Cármen pede serenidade a 2 dias de STF julgar HC de Lula: "violência não é justiça"
A presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Cármen Lúcia, afirmou nesta segunda-feira (2) que “as diferenças ideológicas” não podem ser “fonte de desordem social” e disse que "violência não é justiça" (leia abaixo o discurso na íntegra).
A declaração foi feita em pronunciamento transmitido nesta noite pela TV Justiça e cujo teor foi divulgado à tarde pelo Supremo.
“Vivemos tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições. Por isso mesmo, este é um tempo em que se há de pedir serenidade. Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social”, diz a ministra no pronunciamento.
A fala da presidente do STF ocorre em meio às tensões provocadas pelo julgamento, na quarta-feira (4), do recurso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra sua prisão na Operação Lava Jato. Ele foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão na segunda instância pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá, e pede para aguardar em liberdade até que o processo seja julgado em todas as instâncias judiciais.
Leia também:
- Deltan Dallagnol: A decisão no caso Lula e a impunidade sistêmica
- Cármen Lúcia e diretor da PF se reúnem para tratar do julgamento de Lula
- Com definição na segunda instância, prisão de Lula depende do Supremo
- Moro sugere emenda se STF revir prisão e diz que tema transcende Lula
No pronunciamento, a ministra pede respeito às opiniões divergentes. "Somos um povo, formamos uma nação. O fortalecimento da democracia brasileira depende da coesão cívica para a convivência tranquila de todos. Há que serem respeitadas opiniões diferentes", diz Cármen Lúcia.
Protestos em Brasília
Nesta semana, Brasília recebe uma série de manifestações, tanto contra quanto a favor do petista. Cármen Lúcia se reuniu na manhã desta segunda-feira com o diretor-geral da Policia Federal, Rogério Galloro, para tratar da segurança na sessão da quarta-feira.
Os protestos dos grupos Vem Pra Rua e MBL (Movimento Brasil Livre) estão previstos para a terça-feira (3), véspera do julgamento no STF. Os atos foram divulgados nas redes sociais com a frase de convocação “ou você vai, ou ele volta”. O Vem Pra Rua se concentrará em frente ao Congresso Nacional, e o MBL, próximo ao STF. Grupos já haviam protestado no último dia 22, quando o STF adiou a decisão sobre Lula.
Além de Brasília, há manifestações convocadas para diversas cidades e capitais do país.
O PT e grupos que apoiam Lula devem realizar atos na quarta-feira (4) do julgamento, na praça dos Três Poderes, onde está situado o STF. Foi convocada uma “vigília” em frente ao tribunal.
Ameaças a Fachin, tiros contra caravana de Lula
O pedido de Cármen Lúcia por "serenidade" também acontece dias após o ministro Edson Fachin revelar, em entrevista à GloboNews, que ele e sua família têm sofrido ameaças. O relator da Lava Jato no STF revelou que pediu reforço de escolta à Corte e à Polícia Federal. As declarações foram dadas na última terça-feira (27).
No mesmo dia, dois ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram alvejados por tiros durante a passagem pelo Paraná. Ninguém se feriu.
Confira na íntegra o discurso da ministra Cármen Lúcia:
"A democracia brasileira é fruto da luta de muitos. E fora da democracia não há respeito ao direito nem esperança de justiça e ética.
Vivemos tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições.
Por isso mesmo, este é um tempo em que se há de pedir serenidade.
Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social.
Serenidade para se romper com o quadro de violência. Violência não é justiça. Violência é vingança e incivilidade.
Serenidade há de se pedir para que as pessoas possam expor suas ideias e posições, de forma legítima e pacífica.
Somos um povo, formamos uma nação. O fortalecimento da democracia brasileira depende da coesão cívica para a convivência tranquila de todos. Há que serem respeitadas opiniões diferentes.
Problemas resolvem-se com racionalidade, competência, equilíbrio e respeito aos direitos. Superam-se dificuldades fortalecendo-se os valores morais, sociais e jurídicos. Problemas resolvem-se garantindo-se a observância da Constituição, papel fundamental e conferido ao Poder Judiciário, que o vem cumprindo com rigor.
Gerações de brasileiros ajudaram a construir uma sociedade, que se pretende livre, justa e solidária. Nela não podem persistir agravos e insultos contra pessoas e instituições pela só circunstância de se terem ideias e práticas próprias. Diferenças ideológicas não podem ser inimizades sociais. A liberdade democrática há de ser exercida sempre com respeito ao outro.
A efetividade dos direitos conquistados pelos cidadãos brasileiros exige garantia de liberdade para exposição de ideias e posições plurais, algumas mesmo contrárias. Repito: há que se respeitar opiniões diferentes. O sentimento de brasilidade deve sobrepor-se a ressentimentos ou interesses que não sejam aqueles do bem comum a todos os brasileiros.
A República brasileira é construção dos seus cidadãos.
A pátria merece respeito. O Brasil é cada cidadão a ser honrado em seus direitos, garantindo-se a integridade das instituições, responsável por assegurá-los."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.