Cavendish diz que anel de R$ 840 mil foi "1ª parcela" de propina por Maracanã
Preso pela Operação Lava Jato, o empreiteiro Fernando Cavendish contou em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal, nesta segunda-feira (4) sobre o momento em que acertou com o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) a participação da sua empresa, a empreiteira Delta, na obra do estádio do Maracanã para a Copa do Mundo.
Cavendish disse que, em 2009, estava em Nice, na França, comemorando o aniversário da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo com a sua mulher e Cabral, quando o ex-governador o levou a uma loja de joias. “Estou presenteando a minha esposa e gostaria que você pagasse”, teria dito Cabral, na versão do empresário.
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O empreiteiro aceitou, pagou pela joia, que custou 220 mil euros (cerca de R$ 846 mil em valores atualizados) e ostentava um diamante de quatro quilates, e ponderou que aquilo precisaria de uma contrapartida.
Meses depois, a sua empresa foi escolhida para entrar no consórcio do Maracanã. “Deixei claro que não era um presente. Acabou sendo um anel de compromisso”, afirmou.
Cavendish, que relatou não ter comentado sobre a compra nem com a própria mulher, disse que Adriana tampouco o agradeceu.
Comprei a joia e, na sequência, acertei o Maracanã. Não foi um presente, foi um negócio.
Fernando Cavendish, empreiteiro
O valor da joia, disse o empreiteiro, foi amortizado posteriormente, nos valores das propinas pagos pela empreiteira ao ex-governador. Ao todo, Cavendish estima ter pagado cerca de R$ 3,5 milhões em propina a Cabral na obra do Maracanã. O diamante acabou sendo a primeira parcela desse valor.
A empresa começou com 30% de sociedade no projeto, junto com a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, deixando a obra em 2012 por problemas financeiros.
Em prisão domiciliar, Cavendish também afirmou que sabia que estava sendo feito um cartel em todas as obras de estádios da Copa do Mundo. "Cometi um grande erro e hoje estou pagando por esses erros", disse.
Em outubro do ano passado, quando a informação sobre o suposto presente de Cavendish a Adriana Ancelmo foi publicada em reportagem do jornal "O Globo", o ex-governador disse, por meio de nota, que o empresário havia presenteado sua mulher durante jantar de aniversário em um restaurante na Europa.
Segundo Cabral, após a decretação da inidoneidade da empresa de Cavendish, o anel foi devolvido.
"Em 18 de julho de 2009, foi realizado um jantar de aniversário da sua mulher Adriana em um restaurante em Mônaco. Nesse jantar, o empresário Fernando Cavendish e a sua então esposa Jordana deram um anel de presente à aniversariante. O valor do presente evidentemente não foi perguntado e era e continua sendo desconhecido. Posteriormente, quando foram divulgadas as denúncias contra Cavendish envolvendo [o doleiro] Carlos Cachoeira, o Estado acompanhou o governo federal na decretação da inidoneidade da Delta, motivo pelo qual o casal praticou o gesto de devolver o presente."
Na terça-feira (5), a defesa de Cabral disse, por meio de nota, que "Cavendish mudou o seu discurso, para que um anel usado para bajular o ex-governador em 07/2009, fosse prova de propina numa licitação realizada mais de um ano depois". O advogado Rodrigo Roca reforçou que o presente foi devolvido em 2012, quando Cabral declarou a inidoneidade da Delta no Estado.
A empreiteira Delta viveu o auge entre 2006 e 2011, quando participou de algumas das principais obras do governo fluminense sob a gestão de Cabral, como a reforma do Maracanã e o Arco Metropolitano.
O empreiteiro era amigo pessoal de Cabral. Em 2011, a mulher dele e a namorada do filho do ex-governador morreram em um acidente de helicóptero na Bahia. A aeronave levava todos para a festa de aniversário do empreiteiro.
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