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Moro e juíza do Rio determinam transferência de Cabral para Curitiba por regalias na prisão

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Imagem: Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

18/01/2018 12h54Atualizada em 18/01/2018 16h23

Os juízes federais Sergio Moro, de Curitiba, e Caroline Vieira Figueiredo, do Rio, determinaram a transferência do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para um presídio no Paraná por conta das supostas regalias a que ele teria tido acesso no sistema prisional fluminense --como a "sala de cinema” instalada na Cadeia Pública de Benfica, em que estão o ex-governador e outros presos da Lava Jato no Rio. 

Cabral será transferido para a ala já ocupada por outros presos da Operação Lava Jato no Complexo Médico de Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense.

Os pedidos de transferência foram feitos pelas forças-tarefa da Lava Jato no Paraná e o no Rio tanto a Moro quanto ao juiz Marcelo Bretas, de férias no momento --a juíza Caroline o substitui à frente da 7ª Vara Criminal Federal.

Moro justifica a transferência lembrando que Cabral, além de governador, já foi deputado estadual e presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), e possui relações relevantes com as autoridades do Estado, o que representa um "risco concreto de que ele possa utilizar essas relações para, continuamente, obter ou tentar obter privilégios no cárcere".

"Mantendo-o no Rio de Janeiro, constituirá um verdadeiro desafio às autoridades prisionais ou de controle prevenir a ocorrência de irregularidades e privilégios", escreve Moro em sua decisão.

Moro cita como exemplo a determinação de transferir o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) para Curitiba a fim de mantê-lo "distante de seu local de influência e de seus antigos parceiros criminosos" como forma de "prevenir ou dificultar a prática de novos crimes". 

No despacho em que defere o pedido do MPF, o magistrado diz ainda que, caso a 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro entendesse que a transferência não fosse "pertinente no momento", a decisão poderia ser reavaliada. Na sequência, a juíza Caroline autorizou a ida de Cabral para Curitiba.

Controle sobre unidade prisional, diz juíza

Ao decretar a transferência, a juíza Caroline assinalou que "os presos do colarinho branco não podem, de forma nenhuma, ter tratamento mais benéfico que outros custodiados".

Entre os argumentos para a transferência, o MPF no Rio cita uma ação civil pública do MP fluminense que acusa Cabral e a direção da Secretaria de Administração Penitenciária de improbidade administrativa e pede o afastamento da cúpula da secretaria, incluindo o secretário estadual de Administração Penitenciária, o diretor e do subdiretor da penitenciária Bangu 8 e do diretor e o subdiretor da Cadeia Pública de Benfica.

A Promotoria cita o home theater como um dos “momentos mais significativos” dessas vantagens obtidas por Cabral.

“O desrespeito às regras do presídio incluiu a tentativa de instalação de uma ‘videoteca’, que constituía uma espécie de sala de cinema, dotada de equipamento de ‘home theater’; e acervo de DVDs que foram objeto de suposta doação e direcionados imediatamente ao alcance do local que abrigava o ex-governador”, diz o MP.

A juíza observou que "o evento envolvendo a doação dos equipamentos para a denominada videoteca demonstra, a partir das diligências apuradas pelo Ministério Público Estadual, que o custodiado Sérgio Cabral, de fato, exerce controle, quiçá comando, sobre a unidade prisional".

De acordo com os promotores, outros privilégios foram constatados, como “colchões em padrão distinto dos ordinariamente distribuídos pela Seap, filtros de água padronizados, instrumentos de musculação de bom padrão como halteres e extensores de uso exclusivo, alimentos in natura, ‘produtos de delicatessen’ como queijos, frios e quitutes de bacalhau, chaleira elétrica e farta quantidade de medicamentos”.

Ao episódio, se somaram outras linhas de investigação que incluem diferença de tratamento quanto à visitação e deslocamento interno, além de supostas falhas no sistema de monitoramento dos internos da galeria C em Benfica, que abriga o ex-governador.

Essas regalias, diz o Ministério Público, teriam ligação com uma aliança entre a cúpula que administra o sistema penitenciário no Estado e Cabral, permitindo que Cabral tenha dentro da cadeia a reprodução de práticas de sua vida privada.

Ao pedir a transferência, o MPF no Paraná cita também a necessidade de instrução das investigações em curso envolvendo Cabral em Curitiba.

Preso preventivamente desde novembro de 2016, Cabral já foi condenado a 87 anos de prisão no âmbito da Operação Lava Jato. Em janeiro, ele se tornou réu pela 20ª vez.

Outro lado

O advogado do ex-governador, Rodrigo Roca, informou que ainda está se inteirando sobre o teor da decisão.

Mais cedo, antes da divulgação das decisões, Roca negou que o ex-governador tenha ganhado "benesses indevidas nas unidades em que esteve acautelado". O defensor disse, na ocasião, que não acreditava que a 7ª Vara Criminal Federal, de Bretas, fosse acolher o pedido.

"Seria mesmo incomum que medida tão drástica fosse adotada sem o contraditório e sem a instrução do feito, principalmente em razão dos outros processos que tramitam no RJ e que precisam da participação direta de Sérgio Cabral. A inexistência dos alegados favores ou regalias será provada tão logo a defesa seja chamada a fazê-lo, nos autos", disse Roca, em comunicado.

Em sua decisão, Moro diz que tomou a decisão "sem prévia oitiva da parte contrária por entender ser urgente a transferência para supressão das irregularidades prisionais e ainda por entender que o condenado não tem direito a escolher o local de cumprimento da pena". O juiz federal do Paraná disse ainda que se compromete a reexaminar a questão após manifestação da defesa de Cabral.

Sobre o pedido de afastamento da cúpula penitenciária do Estado, a Seap informou que só se manifestará quando for notificada a respeito do processo.

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