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Empresário pede registros de visitas em hospital para explicar recibos entregues por Lula

Lula durante depoimento ao juiz Sergio Moro em Curitiba - Reprodução
Lula durante depoimento ao juiz Sergio Moro em Curitiba Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

28/09/2017 20h41

O empresário Glaucos da Costamarques, proprietário formal do apartamento vizinho ao do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo (SP), pediu nesta quinta-feira (28) ao juiz Sergio Moro que solicite ao hospital Sírio Libanês, em São Paulo, os registros das visitas de Roberto Teixeira e João Leite no período em que ficou internado na unidade, de 22 de novembro a 29 de dezembro de 2015.

O objetivo, segundo a defesa dele, é demonstrar que os recibos de locação do imóvel pela família de Lula, referentes ao ano de 2015, foram assinados em um único dia.

Para o MPF (Ministério Público Federal), o empresário atuou como laranja na compra do apartamento, que teria sido feita para Lula com dinheiro de propina da empreiteira Odebrecht, em troca de contratos com a Petrobras. A defesa do ex-presidente nega a relação.

Costamarques afirmou que o aluguel só passou a ser pago a partir de 2015, mas a defesa de Lula apresentou nesta semana 26 recibos assinados por Costamarques --a maior parte deles referente aos anos de 2011 a 2014. Procurada para explicar a divergência, a defesa do empresário ainda não respondeu à reportagem do UOL.

Segundo Costamarques, o pagamento do aluguel só passou a ocorrer após uma visita do advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula. Depois disso, ele diz ter recebido no hospital a visita de João Leite, contador, que foi colher as assinaturas nos recibos, referentes ao ano de 2015.

Os recibos apresentam erros, como duas datas inexistentes no calendário e o nome da cidade de São Bernardo do Campo grafado de forma incorreta. A defesa do ex-presidente Lula recomendou que os recibos passem por perícia caso gerem dúvidas quanto à sua autenticidade.

Privacidade 

Glaucos da Costamarques informou na petição protocolada que a locação vinha desde 2011. A compra do apartamento, segundo ele, foi solicitada pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e seu primo distante. O objetivo era locá-lo à família, de forma a dar maior privacidade ao ex-presidente.

Ainda de acordo com o empresário, os pagamentos têm sido feitos regulamente desde 2015, com exceção ao aluguel de fevereiro de 2017, “possivelmente em razão do falecimento da senhora Marisa Letícia Lula da Silva”, que é quem assina o contrato de locação apresentado pela defesa.

Os documentos foram anexados ao processo da Operação Lava Jato em que Lula é réu por corrupção e lavagem de dinheiro, acusado de ter recebido também um terreno para o Instituto Lula como propina da Odebrecht -- a entidade nunca ocupou o local.

Glaucos da Costamarques também réu no processo. Apesar da entrega dos comprovantes, a denúncia cita relatórios produzidos pelo próprio MPF com base na quebra do sigilo bancário de Lula e Marisa segundo os quais não há qualquer pagamento de um dos dois para Costamarques entre 2011 e 2016.

Durante o interrogatório de Lula no dia 13 de setembro, o juiz Sergio Moro disse ao petista que sua defesa não havia apresentado os tais recibos. O ex-presidente respondeu que “deve ter recibo” e disse não saber se os advogados já tinham apresentado os comprovantes. O assunto também foi questionado na audiência pelo MPF.

Moro chegou a "recomendar" a Lula, no interrogatório, que os comprovantes de pagamento fossem juntados ao processo. Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, respondeu ao magistrado que "cabe à acusação fazer a prova da culpa e não ao acusado fazer a prova da inocência".

Na última segunda-feira (25), na petição que acompanha os recibos, os advogados de Lula dizem que, "na ausência absoluta de qualquer elemento que pudesse dar sustentação à fantasiosa tese" de que Lula teria sido beneficiado com recursos provenientes de contratos com a Petrobras, "a Força Tarefa da Lava Jato elegeu artificialmente uma relação privada de locação entre o Sr. Glaucos da Costamarques (locador) e D. Marisa Letícia Lula da Silva (locatária)" como principal assunto do processo e do interrogatório de Lula no dia 13, feito pelo juiz Sergio Moro.

Ainda segundo os advogados de Lula, "no que tange a essa relação privada de locação o Ministério Público Federal nada demonstrou que pudesse amparar a acusação formulada" contra o ex-presidente.

"Mais uma vez a acusação não fez qualquer prova da culpa de Lula ou de que ele tenha recebido qualquer valor proveniente de contratos da Petrobras, afirmação feita na denúncia inclusive para justificar a tramitação da ação na 13ª Vara Federal de Curitiba. Por outro lado, a defesa faz a prova da inocência de Lula, que deverá ser reconhecida por um juiz imparcial e independente", afirmou Cristiano Zanin.