Topo

Lula e Moro voltam a ficar frente a frente: o que mudou desde o 1º encontro em maio?

O juiz Sergio Moro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Arte/UOL
O juiz Sergio Moro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Imagem: Arte/UOL

Flávio Costa e Nathan Lopes

Do UOL, em Curitiba

13/09/2017 04h00

Exatos 126 dias se passaram entre o primeiro interrogatório, ocorrido em 10 de maio, e o segundo, agendado para esta quarta-feira (13), na mesma sala de audiência da 13ª Vara Federal de Curitiba. Em uma ação penal diferente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltará a responder aos questionamentos do juiz federal Sergio Moro, depois de ser condenado pelo mesmo magistrado a nove anos e seis meses de prisão pela ação do tríplex no Guarujá (SP), em julho.

“Respeitei as leis como nenhum presidente respeitou”, disse Lula durante em seu primeiro depoimento, que durou cinco horas.

De maio até esta quarta-feira, o petista se manteve em primeiro lugar nas pesquisas de intenções de voto para a corrida presidencial de 2018. A depender do cenário, Lula pontua na liderança com 29% ou 30%, conforme levantamento divulgado pelo Datafolha em 26 de junho.

Josias - Lula x Moro: prenúncio de uma nova condenação

UOL Notícias

O ex-presidente, porém, sofreu um forte revés ao ser condenado por Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso que ficou conhecido como o do tríplex do Guarujá (SP).

"A responsabilidade de um presidente da República é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes", escreveu Moro, em sua sentença condenatória.

Na última segunda-feira (11), seus advogados recorreram da decisão ao TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região. Caso essa sentença seja confirmada pelos desembargadores federais do TRF, Lula ficará impedido de concorrer pelas regras vigentes da Lei da Ficha Limpa.

Caravana e filme

Desde que foi condenado por Moro, Lula tem feito discursos mais fortes a respeito de política do que sobre os processos em que é réu. No dia seguinte à sentença, anunciou que era pré-candidato do PT à Presidência da República na eleição do ano que vem.

"Quero dizer ao meu partido, e eu nunca tinha dito isso antes, que vou pleitear a vaga como candidato à Presidência. Vocês vão ter um pré-candidato com um problema jurídico, mas vou brigar a boa briga democrática nas ruas", disse em 13 julho, falando que os processos, na verdade, são uma tentativa de tirá-lo da disputa pelo Planalto em 2018. Esse discurso já era proferido anteriormente, mas foi intensificado desde então.

Na sequência, Lula emendou uma caravana pelo Nordeste. Foram 20 dias de viagens, entre o final de agosto e o começo de setembro, pelos nove Estados da região. Entre uma viagem e outra, jingles de campanhas antigas foram relembrados pela militância petista. Na chegada a Salvador, por exemplo, o famoso "Lula, lá", da campanha de 1989, foi repetido várias vezes no carro de som.

O juiz Sergio Moro também teve seus contratempos. Em entrevista à Folhao advogado Rodrigo Tacla Duran, ex-funcionário da Odebrecht entre 2011 e 2016, acusou o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior de intermediar negociações paralelas dele com a força-tarefa da Operação Lava Jato.

Zucolotto é amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro. Em nota, o magistrado defendeu o amigo e afirmou ser lamentável "o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido, tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na matéria."

Em contrapartida, Moro foi pintado como herói no filme sobre a Lava Jato que estreou em agosto nos cinemas brasileiros, Polícia Federal - A Lei É para Todos. O juiz foi um dos convidados vip da pré-estreia, no último dia 28, e chegou a ser aplaudido ao ter seu nome mencionado na sala de projeção.

Depoimento de Palocci

A tensão entre Lula e Moro pode ser elevada pelos efeitos do depoimento de Antonio Palocci, prestado no último dia 6. O ex-ministro afirmou que o ex-presidente deu seu aval a um "pacto de sangue" entre o PT e a construtora Odebrecht, base do escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras.

Em seu depoimento, Palocci afirmou ainda que agiu com Lula para barrar investigações da Operação Lava Jato. O ex-presidente negou as acusações e afirmou estar decepcionado com seu parceiro de partido.

Palocci: Odebrecht ofereceu R$ 300 mi a Lula em 'pacto de sangue'

UOL Notícias

Depoimento em 2016

Em novembro do ano passado, o ex-presidente já havia prestado declarações a Moro, mas como testemunha da ação em que o ex-deputado federal Eduardo Cunha era réu. Na ocasião, o depoimento foi feito via teleconferência, e os dois não estiveram frente a frente.