Operação aprisiona dois dos mais antigos amigos e colaboradores de Temer
A operação da Polícia Federal realizada nesta quinta-feira (29), parte do inquérito que apura denúncias de corrupção no setor dos portos, atinge diretamente dois dos mais antigos amigos e colaboradores do presidente Michel Temer (MDB): o coronel aposentado da PM (Polícia Militar) João Baptista Lima Filho, 75, e o ex-deputado federal e advogado José Yunes, 81. Os dois foram presos pela PF.
O coronel Lima, como é chamado, mantém relação estreita de amizade e confiança com Temer desde os anos 1980.
Lima e Temer se aproximaram quando o presidente ocupou o cargo de secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo. Temer foi o titular da segurança paulista em duas oportunidades, entre 1984 e 1993.
Lima assessorou Temer na secretaria de 1984 a 1986.
O coronel aposentado é dono da empresa Argeplan Arquitetura e Engenharia, com sede em São Paulo, tendo como sócio o arquiteto Carlos Alberto Costa. A empresa assinou contratos com a Segurança Pública na época em que Temer era secretário e já doou para candidaturas de Temer.
Em 2011, quando Temer era o vice-presidente da República na gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), a Argeplan obteve contratos milionários de projetos de infraestrutura federais. Um deles, no consórcio construtor da usina termonuclear de Angra 3, no valor de R$ 162 milhões, foi investigado pela Operação Lava Jato.
Entidades que representam as principais empresas de engenharia já mostraram suspeitas quanto à contratação da Argeplan para uma obra tão complexa quanto a de Angra 3, dizendo que ela não tem histórico na área.
Lima é também o proprietário da fazenda Esmeralda, em Duartina (SP), que é usada por Temer e sua família. Membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) já invadiram esta fazenda em três ocasiões em protesto contra Temer.
Yunes: um emedebista histórico
Na operação da PF desta quinta, também foi alvo de prisão José Yunes, outro amigo e colaborador de longa data do presidente. José Yunes, advogado e empresário, é amigo de Temer há mais de 50 anos, desde os tempos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), que ambos cursaram e em que foram contemporâneos.
Yunes é um dos quadros mais antigos do MDB. Foi eleito deputado estadual pela legenda em 1978 e reeleito em 1982. À época, participou das comissões de inquérito sobre denúncias de mau uso de recursos públicos, como no caso da Paulipetro, no governo biônico de Paulo Maluf (1979-82).
Sobre Maluf, publicou um livro crítico, com denúncias: "Uma Lufada que Abalou São Paulo" (Paz e Terra), de 1982, em alusão aos neologismos "malufada" e "malufar", verbos usados jocosamente por rivais do político como sinônimo de "roubar" ou "agir à margem da lei".
Como político, Yunes obteve também uma cadeira como deputado federal, após ter ficado com a quarta suplência no pleito de 1986. Participou da Assembleia Constituinte, que escreveu a nova Constituição do Brasil, em 1988.
O último cargo público de Yunes foi justamente ao lado do amigo, como assessor da Presidência da República, do qual pediu demissão em dezembro de 2016 após delação de um dos executivos da construtora Odebrecht, que o apontou como operador de propinas de Temer.
O executivo Cláudio Melo Filho disse que parte do acerto de R$ 10 milhões da Odebrecht com o MDB foi entregue em dinheiro vivo no escritório de Yunes em São Paulo, a pedido de Temer. O advogado disse que desconhecia a origem e o destino do dinheiro e que seria apenas uma "mula", um transportador, do valor.
À época da indicação para a assessoria do amigo feito presidente com o impeachment de Dilma, Yunes disse: "Serei aquele assessor com liberdade para fazer considerações positivas e negativas. Não levarei apenas notícias boas".
ACM insinuou ações de Temer no porto em 1999
Quando Temer era presidente da Câmara dos Deputados, em 1999, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do Senado à época, Antônio Carlos Magalhães, acusou: "Se abrir um inquérito (do porto de Santos), Temer ficará péssimo", disse ACM, insinuando que o presidente da Câmara interferira na nomeação de administradores suspeitos de corrupção.
Em um evento realizado hoje em Vitória (ES) após a ação da PF, Temer não comentou as prisões dos aliados e louvou seu próprio governo, afirmando que quem quiser criticar sua atuação na presidência vai "precisar de muito malabarismo".
Quem falou em defesa de Temer foi o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo): “É como se estivesse investigando o assassinato de alguém que não morreu", disse o ministro durante um evento em Florianópolis. "Temos certeza de que o decreto não beneficia a Rodrimar [...] Se isso não for tratado com parcialidade e sensacionalismo, isso não enfraquece o governo porque o presidente Temer nada tem a ver com isso."
A operação policial desta quinta também fez mais prisões em núcleo paulista próximo de Temer.
O empresário Antônio Celso Grecco, dono da empresa portuária Rodrimar, que atua no porto de Santos (SP), foi preso. Segundo denúncia da Procuradoria, baseada em escutas telefônicas, a empresa, entre outras com negócios portuários em Santos, foi beneficiada por Temer no decreto dos portos. Uma executiva do Grupo Libra, do setor portuário, também foi presa.
Wagner Rossi (MDB-SP), que já foi presidente da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), a autoridade responsável pela administração do porto, foi outro alvo de prisão desta quinta. Ele foi ministro da Agricultura em 2010 e 2011, nos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma.
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