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De vereador em Piraí a governador do Rio: a trajetória política de Pezão

31.jul.2018 - O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, no Palácio da Guanabara - Zo Guimaraes/Folhapress
31.jul.2018 - O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, no Palácio da Guanabara Imagem: Zo Guimaraes/Folhapress

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

29/11/2018 17h53Atualizada em 29/11/2018 19h34

Foi em 2006, ano das eleições para governador, que Luiz Fernando de Souza, mais conhecido como Pezão, foi escolhido pelo então PMDB para disputar o Executivo do Rio de Janeiro ao lado do então senador Sérgio Cabral. A decisão alavancou a carreira política de Pezão --em seu currículo, ele acumulava o cargo de subsecretário de Governo na gestão de Rosinha Mateus, em 2005, além de dois mandatos de prefeito e dois de vereador de Piraí, sua cidade natal.

A dupla Cabral e Pezão escolhida para disputar o governo do Rio foi eleita em segundo turno, com 68% dos votos, e reeleita em 2010, no primeiro turno, com 66% dos votos --resultado da instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) no estado.

Na ocasião, o Rio entrava no ciclo de investimentos para sediar a final da Copa do Mundo (2014) e realizar a Olimpíada (2016). Pezão ganhou destaque, sendo reconhecido como braço direito de Cabral e acumulando, além do cargo de vice-governador, a Secretaria de Obras --nesta pasta, ele coordenou obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do Arco Metropolitano (autoestrada no entorno da região metropolitana), além da recuperação da região serrana, devastada pelas chuvas de janeiro de 2011.

Pezão se elegeu governador fluminense em 2014 --no mesmo ano, assumiu o cargo por oito meses devido à saída de Cabral, que começava a ter a imagem desgastada devido a irregularidades.

Pezão e Cabral - Jorge William/Agência O Globo - Jorge William/Agência O Globo
21.mar.2014 - Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão (em segundo plano)
Imagem: Jorge William/Agência O Globo

Pezão foi eleito tendo Francisco Dornelles (PP) como vice. Após a prisão preventiva (por período indeterminado) do governador nesta quinta-feira (29), Dornelles assume o comando do governo do Rio. A dupla foi eleita no segundo turno com 4.343.298 votos --900,5 mil votos a mais do que Marcelo Crivella (PRB), hoje prefeito do Rio--, 55,78% dos votos válidos na ocasião.

Ele foi reeleito já com o estado dando sinais da pior crise econômica da histórica do Rio. Em 2016, as contas públicas entraram em colapso e o governador ainda precisou se ausentar por sete meses para combater um câncer.

Crise nas finanças e linfoma Não-Hodgkin

Em março daquele ano, Pezão foi diagnosticado com linfoma Não-Hodgkin, um tipo de câncer que ocupa a 11ª posição entre os tipos mais frequentes da doença, excluindo o câncer de pele não melanoma.

A doença é provocada pela multiplicação descontrolada de versões defeituosas dos chamados linfócitos T. Essas células do sangue estão entre as que fazem parte do sistema de defesa do organismo, sendo responsáveis tanto por liberar substâncias que matam células infectadas por vírus ou outros agentes causadores de doenças.

Pezão passou por seis ciclos de quimioterapia e precisou se afastar por sete meses do Palácio Guanabara, a sede do governo do Rio.

Durante a ausência de Pezão, Dornelles decretou estado de calamidade pública do Rio a 49 dias do início da Olimpíada. A crise financeira do estado levou ao aumento do desemprego, atraso no pagamento dos servidores estaduais e de empresas terceirizadas, além de bloqueios de contas públicas.

Paralelamente, os índices de criminalidade voltaram a crescer. Viaturas da polícia chegaram a ficar sem combustível para rodar, e o atendimento nos hospitais públicos cada vez mais precário.

Pezão trabalhou para a assinatura com o governo federal em 2017 do acordo de recuperação fiscal --o regime suspendeu o pagamento da dívida do estado com a União por três anos, aliviando o fluxo de caixa e permitindo o pagamento dos salários atrasados.

Acusações e irregularidades

Além de problemas na economia, o governador enfrentou uma série de denúncias de corrupção e viu, em novembro de 2016, a prisão de seu principal aliado, o ex-governador Cabral --condenado na Lava Jato a mais de 180 anos de prisão.

Em 2015, ao lado de Cabral, Pezão foi alvo de inquérito no STJ (Supremo Tribunal de Justiça) por suspeita de envolvimento em esquema de corrupção na Petrobras. O doleiro Alberto Youseff afirmou que a campanha à reeleição dos dois recebeu R$ 30 milhões desviados de obras da estatal.

O nome de Pezão foi citado ainda em outras irregularidades: em abril de 2017, dois executivos da Odebrecht o acusaram de receber dinheiro em espécie e também em contas no exterior. O valor não foi informado.

Ele foi mencionado ainda em esquema de corrupção no TCE (Tribunal de Contas do Estado). O delator Jonas Lopes Neto, filho de Jonas Lopes de Carvalho, ex-presidente do TCE, disse em delação que arrecadou R$ 900 mil para pagar despesas pessoais de Pezão. Os recursos eram provenientes de empresas de alimentação que tinham contrato com o estado.

O governador também é suspeito de receber propina da Fetranspor, grupo composto por empresas de transporte público. Um funcionário do doleiro Álvaro Novis afirmou que pagou propina no valor de R$ 4,8 milhões ao governador. Edimar Dantas contou que foram cinco pagamentos em 2014 e 2015.

Carlos Miranda, apontado como operador do esquema de corrupção de Sérgio Cabral, também disse que Pezão foi beneficiado com mesadas no valor de R$ 150 mil durante sete anos.

Em todas as ocasiões, o governador negou as acusações.

Intervenção federal na segurança

Diante da escalada da criminalidade, o governador pediu ao presidente Michel Temer (MDB) a adoção de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ampliada no Rio, quando forças militares passam a exercer poder de polícia.

Em fevereiro, Temer decretou intervenção na segurança pública do estado --com isso, o comando da segurança pública passou a ser realizado pelas Forças Armadas, retirando do estado a autonomia sobre as decisões na área e evidenciando um governador politicamente enfraquecido.