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Com PSDB rachado, Tasso diz que tucanos não aceitam fisiologismo e querem "decência"

Ao lado de Ricardo Ferraço e Mara Gabrilli, Tasso anuncia candidatura para presidência do PSDB - Luciana Amaral/UOL
Ao lado de Ricardo Ferraço e Mara Gabrilli, Tasso anuncia candidatura para presidência do PSDB Imagem: Luciana Amaral/UOL

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

08/11/2017 13h07Atualizada em 08/11/2017 13h54

Com o PSDB rachado entre desembarcar ou não do governo Michel Temer (PMDB), o presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati (CE), lançou a candidatura à presidência da sigla nesta quarta-feira (8). Na solenidade, no entanto, negou que haja uma divisão interna, afirmou que os tucanos não aceitam "a política do clientelismo, fisiologismo" e querem a "alta decência".

Em discurso, Tasso voltou a fazer um mea culpa do partido e afirmou que é preciso se afastar da corrupção, do fisiologismo e do clientelismo. Segundo ele, sua linha dentro da legenda representa o não conformismo em somente participar de votações, do dia a dia do Congresso e deixar a situação como está.

“Não aceitamos a política do clientelismo, fisiologismo. Queremos a alta decência. Engana-se aqueles que acham que há uma disputa dentro do PSDB. Pelo contrário, isso mostra que o partido está vivo, não está roncando. Estamos atentos ao que está acontecendo nas ruas. Temos um programa que tenho certeza que vai agitar e vai trazer convergência ao final”, declarou.

A eleição para escolher o novo presidente tucano e a nova executiva será na convenção nacional do PSDB, marcada para 9 de dezembro. A solenidade aconteceu na liderança do PSDB no Senado pela manhã e contou com a presença de diversos políticos da legenda, como Cássio Cunha Lima (PB), Ricardo Ferraço (ES), Ricardo Trípoli (SP), Mara Gabrilli (SP), Paulo Bauer (SC) e Flexa Ribeiro (PA). Tasso disputará o cargo, originalmente do senador Aécio Neves (MG), com o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo.

Com o partido dividido entre os que defendem um desembarque imediato do governo de Michel Temer – ala de Tasso – e os que pregam a manutenção da sigla no Planalto, inclusive com quatro ministérios – ala de Aécio Neves e o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (BA) –, há quem seja favorável a uma junção entre Tasso e Perillo. A ideia ainda não foi descartada, no entanto, se se concretizar, só deve ocorrer mais para a frente.

Desembarque do governo

Quanto ao eventual desembarque do Planalto, Tasso disse que a saída é "o menor dos problemas" e o partido deve resolver o caso até a convenção nacional. Ele falou que, atualmente, o grupo favorável ao desembarque é majoritário, mas que a decisão não é só dele, e sim do partido. Apesar da crise instalada entre o PSDB e o Planalto, Tasso voltou a elogiar as reformas propostas por Temer e disse que tende a continuar a apoiá-las.

Sobre declarações de líderes de partidos da base que defendem a saída imediata do PSDB do governo, Tasso afirmou ser um “show de fisiologia que nós não participamos”.

“Não entendo isso de ‘me dá cargo, toma lá cargo. Só voto se tiver isso, só tiver esse cargo’. Essa é a linguagem da qual queremos nos distanciar definitivamente”, declarou.

Quanto à suposta consideração de Temer em já exonerar os ministros tucanos, Tasso afirmou não saber o que “passa na cabeça do presidente, só ele que sabe”.

O candidato afirmou que nas próximas semanas será divulgado um programa de compliance formulado por juristas externos e coordenado pelo deputado Carlos Sampaio (SP). O manual deverá ter um novo estatuto com regras de prévias mais interativas com a população e estabelecer regras de conduta. Questionado sobre como ficam os quadros importantes do partido alvos de investigação, como Aécio Neves, e se haverá alguma punição, Tasso apenas falou que os detalhes do compliance ainda serão anunciados.

Na avaliação de Tasso, é necessário fazer um debate sobre o PSDB e uma autocrítica para melhorar. Ele então aproveitou a oportunidade para criticar duramente o PT, sigla também sob fortes suspeitas de envolvimento em esquemas de corrupção.

“O PT está acomodado diante de seus erros. Isso é gravíssimo. Finge que não viu, que não aconteceu ou pior, que faria de novo. Outros partidos têm situação semelhante”, falou Tasso.

Eleições 2018

Tasso reconheceu que há descrença geral nos políticos, mas afirmou que não há saída para a crise brasileira fora da política e relembrou a ditadura militar. Embora não tenha citado nomes, a fala pode ser interpretada como uma crítica indireta ao deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e ao atual prefeito de São Paulo, João Doria. Ambos ambicionam se candidatar à Presidência da República em 2018.

Doria, também do PSDB, apoia Temer e tem se colocado contra o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, na disputa pela pré-candidatura à Presidência. O prefeito se coloca como um “outsider” da política, enquanto Alckmin, como Tasso, são políticos tradicionais e pregam uma estabilidade maior no partido junto ao desembarque do PSDB do governo.

Tasso disse que o pensamento de buscar uma solução de fora da política não é “totalmente desprovido de razão”, mas alertou para as possíveis consequências, ao seu ver.

“As pessoas desesperançadas e vendo no político e na política apenas uma série de malfeitos e malfeitores. É um grande engano e um grande risco que o país está correndo. E nós brasileiros, principalmente os que são um pouco mais velhos, temos a experiência disso. O que significa a maldição da política, que significa o fim da política e onde chegamos e podemos chegar. Só aqueles que viveram os tempos militares sabem o mal que isso causou ao país, a milhares de famílias e o constrangimento que toda a população brasileira viveu diante de si mesma e diante do mundo”, discursou.