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"Outro 64 será inaceitável", diz Janot sobre tuíte de comandante do Exército

Janot declarou na rede social que "outro 64 será inaceitável" - Foto: Agência Brasil
Janot declarou na rede social que "outro 64 será inaceitável" Imagem: Foto: Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

03/04/2018 23h49Atualizada em 04/04/2018 00h41

O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot reagiu à declaração do general Eduardo Villas Bôas, que afirmou que o Exército "se mantém atento às suas missões institucionais" e compartilha "com os cidadãos de bem" o "repúdio à impunidade". Para Janot, "outro 1964 será inaceitável".

"Isso definitivamente não é bom. Se for o que parece, outro 1964 será inaceitável. Mas não acredito nisso realmente", escreveu o ex-PGR fazendo uma referência ao golpe de 1964, quando o então presidente João Goulart foi deposto e teve início a ditadura militar no Brasil.

A declaração do comandante do Exército também foi feita pelo Twitter e logo ganhou grande repercussão, sobretudo por ocorrer na véspera do julgamento de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo STF (Supremo Tribunal Federal), marcado para esta quarta (4).

"Asseguro à nação que o Exército brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais", escreveu Villas Bôas. "Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?".

Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo, e poderá ser preso se o STF negar o habeas corpus.

Os três desembargadores da 8ª Turma entenderam que Lula recebeu o imóvel como propina paga pela empreiteira OAS em troca de contratos na Petrobras. O petista nega ser dono do imóvel e afirma ser alvo de uma perseguição política promovida por setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal, para impedi-lo de ser novamente candidato à Presidência.

habeas corpus impetrado pela defesa de Lula busca que a pena imposta ao ex-presidente comece a ser cumprida somente em caso de rejeição de todos os recursos possíveis em todas as instâncias do Judiciário.

Lula lidera, com folga, as principais pesquisas de intenção de voto para a corrida presidencial de outubro, mas devido à condenação por um órgão colegiado da Justiça, deve ser impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa.

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Instabilidade e sugestão de intervenção militar

Mais cedo, o general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa declarou ao jornal O Estado de S. Paulo que se o STF permitir que Lula se candidate e se eleja presidente, não restará alternativa a não ser uma intervenção militar.

"Se acontecer tanta rasteira e mudança da lei, aí eu não tenho dúvida de que só resta o recurso à reação armada. Aí é dever da Força Armada restaurar a ordem. Mas não creio que chegaremos lá", disse Lessa, segundo reportagem publicada no site da revista Exame.

O julgamento do recurso de Lula no STF tem sido precedido de forte pressão. A Corte já recebeu dois abaixo-assinados nesta semana, um pela prisão após condenação em segunda instância e outro contrário a esse entendimento.

Atos opostos ao ex-presidente e outros de apoio ao petista também têm sido organizados desde esta terça-feira (3). Na quarta, vias de Brasília serão bloqueadas, e manifestantes pró e contra Lula serão separados por grades e policiais militares.

Na semana passada, a caravana do ex-presidente Lula pelo sul foi alvejada por três tiros durante a passagem pelo Paraná. No mesmo dia, o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no STF, declarou à GloboNews que ele e sua família têm recebido ameaças.

Na segunda-feira (2), a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, pediu "serenidade" e disse que "violência não é justiça". Já nesta terça, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, declarou esperar um "clima ordeiro" nas manifestações desta semana.