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"Venezuelano não é mercadoria para ser devolvido", diz Bolsonaro

Bolsonaro participa da cerimônia do aniversário de 73 anos da brigada da Infantaria de Paraquedista, no Rio -  FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO
Bolsonaro participa da cerimônia do aniversário de 73 anos da brigada da Infantaria de Paraquedista, no Rio Imagem: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

24/11/2018 11h19Atualizada em 24/11/2018 14h12

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou neste sábado (24) que "venezuelano não é mercadoria para ser devolvido" ao ser questionado sobre as ideias do futuro governador de Roraima e colega de partido, Antonio Denarium, que declarou em entrevista exclusiva ao UOL que estuda a criação de um programa de "devolução de venezuelanos" e o fechamento da fronteira com o país vizinho.

A migração de venezuelanos é a maior crise de refugiados já enfrentada pelo Brasil. Bolsonaro declarou neste sábado não concordar com soluções mais radicais, mas disse considerar a possibilidade de criar um “campo de refugiados”.

Em entrevista publicada pelo UOL na sexta (23), Denarium defendeu a implementação de um programa de retorno dos venezuelanos para suas cidades de origem.

"[Os venezuelanos] Não são mercadorias nem objetos para serem devolvidos, né? Se tivesse um governo democrático, há algum tempo teríamos tomado providências outras. Por exemplo, excluído [a Venezuela] do Mercosul pela cláusula democrática ou sequer entrado no Mercosul pelas mesmas cláusulas. A Venezuela não pode ser tratada como país democrático", respondeu Bolsonaro.

Na visão do presidente eleito, os imigrantes são vítimas de uma "ditadura" --referindo-se ao governo de Nicolás Maduro-- que não podem "ficar a própria sorte". Por outro lado, defendeu que haja um "rígido controle" na fronteira.

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"Talvez [criar um] campo de refugiados. Tem que ser tratado dessa maneira. Outra coisa: fazer um rígido controle. Tem gente que está fugindo da fome e da ditadura, mas tem gente também que nós não queremos no Brasil."

"O povo venezuelano não é mercadoria", concluiu.

Na entrevista ao UOL, Denarium disse que o programa de "devolução" seria criado em parceria com o governo federal.

"Existem venezuelanos que acabam ficando muito tempo em Roraima, não conseguem emprego e alguns deles demonstram desejo de retornar para a Venezuela, só que eles não têm condições financeiras. Então, tem que ser feito um programa de devolução dos venezuelanos, uma ação do governo federal de reintroduzi-los na Venezuela", declarou Denarium.

A reposta de Bolsonaro foi dada em entrevista coletiva após ele participar da cerimônia do aniversário de 73 anos da brigada da Infantaria de Paraquedista, na Vila Militar, em Deodoro, zona oeste do Rio.

Além do presidente eleito, compareceram ao evento o futuro governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), o interventor federal, general Walter Braga Netto, o novo chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, entre outras autoridades.

Ao chegar ao local, Bolsonaro entrou em uma das 16 viaturas Lince, blindado do Exército de fabricação italiana adquirido recentemente com recursos da intervenção federal no Rio.

Bolsonaro, que é paraquedista de formação, ficou menos de um minuto dentro da viatura. De acordo com o coronel Carlos Cinelli, porta-voz do CML (Comando Militar do Leste), o blindado foi adquirido porque é adequado a operações em favelas e áreas de difícil acesso.

Em média, 490 venezuelanos entram no Brasil por dia

De acordo com a Polícia Federal, entraram no Brasil por Pacaraima (cidade situada na fronteira com o país vizinho) 158.507 venezuelanos de 1º de janeiro deste ano até a última segunda-feira (19). Embora haja variações de fluxo ao longo do ano, isto representa uma média de 490 pessoas por dia.

No mesmo período, saíram do país pelo mesmo local 41.601 venezuelanos, o que dá uma média de 128 pessoas por dia. Segundo a PF, neste ano, cerca de 3.000 venezuelanos foram levados de Roraima para outros estados brasileiros.

Para permanecer no Brasil, os venezuelanos entram com o pedido de refúgio e podem viver no país até que a solicitação seja analisada --segundo a PF, desde 2015 mais de 54 mil venezuelanos entraram com o pedido de refúgio e outros 18,9 mil com o visto de residência.