PF diz ver indícios de lavagem de dinheiro contra Geddel e irmão no apartamento de R$ 51 mi
A PF (Polícia Federal) entregou ao STF (Supremo Tribunal Federal) um relatório em que afirma ver indícios dos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) e seu irmão, o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
A conclusão foi apresentada no inquérito que investiga o envolvimento dos dois políticos com os cerca de R$ 51 milhões em dinheiro encontrados em malas num apartamento em Salvador, que teria sido emprestado a Lúcio.
Leia também:
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O relatório da PF diz ainda haver suspeitas da participação nos crimes da mãe de Geddel e Lúcio, Marluce Vieira Lima, do ex-assessor do deputado, Job Ribeiro Brandão, e de um aliado de Geddel no PMDB baiano, o ex-diretor da Defesa Civil de Salvador Gustavo Ferraz.
No relatório, a PF afirma que parte do dinheiro encontrado no apartamento possivelmente é fruto de crimes praticados na Caixa Econômica, banco estatal do qual Geddel foi vice-presidente, de caixa dois de campanha e do desvio de dinheiro da Câmara dos Deputados, por meio da apropriação de parte do salário de um ex-assessor de Lúcio Vieira Lima.
"Diante do exposto, entendemos estarem presentes nos autos suficientes indícios dos crimes de associação criminosa (...) e de lavagem de dinheiro (...), sem prejuízo de eventual entendimento diverso por parte do Ministério Público Federal, tendo em vista que Geddel Quadros Vieira Lima, Lúcio Quadros Vieira Lima, Marluce Quadros Vieira Lima, Job Ribeiro Brandão e Gustavo Pedreira do Couto Ferraz, estiveram unidos em unidade de desígnios para a prática de crimes de lavagem de dinheiro, seja pelo ocultamento no apartamento de Marluce Quadros Vieira Lima, seja pelo ocultamento no apartamento da Rua Barão de Loreto, Graça, Salvador/BA, de recursos financeiros em espécie oriundos de atividades ilícitas praticadas contra a Caixa Econômica Federal (corrupção de Geddel), apropriação indevida de recursos da Câmara dos Deputados por desvios de salários de Secretários Parlamentares (Peculato), caixa dois em campanhas eleitorais (...), possível participação de Lúcio Vieira Lima em ilicitudes relacionadas a medidas legislativas e da participação de Geddel Vieira Lima em Organização Criminosa descrita no Inquérito 4327 [que investiga organização criminosa no PMDB]", diz a conclusão do relatório, assinado pelo delegado Marlon Oliveira Cajado dos Santos.
A PF encontrou impressões digitais de Geddel e de um ex-assessor de Lúcio nos sacos plásticos que envolviam os maços de dinheiro, que somavam pouco mais de R$ 42 milhões e US$ 2,6 milhões.
O dono do apartamento, Silvio da Silveira, afirmou à Polícia Federal que entregou as chaves do imóvel a Lúcio, que teria pedido o imóvel emprestado com o argumento de que precisava guardar documentos da família.
Dinheiro no closet da mãe de Geddel
Em depoimento à Polícia Federal o ex-assessor parlamentar Job Brandão, que trabalhou com Lúcio Vieira Lima, afirmou que a família "possuía muito dinheiro guardado no apartamento de Marluce Vieira Lima", mãe dos irmãos políticos, em Salvador. A pedido de Geddel e de Lúcio, o ex-assessor realizava a contagem de dinheiro quando as notas chegavam no apartamento em Salvador.
O dinheiro, segundo ele, ficava guardado no closet do quarto da mãe dos irmãos Vieira Lima, em caixas e malas até o início de 2016. Ele contou que quando o pai de Lúcio e Geddel morreu, no entanto, o dinheiro foi levado para outro lugar.
Em nota, os advogados de Marluce afirmaram que as acusações de Job eram "inverdades".
No depoimento, o ex-assessor disse também que nunca esteve no apartamento onde a Polícia Federal encontrou o equivalente a R$ 51 milhões em dinheiro vivo, mas afirmou que, pela foto, "as caixas e uma das malas pretas se assemelham com as que costumavam ficar guardadas" no apartamento da mãe de Geddel e Lúcio.
Job Brandão afirmou ainda que entregava aos Vieira Lima parte do salário que recebia da Câmara dos Deputados.
Propina na Caixa
O ex-ministro Geddel Vieira Lima é investigado pelo suposto recebimento de propina por parte de empresários em troca de facilitação ou liberação de créditos da Caixa Econômica Federal, banco no qual ele foi vice-presidente de Pessoa Jurídica durante parte do primeiro governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Segundo o empresário e delator Lúcio Funaro, Geddel teria recebido ao menos R$ 20 milhões em propinas. Funaro disse que o ex-ministro recebia dinheiro em malas entregues pessoalmente por ele.
O ex-ministro chegou a ser preso uma primeira vez sob suspeita de pressionar a família de Funaro para que ele não fechasse um acordo de delação premiada, e responde a processo por essa acusação na Justiça Federal de Brasília. Liberado, ele foi preso novamente após o caso do bunker de R$ 51 milhões.
O advogado dos irmãos Vieira Lima tem afirmado que eles jamais participaram de qualquer esquema ilegal em órgãos públicos. Sobre o dinheiro encontrado no apartamento em Salvador, a defesa tem dito que irá se pronunciar após ter acesso à íntegra dos autos da investigação.
A reportagem do UOL não conseguiu entrar em contato com o advogado de Geddel nesta terça-feira (28).
Funaro diz reconhecer dinheiro de Geddel
Apontado como operador do PMDB, o corretor Lúcio Funaro disse à PF ter reconhecido os maços de dinheiro encontrados no bunker.
Ao ver as fotos do dinheiro, Funaro afirmou que os maços tinham características parecidas com os quais trabalhava. As quantias eram separadas com elásticos e contavam com um papel informando o valor do montante.
"O depoente identificou que o maço de dinheiro, possivelmente, decorra de uma das entregas de valores em espécie que fez a Geddel Vieira Lima, vez que o depoente costumava adquirir valores em espécie do doleiro 'Peter' separado em 'ligas' (elásticos) e com referência de valores com impressão realizada
em uma máquina calculadora", disse na delação.
Ao analisar outras fotos, Funaro apontou a sigla "BOA" na cinta que envolvia o maço de dinheiro. Segundo ele, o termo se refere ao Banco Original do Agronegócio, pertencente ao grupo J&F.
"Que o depoente afirma isto porque já recebeu dinheiro de Francisco de Assis, diretor jurídico do grupo J&F INVESTIMENTOS e se recorda que na ocasião o dinheiro também estava envolto em com "cintas" com a mesma inscrição "BOA", afirmou na delação.
O corretor disse também ter alertado o diretor jurídico da J&F sobre o risco de ser rastreado.
Francisco de Assis foi um dos executivos que participou da chamada delação da JBS. A sua delação está em revisão na PGR (Procuradoria-Geral da República), após o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot revogar as delações de Joesley Batista e do executivo Ricardo Saud.
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