.

Apoiadores de Lula participam de caravana em Sergipe - Beto Macário/UOL - Beto Macário/UOL
Apoiadores de Lula participam de caravana em Sergipe
Imagem: Beto Macário/UOL

Lula feliz

A assessoria do ex-presidente Lula informou que ele ficou feliz com a presença do governador em seu palanque e afirmou que a CUT é autônoma para definir a participação em atos. Assim, ele respeita o afastamento da entidade dos atos em Sergipe.

Em âmbito nacional, a CUT tem sido parceira de primeira linha da caravana de Lula pelo Nordeste. O presidente nacional da entidade, Vagner Freitas, inclusive, esteve em todos os atos de Lula na Bahia.

Em todas as falas no Estado, Lula fez elogios a Jackson.

"Quero agradecer a você porque conversei com muito governador, muito senador, muito deputado, e quero te dizer que foi um dos poucos de governadores deste país que mostrou ter caráter e não teve medo de apoiar a companheira Dilma. Eu sou agradecido. Na noite que Dilma estava sendo torturada, nós estávamos no Alvorada e apareceram os cinco governadores do PT e o companheiro Jackson, porque os outros não tiveram coragem de ir", disse, em Estância, no domingo (20).

No próximo destino da caravana, Alagoas, Lula vai contar com mais apoio de peemedebistas: do senador Renan Calheiros e do governador Renan Filho. Ambos vão participar, pelo menos em alguns momentos, da caravana. Porém, CUT e PT têm relações mais estreitas com o PMDB em Alagoas do que em Sergipe.

Governador ataca sindicato

Em discurso em Nossa Senhora da Glória, o governador Jackson Barreto não citou a CUT, e sim o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Sergipe, o Sintese.

Eu quero dizer ao Sintese: vocês sepultaram Deda [Ex-governador de Sergipe Marcelo Deda Chagas], enterraram Deda vivo. É preciso respeitar as pessoas, porque esse governador tem história ao lado de Lula e do povo. O MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] sabe que com Jackson, com Deda, veio R$ 70 milhões para fazer reforma agrária no sertão. Nós temos história, não é o Sintese que vai acabar com a nossa história", disse.

Ainda segundo apurou o UOL, o Sintese é ligado à CUT e tem forte influência sobre a entidade, com líderes indicados à chapa vencedora da direção.