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Campanha de Dilma em 2014 custou R$ 800 mi e maior parte era ilícita, diz Palocci

25.out.2014 - A presidente Dilma Rousseff (PT), então candidata à reeleição, faz carreata em Porto Alegre - Avener Prado/Folhapress
25.out.2014 - A presidente Dilma Rousseff (PT), então candidata à reeleição, faz carreata em Porto Alegre Imagem: Avener Prado/Folhapress

Do UOL, no Rio de Janeiro

01/10/2018 16h30Atualizada em 02/10/2018 08h17

Em delação em processo da Operação Lava Jato, o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci afirmou que a campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) em 2014 custou R$ 800 milhões, sendo a maior parte em dinheiro ilícito. O valor é mais do que o dobro do que foi oficialmente informado pela candidata em sua prestação de contas em um total de R$ 350 milhões. Palocci relacionou parte da arrecadação ilícita com compensação de empresas por contratos obtidos com a Petrobras. Segundo ele, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem articulou esse esquema de obtenção de dinheiro.

O advogado de Lula chamou as declarações de mentirosas. Em nota oficial, Dilma chamou o valor de "absolutamente falso" e diz que a delação é uma tentativa desesperada do ex-ministro de "salvar a própria pele".

O juiz da 13ª Vara Federal do Paraná, Sergio Moro, retirou o sigilo da colaboração feita por Palocci nesta segunda-feira (1º), a poucos dias da eleição que ocorre no próximo domingo. O depoimento foi dado em 13 de abril de 2018. Dilma é candidata ao Senado por Minas Gerais.

Leia a íntegra dos documentos assinados por Palocci no acordo de delação:

A título de exemplo, Palocci disse que, em campanhas de R$ 500 milhões, "ao menos 400 [milhões de reais]" eram de origem ilícita. Em seguida, o documento registra declaração do ex-ministro petista de que "as campanhas presidenciais do PT custaram em 2010 e 2014 aproximadamente, 600 e 800 milhões de reais, respectivamente".

Antes, o ex-ministro da Fazenda afirmou que o ex-presidente Lula atuou diretamente na nomeação de diretores da Petrobras, e daria preferência na Petrobras a construtoras como a OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa porque poderiam dar contribuições para campanhas eleitorais. E acusou Lula de participar de uma reunião no início de 2010 para alinhavar o esquema.

Na delação, Palocci disse ter participado, em 2010, de reunião no Palácio do Alvorada com Lula, Dilma e José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras. Na ocasião, o ex-ministro petista disse que Lula pediu a Gabrielli que "encomendasse a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do país e do Partidos dos Trabalhadores com a eleição de Dilma Rousseff, produzindo-se os navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha que se aproximava", segundo o documento.

Palocci ainda afirmou que Lula o encarregou de "gerenciar os recursos ilícitos que seriam gerados e o seu devido emprego na campanha de Dilma Rousseff para a presidência da República." Nas palavras do ex-ministro da Fazenda no governo petista, essa foi a primeira reunião em que Lula tratou da arrecadação de campanha relacionada a contratos da Petrobras.

Outro lado

Em nota, o advogado de Lula Cristiano Zanin classificou como mentira as afirmações de Palocci. Ainda atacou a decisão de Moro de tirar o sigilo do depoimento neste momento. Abaixo a nota do advogado:

"Moro juntou ao processo, por iniciativa própria (“de ofício”), depoimento prestado pelo Sr. Antônio Palocci na condição de delator com o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados, até porque o próprio juiz reconhece que não poderá levar tal depoimento em consideração no julgamento da ação penal. Soma-se a isso o fato de que a delação foi recusada pelo Ministério Público. Além disso, a hipótese acusatória foi destruída pelas provas constituídas nos autos, inclusive por laudos periciais", diz a nota do advogado.

Em nota divulgada por meio de sua assessoria de imprensa, Dilma também questionou a decisão de Moro. Dilma afirma que, embora tenham sido feitas há quase sete meses e rejeitadas pelo MPF (Ministério Público Federal), as delações “sem provas” de Palocci foram “surpreendentemente” acolhidas por Moro, o que diz ser “estarrecedor”.

“Sobretudo, neste momento em que o povo brasileiro se prepara para eleger o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais”, complementa o texto. O primeiro turno das eleições deste ano está marcado para daqui a seis dias, em 7 de outubro. Dilma também classifica as declarações de Palocci de “leviandade e oportunismo delirantes”.

Sobre os valores citados por Palocci que teriam sido gastos em sua campanha, Dilma desmentiu a acusação do ex-ministro. "Trata-se de um valor absolutamente falso. Apenas a hipótese de recursos tão vultosos não terem sido detectados evidencia o desespero de quem quer salvar a própria pele”, diz a nota oficial divulgada pela ex-presidente.