Topo

Dos 34 integrantes da CPMI da JBS, ao menos 8 receberam doação da empresa

O empresário Joesley Batista, dono da JBS e delator de esquema de corrupção - Foto: Divulgação
O empresário Joesley Batista, dono da JBS e delator de esquema de corrupção Imagem: Foto: Divulgação

Venceslau Borlina Filho

Do UOL, em São Paulo

12/09/2017 22h09Atualizada em 13/09/2017 22h43

Ao menos oito dos 34 deputados e senadores titulares nomeados para a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da JBS receberam recursos da empresa como doação de campanha nas eleições de 2014.

Os valores somados das doações eleitorais feitas pela JBS, que pertence ao grupo J&F, chegam a R$ 3,9 milhões. Quase 50% desse valor, entretanto, foi doado ao senador Wellington Fagundes (PR-MT). Já o menor valor doado foi para o deputado Victório Galli (PSC-MT), de R$ 30 mil.

Entre os beneficiados das doações também está o deputado nomeado para relatar a CPMI, Carlos Marun (PMDB-MS). Integrante da tropa de elite do presidente Michel Temer, ele recebeu R$ 103 mil da empresa, via repasse de outros candidatos.

O nome de Marun não foi consenso e acabou resultando na saída de dois senadores da comissão, Otto Alencar (PSD-BA) e Ricardo Ferraço (PSDB-ES). Nos bastidores, integrantes acreditam que as investigações podem blindar Temer.

O deputado relator foi procurado pela reportagem do UOL nesta terça-feira (12), mas respondeu apenas às 19h50 desta quarta-feira (13). Disse não ver conflito em relatar a comissão tendo recebido recursos originários da JBS e chamou de "desculpa esfarrapada" a alegação dos dois senadores.

"Todos sabem que o relatório do relator pode ser inclusive recusado. Deviam aguardar o meu trabalho e se discordassem, me derrotar e não fugir. Vejo nisto o velho medo se apossando destes senadores. Esta não é uma CPI qualquer. Gente que sempre investigou vai ser investigada. Este parlamento sempre se acovardou diante deste tipo de atitude e vejo na debandada destes senadores a prova de que este medo continua existindo", disse.

A comissão apura se houve irregularidades nas operações da holding J&F, dona da JBS, com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), entre 2007 e 2016. A suspeita é a de pagamento de propinas para obter financiamentos do banco.

O grupo é dirigido pelos irmãos Joesley e Wesley Batista. Joesley está preso desde domingo (10) por determinação do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), acusado de omitir informações no acordo de delação, que foi suspenso.

Até agora, cerca de 130 requerimentos já foram apresentados à CPMI. Os parlamentares pedem, por exemplo, a convocação dos irmãos Batista e de integrantes dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Doações

O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) recebeu R$ 833,3 mil em doação de campanha da JBS, repassados por meio do diretório estadual do partido. Já o senador Paulo Rocha (PT-PA) recebeu R$ 233,5 mil, repassados pelos diretórios estadual e nacional do PT.

Entre os deputados federais, o que mais recebeu foi Renzo Braz (PP-MG). O valor doado pela JBS, de acordo com os dados da prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral, foi de R$ 700 mil, sendo R$ 100 mil de uma empresa de produtos de limpeza do grupo. O deputado Weverton Rocha (PDT-MA) recebeu R$ 100 mil, enquanto Paulo Pimenta (PT-RS) obteve R$ 66,4 mil. 

A depender de novas nomeações na CPMI, o número de parlamentares que receberam doações da JBS pode aumentar ou diminuir. Das 34 vagas para titulares, seis ainda não foram preenchidas, todas do Senado, sendo cinco pertencentes ao PMDB. Nesta segunda (11), o líder do partido na Casa, senador Raimundo Lira (PB), justificou a pendência por falta de interessados em compor a comissão. A outra é do bloco formado por PSDB e DEM.