Japonês da Federal diz que foi espião durante a ditadura militar
Em entrevista ao programa "Conversa com Bial", da TV Globo, exibida na madrugada desta quinta-feira (16), o agente aposentado da Polícia Federal, Newton Ishii, conhecido como Japonês da Federal afirmou que atuava como espião durante a ditadura militar.
"Eu trabalhei na época infiltrado entre os estudantes em Diretório Central Estudantil. Tinha que obter informações de quem estava participando e de que se tratavam as reuniões e depois acabava informando o 'Serviço de Informação' o que hoje se chama serviço de inteligência", afirmou Nishii sobre o período em que ainda começava a atuar na Polícia Federal. Ao UOL o agente aposentado da PF afirmou que atuou entre 1978 e 1980 na cidade de Londrina, no Paraná. Ele era estudante do curso de administração de empresas.
No programa, ele ainda contou qual é a sua opinião sobre o período autoritário que aconteceu entre 1964 e 1985. "Eu acho que tudo tem sua época, a democracia é essencial. Sou contra essa parte de direita e esquerda. Nós devemos ser governados por homens capazes e honestos sempre pensando para o bem do povo brasileiro", disse. Ishii ainda falou sobre os bastidores das prisões da Operação Lava Jato e sua vida pessoal.
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A entrevista à Rede Globo teve também a participação de Luís Humberto Carrijo, autor de uma biografia do Japonês da Federal. O escritor destacou algumas passagens de seu livro com testemunhos das ações da Operação Lava Jato.
Universidades na ditadura
Para Rodrigo Patto Sá Motta, historiador, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autor do livro "As universidades e o regime militar", o tipo de vigilância relatada por Newton Ishii era frequente nas universidades no período da ditadura militar. "Havia várias pessoas infiltradas, desde faxineiros, pessoas que faziam fotocópias e ficavam atentas ao material reproduzido e inclusive os próprios estudantes", disse Motta em entrevista ao UOL.
Além da área de ciências humanas, uma das mais vigiadas, o historiador também destaca que o setor de física, principalmente na Universidade de São Paulo (USP), atraía muito a atenção dos informantes, pois tinha ligação com conhecimento estratégico militar, além de possuir um histórico ligado aos movimentos de esquerda. "Em áreas científicas me relataram que não tinha tanto um clima de se tomar cuidado com o que se falava", afirma.
Motta ressalta ainda que, embora houvesse muita gente fazendo essa vigilância e com todo o aparato repressivo, os militares não eram capazes de controlar tudo e que isso gerava muitas vezes frustração nos próprios agentes de informação. Segundo o especialista, há relatos que, em muitos casos, os espiões investigavam pessoas e, quando percebiam, o investigado era um outro agente infiltrado.
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