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Briga nos bastidores aumentou influência de Olavo de Carvalho no MEC

Olavo de Carvalho indicou o ministro e outros integrantes da nova gestão do MEC - Vivi Zanatta/Folhapres
Olavo de Carvalho indicou o ministro e outros integrantes da nova gestão do MEC Imagem: Vivi Zanatta/Folhapres

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

13/01/2019 04h00

"Esse Olavo de Carvalho deve ser muito bom". A frase irônica é de um aliado do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao comentar a influência do escritor radicado nos EUA na nova equipe do Ministério da Educação (MEC).

Por mais que a proximidade de Olavo com a campanha de Bolsonaro fosse conhecida, sua influência ainda causa espanto e certa contrariedade entre colaboradores do presidente na área educacional. O escritor indicou o ministro Ricardo Vélez Rodríguez e ganhou ainda mais força na pasta após uma briga nos bastidores da transição.

Apesar de o cargo de ministro da Educação ser considerado estratégico para o país, o nome do escolhido só foi anunciado no fim de novembro, quando a equipe de Bolsonaro já trabalhava havia semanas na transição com o governo Michel Temer (MDB).

"A mim surpreendeu muito [a influência de Olavo]. Não que eu desmereça o pensamento do Olavo de Carvalho, tenho todo respeito por ele, mas chegou um cara [Vélez] ligado a ele que não participou do grupo da transição. Isso chamou muito a atenção", diz, reservadamente, o apoiador que trabalhou na equipe de Bolsonaro.

Briga às vésperas da posse e desconvites

Em 28 de dezembro, às vésperas da posse, a ruptura entre Vélez e o cientista político Antônio Flávio Testa consolidou a força dos seguidores de Olavo na nova equipe do MEC. Testa, que foi professor na UnB (Universidade de Brasília) e é vinculado à FGV (Fundação Getúlio Vargas), atuava como consultor de Bolsonaro na área de educação desde abril, na pré-campanha, e estava escalado para ser o secretário-executivo do MEC, cargo abaixo apenas do de ministro.

Naquele dia, Vélez desconvidou Testa e todos os indicados pelo cientista político para trabalhar na secretaria-executiva, órgão considerado o coração do ministério. Com isto, pôde terminar a montagem da equipe que assumiu a pasta, recheada de indicados por Olavo.

Ao se integrar à equipe de transição, Vélez teria deixado de lado ao menos parte dos planos para a educação elaborados por civis e militares das equipes de Bolsonaro durante a campanha eleitoral e a transição.

"Os planos do Bolsonaro [para a educação] foram muito bem feitos. A partir do momento em que foi nomeado ministro esse cidadão jogou os planos por água abaixo", afirma o ex-integrante da transição, crítico da forma como Vélez montou a equipe.

Divergências em torno de indicações para o ministério aumentaram o atrito entre Vélez e Testa. O cientista político teria passado por constrangimentos ao ser desautorizado pelo ministro após selar a permanência de ao menos um funcionário do MEC que já trabalhava na gestão Temer.

De acordo com ele, os membros dos grupos da campanha e da transição não eram próximos de Olavo, o que é corroborado pelo consultor em educação Stavros Xanthopoylos, diretor de relações internacionais da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância). Ele também trabalhou no plano de educação durante a campanha eleitoral e chegou a ser cotado para comandar o MEC.

"Nada da nossa planificação foi relacionada com o Olavo. A prioridade era como a gente trataria a educação no amplo sentido. Não sei o quanto [do plano] foi adiante", declara Xanthopoylos.

A escolha do nome para comandar o MEC virou uma novela no período da transição. Além do próprio Stavros, outros nomes foram cogitados, como o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. A opção por Mozart chegou a ser dada como certa em 21 de novembro, mas foi reprovada por evangélicos ligados a Bolsonaro, o que abriu caminho para a confirmação de Vélez no dia seguinte.

Radicalização ideológica e pouca experiência em gestão

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) empossa o colombiano naturalizado brasileiro Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação, no Palácio do Planalto, em Brasília - Dida Sampaio-2.jan.2019/Estadão Conteúdo - Dida Sampaio-2.jan.2019/Estadão Conteúdo
Presidente empossa Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação
Imagem: Dida Sampaio-2.jan.2019/Estadão Conteúdo
Um dos reflexos da influência de Olavo seria a adoção, por parte do ministro, de um tom mais radical do ponto de vista ideológico.

No discurso de posse, Vélez criticou aquilo que seriam marcas do campo da esquerda na política, como o marxismo cultural, que prometeu combater, e o pensamento gramsciano.

Com isto, Vélez não estaria dando a devida importância à multiplicidade de obrigações e necessidades da pasta, o que poderia se agravar com a nomeação de ex-alunos dele e do escritor com pouca experiência em gestão.

"Enquanto não ficar clara a missão [do MEC], se cria uma dúvida grande sobre o projeto, sobre o que vai ser priorizado e como será feito. Cabe ao ministro explicar qual é a sua missão específica. Não é aquilo que ele falou no discurso, que veio para acabar com o marxismo, com Gramsci, com o lulopetismo, porque isso já acabou. São argumentos obsoletos. Precisa saber qual é o próximo passo. Os líderes têm que mostrar ao que vieram e como vão fazer as coisas acontecerem", analisa o integrante da equipe de transição.

Xanthopoylos é mais otimista, mas com ressalvas. Acredita que pontos dos planos elaborados anteriormente pelas equipes que auxiliaram Bolsonaro apareceram no discurso de posse de Vélez e avalia que o ministro tem sólida formação. Apesar disso, admite não conhecê-lo o suficiente para avaliar a capacidade de Vélez.

"Não o conhecia. Vi o ministro por 20 minutos no dia seguinte à nomeação. Parece uma pessoa extremamente bem informada, tem sólida formação acadêmica, é inteligente e tem uma experiência boa acadêmica. Fora isso, não tenho como comentar e dar opinião."

Vélez não tem dado entrevistas. O UOL procurou o MEC para que o ministro pudesse informar as ações planejadas pela pasta e dizer se descartou ou aproveitou os planos feitos na campanha eleitoral e na transição. A pasta evitou responder as questões. "O MEC vai informar os programas, projetos e ações à medida que eles forem ocorrendo. Já o plano de ações está em alinhamento com a Presidência da República, que centraliza essas questões de todo o governo", diz em nota a assessoria de imprensa do ministério.