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Amigo de Neymar, tenente assumirá cadeira na Alesp com pautas bolsonaristas

Tenente licenciado do Exército, Matheus Coimbra foi eleito deputado estadual por SP com 24.109 votos - 06.fev.2019 - Simon Plestenjak/UOL
Tenente licenciado do Exército, Matheus Coimbra foi eleito deputado estadual por SP com 24.109 votos Imagem: 06.fev.2019 - Simon Plestenjak/UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

10/02/2019 04h00

Tenente licenciado do Exército, Matheus Coimbra Martins de Aguiar, 28, o Tenente Coimbra, foi eleito deputado estadual de São Paulo pelo PSL com 24.109 votos. A partir de março, ele ocupará uma das cadeiras da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) pelo maior partido dessa nova legislatura, o mesmo do presidente Jair Bolsonaro. 

Amigo de Neymar, camisa 10 da seleção brasileira e do PSG (Paris Saint-Germain), o tenente tem relação próxima com o jogador desde a infância, mas diz que não utilizou a amizade para angariar votos. "Não me ajudou em forma alguma na parte política, até porque eu não pedi, sei diferenciar as coisas. Preferi não atrelar", afirmou.

Tenente Coimbra passou a virada deste ano ao lado do craque, em Barra Grande, na Bahia, e fez uma visita a Neymar, na França, no ano passado. Mas a amizade teve início na infância. "Joguei bola com ele muito pequeno na categoria de base da Portuguesa Santista. No Portuários também, equipe de salão de Santos", afirmou. 

Ele (Neymar) acabou dando certo. Eu só acabei não dando certo por detalhe. O detalhe é que eu era ruim (risos).
Tenente Coimbra (PSL-SP)

"Depois de um tempo, a gente até perdeu o contato. Mas a minha irmã namora um grande amigo dele e a gente reativou a proximidade. Só tenho elogios a tecer a ele, de humildade, enfim", afirmou o futuro deputado estadual em entrevista concedida na última quarta (6). 

Os amigos voltaram a se aproximar nos últimos três anos. Adultos, emplacaram a mesma amizade da infância. "A gente acabou tendo uma proximidade, até por ter gostos em comum, inclusive pela idade: pôquer, jogos online, a gente se identifica", diz

O Neymar fala sobre política, mas dentro do reservado dele. Ele tem as posições ideológicas dele, algumas parecidas, outras, não. Mas ele é mais alinhado com a gente (risos).
Tenente Coimbra (PSL-SP)

Contra a extensão do porte de arma

Tenente Coimbra aprovou o decreto assinado pelo presidente Bolsonaro que flexibilizou a posse da arma de fogo. No entanto, acredita que o porte, que permite ao cidadão o direito de estar com a arma fora de casa, não deve ser estendido a todos os cidadãos. 

Tenente Coimbra, eleito deputado estadual pelo PSL-SP - 06.fev.2019 - Simon Plestenjak/UOL - 06.fev.2019 - Simon Plestenjak/UOL
Coimbra defende o porte para colecionadores, atiradores e caçadores
Imagem: 06.fev.2019 - Simon Plestenjak/UOL

"O porte, na minha opinião, não deve ser amplo. Porque portar essa arma na rua exige diversos cuidados. E não só da pessoa que está portanto. Porque se um vagabundo quiser roubar essa arma, ele não vai te assaltar. Ele vai te executar e roubar essa arma", afirmou.

Ele disse, no entanto, defender uma amplitude do porte para colecionadores, atiradores e caçadores.

"[A posse] foi o primeiro passo. Nos devolveu o direto de defesa da nossa propriedade. Tem mais coisa por vir, mas acredito que é uma resposta de uma demanda que ele levou durante o pleito eleitoral."

"Independência" em vez de "neutralidade"

Maior bancada da Alesp a partir deste ano, com 15 deputados estaduais eleitos, o PSL, segundo Tenente Coimbra, será independente, não se alinhando nem ao governo (o tucano João Doria), nem à oposição. "Neutro dá uma ideia de passividade. Na verdade, toda a bancada do PSL estará independente. Vamos definir pela pauta. Pautas boas vão ser votadas de forma positiva, e pautas ruins, vamos tentar brecar", afirmou. 

Ele afirmou que fará campanha para que a advogada Janaína Paschoal seja a presidente da Alesp. "A gente não veio só para renovar os políticos. A Janaína Paschoal representa isso. É uma líder natural, até por conta da votação dela, com mais de 2 milhões de votos, por ter feto a proposta de impeachment da então presidente Dilma. Ela tem os valores técnicos e morais para assumir essa cadeira", argumentou.

13.nov.2018 - General da reserva do Exército, João Camilo Pires de Campos, é anunciado como futuro secretário da Segurança Pública no governo de João Doria (PSDB) - Luiz Cláudio Barbosa/Código 19/Estadão Conteúdo - Luiz Cláudio Barbosa/Código 19/Estadão Conteúdo
Secretário da Segurança, general Campos comandou Tenente Coimbra no Comando Militar do Sudeste
Imagem: Luiz Cláudio Barbosa/Código 19/Estadão Conteúdo
O governador João Doria nomeou como secretário da Segurança Pública o general do Exército João Camilo Pires de Campos, interrompendo uma série de nomeações de promotores como secretários da pasta.

Tenente Coimbra conta que já foi comandado pelo general em duas ocasiões.

"[Pires de Campos] sempre foi uma pessoa muito bem intencionada, politizada e independente. Acredito que essa indicação dele para a secretaria se deveu à parte politizada, sempre presente, e também para não acabar beneficiando Polícia Civil ou Militar, o que poderia gerar algum ciúmes."

Bolsonaro "ajudou" a virar político

O tenente eleito deputado estadual afirmou ter comandado, por três anos, o resgate aéreo dentro do Exército. "A gente atendeu diversas ocorrências internas e externas. Por exemplo, nas enchentes em São Luiz do Paraitinga (SP), e também no Rio de Janeiro. O meu pelotão está hoje em Brumadinho (MG) ajudando a equipe de Bombeiros local", disse. 

A decisão de sair do Exército e ir para a política, afirma Coimbra, ocorreu após conhecer as propostas de Bolsonaro.

"De maneira natural, eu acompanhava o Jair Bolsonaro e o admirava, porque vinha de encontro com os anseios da tropa. Como estávamos em tempos conturbados, acho que toda pessoa de bem se levanta e se coloca à disposição. Foi isso o que eu fiz", relata. 

"Direitos Humanos devem ser respeitados"

"Às vezes, as pessoas colocam em parte antagônica: ou você é militar ou você gosta dos Direitos Humanos. E não é isso. Os Direitos Humanos estão aí para serem respeitados. O que acaba tendo é uma distorção das pessoas que se dizem técnicas dos Direitos Humanos e que acabam defendendo só um lado, o dos vagabundos. Têm que ser respeitados para ambos os lados", afirma o futuro deputado. 

Melhor que a mãe do vagabundo chore do que a do policial.
Tenente Coimbra (PSL-SP)

Tenente Coimbra, eleito deputado estadual pelo PSL-SP - 06.fev.2019 - Simon Plestenjak/UOL - 06.fev.2019 - Simon Plestenjak/UOL
Policial não quer matar, mas também não quer morrer, diz Tenente Coimbra
Imagem: 06.fev.2019 - Simon Plestenjak/UOL

Para Coimbra, no entanto, "o policial não está aí para matar, mas ele também não vai para morrer". Ele relata que esse tipo de discurso faz parte de uma "política de segurança pública mais firme". "As coisas têm que ser mais técnicas e menos políticas", disse.

A principal proposta que ele afirma levar para discussão será um cadastro relacionado de dados. "Hoje, você vai num prédio comercial, apresenta RG, CPF, tira até foto pela webcam. Isso em vários países é correlacionado com banco de dados de procurados. No Brasil, não. Um foragido aqui no Brasil frequenta um prédio comercial sem ter medo de ser abordado. Queremos ampliar isso a nível do estado", afirmou.

Não terei um enfrentamento à esquerda. Teremos um enfrentamento contra aquilo que a gente acha que é errado. Eu, como militar, nunca me escondi de nada e não vai ser agora que vou medir as palavras.
Tenente Coimbra (PSL-SP)