Com menos votos, base minimiza votação de denúncia; oposição vê governo refém
Menos de três meses de conseguir uma vantagem de 33 votos na votação da primeira denúncia contra ele na Câmara, o presidente Michel Temer (PMDB) viu nesta quarta-feira (25) o saldo positivo cair quase pela metade, durante a sessão que barrou o segundo processo. Com o placar de 251 votos contra a denúncia a 233 favoráveis, a diferença passou a ser de 18 votos. No dia 2 de agosto, o resultado foi mais elástico: 263 a 227.
O resultado, inferior à maioria absoluta dos 513 deputados, ficou aquém do anunciado pela base governista, que previa entre 260 e 270 votos pró-Temer. Após o encerramento da votação, os líderes do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), minimizaram a redução no tamanho da vitória. Para a oposição, o placar demonstra que o governo saiu enfraquecido e não condições de promover reformas com a da Previdência.
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O deputado federal e integrante da tropa de choque de Temer, Darcísio Perondi (PMDB-RS), afirmou que o resultado foi “excelente” e é uma “vitória do Brasil” com uma base aliada “consciente”. Segundo ele, Temer agora continuará com “tranquilidade, esperança, determinação para a reconstrução do país”.
Ele ainda aproveitou o momento para elogiar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vem se desentendendo com Temer nas últimas semanas. “Foi brilhante. [...] Com certeza ele conduziu com segurança e foi decisivo”, disse.
Questionado pelo UOL se Maia e Temer poderão ter uma boa relação daqui para a frente devido a aspirações eleitorais do DEM no ano que vem, Perondi brincou que Maia é o seu candidato à Presidência de 2018. “Temer e Maia estão sintonizados na agenda nova a partir da semana que vem.”
O deputado reclamou da baixa adesão dos tucanos paulistas pela rejeição da denúncia e afirmou ter se sentido traído pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP). De acordo com ele, mesmo assim, o PSDB deverá ajudar o governo na aprovação das reformas pretendidas pelo Planalto.
"No nosso mapa de votos para hoje nós contávamos com a metade, um pouco mais, um pouco menos, dos tucanos. Então essa dificuldade tucana em nos acompanhar na primeira denúncia se manteve na segunda", ponderou, ao então elogiar os quatro ministros do PSDB.
Ministro licenciado da Secretaria de Governo, responsável pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso, o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) apontou que o número maior de ausências na votação da segunda denúncia (25 contra 19) ajuda a explicar por que o governo não necessariamente perdeu apoio legislativo.
Imbassahy contou que algumas das ausências foram previamente "combinadas", já que alguns deputados relataram ter problemas nas bases eleitorais por conta do apoio ao governo. Como o prosseguimento da denúncia para a análise do STF (Supremo Tribunal Federal) dependia exclusivamente dos votos de dois terços do plenário (342), quem faltou à sessão acabou beneficiando Temer.
"Evidentemente que uma denúncia seguida de outra denúncia traz uma necessidade de gastar energia excessivamente, mas nada que não possa ser recuperado", declarou. O tucano disse que a aprovação da reforma da Previdência ainda esse ano não pode ser descartada. "Alguns deputados vieram me dizer que não votaram com o presidente mas estava conosco para as reformas."
Ao fim da votação, Aguinaldo Ribeiro disse ter recebido os parabéns do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também denunciado, assim como o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), ambos do PMDB. Ribeiro contou que Padilha elogiou o "trabalho de leão" da base do governo na Câmara, que teve dificuldades para colocar no plenário o quorum mínimo de 342 deputados necessário para iniciar a votação.
O deputado Beto Mansur (PRB-SP) disse que conversou com Temer por telefone e disse que o presidente está “bem e satisfeito”. Na avaliação de Mansur, o resultado poderia ter sido melhor, mas também não foi ruim.
Mansur afirmou que o momento é de avaliar com calma as proporções de votos de cada bancada e partido para ver a viabilidade da reforma da Previdência e da simplificação tributária. No entanto, disse, elas serão mantidas na agenda pelo governo. Para tanto, o Planalto terá de reduzir suas ambições e chegar a um acordo com a equipe econômica.
Oposição vê governo "refém"
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) afirmou que o governo Temer é “moribundo” e criticou as estratégias do Planalto para obter a vitória na Câmara.
“Um governo que gasta bilhões em emendas, perdoa dívidas, negocia legislação, tentou acabar com o combate ao trabalho escravo para comprar um resultado que não alcançou nem a maioria absoluta dos votos. Ou seja, é um governo moribundo, que já acabou. É só questão de tempo”, falou.
O deputado Silvio Costa (Avante-PE), que faz oposição a Temer, declarou que o governo sai muito mal da votação mesmo usando “de todas as armas, como emendas, cargos, portarias, medidas provisórias” para sobreviver à denúncia.
“Nasce um governo velho, refém do fisiologismo, refém da política menor, da chantagem. É um governo que sempre vendeu que tinha governabilidade, não tem mais. É uma governabilidade fruto da troca da política franciscana. A tal da reforma da Previdência subiu no telhado, não será mais possível, e a oposição cumpriu seu papel”, disse.
Segundo Costa, houve parlamentares que "iludiram a opinião pública" ao marcarem presença no plenário, ato contrário ao pregada pela oposição para que houvesse demora do quórum, e depois votaram pela rejeição da peça da PGR.
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